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1 INTRODUÇÃO

1.3 MÉTODO DE PESQUISA

1.3.1 Definição do objeto

Nesta, como em outras fases da investigação, é de suma importância a junção entre a instância epistemológica e a instância teórica. A definição do objeto inclui o problema de pesquisa, o quadro referencial teórico e as hipóteses (GIL, 2010). Sendo esta uma pesquisa exploratória, não serão necessárias e não serão formuladas hipóteses. Vale ressaltar que se procurará localizar bem o objeto no tempo e no espaço, além de limitá-lo ao máximo, para evitar que se desvie a pesquisa do seu rumo e ocorra desperdício de tempo.

Neste trabalho, o objeto e o problema de pesquisa não são frutos de escolha exclusiva do pesquisador, e sim decorrentes do contexto social, da sua trajetória profissional, reflexão e percepção. De acordo com Lopes:

Dificilmente a escolha do assunto é responsabilidade exclusiva do investigador. O engajamento teórico, o compromisso social, as condições institucionais são fatores intervenientes na escolha e dirigem os alvos teóricos e práticos da pesquisa. (2010, p. 138)

Estudar-se-á o rádio, mas se faz necessária a delimitação de um objeto bastante amplo, portanto, tem-se como pretensão abordar o rádio em sua essência, como meio de comunicação. A sua linguagem, elemento essencial do meio, será destacada em alguns momentos para o apoio às análises de determinadas características. Serão discutidas suas novas formas de produção, de transmissão e de acesso, sem a preocupação de discutir o conceito do que pode ou não ser considerado rádio. Serão identificados modos de convergência digital e da sua adaptação ao novo cenário midiático e social. Não se pretende, apesar de permear o estudo, abordar as questões relacionadas às suas mediações sociais e seu conhecido diálogo com a cultura popular, temas apurados profundamente pelos estudos de Jésus Martin-Barbero.

Podem-se apontar como objeto específico da presente pesquisa as especificidades exclusivas do rádio como meio de comunicação, na atualidade. Para esta detecção, além do apoio num quadro teórico específico, haverá reflexão sobre o meio, seu conteúdo e sua audiência, procurando, nos primeiros dois componentes, detectar as características que atendam aos anseios da terceira.

Esta discussão sobre o objeto se iniciará com a apresentação do modelo teórico escolhido, para depois ser formulado o problema de pesquisa.

1.3.1.1 Referenciais teóricos

O quadro teórico, tema do capítulo dois desta dissertação, irá embasar a pesquisa: o direcionamento para a coleta de dados, o viés analítico dos dados e as considerações finais. Neste trabalho, o quadro teórico é constituído por quatro linhas que se complementam:

1. Reflexões sobre hegemonia e ideologia pelo filósofo Antonio Gramsci; 2. Teoria Crítica;

4. Zygmunt Bauman tratando de pós-modernidade ou modernidade líquida.

As linhas teóricas complementam-se para fornecer apoio para as discussões e análises pretendidas nos capítulos 3 e 4. Os estudos de Gramsci irão apoiar as reflexões relacionadas ao poder, hegemonia e disseminação de ideologias das mídias de comunicação de massa, estando o rádio entre elas. Essa disseminação de ideologias é o alicerce das premissas teóricas da Teoria Crítica, que por sua vez critica a utilização dos meios para essa finalidade e para a manutenção do poder. Estas duas linhas de pensamento serão chaves para as análises relacionadas ao conteúdo radiofônico a ser estudado no capítulo 3.

A Teoria do Meio auxiliará nas reflexões sobre as mensagens inerentes à natureza do meio, as profundidades subliminares da sua oralidade e sua forma pessoal de afetar o ouvinte com alta excitação da audição. E, por fim, Zygmunt Bauman ajudará a compreender a audiência dos dias atuais, suas demandas, sua aceitação de ideologias e de mensagens radiofônicas.

Resumidamente, fundamentados nestas premissas teóricas, procurar-se-á identificar as formas atuais aceitas para que a mensagem radiofônica atinja seu público e obtenha sucesso na disseminação de conteúdos.

1.3.1.2 O problema de pesquisa

Existem diversas definições para a palavra problema. Considerou-se a definição mais apropriada para a caracterização de um problema científico a primeira apresentada pelo dicionário Houaiss da Língua Portuguesa36: “Assunto controverso, ainda não satisfatoriamente respondido em qualquer campo do conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas científicas ou discussões acadêmicas”.

Todavia, nem todo problema pode ser considerado científico, há que se ter cuidado em não considerar científicos alguns problemas de engenharia, técnicos (a melhor forma de valor às coisas) ou de valor àqueles que indagam se algo deve ser feito ou não. Segundo Gil (2010,

p. 8), os problemas são de natureza científica quando envolvem proposições que podem ser testadas mediante verificação empírica. Ou seja, que envolvem variáveis suscetíveis de observação e comprovação.

Algumas premissas para um problema científico são: ele deve ser formulado como pergunta, deve ser claro e preciso, deve ser empírico, deve ser suscetível de solução e deve ser delimitado a uma dimensão viável. O problema de pesquisa passa necessariamente pela escolha do assunto ou tema do projeto de pesquisa.

O assunto da presente pesquisa, conforme explicitado, é o rádio e suas características especiais ou especificidades. A escolha do assunto já foi justificada nos itens anteriores. A partir dos modelos teóricos apresentados, da observação empírica e da revisão de literatura, deduz-se o problema de pesquisa deste trabalho.

A posição passada, de meio de comunicação que, sozinho, possuía um modelo hegemônico37 de alcance maciço, e que, segundo a Teoria Crítica38, contribuiu para a popularização da cultura, disseminação de ideologias, e capitaneou a indústria cultural em todo o mundo, experimentou uma perda de seu poder a partir da década de 1950, e no século XXI demonstra-se enfraquecido. A mensagem do rádio parece não atender aos anseios do público da era atual, que marca presença em outros meios, principalmente nos digitais. Formula-se o problema: o rádio precisa encontrar sua posição de encaixe dentro do cenário social e midiático da era moderna, para isso precisa determinar quais características em seu modelo de comunicação ainda são exclusivas e desejadas pela sociedade. Ao situar-se no cenário com especificidades definidas, poderá manter-se como uma experiência única e estabelecer novas formas de relacionamento com seus ouvintes, perpetuando o contrato de dominação, no conceito gramsciano, em que o público se apropria do meio e com ele reveza a posição de dominante e dominado.

Levando-se em conta as definições anteriormente apresentadas neste capítulo, o problema é de ordem científica, pois se encaixa nas premissas. Passa-se agora à definição do corpus de pesquisa.

37 O conceito de hegemonia apontado por Gramsci será abordado no capítulo 2. 38 O conceito de “indústria cultural” será apresentado no capítulo 2.