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Trechos com especificidades ligadas ao meio na CBN

3 DISCUSSÃO E ANÁLISE

3.4 RÁDIO CBN – CENTRAL BRASILEIRA DE NOTÍCIAS TRECHOS

3.4.1 Trechos com especificidades ligadas ao meio na CBN

Trecho 02 – 7h14 – Neste momento se ouve uma vinheta anunciando que a emissora parou de transmitir sua programação em rede nacional e passará a transmitir de Brasília, ou seja, localmente. Deduz-se que, neste ponto da programação, isto acontece em todas as praças que transmitem a Rádio CBN. É a especificidade do regionalismo no rádio, tradicional do meio, percebida, reconhecida e utilizada por seus produtores. Uma ferramenta utilizada para a aproximação com a comunidade local e seus indivíduos.

Esta intercalação, variando constantemente entre a programação nacional e a local, é característica denominada como glocalidade74, que Gisela Ortriwano define: “Primeiro meio de comunicação eletrônico, operando na velocidade do som, o rádio já nasceu glocal, termo cunhado recentemente em função das tecnologias hoje disponíveis: tanto contava os fatos do mundo como os da casa do vizinho.”75

Apresentadores locais, com sotaque da cidade, informam sobre fatos relevantes para a região, como a previsão do tempo, situação dos voos no aeroporto da cidade, crimes, leis que tramitam na Câmara Legislativa e informações sobre a situação do trânsito nas principais vias da cidade. Barbosa Filho explica:

O regionalismo é uma marca fundamental do rádio, pois oferece visibilidade às informações locais. Esse princípio dinamiza as relações entre o rádio e comunidade. [...] notícias obtidas na esquina de um bairro são tão ou mais importantes do que as recebidas de outras partes do mundo. Há, no entanto, o perigo de tornar tudo muito

local. É preciso distinguir entre o que é local e o que é paroquial. É importante

avaliar corretamente o que é uma notícia local. (2009, p. 46)

O rádio transmitido localmente tece o espírito do ‘tambor tribal’ de McLuhan, porque consolida e liga a comunidade local independentemente do seu tamanho. Segundo o autor:

74 O termo “glocal” foi criado pelo sociólogo americano Roland Robertson, no início dos anos 90, para definir a

coexistência pacífica entre o que é global e o que é local. http://www2.rj.sebrae.com.br/boletim/convivencia- entre-o-local-e-o-global/ acessado em 02/05/2013, às 19h29.

75 REVISTA USP, São Paulo, n.56, p. 66-85, dezembro/fevereiro 2002-2003.

Platão, cujas ideias tribais de estrutura política estavam bem fora de moda, dizia que o tamanho certo de uma cidade era indicado pelo número de pessoas ao alcance da voz de um orador. Até o livro impresso, para não falar do rádio, torna bem relevantes, para efeitos práticos, as pressuposições políticas de Platão. Mas o rádio, dada a sua facilidade de relações íntimas e descentralizadas, tanto ao nível pessoal como ao de pequenas comunidades, poderia facilmente realizar o sonho político de Platão numa escala mundial. (MCLUHAN, 2007, p. 345)

Poucos meios possuem a facilidade de serem locais e terem o poder de aliciar seu público, que se apropria rapidamente, passando a sentir-se íntimo e próximo. Uma especificidade inerente e tradicional do rádio, que se mantém independentemente da chegada e da conquista de espaço das novas mídias.

Trecho 03 – 7h18 – Os apresentadores encerram sua participação no bloco de notícias, com a fala: “lembrando que você, ouvinte, pode participar da nossa programação, mandando sua informação...” e passam os endereços da emissora no twitter76, do e-mail e do facebook77.

Aqui se detecta a especificidade da interação com os ouvintes, presente desde os primórdios do meio, segundo Nélia Del Bianco: “No rádio sempre houve interação – a ação recíproca entre dois ou mais atores, onde ocorre intersubjetividade, isto é, o encontro de dois sujeitos – mediatizada por outros meios de comunicação.” (2010, p. 101).

A valorização desta característica e sua adaptação ao século XXI é percebida, principalmente, quando são apresentados novos canais de retorno para o ouvinte, não sendo mais por carta ou por telefone, como antes do surgimento da internet. Segundo Heródoto Barbeiro: “Não é mais possível conceber o rádio fora da interação constante entre o emissor e o receptor da notícia, depois do desenvolvimento da internet e do trânsito do rádio nessa nova estrada que contém todos os veículos eletrônicos.” (2004, p. 137) Nos primeiros anos do rádio, as emissoras divulgavam seu endereço, e posteriormente seu telefone, para a participação do ouvinte. Agora os meios são digitais, ligados às ferramentas da internet e às

76 Twitter é um serviço de rede social e um microblog online que permite aos seus usuários enviar e ler

mensagens de texto de até 140 caracteres, chamados de “tweets”. http://en.wikipedia.org/wiki/Twitter acessado em 06/05/2013, às 15h14.

77 Facebook é uma rede social lançada em 2004. Fundado por Mark Zuckerberg, estudante da Universidade

Harvard. Inicialmente, a adesão ao facebook era restrita apenas para estudantes da Universidade Harvard, e logo foi aberto a usuários individuais. http://www.significados.com.br/facebook/ acessado em 06/05/2013, às 16h32.

mídias sociais. Nesta amostra que apresenta a especificidade da interação, podem-se discutir características conectadas às três plataformas analisadas: o meio, o conteúdo e a audiência.

Com relação ao meio aponta-se que os canais de interação com os ouvintes se alteraram para formas gratuitas, de mais fácil acesso e mais instantâneas, contribuindo para o incremento de outra especificidade do rádio: o imediatismo da sua comunicação. Esta também é tradicional no meio, fazendo parte de suas características já estudadas e mostrando-se importante na atualidade, onde a velocidade da informação é valorizada.

O oferecimento destes canais de interação, pela emissora, demonstra o reconhecimento e o atendimento à demanda de um ouvinte que deseja participar, gerar conteúdo e conduzir a programação da emissora, segundo explica Magaly Prado:

A produção rotineira ganha a cooperação de quem ouve, consegue ter parâmetros para determinar o que dá certo em termos de gosto da audiência e, assim, optar por mudar para atender ao público ou mesmo forçar um novo gosto, tentar incutir e criar esse novo gosto na audiência, que não é mais passiva. Ela reclama, alardeia nas redes sociais, coloca em xeque, discute e participa (quando quer), alterando em geral, para melhor, o que vem sendo apresentado. (2012, p.22)

Ou seja, o conteúdo da programação é influenciado e também construído pela interação com a audiência, que sempre desejou, mas atualmente demanda a participação. O autor norte-americano Henry Jenkins denomina esse novo fenômeno pela expressão ‘cultura participativa’, e diz:

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos expectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. (JENKINS, 2009, p. 30)

Na origem desta cultura participativa se encontra um ‘consumidor líquido’, que segundo Zygmunt Bauman78 é exigente e crítico, esclarecido e bem informado, não sendo, portanto, facilmente manejado, conduzido e ideologizado pela indústria cultural. Este indivíduo consumidor de mídia caracteriza-se pela flexibilidade, conhecimento e preparo para absorção de conteúdos e análises mais profundas. Sobre este tema, Magaly Prado expressa: “O público é cada vez mais exigente. Quem não faz como eles querem perde a audiência para quem faz.” (2012, p. 22) Barbeiro os denomina de ‘ouvintes-cidadãos’ e assevera:

Os ouvintes-cidadãos, onde quer que se encontrem no mundo, não admitem mais o rádio como condutor de massas ou funcionando como suporte para descarados interesses políticos ou econômicos, desrespeitando as mínimas regras de isenção e busca da verdade que caracterizam o jornalismo. (2004, p. 138)

Já Mário Cebrián Herreros (2001) os denomina de ‘usuários-ouvintes’, e Marcelo Kishinhevky (2009) de ‘ouvintes-interagentes’.

Há de se concluir que a intensidade com que o ouvinte participa e influencia os conteúdos é uma nova especificidade do rádio, que dita de outra forma é a possibilidade de, com o uso das tecnologias digitais, o ouvinte interferir e direcionar a programação do rádio com rapidez, agilidade e brevidade. Essa interferência já ocorria através de cartas e telefonemas. O rádio é um meio interativo por natureza, mas as novas tecnologias permitem ampliação e velocidade nesta interação. Ainda para Barbeiro:

A passividade acabou. O “ouvinte-receptor-passivo” não se reproduz mais. Está também em extinção. O novo tempo é o da interatividade e da ação participativa na programação que está indo para o ar e é acumulada nos sites à disposição dos internautas que acessam áudio, texto e arquivos. Isso mostra que apesar de o rádio já ter nascido interativo, agora chega a uma nova etapa de interatividade, uma vez que tem à sua disposição as tecnologias informáticas, eletrônicas e cibernéticas que determinam essas mudanças, mas nem por isso podem ser consideradas o motor da história. (2004, p. 146)

Seis minutos após o trecho analisado ser veiculado, às 7h24, ocorre um registro de participação de um ouvinte pelo twitter da emissora. O ouvinte avisa que um semáforo na zona central está desligado. A colaboração do ouvinte na programação também corrobora para uma maior fixação do conteúdo apresentado, segundo Alberto Dines:

O que foi informado no rádio porque exige uma colaboração mais ativa ou participativa do sujeito-receptor, tem condições de sobrevida e permanência. O que nos leva a acreditar que o rádio, embora inventado quando a expressão ainda não existia, é o mais interativo dos meios tradicionais, porque oferece condições efetivas de parceria entre o emissor e o receptor. (MEDITSCH, 2001, p. 11)

Mas, apesar dessa nova configuração, ainda se mantém uma premissa com viés de dominação: a mediação dos conteúdos. Fenômeno apontado pela Teoria Crítica, no qual o rádio é uma mídia com alto grau de interação, mas é uma interação mediada por seus dominadores, que selecionam e direcionam os conteúdos recebidos de ouvintes, que serão irradiados. Os canais de interação estão abertos aos ouvintes, sendo oferecidos inclusive três canais em nossa amostra, fazendo o ouvinte sentir-se livre e com facilidade para participar, mas somente vai ao ar o que interessa ao grupo dominante. Barbeiro expõe: “O

radiojornalismo não pode, mesmo que os radiojornalistas queiram, se descolar dos princípios ideológicos de quem os domina.” (2004, p. 140), um exemplo de manutenção da hegemonia com alternância de poder no modelo de Gramsci.

Trecho 04 – 7h20 - Em um áudio gravado, com trilha musical animada ao fundo, um locutor pergunta: “Quer ouvir novamente uma reportagem ou uma entrevista que foi ao ar na CBN?” E a seguir o mesmo locutor responde ser muito fácil e anuncia que todo o conteúdo veiculado nos últimos sete dias está disponível para audição no site da emissora.

Este trecho, a ser discutido a seguir, coaduna-se com o pensamento de Manuel Castells: “A internet é cada vez mais usada para acessar os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, jornais), bem como qualquer forma de produto cultural ou informativo digitalizado.” (1999, p. XI)

Esta possibilidade do resgate e da escuta de programações radiofônicas na internet é nova e pode ser considerada uma quebra do paradigma tradicional do meio, pois desafia uma especificidade anteriormente inerente ao meio e destacada por diversos estudiosos, a instantaneidade, que na definição de Gisela Ortriwano: “A mensagem precisa ser recebida no momento em que é emitida. Se o ouvinte não estiver exposto ao meio naquele instante, a mensagem não o atingirá. Não é possível “deixar para ouvir” em condições mais adequadas.” (1985, p. 80). A autora, em sua publicação de 1985, antes da era digital, já admitia formas de armazenamento, mas alertava:

Mas, atualmente, “guardar” as mensagens emitidas por rádio e televisão está se tornando mais viável e usual, com o desenvolvimento e a utilização cada vez mais acentuada dos gravadores de áudio ou de áudio e vídeo portáteis. Mas isto foge às características dos meios em si. (ORTRIWANO, 1985, p. 80) Grifo nosso.

Ortriwano afirma que a falta de sincronia entre a transmissão e sua audição descaracteriza o meio. Almeida e Magnoni comentam o fenômeno:

Os temores e as controvérsias, entre profissionais e pesquisadores, de que as mudanças contidas no rádio difundido na internet, ou por outros veículos digitais, poderiam descaracterizar a identidade original do antigo meio decorrem das incertezas típicas de momentos de mudanças conceituais e de tecnologia. (ALMEIDA, 2010, p. 275)

Compreende-se que o novo recurso de escuta de programações passadas é uma adaptação do meio às novas demandas dos ouvintes, que desejam acessar conteúdos no

momento de sua escolha, e não no momento escolhido pelo emissor. Este fato confirma o fenômeno apontado por Ferraretto em sua análise das alterações qualitativas verificadas na audiência: “a passagem de uma lógica de oferta a uma lógica de demanda.” (Ferraretto, 2010a, p. 552) A pesquisadora Magda Rodrigues da Cunha estudou esta nova audiência e seu impacto no rádio e endossa:

Na base, o que ainda define o rádio é a presença do som, transmitindo em tempo real. Na internet soma-se a possível programação sob demanda, com a inserção de imagens, mas o som segue preponderante. Som e tempo invisíveis, aliados à miniaturização pela tecnologia, deram ao rádio características como agilidade, instantaneidade, possibilidade de transmitir ao vivo os acontecimentos, diretamente do local em que estão ocorrendo e suporte presente junto à audiência. Porém, os suportes digitais hoje permitem a existência da informação em rede. Todos podem transmitir para todos em tempo real, com atualização permanente, mantendo sob demanda a informação que constrói o contexto do fato. (CUNHA, 2010, p. 184)

Conforme visto, a relação assíncrona entre a emissão e a escuta descaracteriza, para determinados estudiosos, o meio como rádio. Por outro lado, se apresenta como uma nova qualidade. Para quem defende o fenômeno com um novo atributo, o recurso se torna uma especificidade componente de um novo paradigma, que modifica o conceito de rádio e, consequentemente, modifica sua mensagem.

Trecho 05 - 7h41 – Informações sobre a situação do trânsito são transmitidas, ao vivo, via telefone celular, por um repórter da emissora que está circulando de automóvel pelas principais vias da cidade. Aqui se constatam as especificidades da mobilidade e da instantaneidade do rádio.

Segundo Gisela Ortriwano, a característica da mobilidade deve ser analisada sob dois pontos de vista: do emissor e do receptor. A pesquisadora enumera:

1) Emissor: sendo menos complexo tecnicamente do que a televisão, o rádio pode estar presente com mais facilidade no local dos acontecimentos e transmitir as informações mais rapidamente do que a televisão. [...] Suas mensagens não requerem preparo anterior, podendo ser elaboradas enquanto estão sendo transmitidas. [...] Com a utilização das unidades móveis de transmissão, as emissoras praticamente se “deslocam”, podendo transmitir de qualquer lugar dentro de seu raio de ação.

2) Receptor: o ouvinte de rádio está livre de fios e tomadas e não precisa ficar em casa, ao lado do aparelho. (1985, p. 79)

Em uma atualização da enumeração acima, realizada em 1985 antes do advento do computador e da internet, pelo lado do emissor, tem-se que os áudios do rádio são atualmente todos digitalizados e trafegam rapidamente pelas redes digitais por serem compactados em arquivos de tamanho pequeno. Pelo lado do receptor, pode-se complementar que o ouvinte de rádio hertziano não necessita estar conectado via cabos na internet nem estar ao alcance de alguma rede wireless79, e os receptores de rádio são cada vez mais embutidos em pequenos equipamentos. Portanto, pode-se afirmar que a mobilidade do rádio é uma especificidade reforçada pelo atual cenário tecnológico. A pesquisadora Magaly Prado discorre sobre as possibilidades de mobilidade do meio:

Os microfones de hoje são menores, mas fáceis de carregar e bons o suficiente para colher o som exato da direção que queremos. Assim, os radialistas podem entrar falando de qualquer lugar, da rua, de ambientes ruidosos, de redações de jornais, etc., dando mais credibilidade à notícia. (PRADO, 2012, p. 19)

Atualmente é possível à emissora ‘colocar no ar’, instantaneamente, repórteres localizados em qualquer lugar do mundo, com baixa necessidade de produção, somente um telefone celular. Assim, o ‘tempo’, ou a relação de temporalidade entre o acontecimento de um fato e seu conhecimento pelos ouvintes pode ser bastante reduzido no rádio, conforme Charaudeau:

Assim, o que define a atualidade das mídias é, simultaneamente, o espaço-tempo do surgimento do acontecimento, o qual deve poder ser percebido como contemporâneo por todo e qualquer indivíduo social (inclusive o jornalista), e o espaço-tempo da própria transmissão do acontecimento entre as duas instâncias da informação. Essa contemporalidade é tratada diferentemente segundo o suporte midiático que a põe em cena, e o rádio é, das três mídias80, a que melhor pode fazer coincidir tempo do

acontecimento e tempo da escuta. [...] O rádio é, por excelência, a mídia da transmissão direta e do tempo presente. (2012, p. 107)

Como exemplo se pode apresentar o atentado a bomba na cidade norte- americana de Boston, em 15 de abril de 2013, quando a própria Rádio CBN colocou ‘no ar’, 60 minutos após a explosão, brasileiros que estavam presentes ao ocorrido relatando a situação ao vivo, via telefone celular. A mobilidade gera velocidade no rádio, outra especificidade aqui presente, pois com rapidez a informação sai de qualquer lugar do mundo para uma transmissão broadcast, quase instantaneamente.

79 Rede de conexão sem fio à internet.

Mais uma especificidade que pode ser aqui apontada é a ubiquidade do rádio, segundo Meditsh: “A ubiquidade e a mobilidade da recepção, associadas às mesmas ubiquidade e mobilidade na emissão, são características da situação comunicativa do rádio ainda não alcançadas por nenhum outro meio.” (2009, p. 246)

Trecho 07 - 8h12 – O apresentador anuncia: “você participa aqui do Jornal da CBN conversando conosco pela internet, no e-mail milton@cbn.com.br, ou então você pode usar o twitter, o @jornaldacbn e visitar também a nossa página no facebook. As notícias estão sendo atualizadas, você pode comentar e depois compartilhar com seus amigos nas redes sociais.”

Uma mensagem como esta, que incentiva o ouvinte a ‘conversar’ com a emissora, é um novo paradigma para um meio historicamente considerado como unidirecional, situação na qual uma ‘conversa’ é inviável. Conforme visto anteriormente, Mário Kaplún, em seu trabalho ‘A natureza do meio: limitações e possibilidades do Rádio’, de 1978, enfatiza a ausência de interlocutor e a unidirecionalidade da mensagem. Pondera:

No rádio, estamos sós. O interlocutor está do outro lado do receptor, não pode intervir. [...] O emissor se dirige ao receptor sem deixar possibilidade de reciprocidade. Este está condenado a receber passivamente a comunicação, que chega verticalmente, de cima, e na qual não pode intervir (KAPLÚN, 2008, p. 85)

A convergência do rádio com as novas tecnologias digitais, não existentes à época da publicação de Kaplún, desafia estas afirmações e altera características do meio, facultando uma interação não possível anteriormente. Percebe-se a valorização desta nova condição pela emissora, que realça esta possibilidade aos seus ouvintes.

No mesmo texto, o apresentador incentiva o ouvinte a acessar o conteúdo da emissora em outras plataformas, a página da emissora no facebook, no caso. E ainda sugere que o ouvinte compartilhe conteúdos lá postados com sua rede de amigos. É uma tentativa de expandir o alcance dos conteúdos produzidos pela emissora para além dos ouvintes de rádio através da convergência midiática. É o uso do rádio como indutor de conteúdos nas mídias digitais e uma tentativa da emissora de reaproveitamento de suas produções em outras plataformas. Esta nova característica do meio será aprofundada mais adiante na pesquisa.

Trecho 09 - 8h44 – Uma chamada da emissora anuncia que “Você pode ouvir o seu programa ou comentarista preferido quando quiser e quantas vezes quiser. Entre no site da CBN e baixe os podcasts gratuitamente. Mais uma opção para você estar sempre ao lado na CBN”.

Aqui se identifica um grupo de novas especificidades do rádio moderno. Primeiramente, uma tentativa de acabar com a sincronia do rádio, já discutida no trecho 4 acima. Uma especificidade não desejada pelo novo ouvinte, que cada vez tem menos tempo disponível para estar diante do rádio no momento do comentário.

Essa adaptação do rádio ao novo ouvinte é articulada na forma de uma convergência do rádio com a web, em suas possibilidades de armazenamento de conteúdo radiofônico, utilizando-se de podcasts81. O podcast habita o ciberespaço, um espaço navegável onde a noção de espaço e tempo lineares já não faz sentido quando são aplicados. Segundo Medeiros:

Da mesma forma como a noção de tempo linear presente nos suportes convencionais, como no rádio e na TV, já não corresponde à noção de tempo na rede. O tempo na rede não obedece a uma seqüência, ou seja, uma linearidade de raciocínio. O usuário não precisa, obrigatoriamente, seguir um roteiro preestabelecido pelo suporte. Assim, o acesso às informações é feito de forma aleatória (randômico), ficando a cargo do usuário construir um “novo” roteiro, e conseqüentemente criar narrativas inovadoras que irão contribuir para a produção de conteúdos no ciberespaço (MEDEIROS, 2005. p. 4)

Deve-se, pois, pensá-lo fora do conceito linear do rádio que se conhece. A emissora