• Nenhum resultado encontrado

Os novos caminhos do rádio na era digital : em busca das especificidades

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Os novos caminhos do rádio na era digital : em busca das especificidades"

Copied!
151
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

COMUNICAÇÃO

OS NOVOS CAMINHOS DO RÁDIO NA ERA DIGITAL – EM

BUSCA DAS ESPECIFICIDADES

Brasília - DF

2013

(2)

MARCELO OLIVEIRA GOEDERT

OS NOVOS CAMINHOS DO RÁDIO NA ERA DIGITAL – EM BUSCA DAS ESPECIFICIDADES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Comunicação da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Comunicação.

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Flausino

(3)

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

26/08/2013 G594n Goedert, Marcelo Oliveira.

Os novos caminhos do rádio na era digital: em busca das especificidades. / Marcelo Oliveira Goedert – 2013.

150f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Prof. Dra. Márcia Flausino

1. Comunicação de massa. 2. Rádio. 3. Mídia digital. 4. Inovações tecnológicas. 5. Transferência de tecnologia. I. Flausino, Márcia. orient,. II. Título.

(4)

Dedico este trabalho a todos os

(5)

AGRADECIMENTOS

À Denise, minha mulher e companheira de vida, que um dia me disse que o mundo seria pequeno para nossas conquistas juntos, eis uma delas.

À minha mãe, pelo apoio incondicional, incentivo constante, ensinamentos valorosos e muito carinho.

Às minhas amadas Lara, Fernanda, Isabella e Hana, pela compreensão por todo o tempo em que abriram mão da minha presença, compreendendo que o fim era válido. Vocês são o motivo de todo o esforço.

Ao meu pai pela parceria de sempre e força para atingir os objetivos.

À minha orientadora Dra. Márcia Flausino, que de forma profissional e competente norteou meu caminho e me ensinou a ver o mundo acadêmico de forma séria, inteligente e bela.

Aos companheiros de trabalho da Audio Fidelity que me apoiaram, incentivaram e supriram minhas ausências.

Aos professores doutores Cosette Castro e Alexandre Keiling pela importante orientação na banca de qualificação.

(6)
(7)

RESUMO

Referência: Goedert, Marcelo Oliveira. Os novos caminhos do rádio na era digital – em busca das especificidades. Ano 2013. 150 folhas. Dissertação para obtenção do título de Mestre do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação, da Universidade Católica de Brasília, 2013.

Esta dissertação realiza uma pesquisa exploratória para detecção das especificidades presentes no rádio na atualidade. Para tal, faz-se pesquisa bibliográfica na qual são apontadas as especificidades tradicionais do meio, comparando-as com as identificadas no corpus de pesquisa composto por oito horas de programação em duas emissoras: Rádio CBN e Rádio Jovem Pan. O quadro teórico que embasa a pesquisa é constituído por quatro linhas que se complementam: reflexões sobre hegemonia e ideologia pelo filósofo Antonio Gramsci; Teoria Crítica; Teoria do Meio, tendo como principal autor Marshall McLuhan; e Zygmunt Bauman tratando de pós-modernidade ou modernidade líquida. Foram destacados 18 trechos da programação das duas emissoras nos quais foram efetivadas discussões e análises de conteúdo, identificando especificidades associadas a três categorias: o meio, o conteúdo e a audiência. Constatam-se especificidades tradicionais que ainda permanecem no rádio, sendo que algumas sofreram alterações significativas, além de novas características que surgem pelas inovações tecnológicas e pela demanda do ouvinte da ‘era digital’. Também se ressaltam especificidades que desapareceram ou estão subutilizadas. Por fim apresentam-se considerações sobre os dados colhidos e reflexões sobre as especificidades do rádio na atualidade.

(8)

ABSTRACT

This dissertation performs an exploratory research for the detection of specificities present in radio today, the so called ‘digital era’. With this objective, a literature review was conducted where the traditional specificities of the medium are pointed out, and compared with the ones identified in the research corpus that consists of eight hours of transmissions on two radio stations: Radio CBN and Radio Jovem Pan. The theoretical framework consists of four lines, which are complementary: reflections on ideology and hegemony by the philosopher Antonio Gramsci; Critical Theory; Medium Theory, having as main author Marshall McLuhan; and Zygmunt Bauman about liquid modernity and post-modernity. Eighteen sections were deployed from the two broadcasters, in which discussions and content analysis are carried out, identifying specific characteristics associated with three categories: the medium, the content and the audience. Traditional specificities are still in radio, some of which have undergone significant changes, in addition to naming new features which have arisen by technological innovations and by listener demand of the ‘digital era’. Also are identified specificities that have disappeared or are under-utilized. Finally, considerations are presented on the data collected and reflections about the specificities of today's radio.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

1.1 JUSTIFICATIVA ... 12

1.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 23

1.2.1 Uma linha do tempo ... 24

1.2.1.1 Manuais técnicos ... 29

1.2.1.2 Radiojornalismo ... 29

1.2.1.3 Livros históricos ... 30

1.2.1.4 Teorias do rádio ... 30

1.2.1.5 Temas ligados à convergência com novas mídias, tecnologias, formatos radiofônicos e internet e rádio digital ... 31

1.2.2 As especificidades dentro da literatura radiofônica ... 32

1.3 MÉTODO DE PESQUISA ... 37

1.3.1 Definição do objeto ... 38

1.3.1.1 Referenciais teóricos ... 39

1.3.1.2 O problema de pesquisa ... 40

1.3.2 Construção do corpus ... 42

1.4 A MAGIA DO RÁDIO – O OUVIR ... 45

2 QUADRO TEÓRICO METODOLÓGICO ... 50

2.1 HEGEMONIA E PODER ... 51

2.2 TEORIA CRÍTICA ... 56

2.3 TEORIA DO MEIO ... 66

2.4 A AUDIÊNCIA DO SÉCULO XXI ... 75

3 DISCUSSÃO E ANÁLISE ... 82

3.1 O MEIO ... 85

3.2 O CONTEÚDO ... 86

3.3 A AUDIÊNCIA ... 87

3.4 RÁDIO CBN – CENTRAL BRASILEIRA DE NOTÍCIAS - TRECHOS ANALISADOS ... 87

(10)

3.4.2 Trechos com especificidades ligadas ao conteúdo na CBN ... 99

3.4.3 Trechos com especificidades ligadas à audiência na CBN .... 103

3.5 RÁDIO JOVEM PAN – TRECHOS ANALISADOS ... 107

3.5.1 Trechos com especificidades ligadas ao meio na Jovem Pan ... 108

3.5.2 Trechos com especificidades ligadas ao conteúdo na Jovem Pan ... 112

3.5.3 Trechos com especificidades ligadas à audiência na Jovem Pan ... 116

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

4.1 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS ... 126

REFERÊNCIAS ... 127

GLOSSÁRIO ... 133

Anexo A – Audiência de rádio por faixa horária – São Paulo e Rio de Janeiro ... 135

Anexo B – Tabela com pesquisas de audiência, no período de novembro de 2012 a fevereiro de 2013, nas praças de São Paulo e Brasília ... 137

Anexo C – Programação semanal de cada uma das emissoras componentes do corpus de pesquisa ... 139

Anexo D - Degravação dos trechos analisados ... 144

(11)

CAPÍTULO 1

1 INTRODUÇÃO

Permitam-me utilizar a primeira pessoa na introdução deste trabalho, pois pretendo apresentar-me e colocar-me no contexto da pesquisa. Na sequência escreverei na terceira pessoa, para com isso manter o afastamento pessoal necessário e demandado à confecção de um trabalho científico.

Pergunto: o que, de fato, se escuta no rádio toda vez que o ligamos? Na maior parte do tempo, praticamente, escuto vozes humanas falando ou cantando. O que é a escuta? O que é a voz? Argumento que nenhuma das duas pode ser pensada ou entendida como fenômenos psicológicos ou sociológicos, porque ambas são, em um primeiro plano, fenômenos existenciais. Fenômenos existenciais são indicativos de existência, mais precisamente, de vida. O que se escuta na voz é vida. A voz é a essência do rádio. O que se escuta no rádio é ‘vida no ar’.

Este pesquisador encantou-se por essa ‘vida’ e trabalha produzindo conteúdo radiofônico desde 1984, quando participou da produção de um programa chamado Via 93, na extinta emissora Atlântida FM, em Brasília, na frequência de 93.7 MHz. Depois produziu programas na também extinta Manchete FM, 97,7 MHz, também em Brasília, até que em 1987 inaugurou sua produtora de áudio chamada Audio Fidelity Produções. Desde então vem se dedicando à produção de conteúdos informativos, educativos e publicitários na referida empresa. Atuou como operador de áudio, técnico de gravação e mixagem, sonoplasta, sound designer, redator, produtor, diretor de estúdio, diretor de dramaturgia, locutor, radioator, produtor musical, desenvolvedor de campanhas radiofônicas, entre outras atividades ligadas ao meio. Gravou programas de rádio em sistemas analógicos como fitas cassete e gravadores de rolo multipistas e em sistemas digitais como DATs1, Minidiscs, ADATs2, e, por fim, em

1 Digital Audio Tape

(12)

computadores com placas de som e softwares especializados. Acompanhou o desenvolvimento do CD e do mp33.

Desde o surgimento das gravações em digital percebe uma mudança no contexto e na dinâmica do rádio, que se potencializa e se acelera ao final dos anos 90 com a popularização da internet em banda larga, onde o áudio trafega com facilidade. A digitalização e a internet trazem novas mídias que competem com o rádio e percebe-se um esvaziamento de conteúdo, de importância, de faturamento, de investimentos e de produções elaboradas. Surge, novamente, um recorrente questionamento: o rádio vai morrer? Vai acabar? Não parece, mas é necessário encaixar-se neste novo contexto, encontrar seu lugar no ‘cardápio’ midiático do século XXI, talvez não mais como ‘prato principal’. Um posicionamento em que seja atrativo, consumido e útil, contribuindo socialmente e de forma econômica para o indivíduo moderno e contribuindo com a difusão de cultura, entretenimento e educação. Talvez o rádio se acabe da maneira como foi conhecido ao longo de sua história.

Surge outro questionamento: as novas mídias digitais e a internet são inimigas do rádio? Em um primeiro momento, as manifestações dos atores do meio são no sentido de que sim, é preciso lutar contra elas. Mas, logo se percebe que essa luta é invencível e que o mundo globalizado e democrático não combina com jogos de ‘soma zero’4. Inicia-se então um

processo de aliar-se e de compreender que a parceria e a convergência são o ‘jogo’ certo, um jogo do qual todos se beneficiam: o meio, o conteúdo e a audiência.

As perguntas aparecem: como participar, com sucesso, desse jogo? Como se modernizar e satisfazer aos indivíduos e às forças sociais do século XXI? Compreende-se que a resposta é: conhecendo suas próprias armas e potencializando-as. As ‘armas’ do rádio de

3 MP3 é uma abreviação de MPEG Layer 3, um formato de compressão de áudio digital que minimiza a perda de

qualidade em músicas ou outros arquivos de áudio reproduzidos no computador ou em dispositivo próprio. Site www.significados.com.br/mp3/ acessado em 19/03/2013 as 21h58.

4 Jogos de soma zero são situações onde o ganho do vencedor é exatamente igual ao prejuízo do perdedor. A

(13)

hoje são suas especificidades únicas, que podem vir a mantê-lo como meio hegemônico5 e participante da indústria cultural6 brasileira, oferecendo, na dose desejada pelos ouvintes, a programação que melhor corresponde aos seus anseios, é preciso detectá-las. O primeiro passo é, através da literatura disponível, detectar as suas características e suas especificidades ao longo do tempo, desde a sua criação. Após esta detecção faz-se necessária uma reflexão sobre a situação atual do meio, seu conteúdo e sua audiência.

1.1 JUSTIFICATIVA

O título da dissertação ‘Os novos caminhos do rádio na era digital - em busca das especificidades’ define o cerne de seu propósito e denuncia o problema de pesquisa que será abordado especificamente. A era digital impactou os meios tradicionais de comunicação de massa, entre eles o rádio, que consequentemente precisa encontrar novos caminhos para manter seu espaço na mídia e sustentar os trabalhadores dessa indústria cultural que dela dependem. Para encontrar os caminhos é preciso identificar as características únicas do rádio e para elas direcionar os investimentos. O meio radiofônico (radiodifusores, indústrias de equipamentos, radialistas, acadêmicos, entre outros) não pode, simplesmente, aguardar e assisti-lo sem encontrar uma saída. Esta pesquisa assume a tarefa de detectar estas características únicas, a partir de agora denominadas de especificidades.

Trazido para o Brasil pelos norte-americanos, em 1922, o rádio popularizou-se rapidamente. Em 1930, receptores já eram encontrados na maioria dos lares brasileiros e, segundo Tavares: “No início dos anos 30, com vinte e nove emissoras radiofônicas instaladas e funcionando no País, a programação baseava-se em música, óperas e textos “instrutivos”[...]”. (1999, p. 55). O rádio começava a ocupar lugar de destaque na sala principal e reunia a família a sua volta.

O apogeu do rádio espetáculo foi entre 1940 e 1955. Conforme o pesquisador Arthur Ferraretto (2001), foi impulsionado pela aproximação do Estado Novo7 com os Estados

5 O conceito de hegemonia adotado será o proposto por Antonio Gramsci, explicitado mais à frente neste

trabalho.

6O conceito de “indústria cultural” será estudado nos próximos capítulos.

(14)

Unidos da América; pela facilitação, por motivos de relações internacionais, à entrada de empreendedores daquele país no mercado nacional; e com o lançamento da ‘Política de boa vizinhança’ pelos norte-americanos, com o objetivo de romper os laços econômicos entre algumas nações da América Latina e a Alemanha nazista. Como consequência destes fatos:

Fica facilitada, assim, a penetração cultural norte-americana, com o star system8

hollywoodiano ganhando um sucedâneo nacional nas grandes emissoras radiofônicas, na indústria fonográfica e nos estúdios cinematográficos da Cinédia e da Atlântida. (FERRARETTO, 2001, p. 112)

Durante a sua chamada ‘Era de ouro’, o rádio detinha o poder e o controle da comunicação para o público brasileiro, era a mídia que recebia maiores investimentos nacionais e estrangeiros, era hegemônico. Era o principal veículo utilizado pela indústria cultural, e com o apoio das revistas e das radionovelas, disseminava culturas, encantava e atraía a atenção da sociedade brasileira. Reynaldo Tavares aponta este domínio quando relata sobre a novela ‘O Direito de Nascer’, que foi ao ar em 1951 na Rádio Nacional do Rio de Janeiro:

Quando da apresentação dos capítulos de O Direito de Nascer, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro era absoluta em termos de audiência e, naquele horário, os cinemas, os teatros e os outros meios de entretenimento ficavam vazios, as ruas como por encanto silenciavam e ninguém perambulava por elas... Era um horário religioso, uma imensa reunião emudecida e atenta que comungava, junto aos receptores, todas aquelas emoções vividas por Albertinho Limonta e os demais personagens inventados por Felix Caigne (TAVARES, 1999, p. 203).

A credibilidade do rádio e seu envolvimento na sociedade são marcantes neste período, com diversos casos relatados nos quais ouvintes acreditam serem reais os acontecimentos das radionovelas. Como no caso de um grupo de senhoras que enviou para a emissora um enxoval de bebê completo na época em que uma personagem da novela (não a atriz) estava grávida e iria ter o filho em condições precárias. De outra feita, um grupo de ouvintes encomendou uma missa de sétimo dia para um personagem muito querido, que veio a falecer na trama.

A penetrabilidade e o poder de mobilização do meio também estão presentes desde seu processo de popularização, mostrando-se de importância vital em diversos episódios na história da humanidade durante o século XX. Como exemplo, o caso do avião Boeing B17 da

8 Sistema de identificação, consolidação e promoção dos chamados astros de estrilas dentro do mercado de

(15)

Força Aérea Brasileira, na década de 1950, com 14 pessoas a bordo e já sem combustível, que precisava pousar em Campo Grande, no então estado de Mato Grosso. Porém, o campo de pouso estava às escuras (motivado por uma pane elétrica). A emergência chega ao conhecimento da base aérea do Rio de Janeiro/RJ, e um oficial telefona para a Rádio Nacional. Minutos depois um locutor entra no ar, explica o que está acontecendo e pede à população daquela cidade para iluminar o campo de pouso com faróis de automóveis. Trinta minutos após o comunicado do locutor da Rádio Nacional, a chamada ‘fortaleza voadora’ aterrissa, com segurança, em uma pista iluminada por dezenas de faróis. (FERRARETTO, 2001, p. 115). Este poder de mobilização ainda é visto nos dias de hoje, pois evento semelhante ocorreu em 5 de abril de 2013, no Peru, segundo matéria jornalística publicada no site UOL Notícias:

Os moradores de uma cidade peruana na selva amazônica se mobilizaram para iluminar uma pista de pouso durante a noite. Centenas de pessoas da cidade de Contamana, no nordeste do país, foram até a pista com carros, motos e riquixás para ajudar em um caso de emergência médica. Quase 300 veículos foram estacionados ao longo da pista com os faróis acesos para ajudar na decolagem de um voo que só poderia sair se o piloto conseguisse enxergar a pista.O avião estava levando uma mãe, seu filho recém-nascido e o outro filho, de 17 anos, que precisavam ser atendidos com urgência no hospital mais próximo. Uma rádio local divulgou o pedido de ajuda e, em meia hora, os voluntários chegaram para iluminar a pista e ajudar o piloto a levar a família para o atendimento. (grifo nosso)9

O rádio, com seu sistema de transmissão em broadcast10, é considerado o primeiro meio de comunicação eletrônico de massa. O fenômeno da comunicação de massa é derivado do entendimento de sociedade de massa. Sobre este conceito o professor Mauro Wolf diz:

[...] o conceito de sociedade de massa não apenas tem origens distantes na história do pensamento político, como também apresenta diversos componentes e tendências; trata-se, em resumo, de um “termo guarda-chuva”, cujo uso e cuja

acepção deveriam ser sempre especificados. [...] As “variantes” que podem ser

encontradas no conceito de sociedade de massa são muitas: o pensamento político do século XIX, de cunho conservador, ressalta na sociedade de massa o resultado da crescente industrialização, da revolução nos transportes, no comércio, da difusão dos valores abstratos de igualdade e liberdade. Esses processos sociais determinam a perda de exclusividade por parte das elites, que se encontram expostas às massas. (2009, p. 6)

9

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2013/04/05/voluntarios-se-mobilizam-para-iluminar-pista-de-decolagem-no-peru.htm acessado em 09/04/2013 as 11h55.

10Broadcast ou Radiodifusão é o processo pelo qual se transmite ou difunde determinada informação, tendo

(16)

O conceito eclode quando, na sociedade moderna, ocorre o deslocamento das populações em direção às cidades e sua consequente concentração em espaços urbanos, conforme explica Giovandro Marcus Ferreira:

A concentração populacional nos espaços, caracterizados pela urbanização e industrialização, leva inevitavelmente a pensar na massificação. Surgem as organizações ditas de massa: partidos, associações, sindicatos... com suas reivindicações coletivas. Isso sem falar em outras manifestações como o espetáculo e o esporte, que vão neste mesmo sentido, como o cinema e o futebol. (FERREIRA, 2010, p. 101)

A comunicação para as massas, iniciada com as técnicas de reprodutibilidade dos meios impressos, acentua-se com o surgimento dos meios eletrônicos de comunicação: rádio, cinema e televisão. Os estudos sobre os meios de comunicação no contexto da ‘sociedade de massa’ dividem-se em algumas linhas teóricas que procuram entendimento sobre a força dos meios de comunicação, sendo as mais conhecidas: Teoria Hipodérmica, Teoria Crítica, Estudos Culturais, Teoria do Meio, Agenda Setting11, Espiral do Silêncio, entre outras. Esta pesquisa se apoia nos conceitos apresentados pela ‘Teoria Crítica’, que será abordada detalhadamente no capítulo sobre o quadro teórico.

O rádio inaugurou a indústria cultural12 no Brasil. Em seus anos iniciais em nosso país, teve como entusiasta o médico legista, professor, escritor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro Edgar Roquette-Pinto, hoje considerado o pai da radiodifusão brasileira. Roquette-Pinto escreveu à época sobre o novo meio: O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador dos enfermos; o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado. Esta célebre colocação de Roquette-Pinto descreve e revela a vasta gama de especificidades13 do rádio à época.

De 1922 até a chegada da televisão, por volta do ano de 1950, o rádio agrupava uma grande quantidade de especificidades, era sinônimo de educação, de informação, entretenimento, inclusão, união nacional, pertencimento, cultura, status social, entre outros.

11 Agendamento.

12 Conceito criado pelos estudiosos alemães Max Horkheimer e Theodore Adorno, teóricos da Escola de

Frankfurt, que juntamente com outros teóricos desenvolveram a Teoria Crítica nos estudos da comunicação de massa.

13

(17)

Os indivíduos reuniam-se em torno no rádio para participar do mundo e ‘acessavam’ essa mídia com inúmeras finalidades. Ouvir rádio era estar ‘incluído’ no mundo.

Com a chegada e a popularização da televisão, chamada à época de ‘o rádio com imagem’, profetiza-se o fim do rádio, porque se assumia que a televisão oferecia tudo o que o rádio possuía e muito mais, mas logo se descobre que ainda existiam atrativos específicos do rádio. Segundo o canadense Marshall McLuhan:

Um dos muitos efeitos da televisão sobre o rádio foi o de transformá-lo de um meio de entretenimento numa espécie de sistema nervoso da informação. Notícias, hora certa, informações sobre o tráfego e, acima de tudo, informações sobre o tempo agora servem para enfatizar o poder nativo do rádio de envolver as pessoas umas com as outras. O tempo é um meio que envolve todas as pessoas por igual. (2007, p. 335)

Ocorre um deslocamento de determinadas especificidades do rádio para o novo meio eletrônico de comunicação de massa. Como exemplos, transferem-se para a televisão o espetáculo, o entretenimento, o humor, a prerrogativa de ser o aparelho que reunia a família na sala da casa, entre outras, além dos profissionais do rádio. Este deslocamento de especificidades ocorreu em diversos níveis, intensidades e ritmos, obrigando o rádio a reposicionar-se perante a sociedade, o mercado consumidor e seus financiadores, um processo que o pesquisador norte americano Roger Fidler denominou de ‘Midiamorfose’14. Em sua

publicação ‘Mediamorphosis: Understanding New Media’15, que versa sobre a transformação

das mídias, Fidler fala de seu conceito referindo-se à chegada da televisão16:

A rápida difusão de TV também trouxe importantes transformações na indústria do jornal, revista e cinema, que serão elaboradas nos capítulos subseqüentes. Essas mídias foram declaradas como condenadas à morte e sem capacidade para competir com o imediatismo e com as imagens atraentes da TV, no entanto, todas mostraram-se mais resistentes e adaptáveis do que o esperado. Isso também ilustra um importante corolário do princípio da metamorfose: Formas estabelecidas de meios de comunicação precisam mudar em resposta ao surgimento de um novo meio - sua única outra opção é morrer. (FIDLER, 1997, p. 23) (tradução nossa)

O rádio não morre, adapta-se, desenvolve novas especificidades e apoia-se nestas para seguir seu caminho.

14Mediamorposis (tradução nossa)

15 Midamorfose: Compreendendo novas mídias (tradução nossa)

16

Texto original: The rapid diffusion of TV also brought about significant transformations within the newspaper, magazine, and film industries, which will be elaborated upon in subsequent chapters. Each was declared a dying

medium without the capacity to compete with TV’s immediacy and compelling images, yet each proved to be

(18)

Em meados dos anos 50 é inventado o transistor, o que possibilitou a confecção do rádio portátil. O transistor livrou o receptor de fios e tomadas, proporcionando a portabilidade e mobilidade ao rádio, permitindo que fosse ouvido fora das residências, das cidades, privadamente e individualmente. Enfim, criou-se uma nova gama de especificidades. Ocorreu uma mudança na linguagem radiofônica, que passou a ser adaptada para um veículo com alta mobilidade, que acompanhava o ouvinte onde quer que ele estivesse. Segundo Magaly Prado: “Assim, a partir do transistor, o público pressuposto do rádio passou a ser um ouvinte móvel, o que não acontecia anteriormente quando as famílias se reuniam na sala ao redor de um garboso aparelho.” (2012, p. 215)

A escuta passou então a ser individual e não mais em grupo, e o locutor mudou o principal tempo verbal do seu discurso passando a falar na primeira pessoa. Surgiram expressões características da locução de rádio atual como: ‘olá, você’, ‘meu amigo’, ‘no pé do ouvido’, entre outras. Essa nova linguagem deu origem ao jornalismo radiofônico moderno, com foco na agilidade da informação. Segundo a pesquisadora Gisela Ortriwano, o rádio portátil inaugurou a chamada ‘Era da informação’:

Das produções caras, com multidões de contratados, o rádio parte agora para uma comunicação ágil, noticiosa e de serviços. Aliado a outros avanços tecnológicos, o transistor deu ao rádio sua principal arma de faturamento: é possível ouvir rádio a qualquer hora e em qualquer lugar, não precisando mais ligá-lo às tomadas. (1985, p. 22)

Nos anos 70 populariza-se no Brasil a transmissão radiofônica em frequência modulada, a hoje popular FM. A qualidade sonora melhora sensivelmente, o que permite um incremento do conteúdo musical: o entretenimento volta ao meio, uma nova especificidade.

Em 2012, o rádio completou, oficialmente, noventa anos de existência em nosso país. Segundo dados do Ministério das Comunicações17, o Brasil possui hoje 7.886 emissoras de rádio licenciadas, abrangendo emissoras em frequência modulada (FM), ondas curtas (OC), ondas médias (OM ou AM), ondas tropicais (OT), sejam elas comerciais, públicas, educativas18 e comunitárias19. O Brasil é o segundo país do mundo em quantidade de emissoras, sendo que o primeiro são os Estados Unidos da América, com um total de 13.476 emissoras20. Todavia, o sistema radiofônico brasileiro é mais complexo, por possuir diversas

17 http://www.mc.gov.br/acoes-e-programas/radiodifusao/dados-gerais acessado em 18/03/2013, as 18h56. 18 Todas as emissoras educativas transmitem em frequência modulada.

19 Todas as emissoras comunitárias transmitem em frequência modulada.

(19)

categorias de emissoras, com várias finalidades, atuando em várias bandas do espectro, com diferentes alcances, potências e orçamentos que variam de zero a milhares de reais.

O rádio foi o primeiro meio de comunicação eletrônico de massa do mundo e, com sua mensagem, teve papel preponderante na história do século XX. Quando surgiu, nos primórdios do século passado, como uma inovação tecnológica, rapidamente ganhou popularidade em todas as camadas sociais e culturais, principalmente pela sua característica de possibilitar o acesso aos analfabetos. Sua abrangência tornou-se atraente para governantes e para as elites hegemônicas, bem como para líderes interessados em disseminar ideologias.

O rádio oferecia educação, entretenimento, informação, inclusão, ideologias, sonhos que permeavam o imaginário pessoal e o coletivo, esportes, heróis, vilões, risos, choros, mercadorias, ideias, hábitos de consumo, cultura, união e muito mais, sendo de importância capital na vida dos brasileiros durante muitos anos. A pesquisadora Doris Fagundes Haussen discorre sobre a sua força no século XX:

No século que termina, os exemplos de mobilização pelo rádio são inúmeros. Desde as grandes manipulações do período da Segunda Guerra Mundial, passando por movimentos revolucionários das décadas posteriores, como os da Argélia, de Cuba e da Nicarágua, até por movimentos religiosos. Sem esquecer as mobilizações

esportivas e as políticas, como a da “Rede da Legalidade”, quando na década de 60

Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, mobilizou a opinião pública, através do rádio, para garantir a posse de João Goulart como presidente da República. A lição é a de que o sucesso destas mobilizações depende não só da capacidade técnica da utilização do veículo, mas, principalmente, das predisposições dos ouvintes, sejam elas psicológicas, sociais, culturais, econômicas ou políticas. (1998, p. 86)

Os efeitos sociais do rádio seriam pesquisados nos anos seguintes por diversos estudiosos, entre eles o teórico canadense Herbert Marshall McLuhan que, nos anos 60, o definiria como ‘tambor tribal’ e determinou diversas de suas especificidades intrínsecas em sua mensagem. Segundo Briggs e Burke, sobre o pensador:

[...] afirmou a centralidade da mídia, ao identificar e traçar as características específicas – independentemente das pessoas que as usam – das estruturas organizacionais com as quais operam os produtores e dos objetivos para os quais são usadas. Para McLuhan, que tinha formação de crítico literário, o importante não era o conteúdo da informação, e sim a forma que ela assumia. (2006, p. 21)

(20)

No fim do século XX surge a digitalização21, e essa tecnologia permite a criação de uma grande quantidade de novas mídias eletrônicas. A digitalização, juntamente com a invenção do computador pessoal, da internet e da World Wide Web22 proporcionam a armazenagem, transferência e troca instantânea de dados binários que podem ser codificados, decodificados e acessados, transformando-se rapidamente em grande quantidade de conteúdos, disponíveis em todo o planeta. O pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos(SC), Valério Cruz Brittos23, definiu esta nova era como a ‘fase da multiplicidade de oferta’. Mais uma vez o fim do rádio é profetizado, e desde então vive um declínio em sua popularidade, em seu faturamento comercial24 e na sua penetração. Segundo o guia ‘Mídia Dados Brasil 2012’25, publicado pelo Grupo de Mídia de São Paulo, a penetração do meio,

simples período26, caiu de 60% em 2002, para 44% em 2011.

Outro dado interessante é o fornecido pelo Ibope – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística27, uma empresa privada especializada em pesquisas com alto grau de credibilidade, que a partir de 2002 passou a realizar o levantamento dos índices de audiência dos meios de comunicação, por localidade. Em dezembro do mesmo ano registrou que o rádio, no ‘Grande Rio de Janeiro’, maior região pesquisada à época, detinha índice de audiência de 17,5%28, sendo que a mesma pesquisa em dezembro de 2012, dez anos depois, apresentou resultado de 15,01%29. Índices que podem ser considerados baixos para uma mídia que já foi hegemônica em nosso país e ainda com tendência negativa.

Com relação ao seu faturamento comercial, segundo o pesquisador Luiz Artur Ferraretto, o rádio assiste a um declínio desde o aparecimento da televisão em 1950 e afirma:

Desse ano (1950) até 1969, conforme dados da agência J. Walter Thompson, a participação do rádio na divisão das verbas publicitárias cai de 40% para 13%,

21 Digitalização é o processo pelo qual uma imagem ou conteúdo analógico, que pode ser áudio ou vídeo, é

codificado em um sistema binário de armazenamento, podendo ser decodificado posteriormente.

22Cabe destacar a diferença conceitual entre “internet” e World Wide Web. De forma resumida, internet é rede

física que interliga os computadores, passando pelos backbones e chegando aos computadores pessoais. World Wide Web, ou simplesmente WWW, é o conteúdo que está acessível a todos os conectados na rede.

23 BRITTOS, V. C. O rádio brasileiro na fase da multiplicidade da oferta. Verso & Reverso. São Leopoldo:

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2002.

24 De acordo com o Projeto Intermeios - Resumo da compilação dos dados do faturamento bruto, por meio

Dezembro 2011. http://www.projetointermeios.com.br/relatorios-de-investimento. Acessado em 31/05/2012, 23h13, a participação do rádio no bolo publicitário nacional foi de 3,97%.

25 http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx?edicao=4 acessado em 18/04/2013 às 14h52. Pag. 422. 26 Simples período: ouviu rádio ontem.

27 www.ibope.com.br

28 Fonte: Easy Media Rádio Praça: Grande Rio de Janeiro-Total de pessoas 10 anos e mais - Todos os dias -

das 5 à 0 h- Total Rádio - Dados Apresentados: Índices de Audiência em %. Universo: 8.805.313 pessoas.

29 Fonte: Easy Media Rádio - Praça: Rio de Janeiro - Total de pessoas com 10 anos e mais - Todos os dias, das 5

(21)

enquanto a da TV sobe de 1% para 43%. [...] Já segmentado, de 1980 até 2000 o rádio registra uma queda de 8,1% para 4,9%, na sua participação no bolo publicitário. (FERRARETTO, 2010, p. 35,36,38)

Todavia, o novo contexto tecnológico e social provocou mudanças em todo o ambiente comunicacional, com ênfase para o impacto nos meios de comunicação tradicionais como o rádio, o jornal, a televisão e o cinema. Em seu livro chamado ‘Cultura da Convergência’, Henry Jenkins destaca:

Os mercados midiáticos estão passando por mais uma mudança de paradigma. Acontece de tempos em tempos. Nos anos 1990, a retórica da revolução digital continha uma suposição implícita, e às vezes explícita, de que os novos meios de comunicação eliminariam os antigos, que a Internet substituiria a radiodifusão e que tudo isso permitira aos consumidores acessar mais facilmente o conteúdo que mais lhes interessasse. Um best-seller de 1990, A Vida Digital (Being Digital), de

Nicholas Negroponte, traçava um nítido contraste entre os “velhos meios de comunicação passivos” e os “novos meios de comunicação interativos”, prevendo o

colapso da radiodifusão (broadcasting) em favor do narrowcasting (difusão estreita) e da produção midiática sob demanda destinada a nichos. (2009, p.32)

Fazem-se necessárias discussões, análises e reflexões sobre como o rádio pode aliar-se às novas tecnologias digitais, sobre as novas formas de se ‘fazer rádio’, sobre como as emissoras utilizam-se das TICs30 para interagir com seus ouvintes e fazê-los participar do conteúdo de sua programação, entre outros temas. Ou seja, são necessários estudos sobre a atualidade do meio e seus conteúdos.

Pelo lado da audiência, o século XXI é caracterizado por uma sociedade mais fluida, autoconsciente, dinâmica, autônoma e livre, denominada de ‘modernidade líquida’ pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, conceitos estes que serão apresentados no capítulo 2 desta dissertação - Referencial teórico. Essa nova condição humana é ágil, exigente, individualista e crítica em termos comunicacionais. A partir do conceito do filósofo alemão Jurgen Habermas, André Barbosa Filho e Cosette Castro afirmam:

Defendemos a existência de uma Nova Ordem Tecnológica porque ela permite que os diálogos retomem sua capacidade dinâmica, através da participação individualizada da ação comunicativa, transformando o anonimato que a mídia analógica há anos estimula numa demonstração autêntica de expressividade e de possibilidades de construção de conteúdos pelos diferentes atores sociais. (2008, p.15)

(22)

Um novo ouvinte de rádio se apresenta, com novas características e demandas, segundo os mesmos autores:

No campo da recepção também estão ocorrendo modificações significativas. As atividades informativas, em sua maioria declarações editoriais e interpretativas da realidade, influenciam os indivíduos/receptores, vistos até então como meros colaboradores no processo de elaboração da informação. Com a convergência tecnológica e a chegada de uma Nova Ordem, torna-se possível a construção e a desconstrução de conteúdos, através de facilidades tecnológicas como as que, por exemplo, são possíveis de obter no jornalismo open source. (Barbosa Filho, 2008, p.16)

As demandas e as necessidades dos ouvintes, denominados também de participantes, usuários ou clientes, determinarão os atributos e as especificidades essenciais para sobrevivência do meio. Ressalte-se que estas demandas e necessidades nem sempre são claras e conhecidas pelos referidos consumidores. Para o jornalista Heródoto Barbeiro:

As forças sociais são as senhoras do destino do mundo. E das tecnologias. E do rádio. Ou encontram nesse meio de comunicação uma forma de satisfação de seus desejos ou necessidades, ou vão buscar outro meio de comunicação. (2004, p. 145)

Marshall McLuhan afirma que ‘os meios são extensões do homem’, conforme explica a professora Nélia Del Bianco:

Ao analisar a passagem do modelo de comunicação linear da era tipográfica, fundada com a invenção de Gutenberg, para a era eletrônica, dominada pelo rádio e a televisão, McLuhan percebeu que a tecnologia cria uma ambiência por onde o homem transita. O conceito de ambiente se traduz na atmosfera, ou seja, em algo invisível, porém atuante na atividade humana a ponto de contribuir para produzir estilos de vida. Esse ambiente era uma espécie de segunda natureza que formava o próprio homem e moldava seus padrões e modos de perceber o mundo. Por essa relação, os meios tornavam-se ‘extensões do homem’ como se fossem prolongamentos do corpo, prótese dos sentidos que condicionam mudanças em nosso comportamento. (2005, p. 154)

O rádio continua sendo uma ‘extensão do homem’, mas as mudanças sociais e tecnológicas forjaram uma forma diferente. Urge encontrar sua nova ‘extensão’, para que o mais antigo meio eletrônico de comunicação de massa se reinvente mais uma vez. Ainda segundo Heródoto Barbeiro: “A história já demonstrou inúmeras vezes que o passado não volta e os fatos históricos não se repetem. A era do rádio acabou. É preciso reinventá-lo.” (2004, p. 145)

(23)

radiojornalismo, convergência, interação, entre outras. O fato é que o rádio necessita se reinventar. Para Barbeiro, um dos caminhos passa por uma nova concepção da comunicação radiofônica, agora baseada na interação constante entre emissor e receptor:

A comunicação via rádio não pode mais ser entendida apenas como um som obtido a partir de um eletrodoméstico de formato quadrangular e provido de botões, sejam para girar ou apertar. O rádio deve ser entendido como uma comunicação auditiva, eletrônica e de longa distância. Agora, mais do que nunca acrescido de interatividade. Não é mais possível conceber o rádio fora da interação constante entre o emissor e o receptor da notícia, depois do desenvolvimento da internet e do trânsito do rádio nessa nova estrada que contém todos os veículos eletrônicos. (Barbeiro, 2004, p. 137)

No mercado, os radiodifusores procuram a cada dia novas formas de interação e convergência com as mídias digitais, surgem novas formas de se ‘fazer rádio’ e todos procuram saídas para a crise. Criam e desenvolvem novas ferramentas de interação e abrindo cada vez mais espaço para que o ouvinte, que deseja ser um ‘usuário/participante’, produza conteúdo dentro da sua programação. Estas novas formas de interação e de convergência com as mídias digitais devem ser documentadas e analisadas, como afirma o estudioso do rádio Eduardo Meditsch:

Quando o rádio tem a sua segunda morte anunciada em função do surgimento de novas mídias (a primeira morte, que não houve, foi anunciada há meio século, com o surgimento da TV), é oportuno investigar o que exatamente está sob risco, e daí o debate conceitual terá que ser necessariamente retomado. Será um modelo de uso da tecnologia (a instituição social), será um modelo de negócio (a indústria), será um hábito intelectual (a criação cultural)? (2010, p. 206)

Há que se avaliar que o rádio não conseguirá adaptar-se firmemente e completamente a esta nova realidade, não voltará a ter a apreciação do público, não conseguirá reinventar-se e voltar a ser um meio de comunicação de massa dominante, se não houver um debate conceitual sobre o meio, que consiga definir claramente as suas novas especificidades. Após estas estarem delimitadas, os investimentos poderão ter direções certeiras. Sem esta definição, o empirismo reinará nas estratégias das emissoras, que continuarão a realizar tentativas cegas de posicionamento do meio dentro do novo cenário midiático digital em curso. Esta pesquisa procurará contribuir para a busca destas novas especificidades do meio rádio no século XXI.

(24)

No capítulo 2 será exibido o quadro teórico, com os autores que irão embasar a análise e a reflexão sobre o problema de pesquisa. Com esse referencial teórico em perspectiva, no capítulo 3 haverá o levantamento e a discussão de dados empíricos coletados das emissoras de rádio pertencentes ao corpus de pesquisa.

No capítulo 4 virão as conclusões finais, interpretação dos resultados e sugestões para futuras pesquisas sobre o meio rádio.

1.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste item, o objetivo é mapear a bibliografia sobre o rádio no Brasil, procurando identificar os principais temas que interessaram aos pesquisadores e autores, bem como localizar o objeto desta pesquisa, as especificidades do meio, no contexto das publicações e na história do meio. Pela impossibilidade de localização, leitura e análise da totalidade dos trabalhos realizados e publicados no Brasil, a revisão bibliográfica ficará centralizada em dois itens: inicialmente, uma pesquisa na forma de uma linha do tempo, começando nas primeiras transmissões no Brasil até os dias atuais. Serão destacados títulos e temas recorrentes e pertinentes; e em um segundo item, o apontamento das especificidades do rádio por alguns autores, à época das suas publicações.

Sabe-se que a bibliografia ligada diretamente ao meio é reduzida no Brasil, conforme afirma Meditsch:

A bibliografia existente sobre o rádio, além de reduzida em relação à disponível sobre os outros meios de comunicação, encontra-se dispersa e com acesso dificultado por uma série de fatores. A posição subalterna a que o rádio foi relegado fez com que o veículo fosse tratado, na maior parte das vezes, como capítulo de obras de interesse mais geral, o que raramente é citado na catalogação dos livros. Os livros específicos, por sua vez dificilmente ultrapassam a primeira edição, que uma vez esgotada é retirada do catálogo das editoras. E as bibliotecas, mesmo as especializadas em comunicação social, costumam ter o rádio entre as suas últimas prioridades em termos de aquisição, o que torna essas edições sazonais irrecuperáveis. Desta forma, qualquer levantamento sobre o que já se publicou sobre o rádio será forçosamente incompleto. (Meditsch, 2007, p. 45)

(25)

Em 2010, o Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom se articulou para realizar um levantamento de todos as publicações (livros e artigos) que tivessem o rádio como objeto principal. Num amplo trabalho desenvolvido pelas professoras Débora Cristina Lopez e Izani Mustafá, foram elencadas as principais publicações nacionais e estrangeiras sobre a radiofonia. A pesquisa realizada neste artigo contempla apenas a produção nacional. [...] Dessa forma, podemos apontar a existência de pelo menos 208 livros de autores brasileiros, que têm a palavra “rádio”

no título ou de forma desdobrada, como radiofonia, radiodifusão, entre outras, ou ainda nomes de programas, de emissoras ou de radialistas. (Prata, 2012, p. 6) (grifo nosso)

Para realizar um mapeamento destas publicações foi adotada como método a construção de uma ‘linha do tempo’. Serão listadas com destaques, comentários e de forma cronológica, as principais publicações ao longo dos 90 anos de existência do meio.

1.2.1 Uma linha do tempo

O rádio teve sua primeira emissão pública em 1922, durante as comemorações do centenário da independência no Rio de Janeiro, e em 20 de abril de 1923 nasce a primeira estação de rádio do Brasil, a PRA-2 – Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. As primeiras décadas do rádio são voltadas para o desenvolvimento da novidade tecnológica, com o surgimento de diversos radioclubes em todo o país e a descoberta de seus usos. Os conteúdos transmitidos eram de caráter educativo, incluindo palestras e concertos de música clássica, sendo direcionados para a elite dos grandes centros urbanos. As primeiras publicações no Brasil, ou pelo menos traduzidas para nosso idioma, são destinadas a engenheiros e técnicos em eletrônica, como manuais de elaboração e montagem de equipamentos eletrônicos, como transmissores, antenas e receptores.

Graças à iniciativa de Edgard Roquette-Pinto31 e Henrique Morize32, o rádio brasileiro nasceu à sombra da cultura literária, da qual demorou algum tempo para se desligar e encontrar seu próprio caminho. Era uma espécie de ‘confraria’, fechada, com poucos eleitos, que foi aos poucos aceitando novos adeptos e levou mais de dez anos para abrir suas portas a uma participação mais popular. Neste período, o próprio Roquette-Pinto publicou textos de

(26)

caráter sociológico, nos quais defendia o rádio como instrumento de disseminação da cultura para a população em geral.

As primeiras obras impressas são sobre a engenharia e a eletrônica, livros e manuais técnicos sobre montagem de sistemas irradiantes e receptores. Os estudos iniciais não ligados à eletrônica são voltados para a estética do rádio, como o clássico livro ‘Radio: an art of sound’33, do teórico alemão Rudolf Arnheim, um manuscrito produzido em 1933, e que em

1936 foi traduzido e publicado em inglês (Meditsch, 2007, p. 46). Em 1940, Paul Lazarsfeld publicou nos Estados Unidos da América um importante estudo sociológico sobre a audiência no rádio.34 Depois desta pesquisa, o surgimento da TV desvia o olhar dos pesquisadores sobre comunicação e não surgem novos grandes estudos sobre rádio neste período.

As poucas produções literárias ligadas ao rádio de que se tem registro no Brasil entre 1922 e 1940, excetuando-se as de eletrônica, são manuais que ensinavam como ‘fazer rádio’, livros que ensinam a técnica, cursos de rádio.

Com a popularização do meio nos anos 40 e o crescimento das verbas publicitárias, surge a ‘Revista do Rádio’, em 1948, onde artistas aparecem, radionovelas são comentadas e as emissoras procuram interagir com seus ouvintes de forma a fidelizá-los e potencializar suas programações. Diversas revistas do gênero surgem em todo o país neste período. Estas publicações não tratam do meio de forma científica, são parte da nascente indústria cultural brasileira.

Entre 1950 e 1960 surgem publicações com conteúdo histórico, como o ‘Rádio Almanaque Paulistano’ de Thyrso Pires (1951), com fotos, biografias, efemérides, autógrafos, histórico das emissoras paulistanas e surgimento do rádio no Brasil. Até hoje, a maioria das publicações brasileiras sobre rádio possui conteúdo ligado a relatos sobre a historicidade do meio, seus personagens ou emissoras.

Nesta década, o locutor/apresentador/radionovelista Saint-Clair Lopes criou o departamento jurídico da Rádio Nacional e publicou em 1957 ‘Fundamentos jurídico-sociais da radiodifusão’, considerado à época um importante documento para regulamentação do setor. Saint-Clair se tornaria apresentador do conhecido programa ‘Repórter Esso’ e nos anos

33 Trataremos mais a fundo sobre este importante livro no item 1.4 A magia do rádio, nesta dissertação. 34 Em 1937, a Fundação Rockfeller concedeu recursos para um estudo em larga escala nos efeitos sociais do

(27)

70 ainda publicaria os livros ‘Radiodifusão hoje’ e ‘Radiodifusão – meio século a serviço da integração nacional’.

A partir dos anos 60, surgem por todo o mundo publicações tratando a comunicação em geral como ciência, e consequentemente os estudos sobre determinados meios e seus efeitos nos indivíduos e na sociedade intensificam-se. São traduzidos para o português livros como: ‘O Processo da Comunicação’, de David K. Berlo (1963); ‘Rádio e Televisão’, de Jack Gould (1964); ‘Os Meios de Comunicação e a Sociedade Moderna’, de Peterson - Jensen e Rivers (1965); ‘Meios de Comunicação de Massa’, de Charles S. Steinberg (org.) (1966); e ‘Os meios de comunicação como extensão do homem’, de Marshall McLuhan (1969). Todos abordavam, além do rádio, outros meios de comunicação, e já detectavam e apontavam especificidades e atributos de mídias específicas e seus impactos sociais.

Nos anos 70 ainda predominam publicações com conteúdos ligados à historicidade e manuais técnicos de aprendizado, como os livros: ‘Aprenda Rádio - para o Principiante’, de Isidro H. Cabrera e Ernesto Saba (1970); ‘Jornalismo Audiovisual: Rádio, Tv e Cinema’, de Walter Sampaio (1971); ‘Radioprogramas - Radioprogramas Serpal – 1’, de N. Macacari (1972); ‘Bastidores do Rádio’, de Renato Murce (1976); e ‘O Rádio no Brasil há Meio Século’, de Antena rádio (1976).

Em 1978, o argentino Mário Kaplún publicou no Equador o livro ‘Producción de Programas de Radio. El guión – La realización’35, onde trata com clareza da natureza do

meio, suas limitações e possibilidades. Um pioneiro e importante estudo das especificidades e características do rádio utilizado como referência nos dias atuais pelas escolas de comunicação, embora nunca traduzido integralmente para o português.

Nos anos 80, o cenário temático não se altera, e ainda predominam publicações sobre a história do rádio e manuais técnicos. São editados alguns livros que esmiúçam a ‘época de ouro’ da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como por exemplo: ‘Por trás das ondas da Rádio Nacional’, de Miriam Goldfeder (1981) e ‘Rádio Nacional - o Brasil em Sintonia’, de Luiz Carlos Saroldi e Sonia Virgínia Moreira (1984).

Em 1985 é publicado o livro de Gisela Swetlana Ortriwano ‘A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos’, um dos primeiros trabalhos que se

(28)

aprofundam nas características, classificações e especificidades do rádio brasileiro. Segundo Walter Sampaio, que escreveu o prefácio da obra:

O livro de Gisela Ortriwano é daquelas contribuições ao arcabouço bibliográfico da Comunicação Social em nosso país que nos redime e nos alenta. Redime, na medida em que , quando busca enunciados teóricos em autores sérios, não se limita à reprodução de textos e conceitos que muitas vezes – ou quase nunca – nada têm a

ver com a nossa realidade, essa “misteriosa” realidade, não raro fraudada ou

ignorada; e alenta porque abre, realmente, o caminho para o seu verdadeiro estudo e sua competente análise. (ORTRIWANO, 1985, p. 9)

Em 2013, o livro de Gisela Ortriwano já está em sua 5ª edição. Ainda em 1986 é publicado o ‘Manual de Radiojornalismo’, de Maria Elisa Porchat, e em 1989 o livro ‘Estrutura da Informação Radiofônica’, de Emilio Prado. Percebe-se um aumento nas publicações sobre o rádio com abordagem jornalística e também livros baseados nas memórias individuais dos profissionais, que contavam suas trajetórias e experiências.

Outra importante publicação desta década é o livro ‘O rádio dos pobres: comunicação de massa, ideologia e marginalidade social’, de Maria Immacolata Vassalo Lopes (1988). De acordo com a pesquisadora Maria Isabel Orofino, que faz uma análise do livro:

[...] identifico o caráter precursor de uma pesquisa realizada no início dos anos 80 e que vem a ser um das primeiras no campo da pesquisa de recepção no Brasil. [...] estamos nos deparando com um trabalho precursor sob o ponto de vista epistemológico, e tem o foco voltado para este meio de comunicação especificamente. [...] Trata-se, portanto, de uma pesquisa crítica de comunicação social que versa sobre a ideologia em discursos radiofônicos populares (Zé Bettio; Gil Gomes e Silvio Santos – Rádio Record/São Paulo) e os modos de reconhecimento das classes populares dos mesmos. (OROFINO, 2008, p. 140)

Segundo a pesquisadora Sonia Virgínia Moreira, “as pesquisas científicas sobre o veículo só se intensificaram, efetivamente, nos anos 1990” (MOREIRA, 2005). Esse conceito é congruente com o artigo apresentado no GP Rádio e Mídia Sonora do XII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, em 2012, pela pesquisadora Flávia Bespalhok, em que argumenta:

(29)

A partir de então se percebe um incremento na quantidade de pesquisas e publicações científicas sobre o rádio, tratando de diversas categorias com sua linguagem, seu poder como disseminador de ideologias, estudos e casos regionais sobre ações de emissoras. Passam a ser organizados por estudiosos, universidades ou grupos de pesquisa, livros compostos de artigos de diversos autores.

Também, nos anos 90, surgem publicações destacando o rádio esportivo, e em 1996 é publicado o primeiro Anuário Brasileiro de Mídia – Sul/Sudeste pela editora Meio & Mensagem, com dados estatísticos sobre o meio. Dentre as publicações da década, destacam-se: ‘Técnicas de redação radiofônica’, de Luiz Arthur Ferraretto e Elisa Koplin (1992); ‘O mito no rádio. A voz e os signos de renovação periódica’, de Mônica Nunes (1993); ‘A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo’, de Edileuza Soares (1994); ‘Rádio: Inspiração, Transpiração e Emoção’, de Cyro César (1996); ‘Histórias que o rádio não contou: do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo’, de Reynaldo C. Tavares (1997); ‘Rádio e Pânico’, organizado por Eduardo Meditsch (1998); ‘Rádio: oralidade mediatizada: o spot e os elementos da linguagem radiofônica’, de Júlia Lúcia de Oliveira Albano da Silva (1999); e ‘Rádio no Brasil: tendências e perspectivas’, organizado por Nélia R. Del Bianco e Sônia Virgínia Moreira (1999).

Algumas destas publicações já começam a aprofundar-se nas especificidades do meio, objeto desta pesquisa. O livro de Del Bianco e Moreira apresenta artigos de diversos pesquisadores que discutem o avanço das novas mídias sobre a hegemonia do rádio como mídia mobilizadora, e alguns autores apontam novos caminhos para o meio dentro do novo contexto midiático.

(30)

1.2.1.1 Manuais técnicos

É o tema que tem a menor quantidade de publicações no período, provavelmente por ser o assunto pioneiro dos livros sobre rádio. Hoje já não existem novidades a se ensinar, a não ser sobre o acoplamento do rádio com outras mídias, a convergência midiática, tema que será tratado em um item específico adiante.

Porém, uma importante publicação no formato de um manual, mas que em seu conteúdo abrange um terreno bem mais extenso é a obra ‘Gêneros radiofônicos – Os formatos e os programas em áudio’, de André Barbosa Filho, de 2009. Este livro trata de teorias de comunicação, história do rádio e seus gêneros, classificando-os. Barbosa Filho, em formato de manual para estudo e aprendizado, penetra nas características do meio apontando e analisando as especificidades de cada um dos gêneros radiofônicos.

Ainda sobre manuais técnicos foram publicados: ‘Produção de Rádio’, de Robert Mcleish (2010); ‘Manual dos Locutores Esportivos’, de Carlos Fernando Schinner (2004); ‘Como Falar no Rádio - Prática de Locução AM e FM’, de Cyro César (2008) e ‘Manual de radiojornalismo’, de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo Lima (2001), entre outros títulos.

1.2.1.2Radiojornalismo

Em 2001 é publicado ‘O Rádio na Era da Informação’, de Eduardo Meditsch, tese de doutorado defendida em Portugal que trata das especificidades do radiojornalismo com uma visão crítica do rádio no Brasil e da metodologia de produção e veiculação de notícias. Segundo o jornalista Heródoto Barbeiro, que redigiu o prefácio do livro: “é uma contribuição para se entender cientificamente o desenvolvimento do rádio”. (MEDITSCH, 2007, p. 22)

(31)

1.2.1.3Livros históricos

Diversas publicações sobre efemérides e períodos importantes para o meio são publicados a partir do ano 2000. Destacam-se: ‘O rádio, o futebol e a vida’, de Flávio Araújo (2001); ‘Histórias da Gente do Rádio’, de Daurea Gramatico (2002); ‘Rádio e política: tempos de Vargas e Perón’, de Doris Fagundes Haussen (2001); ‘A Era do Rádio’, de Lia Calabre (2002); ‘No Ar: Prk - 30! - o Mais Famoso Programa de Humor da Era do Rádio’, de Paulo Perdigão (2003); ‘Rádio brasileiro: episódios e personagens’, de Magda Rodrigues da Cunha e Dóris Fagundes Haussen (2003); ‘Pioneiros do Rádio e da TV no Brasil 1’, de David José Lessa Mattos (2004); ‘Rádio Nacional, o Brasil em sintonia’, de Luiz Carlos Saroldi e Sônia Virgínia Moreira (2005); ‘A Rádio Nacional’, de Cláudia Pinheiro (2005); ‘Batalha sonora: o rádio e a Segunda Guerra Mundial’, de Cida Golin e João Batista de Abreu (2006); ‘Padre Landell de Moura, um Herói sem Glória’, de Hamilton Almeida (2006); ‘Almanaque da Rádio Nacional’, de Ronaldo Conde Aguiar (2007); ‘Os Ídolos da Radionovela’, de Bibiana Paiva Nunes, Luiz Cotta e Alexandre Dias (2007); ‘O Repórter Esso - a Síntese Radifônica Mundial Que Fez História’, de Luciano Klöckner (2008); ‘As rainhas do rádio: símbolos da nascente indústria cultural brasileira’, de Maria Luisa Rinaldi Hupfer (2009); ‘História da mídia sonora – experiências, memórias e afetos de norte a sul do Brasil’, organizado por Luciano Klöckner e Nair Prata (2009); e ‘As divas da Rádio Nacional’, de Ronaldo Conde Aguiar (2010). Em 2012 é publicado pela pesquisadora Magaly Prado o livro ‘História do rádio no Brasil’, que destaca personagens do meio, desde seu início.

Uma importante publicação, referência para os pesquisadores do meio é ‘Rádio - O veículo, a história e a técnica’, do professor Luiz Arthur Ferraretto (2007), que além de ser um livro que trata da história do rádio, versa sobre sua linguagem, suas características, suas especificidades, convergência com a internet e seu futuro.

1.2.1.4Teorias do rádio

(32)

O crescimento e o interesse em pesquisar o rádio têm aumentado e os motivos para isso certamente incluem a proliferação dos cursos de pós-graduação em Comunicação. O baixo interesse em relação a este meio de comunicação ficou para trás. (PRATA, 2010, p. 1)

Nesta categoria existem muitas publicações editadas pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, que possui um grupo de pesquisas específico para o rádio denominado GP Rádio e Mídia sonora, ainda segundo Prata, atual coordenadora do referido grupo:

Em 20 anos de atividades, o GP Rádio e Mídia Sonora teve 471 trabalhos apresentados: 1991 (7), 1992 (5), 1993(6), 1994 (10), 1995 (9), 1996 (13), 1997 (13), 1998 (20), 1999 (24), 2000 (13), 2001 (20), 2002(24), 2003 (38), 2004 (41), 2005 (41), 2006 (29), 2007 (30), 2008 (34), 2009 (44) e 2010 (50). (PRATA, 2012. p. 3)

A quantidade de 471 trabalhos é expressiva, e muitos deles foram compilados em livros teóricos, como os dois volumes organizados por Eduardo Meditsh e Valci Zuculoto ‘Teorias do Rádio – Textos e contextos. Volumes I e II’, publicados em 2005 e 2008, respectivamente. Percebe-se também o crescimento anual na quantidade de artigos apresentados em congressos, demonstrando o crescente interesse pelo tema.

Outras entidades como a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) também receberam trabalhos sobre o rádio, totalizando, segundo Prata (2012) 266 pesquisas onde aparecem a palavra ‘rádio’, ‘radiojornalismo’ e ‘história do rádio’ nas palavras-chave (o mesmo critério utilizado para mapear os trabalhos da Intercom).

Em 2001 é publicado o livro ‘Desafios do Rádio no Século XXI’, organizado por Sonia Virgínia Moreira e Nélia del Bianco, um compêndio de artigos com teorias sobre o futuro do meio.

1.2.1.5Temas ligados à convergência com novas mídias, tecnologias, formatos radiofônicos, internet e rádio digital

(33)

Beneton (2004); ‘Rádio Ativo - O passado, o presente e o futuro do rádio’, organizado por Luciano Klöckner e Sérgio Francisco Endler (2005); ‘O rádio sem onda: convergência digital e novos desafios na radiodifusão’, de Marcelo Kischinhevsky (2007); ‘WEBradio: novos gêneros, novas formas de interação’, de Nair Prata (2009); ‘E o rádio?:novos horizontes midiáticos’, organizado por Luiz Artur Ferraretto e Luciano Klöckner (2010); ‘O novo rádio – cenários da radiodifusão na era digital’, organizado por Antônio Francisco Magnoni e Juliano Maurício de Carvalho (2010); ‘O rádio na era da convergência das mídias’, de Rachel S. A. Neuberger (2012) e ‘O rádio brasileiro na era da convergência’, organizado pela professora Nélia R. Del Bianco, que conta com tradicionais autores brasileiros sobre o meio como Luiz Arthur Ferraretto, Marcelo Kischinhevsky, Nair Prata e Eduardo Meditsch, publicado em 2012 pelo Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom.

Algumas destas publicações refletem sobre a concorrência dos novos dispositivos portáteis que armazenam e reproduzem áudio (mp3 players), das rádios web, dos podcasts e de outras formas de acesso a conteúdos de áudio, com o rádio nos dias atuais.

Encontram-se nestas publicações discussões sobre como o rádio deve se integrar à internet, convergência com a web, suas formas, vantagens e desvantagens. Discute-se também se, conceitualmente, nestas novas plataformas baseadas na internet, o rádio continuará sendo ‘rádio’ (com suas características tradicionais). A segmentação de conteúdos também é debatida. Encontram-se também análises sobre o novo meio que surge, o rádio digital, com abordagens sobre a necessidade da adequação da linguagem e do conteúdo, seu funcionamento técnico, sua implantação no Brasil, vantagens e desvantagens.

É possível observar que houve um nítido avanço na quantidade e na qualidade das publicações sobre rádio no país, decorrente principalmente do aumento da quantidade de cursos de graduação e pós-graduação em comunicação e secundariamente por um aumento de interesse pelo meio.

1.2.2 As especificidades dentro da literatura radiofônica

(34)

como seus atributos, funcionalidades e peculiaridades são apontadas, mas com raros aprofundamentos, e na maioria dos casos no sentido de comparação com outros meios de comunicação ou de enaltecimento do rádio. Diversas pesquisas detectam e até analisam especificidades, mas não como foco central, não apontadas como tal, muitas vezes passando despercebidas pelo autor. Identifica-se a análise de especificidades para conteúdos distintos, como o apontamento das características do radiojornalismo, radioeducação, radiomobilização, radioesportivo, entre outros.

Apresentam-se a seguir características do rádio destacadas em publicações passadas, de alguns autores selecionados, em uma busca da detecção das especificidades antigas do meio. São tratadas como ‘antigas’ as características em que o meio investia e se utilizava antes do surgimento da chamada ‘era digital’, dos computadores, e da internet com seus novas plataformas, formatos e possibilidades.

O argentino Mário Kaplún, em seu livro Producción de Programas de Rádio, El guión – La realización, de 1975, divide as características do meio em limitações e possibilidades. (2008, p. 83) Kaplún apresenta quatro limitações:

1. Unisensorialidade – o rádio somente emite sons, vale-se de um só e único sentido, a audição, que é limitada, segundo Kaplún: “Frente a um receptor de rádio somos todos cegos; o ouvinte deve assumir uma cegueira voluntária” (2008, p. 83);

2. Ausência de interlocutor – esta limitação não é exclusiva do rádio, sendo compartilhada por todos os meios de comunicação de massa, e estabelece o problema de uma comunicação unidirecional, a relação de dependência do ouvinte com o emissor. Para Kaplún:

No rádio estamos sós. O interlocutor não pode intervir, o comunicador não pode perceber a reação dos ouvintes que, por sua vez, não podem fazer qualquer pergunta nem pedir-lhe que repita alguma frase que não entenderam bem, nem controlar a velocidade da exposição. (2008, p. 85)

3. Fugacidade – a mensagem radiofônica é efêmera, inscreve-se no tempo, segundo Kaplún: “O que se diz já está dito, já passou; se não foi captado e entendido, já não há remédio; e o ouvinte se desconecta porque não pode seguir o restante da exposição.” (2008, p. 85); e,

(35)

Porém, o público [...] se habituou – e as próprias emissoras contribuíram para isso – a estabelecer com o aparelho de rádio uma relação cômoda e passiva.” (2008, p. 86)

Em contrapartida, Kaplún apresenta as possibilidades, ou recursos, do meio:

1. Poder de sugestão – este recurso faz frente à limitação da unisensorialidade na medida em que a estimulação forte em um único sentido eleva o poder de sugestão, segundo Kaplún: “... a eficácia da mensagem radiofônica depende, em grande medida, da riqueza sugestiva da emissão, de sua capacidade de sugerir, de alimentar a imaginação do ouvinte com uma variada proposta de imagens auditivas.” (2008, p. 87);

2. Comunicação afetiva – a psicologia entende que o sentido auditivo é o mais ligado às vivências afetivas do homem. Segundo Kaplún: “A autêntica comunicação radiofônica deve ter um componente afetivo além do conceitual; deve mobilizar não somente a área pensante do ouvinte como também sua área emocional” (2008, p. 88);

3. Empatia – para fazer frente à unidirecionalidade da comunicação do rádio, a capacidade empática do comunicador é uma das possibilidades. No rádio, a empatia é decisiva, e o comunicador deve desenvolver ao máximo sua capacidade de assumir a situação do ouvinte, perceber o mundo como ele, sintonizar sua vida, sua realidade e seu universo cultural (2008, p. 89); e,

4. Relação de identificação – quando as pessoas escutam rádio, entram em jogo mecanismos psíquicos fundamentais como o da identificação. O público se identifica com determinados locutores, artistas, personagens ou programas e estabelece com eles uma relação afetiva especial.

A autora Gisela Swetlana Ortriwano, em seu livro ‘A informação no rádio’, de 1985, apresenta em seu capítulo VII – A estrutura radiofônica, características do rádio, que podem ser consideradas especificidades. Sem estabelecer quais são positivas e quais são negativas, destaca oito itens:

a) Linguagem oral - para ter acesso ao conteúdo do rádio, o indivíduo só necessita ouvir, o que não exclui os analfabetos e analfabetos funcionais;

Referências

Documentos relacionados

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

Consultoria para elaboração de um estudo que permita analisar e documentar a experiência, as lições aprendidas e boas práticas sobre o Método Djuntu da Ação

É necessário deixar claro que essa documentação, os processos crimes, nos trazem algumas limitações, pois foram produzidas por agentes que nem sempre compartilhavam da cultura

O CT 200h está equipado com o sistema de Controlo de Estabilidade do Veículo e pode ser fornecido com a avançada tecnologia de Segurança de Pre-Crash que utiliza um radar de

Mas existe grande incerteza sobre quem detém esses direitos em certas áreas do Brasil rural.. Esta é a posição do Brasil em relação à segurança de direitos de propriedade de

This infographic is part of a project that analyzes property rights in rural areas of Brazil and maps out public policy pathways in order to guarantee them for the benefit of

a) As fibras colágenas, assim como as elásticas, são constituídas de microfibrilas de colágeno, que se unem formando as fibrilas de colágeno, que, por sua vez, se