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Trechos com especificidades ligadas à audiência na CBN

3 DISCUSSÃO E ANÁLISE

3.4 RÁDIO CBN – CENTRAL BRASILEIRA DE NOTÍCIAS TRECHOS

3.4.3 Trechos com especificidades ligadas à audiência na CBN

São apresentados a seguir os trechos onde foram identificadas especificidades do rádio ligadas à sua audiência.

Trecho 01 - 7h00 – É apresentado um programa chamado ‘Repórter CBN’. Um noticiário curto, duração média de 2 minutos, com um resumo dos principais fatos do momento, sendo finalizado com dados econômicos87. Este programa jornalístico repete-se a cada 30 minutos em uma nova edição. Seu slogan é ‘Repórter CBN, as principais notícias do dia a cada meia-hora.’

Aqui se observam a efemeridade e também a fugacidade das informações, abundantes em nossa sociedade, compactuadas com o desejo do ouvinte moderno que ganha satisfação com a ‘notícia rápida’.

No corpus de 4 horas de duração realizou-se a escuta de oito destes programas e se percebeu que as notícias consideradas mais importantes são repetidas a cada dois programas, ou seja, de hora em hora. Entende-se que a emissora avalia que o tempo médio de escuta é menor do que uma hora para cada ouvinte e que há uma renovação de ouvintes dentro deste

período. Avalia-se que a quantidade de novas notícias necessárias à redação deste programa é grande, mas Eduardo Meditsch infere:

Numa era que tem sido caracterizada pelo excesso de informação disponível aos cidadãos, a hipótese de uma rádio informativa abrir o microfone para declarar que “hoje não há notícias”, como podia fazer a BBC de Londres na década de 30, é absolutamente impensável. Mesmo as emissoras com reduzido orçamento e estrutura, teoricamente, têm acesso a um número de informações novas suficientemente abundantes para preencher muitas horas, ou talvez toda a sua programação. Nem todas as informações novas disponíveis, no entanto, são pertinentes para conquistar uma identificação que se expresse num hábito de audiência por parte de determinado público. (2007, p. 101) Grifo nosso.

Entretanto, para que o ouvinte crie este ‘hábito de audiência’ citado por Meditsch, é necessária a definição de uma estratégia pela emissora para apresentação das informações mais pertinentes ao seu público, que é segmentado e parte integrante da ‘sociedade de consumo’ descrita por Bauman. Pode-se afirmar que o conceito deste programa coaduna-se com os anseios e demandas desta sociedade pós-moderna, que, segundo o autor, busca satisfação constante pelo consumo de informação, todavia, no momento em que a consome descarta-a e já deseja um novo programa. O constante e periódico fluxo de notícias satisfaz sua busca pelo consumo, fazendo-o se sentir informado e livre, sem perceber que os conteúdos são definidos por táticas das emissoras, dominantes deste processo.

Em outros trechos do corpus, a emissora novamente apresenta ‘notícias rápidas’, com informações faladas de forma superficial e direta. Por exemplo: “há um galho de árvore caído na avenida X, no sentido Y”. São avisos transmitidos aos ouvintes em frases rápidas e descomplicadas, sem o aprofundamento do fato, muitas vezes necessário em outros meios de comunicação. Esta possibilidade da ‘simplicidade’ na informação é uma especificidade do rádio88, permitida pela sua característica de meio essencialmente auditivo, ou seja, condicionada pelo meio, segundo Mário Kaplún:

Os analistas da comunicação dizem, com razão, que em todo meio de comunicação coletiva a mensagem é afetada pelas características do meio transmissor. Isto é, o meio radiofônico influi necessariamente sobre a mensagem, condiciona-o, impõe determinadas regras de jogo. (2008, p. 82)

Quem acessa o rádio procura este tipo de mensagem: rápida, clara, informal e direta. Ainda é viável associar este tipo de mensagem à audiência dos dias de hoje, que dentro do conceito apresentado de modernidade líquida, uma sociedade fluida, onde não há um objetivo

88 Conforme colocado anteriormente, existem trechos analisados que possuem temas transversais, estando

final específico a alcançar, conforme ressalta Bauman quando se refere ao mundo em que vivemos como “um mundo repleto de meios, mas notoriamente pouco claro sobre os fins” (2001, p. 81). Para a ‘sociedade do consumo’, a ‘notícia rápida’ é atraente.

Trecho 12 – 10h36 - Rádio esportivo – Chamada89 para o ‘Futebol CBN’. O rádio esportivo em si não pode ser considerado como uma especificidade do rádio, e sim como um de seus conteúdos de destaque em toda a sua história. Mas a forma, a linguagem utilizada e a intensidade deste tipo de conteúdo no rádio são fatores que desembocam em especificidades antigas e atuais, que devem ser discutidas.

Na Rádio CBN há conteúdos esportivos em três formatos: boletins esportivos, programas de comentários e narrações de eventos. Os boletins esportivos são apresentados durante a programação diária, têm curta duração e apresentam notícias resumidas sobre clubes, jogadores e resultados. Os esportes abordados no corpus de pesquisa foram Futebol e Fórmula 1. A CBN apresenta um programa diário chamado ‘Quatro em campo’, todas as noites, das 20h às 21h, em que quatro especialistas debatem sobre futebol. E a emissora realiza a narração dos jogos entre os principais times de futebol do circuito Rio/São Paulo, em uma ou duas noites por semana; e às 10h58 é veiculada uma chamada para o ‘Futebol CBN’. Não existem programas específicos sobre a Fórmula 1.

A transmissão de conteúdo esportivo surgiu com a popularização, na década de 1930, quando ocorreu a mercantilização do meio e a indústria cultural se desenvolveu, tornando-se o rádio um fenômeno de comunicação de massa. Principalmente no futebol, o esporte mais popular do país, o rádio revoluciona ao permitir que ouvintes acompanhem na íntegra um jogo, sem precisar estar no estádio. Emissoras especializam-se e comunicadores tornam-se estrelas, com a narração de jogos de forma veloz e com emoção. Segundo Gisela Ortriwano: “A Rádio Panamericana, de São Paulo, a partir de 1947, transforma-se na “Emissora dos Esportes”, conseguindo liderança de audiência e introduzindo muitas inovações nas transmissões esportivas.” (1985, p. 20)

Com a chegada da TV e seu impacto no rádio já discutido no capítulo 1 desta pesquisa, a maioria das ‘estrelas esportivas’ radiofônicas migram para o novo meio, que com sua imagem torna-se mais interessante para quem deseja acompanhar um evento esportivo à

distância. Mas segundo André Barbosa Filho: “Assim como os noticiários policiais, os programas esportivos são reelaborados na TV segundo os trejeitos e características com os quais são produzidos no rádio.” (2009. p. 108)

O rádio continuamente investiu na emoção e no imaginário dos ouvintes em suas transmissões esportivas, uma especificidade a ser discutida. Relata Barbosa Filho:

A transmissão do evento esportivo é, por si só, um fenômeno radiofônico que no Brasil tem conotações que transcendem o fazer jornalístico, pois, com seus jargões e chavões típicos e quase sempre originais, o locutor esportivo não apenas retrata fielmente o desenrolar da partida de futebol, mas dá contornos poéticos à sua descrição. (2009, p. 107)

No passado, essa forma de comunicação emotiva e intensa, que ‘entorpece’ como uma extensão mcluhaniana do homem em si mesmo, foi atrativa para os ouvintes, todavia, a audiência de hoje demonstra não se satisfazer somente com o áudio, apesar de sua característica penetração e de ser forte indutor da imaginação. Heródoto Barbeiro alerta:

No passado, quando a televisão não era tão acessível, funcionava. Bastava fechar os olhos e imaginar o gol. Hoje os olhos estão abertos e por mais que os locutores esportivos se esforcem, não conseguem competir, ainda que os saudosistas digam que os torcedores ligam a tevê, abaixam o som e ouvem o rádio. Os jornalistas de hoje entendem que estão intrinsecamente envolvidos pelos fatos, e a simples narração e irradiação não mais satisfazem. O narrativo perde para o informativo. (BARBEIRO, 2004, p. 143)

A individualização e a razão da sociedade pós-moderna criou ouvintes críticos e racionais, que não valorizam a imaginação e sim os fatos, mostrando preferência para um conteúdo mais completo como o da TV, em detrimento de conteúdos em que ele precisa ativar sua imaginação para completá-los. As narrações esportivas emotivas tornaram-se, segundo Barbeiro, uma prática antiga e decadente:

As narrações são coisas do passado. A ideia de que o imaginário do ouvinte a partir dos sons emitidos pelo rádio era insuperável, uma vez que contava com a força da imaginação humana, é tão retrógrada quanto as aulas de radiojornalismo em escolas em que o professor apaga a luz, liga um rádio e pede aos alunos que criem imagens do que estão ouvindo. Tudo isto se desgastou nesta era de tecnologias informáticas, eletrônicas e cibernéticas. (2004, p. 143)

Os programas de cunho esportivo, com os três formatos encontrados na Rádio CBN, têm uma expressividade pequena dentro da programação no horário de maior audiência da emissora. No período de quatro horas do corpus, somente dois boletins esportivos foram

apresentados. E de acordo com a grade de programação da emissora (Anexo C) existe na semana somente uma hora diária, o programa ‘Quatro em Campo’ (das 20 às 21h), dedicado exclusivamente ao esporte. Ressalte-se que às segundas-feiras existe outro programa chamado ‘O lado B da bola’, que vai ao ar durante 30 minutos, das 23h30 às 24h. E aos domingos são dedicadas três horas pela manhã (CBN Esportes) e três horas à tarde (Show da notícia e do futebol) para programas esportivos.

As poucas narrações de jogos de futebol que ainda são realizadas pela emissora são creditadas à segmentação e à mobilidade de recepção, especificidades ainda importantes do meio. É o rádio adaptando seu conteúdo às novas demandas da audiência do século XXI.

No item 3.5 serão apresentados os trechos da parte do corpus relacionado à Rádio Jovem Pan, onde se identificam especificidades do rádio, a discussão e a análise de conteúdo destes trechos.