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6 APRECIAÇÃO DOS MUSEUS COMO ATRATIVOS DO TURISMO

6.3 DEFINIÇÃO DO TIPO IDEAL

A fim de possibilitar o desenvolvimento do diagnóstico dos museus municipais de Caxias do Sul – RS, estabelece-se nesta seção uma síntese dos tipos ideais apresentados anteriormente. Entende-se que esse modelo conceitual responde a ferramentas, tecnologias e condições atuais, identificadas neste momento, mas que podem ser substituídas por novas soluções com o passar do tempo, uma vez que se amplie a inclusão das de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida na sociedade. Com isso, pode-se ter novas normas e leis, cada vez mais adequadas e conscientes às necessidades específicas desse público.

Para sistematizar as informações analisadas nos tipos ideais, avaliam-se as boas práticas de acessibilidade identificados, estabelecendo um guia de estratégias. Para tanto, faz-se necessária a redução em categorias para formulação da síntese de recursos de acessibilidade. Essas foram divididas em ambiente interno, ambiente externo e comunicacionais/ de informação. Na primeira, inclui-se acessos, desníveis, escadas e degraus isolados, elevadores e plataformas elevatórias, rampas, pisos, portas, circulação, mobiliário e equipamentos e banheiros (WC). Na segunda, rota acessível, estacionamento, passeios, via de acesso, faixa de pedestres e mobiliário urbano. E na terceira, elenca-se: sinalização interna, Libras, audiodescrição, Braille, táteis, idiomas, site e sinalização turística, conforme o Quadro 12.

Quadro 12 – Síntese de Recursos de Acessibilidade Ambiente interno

Acessos Todas as entradas e rotas de interligação devem ser acessíveis. “Na adaptação de edificações e equipamentos urbanos existentes, todas as entradas devem ser acessíveis e, caso não seja possível, desde que comprovado tecnicamente, deve ser adaptado o maior número de acessos.” (ABNT, 2015, p. 54).

Desníveis Os desníveis internos, superiores a 5mm (ABNT, 2015) e entrepisos devem ser amenizados por meio de rampas, plataformas ou elevadores.

Escadas e degraus isolados

A largura das escadas é calculada de acordo com o fluxo de pessoas, mas a dimensão mínima para rotas acessíveis é de 1,20m. Devem possuir sinalização visual e corrimãos laterais. Em casos de escadas com largura igual ou superior a 2,40m deve ser instalado corrimão intermediário (ABNT, 2015). Elevadores e

plataformas elevatórias

Equipamentos eletromecânicos devem ter painéis de chamada com informações em relevo e em Braille, com sinalização tátil e visual no piso e atender a normas específicas (ABNT, 2015).

Rampas Para serem consideradas acessíveis, as rampas devem ter largura mínima de 1,20m, corrimãos, e inclinação mínima de 5% e máxima de 8,33%, respeitados os desníveis máximos, a criação de patamares (com comprimento mínimo de 1,20m) e o número máximo de segmentos. “Em reformas, quando esgotadas as possibilidades de soluções que atendam integralmente à Tabela 6, podem ser utilizadas inclinações superiores a 8,33 % (1:12) até 12,5 % (1:8)” (ABNT, 2015, p. 59). Nesses casos podem ser executadas com largura de 0,90m. Pisos Devem ser utilizados pisos estáveis, regulares, não-trepidantes e

antiderrapantes (tanto seco quanto molhado), com inclinação transversal de até 2%, e sinalização tátil e visual – de alerta e direcional - contrastante com o piso existente (ABNT, 2015).

Portas As portas ou vãos de passagem devem dispor de largura adequada (vão livre mínimo de 0,80m de largura e 2,10m de altura), preferencialmente com maçaneta do tipo alavanca ou puxadores com, no mínimo, 0,30m de comprimento. Portas do tipo vaivém devem ter um visor no eixo vertical. Portas de correr recomenda-se a instalação de trilhos na parte superior. Portas e paredes de vidro devem ser identificadas de maneira contínua para fácil identificação visual da barreira (ABNT, 2015).

Circulação Os corredores internos de até 4m de comprimento com 0,90m de largura; até 10m de comprimento com 1,20m de largura; e com extensão maior que 10m com 1,50m de largura (ABNT, 2015).

WC “Os sanitários, banheiros e vestiários acessíveis devem localizar-se em rotas acessíveis” (ABNT, 2015, p. 83), a uma distância recomendada de 50m de qualquer ponto da edificação. O número de sanitários acessíveis para novas construções deve atender a 5% do total de peças sanitárias, sendo no mínimo um feminino e um masculino em cada pavimento; e um por pavimento no caso de edificações existentes (ABNT, 2015, p. 84). O dimensionamento, barras de apoio e demais condições devem atender às situações expostas na norma. Mobiliário e

equipamentos

No caso de telefones públicos, bebedouros, lixeiras e etc. devem ser instalados fora da faixa livre de circulação, com pelo menos um equipamento em altura diferenciada que possibilite o alcance do maior número de pessoas. Balcões de atendimento e informações e bilheterias devem ser facilmente identificáveis, localizados em rotas acessíveis, com largura mínima de 0,90m e altura entre 0,75m a 0,85m do piso acabado, com iluminação adequada. Em teatros, cinemas, auditórios, restaurantes e similares devem ser reservados espaços para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, de acordo com as orientações de normas específicas para cada caso (ABNT, 2015).

Ambiente externo

Rota acessível As edificações de uso público devem ter pelo menos uma rota acessível - percurso contínuo, desobstruído e sinalizado conectando a via de acesso à edificação (ABNT, 2015).

Estacionamento reserva de vagas a pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida (2% do total de vagas ou, no mínimo, uma), devidamente sinalizadas na vertical e na horizontal (BRASIL, 2015a, cap. X, art. 47; ABNT, 2015).

Passeio O passeio público deve ter inclinação transversal máxima de 3%, com faixa livre para circulação de pedestres contínua de, no mínimo, 1,20m de largura e pisos adequados. (ABNT, 2015). Deve ser colocado piso tátil direcional e alerta conforme determinações de norma específica.

Via de acesso “As vias são os caminhos físicos preparados para a circulação de pessoas e veículos. Elas são formadas por [...] calçadas [...] e o ‘leito carroçável’, por onde devem circular os veículos” (VASCONCELLOS, 2018, p. 77).

Faixa de pedestres Faixa de travessia de pedestres elevada ou com rebaixe de meio-fio, devidamente sinalizadas (ABNT, 2015).

Mobiliários urbanos “Recomenda-se que todo mobiliário urbano atenda aos princípios do desenho universal” (ABNT, 2015, p. 113). Devem ser instalados, preferencialmente, fora da rota acessível, e devidamente sinalizados.

Comunicacionais/ de Informação

Sinalização interna É importante o museu apresentar uma identidade visual, bem como utilizar um logo em todo o material de divulgação e comunicação. O percurso de visitação pode ser direcionado, sugerido ou livre (IBRAM, 2014).

Libras A comunicação em Libras pode ocorrer por um educador fluente ou por vídeos, de maneira que sejam institucionalizadas formas de apoiar seu uso e difusão (BRASIL, 2002). Os espaços culturais devem ter disponíveis “atendimento especializado em LIBRAS e por meio de articulador orofacial” (ABNT, 2008).

Audiodescrição Recursos de audiodescrição ou audioguias podem ser realizados por educadores ou por equipamentos de som com alto-falantes ou fones de ouvido para descrição dos ambientes, dos percursos e roteiros dos pontos de interesse e das obras (BRASIL, 2008).

Braille Recursos em Braille devem ser utilizados para descrição da exposição, sinalização e orientação dos visitantes (BRASIL, 1962; ABNT, 2008).

Táteis Recursos táteis, como o caso da Pinacoteca, (maquetes, pranchas em alto- relevo, réplicas em escala reduzida e reproduções em alto-contraste) aumentam a interação de visitantes com deficiência sensorial e permitem sua visualização e seu entendimento dos espaços e obras expostas (ABNT, 2008). Idiomas Recomenda-se a comunicação em outros idiomas, com a disponibilização de um livreto de informações, audioguias, ou por meio de educadores bilíngues (IBRAM, 2014).

Site Além dos recursos presenciais, o site da instituição deve ser acessível para que os visitantes possam buscar informações sobre o local. “Quando em meio digital, as informações devem ser processáveis por sistemas de leitura e ampliação de tela e outros que a tecnologia permitir.” (ABNT, 2008, p. 5). Sinalização

Turística

A sinalização turística no entorno auxilia na legibilidade e orientação dos visitantes, com textos, pictogramas e setas indicativas, seguindo os padrões estipulados pelo Ministério do Turismo. Também pode ser oferecida em outros idiomas. “[...] a sinalização precisa ser visível, objetiva e com tempo suficiente para leitura da informação e adequada condução do veículo” (IBRAM, 2014, p. 32)

Fonte: elaborado pelo autor (2018)

Com relação aos audioguias, destaca-se ainda que esse suporte tecnológico utilizado como instrumento de mediação pode ser útil a ser utilizado, além de pessoas com deficiência (cegos, pessoas com baixa visão, dificuldades de aprendizagem ou com deficiência intelectual), por crianças e estrangeiros, com a disponibilização do áudio em outros idiomas. Essa ferramenta é capaz de “potenciar uma experiência multissensorial, educativa, pessoal e da própria memória coletiva dos visitantes, contribuindo para uma experiência holística do espaço museológico” (MARTINS, 2018, p. 744). Segundo a autora (2018), para tanto, deve ser elaborada com linguagem simples e acessível, com falas entre um e dois minutos e a limitação de até 16 palavras por frase.

Ao se analisar a microacessibilidade física, como neste caso, do entorno imediato da edificação, é relevante considerar que, no país, a responsabilidade pela construção e a manutenção dos passeios é do proprietário do terreno lindeiro. Isso leva à falta de padronização e nivelamento das calçadas, baixa qualidade de execução, inadequação e má conservação dos pisos, etc. No caso de prédios públicos, essa responsabilidade estaria a cargo do governo municipal e, ainda assim, muitas vezes não são encontradas condições ideais. Além disso, apesar da norma orientar a faixa mínima de circulação de 1,20m, “a largura mínima para a circulação confortável nos dois sentidos é de 2 metros, [...] chegando a 6 metros nas grandes metrópoles” (VASCONCELLOS, 2018, p. 75).

Com essa síntese, relacionam-se estratégias para reprimir as barreiras arquitetônicas e comunicacionais que possam se fazer presentes na utilização do espaço construído, em congruência a determinações da legislação vigente. “Os serviços do museu devem permitir ao visitante usufruir de uma visita informativa, agradável e confortável, tanto no sentido físico, quanto no sentido intelectual, afetivo e social.” (IBRAM, 2014, p. 38). Ressalta-se que as orientações de leis e normas acima apresentadas foram reduzidas e devem ser consultadas na íntegra para a execução de adaptações ou construções que utilizem preceitos acessíveis.

Neste caso, especificamente, abordam-se atrativos turísticos de cunho cultural, ao se tratar de museus. Planejar ou adaptar esses locais para universalizar a experiência turística, de maneira segura e autônoma. Além das condições de acessibilidade, devem ser consideradas as orientações normativas específicas para sinalização de emergência e rotas de fuga contra incêndio e pânico. Sugere-se ainda, conforme analisado nos modelos de tipos ideais, a flexibilização do horário de funcionamento e da cobrança de taxa de adesão. A essa, se necessária, indica-se um dia de gratuidade para incentivar a visitação e a acessibilidade econômica de públicos diversos ao local.

Com essas reflexões, espera-se contribuir para discussões teóricas e aplicações práticas acerca da acessibilidade de maneira transversal nos mais diversos meios da sociedade. Além da acessibilidade, as características sistematizadas podem ser relacionadas a categorias fundamentais para obter-se a hospitalidade urbana: legibilidade, identidade, urbanidade, qualidade de vida e cidadania (GRINOVER, 2013). Esses preceitos remetem ainda à eliminação de barreiras no meio físico, dos transportes, da informação e da comunicação, em vista da inclusão social.