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3 POLÍTICAS PÚBLICAS, LEIS E NORMAS

3.1 TURISMO ACESSÍVEL: POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESFERA FEDERAL

A preocupação com a acessibilidade também pode ser considerada uma constante do Ministério do Turismo no país, tratando do turismo acessível no âmbito social, com o entendimento de que deve ser acessível a todos os cidadãos em seus tempos livres, sem discriminação. Dessa maneira, o órgão tem apoiado projetos e ações que visem à adaptação de atividades turísticas e à acessibilidade urbana, a fim de melhorar a qualidade de vida da população local, ampliando também o acesso de turistas com deficiência ou mobilidade reduzida (BRASIL, 2014).

Em 2001, foi lançado pela Embratur um Manual de Recepção e Acessibilidade de Pessoas com Deficiência a Empreendimentos e Equipamentos Turísticos, baseado na legislação federal e nas Normas Técnicas da ABNT. Em 2006, o Ministério do Turismo desenvolveu o Manual de Orientações em Turismo e Acessibilidade, baseado no documento anterior. Esse documento tinha como objetivo “orientar e instrumentalizar o setor turístico para a promoção da acessibilidade”, a fim de possibilitar o “exercício da plena cidadania aos que desejem usufruir dos benefícios da atividade turística” (BRASIL, 2006a, p. 3-9).

No mesmo ano, esse órgão federal apresentou estudos da competitividade do turismo brasileiro por meio da apresentação do relatório sobre mobilidade e acessibilidade nas regiões turísticas. Esses estudos tinham como intuito “fazer uma cobertura sistemática e detalhada das redes de transporte e da conectividade dos pontos turísticos dento de uma região definida a partir dos polos e regiões turísticas”

(BRASIL, 2006b, p. 1). Em 2009, seguindo nessa linha, o MTur apresentou o mapeamento e planejamento acerca do turismo acessível, o qual inclui orientações para o diagnóstico das condições de acessibilidade no turismo local e para a elaboração de planos estratégicos para adequação (BRASIL, 2009b).

Nesse material são apresentados modelos de roteiros de inspeção para a verificação da acessibilidade em: edificações; passeios públicos; terminais, pontos de parada e meios de transporte. Além disso, são indicadas as variáveis de acessibilidade que devem ser consideradas na avaliação de estabelecimentos: acessos internos, externos e privados; sanitários; rampas, escadas e desníveis; recepções; estacionamentos e locais de embarque/desembarque; mobiliário; além da existência de comunicação sonora para pessoas com deficiência visual, sinalização tátil e em Braille (BRASIL, 2009b).

Entre os anos de 2012 – 2014, o Ministério do Turismo desenvolveu o Programa Turismo Acessível, o qual constituía sua política de acessibilidade, propondo medidas para a promoção da inclusão social à atividade turística para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, permitindo sua utilização de equipamentos turísticos, serviços e edificações com autonomia e segurança. Nesse programa, buscava-se a integração com o Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), o desenvolvimento de pesquisas e estudos, incluindo a análise do perfil do turista com deficiência, orientação e incentivo à acessibilidade de destinos e produtos turísticos (BRASIL, 2014).

Entre os anos de 2013 e 2016, o órgão divulgou o Plano Nacional de Turismo - PNT, o qual estava voltado, principalmente, à preparação do setor para os megaeventos: Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016, com foco às cidades-sede (BRASIL, 2013). Ainda em 2014 foi lançado o Guia Turismo Acessível, o qual está disponível em meio digital e é colaborativo, possibilitando a pesquisa por cidades, estabelecimentos ou atrações turísticas. Nesse site, é possível avaliar a analisar locais de interesse a partir de quatro categorias acessibilidade: recursos de voltados à deficiência auditiva, à física ou motora, à deficiência visual e à mobilidade reduzida (BRASIL, 2014).

Essas, entre outras iniciativas do Ministério do Turismo e do Governo Federal, demonstram a crescente na preocupação pela acessibilidade nas atividades turísticas. Os estudos, cartilhas e manuais elaborados apoiam projetos de acessibilidade urbana, adaptação e sensibilização, com relação ao Turismo

Acessível para inclusão de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida com segurança e autonomia. Contudo, apesar do aumento de políticas relacionadas à inclusão ainda há um longo percurso a ser percorrido na prática dessas premissas.

3.2 LEIS FEDERAIS RELACIONADAS À ACESSIBILIDADE

Considera-se relevante destacar que, no Brasil, a acessibilidade é uma premissa que vem aparecendo cada vez mais nas legislações federais. Além disso, de acordo com Cambiaghi (2012, p. 65), o país “possui uma das mais avançadas legislações que contemplam a acessibilidade de maneira ampla, envolvendo diversos setores.” Na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a acessibilidade é considerada como a:

[...] possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2015a, capítulo I, art. 3º, grifo nosso).

O Governo Federal brasileiro tem promulgado inúmeras leis e decretos cujas disposições jurídicas legais são relativas à acessibilidade e aos direitos de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Esse reconhecimento é importante para a conscientização, o ordenamento da sociedade e, se respeitadas, servem a práticas efetivas de inclusão. Ainda que não se tenha realizado uma busca extensiva, pode-se destacar alguns dos quais foram colaborativos a esta pesquisa:

 Lei nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962 - Oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de Contrações e Abreviaturas Braille (BRASIL, 1962);

 Lei nº 7.405, de 12 de novembro de 1985 - Torna obrigatória a colocação do "Símbolo Internacional de Acesso" em todos os locais e serviços que permitam sua utilização por pessoas portadoras de deficiência e dá outras providências (BRASIL, 1985);

 Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 - Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional

para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências (BRASIL, 1989);  Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 – Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências (BRASIL, 1999);

 Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000 - Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências (BRASIL, 2000a);

 Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências (BRASIL, 2000b);

 Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 – Regulamenta as Leis nºs 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências (BRASIL, 2004);  Decreto nº 186, de 09 de julho de 2008 - Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007 (BRASIL, 2008);

 Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 – Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007 (BRASIL, 2009a);

 Decreto nº 7.612, de 17 de novembro de 2011 – Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite (BRASIL, 2011a);  Lei nº 12.587, de 03 de janeiro de 2012 – Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis nos 3.326, de 3 de

junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e das

Leis nos 5.917, de 10 de setembro de 1973, e 6.261, de 14 de novembro de 1975; e

dá outras providências (BRASIL, 2012);

 Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) (BRASIL, 2015a).

Salienta-se que, em sua maior parte, trata-se de revisões de legislações anteriores, atualizadas a partir de 1999. Entre seus objetivos, voltados às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, destacam-se: a consolidação de normas de proteção, os critérios básicos para a promoção da acessibilidade, o estabelecimento de normas de prioridade de atendimento, as diretrizes da Política de Mobilidade Urbana, a consolidação das leis de trabalho, entre outras providências. Pode-se verificar que quase todas essas leis surgem anos depois a Declaração da ONU dos Diretos das Pessoas Deficientes (1975), mesmo o Brasil sendo um país- membro dessa Organização.

Além disso, que a instituição da maioria dessas leis ocorre após o estabelecimento da Constituição Federal (1988), que assegura os direitos de todos os cidadãos, sem exceção; e após a transição do regime ditatorial – que ocorreu no país de 1964 a 1985 - à democracia. Pode-se considerar que a datação das obrigações legais reflete respostas sociais ao longo do tempo, em que se estruturam políticas voltadas à cidadania e à inclusão social. Paralelamente às leis tem-se o desenvolvimento de normas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas10

(ABNT), as quais são apresentadas a seguir.