Em busca de respondermos a pergunta central de nossa pesquisa e de
atingirmos os objetivos propostos, fizemos as seguintes perguntas aos alunos:
“Até esse momento, entre as disciplinas cursadas, quais proporcionaram a
oportunidade de desenvolver práticas? Descreva essas práticas” (Questionário
- ANEXO B, p. 114-116; Questionário - ANEXO C; p. 140-141), “O que você
entende por prática?”. (Entrevista - ANEXO F, p. 176-178). Ressaltamos que
um conceito importante é a concepção que o aluno traz de prática, ou seja, o
que ele considera como prática.
Analisando os questionários, por meio das respostas dadas pelos alunos
observamos que a concepção de prática é utilizar: a informática (softwares
Fun, Derive, Cabri e Geometricks), a linguagem de programação (Fortran e
Pascal), o laboratório de ensino de matemática como sala de aula, o manuseio
de materiais didáticos no ensino -aprendizagem da matemática e os estágios.
Podemos perceber que na concepção dos alunos a prática é vista como
instrumentalização técnica (PIMENTA e LIMA, 2004), ou seja, simplesmente o
desenvolvimento de habilidades instrumentais.
Com relação aos estágios, de acordo com os alunos, foram feitos: na
disciplina de Didática (1ª a 4ª série do Ensino Fundamental); em escolas da
rede pública, como observadores do comportamento dos alunos na disciplina
de Psicologia; na secretaria das escolas da rede pública, conhecendo desde a
matrícula do aluno até a festa de formatura na disciplina de Estrutura e
Funcionamento de Ensino Fundamental e Médio; além do estágio
supervisionado. Somos favoráveis à idéia de que o estágio é que irá propiciar
uma aproximação da realidade na qual o aluno irá atuar, e concordamos com
Gonçalves e Pimenta (1992) quando defendem uma nova compreensão em
relação ao estágio, afirmando que este não seria a parte prática e sim deve
caminhar para a reflexão a partir da realidade. De acordo com Pimenta (1995,
p. 71) “a reflexão sobre a prática, sua análise e interpretação constroem a
teoria que retorna à prática para esclarecê-la e aperfeiçoá-la”. Essa autora
defende ainda que o estágio é uma atividade “teórica, instrumentalizadora da
práxis docente, entendIda esta como atividade de transformação da realidade”
(PIMENTA e LIMA, 2004, p. 45).
Um aluno afirmou que só de assistir as aulas já estava vivenciando a
prática. Podemos perceber que na concepção desse aluno a prática é vista
como imitação de modelos (PIMENTA e LIMA, 2004). Segundo essas autoras
Muitas vezes nossos alunos aprendem conosco nos observando, imitando, mas também elaborando seu próprio modo de ser a partir da análise crítica do nosso modo de ser. (PIMENTA e LIMA, 2004, p. 35)
A idéia é que, observando a postura do professor sobre a relação teoria
e prática, podemos selecionar o bom e o ruim na hora em que formos atuar
como professores, pois podemos escolher e separar aquilo que consideramos
mais adequado, acrescentando novas maneiras de atuar e adaptando o
assimilado ao contexto no qual se encontra.
Nas entrevistas, quando pedimos para as alunas expressar suas
concepções de prática, notamos que três viam a prática como aplicação da
teoria, ou seja, novamente a visão de prática como instrumentalização técnica,
como podemos perceber nos depoimentos abaixo:
Considero prática, por exemplo, em uma aula que você vai falar de uma teoria, então você vai por em prática aquela teoria. (Entrevista - ALUNA A, Anexo F, p. 176)
É você trabalhar com os conceitos que você aprendeu no decorrer do curso com a teorização, é aplicar aquilo que você teve. (Entrevista - ALUNA E, Anexo F, p. 177)
Vejo como prática, por exemplo, eu tenho uma matéria, uma introdução teórica, depois a aplicação daquele exercício. (Entrevista - ALUNA C, Anexo F, p. 176)
Já uma outra aluna vê a prática do ponto de vista da consciência comum
(VÁSQUEZ, 1990), ou seja, como experiência.
Prática é ‘colocar a mão na massa’. Prática é hora que você vai mesmo, que você faz aquilo, no caso que você dá aula, que você vê o que é, como é, experiência mesmo. Eu vejo a prática como experiência. (Entrevista - ALUNA B, Anexo F, p. 176)
Outras três alunas apresentaram uma visão de prática em que podemos
notar de modo implícito a necessidade de refletir, estando desse modo mais
próximas da preocupação com a realidade, ou seja, prática como reflexão
sobre a realidade:
Prática é quando você consegue ver a diferença, do que é falar, como fazer e fazer aquilo, porque é daí que surgem os problemas, as dificuldades, na prática, é quando você está fazendo. Prática é estar fazendo. (Entrevista - ALUNA G, Anexo F, p. 178)
Prática é lidar mesmo com a situação do dia-a-dia, com a situação de professor. (Entrevista - ALUNA D, Anexo F, p. 177) Prática é você preparar uma aula, saber como você vai chegar lá e explicar esse conteúdo para os alunos, de uma forma clara
que eles entendam realmente o que você quis passar. (Entrevista - ALUNA F, Anexo F, p. 177)
Podemos perceber que para uma delas a prática é “estar fazendo”, para
outra é “lidar mesmo com a situação do dia-a-dia” e, finalmente, para a última
aluna “vai desde a preparação da aula até o momento da explicação
propriamente dita”, ou seja, a prática só ocorrerá a partir do momento em que
houver o contato com os alunos, isso significa estar próximo à realidade da
escola. E de acordo com Pimenta & Lima (2004, p. 45) “é no contexto da sala
de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá”.
Concordamos com Pimenta & Lima (2004) quando afirmam que
... a docência se refere não apenas ao domínio dos conteúdos nas diversas áreas do saber e do ensino, mas também à própria prática didático-pedagógica e, acima de tudo, à compreensão da política educacional na qual essa prática se insere. É esse o sentido da práxis docente, que leva àquela necessária e dupla relação entre a teoria e a prática. (p. 130)