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Do ponto de vista do pensamento filosófico

1.3. As Relações entre Teoria e Prática

1.3.1. Do ponto de vista do pensamento filosófico

A relação teoria-prática tem sido objeto de diversas interpretações ao

longo da história do pensamento filosófico. Existem concepções que priorizam

a teoria (racional-idealistas), outras que priorizam a prática (pragmático-

utilitaristas) e as que buscam a união ou equilíbrio entre a teoria e a prática

(dialéticas).

Podemos perceber que do ponto de vista do ”senso comum”, o que vale

é o praticismo, ou seja, a prática se basta a si mesma. Porém, não foi só a

consciência comum que estabeleceu uma oposição radical entre teoria e

prática, pois a mesma postulação é feita pelo pragmatismo. O pragmatismo é

uma “doutrina que toma como critério de verdade o valor prático que tenha

efeitos positivos e seja útil ao homem” (Dicionário Larousse Cultural). No

pragmatismo, a prática é uma “ação subjetiva do indivíduo destinada a

satisfazer seus interesses” e o critério de verdade é o “êxito, a eficácia da ação

prática do homem (prática individual)” (VÁSQUEZ, 1990, p. 213). Diante da

definição da doutrina do pragmatismo, poderíamos ser levados a pensar que se

identifica com o marxismo. Porém, isso não ocorre, pois no marxismo a prática

é uma “ação material, objetiva, transformadora, que corresponde a interesses

sociais e que é considerada do ponto de vista histórico-social” e o critério de

verdade é a “prática, mas concebida como atividade material, transformadora e

social” (Idem, p. 213).

Mas, enfim, como se relacionam a teoria e a prática no campo das

ciências? E da Matemática?

Podemos dizer que a teoria depende da prática, na medida em que a

prática é o fundamento da teoria, pois é “na prática que o homem entra em

contato com os objetivos do mundo natural e pode exercer sua ação

transformadora” (CHAKUR, 1988, p. 776). Com o fim de exemplificar, se

pensarmos na ciência e na produção, podemos citar a ciência física que surgiu

na Idade Moderna com Galileu, devido às necessidades práticas da indústria

nascente. A Matemática, em suas origens, esteve vinculada diretamente às

necessidades práticas (nascimento da Geometria no Egito) e às próprias coisas

(Geometria Euclidiana). A Geometria nasceu no Egito devido “à necessidade

prática de demarcar as terras cobertas periodicamente pelo humo que as

águas do Nilo deixavam” (VÁSQUEZ, 1990, p. 218). Já a Geometria Euclidiana

“teve como premissa a observação direta das propriedades geométricas dos

corpos reais com os quais os homens mantinham uma relação prática” (Idem, p.

218). Outros exemplos da relação entre a Matemática e as necessidades

práticas são: os grandes descobrimentos marítimos da Idade Moderna que

contribuíram para o desenvolvimento da trigonometria e o cálculo de

probabilidades diante da necessidade do comércio exterior inglês de prever as

perdas e os riscos comerciais. Portanto, podemos concluir que a prática é o

fundamento da teoria na medida em que esta se encontra vinculada às

necessidades práticas do homem social.

A prática é uma das finalidades da teoria, pois o homem pode projetar

novas práticas trans formadoras no plano ideal e, para alcançá-las, necessita de

instrumental teórico. Neste caso, a relação entre teoria e prática é uma relação

entre uma teoria já elaborada e uma prática que ainda não existe. A idéia de

“finalidade”, é na verdade, uma “antecipação ideal daquilo que, não existindo

ainda, queremos que exista” (VÁSQUEZ, 1990, p. 232). Quando pensamos a

prática como finalidade da teoria, deve haver um “correlacionamento

consciente com ela, ou uma consciência da necessidade da prática que deve

ser satisfeita com a ajuda da teoria” (Idem, p. 232).

A dependência da teoria em relação à prática, e a existência desta como

último fundamento e finalidade da teoria, evidenciam que

a prática – concebida como uma práxis humana total – tem primazia sobre a teoria; mas esse seu primado, longe de implicar numa contraposição absoluta à teoria, pressupõe uma íntima vinculação com ela. (VÁSQUEZ, 1990, p. 234)

A prática, como critério de verdade, foi introduzida, pela primeira vez, na

teoria do conhecimento pelo marxismo. É na ação prática que o homem pode

comprovar se os objetivos propostos por ele foram ou não atingidos e, portanto,

se é verdadeiro o conhecimento da realidade, de onde partiu. A prática que se

constitui como critério de verdade, de acordo com Vieira Pinto apud Pimenta

(1995) é:

a) sempre intencional: “motivada por uma finalidade. (...) As

finalidades existentes a cada momento determinam a prática, que, por sua vez,

determina o surgimento de novas finalidades” (p. 96);

b) a prática social: pois “a ciência por sua finalidade, sua construção,

seus fins e seus agentes é social” (p. 97);

c) a prática coletiva: “(...) na medida em que a dificuldade dos

problemas a abordar é tão complexa que obriga a reunião de especialistas

diversos, não cabendo na competência de um único sábio (o mesmo se pode

dizer em relação ao trabalho de ensinar do professor)” (p. 97);

d) social: porque “se realiza como trabalho humano, entendido como a

ação transformadora da realidade” (p. 97).

Portanto, a prática como critério de verdade é a que trata da “práxis

como critério de verdade” , ou seja, “da ação transformadora da realidade pelo

trabalho teórico-prático humano” (idem, p. 97). A categoria da práxis é vista

como central e seus postulados destacam a existência da teoria pela e em

relação à prática, pois é nela que encontram seus fundamentos, suas

finalidades e seu critério de verdade.

Segundo Buhr e Kosing apud Magalhães-Vilhena (1980) “a práxis é o

mais elevado e decisivo critério da verdade” (p. 16). Para esses autores, “a

prática tem carácter dialéctico: é, ao mesmo tempo, um critério absoluto

(porque ela é a comprovação última e definitiva de um conhecimento) e um

critério relativo (porque nessa confirmação do conhecimento possui elementos

do relativo)” (idem, p. 17). Afirmam ainda que o critério de verdade está

“diretamente ou indiretamente na base de todos os restantes métodos da prova

da verdade (demonstração, dedução, redução, método da decisão) é a práxis”

(idem, p. 17).

No processo dialético de conhecimento da realidade, o que importa

fundamentalmente é refletir, pensar, analisar a realidade com o objetivo de

transformá-la.

Segundo Soares (1995, p. 51)

há pois, uma teoria da prática – uma teoria que se constrói a partir da prática – e uma prática da teoria – uma prática que se orienta pela teoria. Ao invés da dicotomia teoria versus prática, a dialética: da prática à teoria e de volta à prática, e de novo à teoria, assim sucessivamente.

A dialética materialista histórica sustenta que o conhecimento

efetivamente se dá na e pela práxis. Portanto, na concepção dialética, a

relação teoria-prática atinge o equilíbrio, unindo a teoria e a prática através da

práxis.