• Nenhum resultado encontrado

local

surgimento

das ONGs

ambientais

estimulam

reformas na

Política

Nacional

melhoria

ambiental

surgimento e desenvolvimento das ONGs domésticas. Tal surgimento está distante do modelo no qual a sociedade civil identifica a degradação ambiental, começa a protestar e reconhece a necessidade das ONGs, num padrão bottom-up de implementação de reformas políticas.

Em contraste com a literatura dominante, propomos que ONGs ambientais domésticas e reformas das políticas nacionais derivam da sociedade mundial (MEYER et al., 1997), fluindo do número sempre crescente de tratados internacionais ambientais, organizações não-governamentais internacionais e organizações intergovernamentais que formam as bases do regime ambiental mundial (FRANK; LONGHOFER; SCHOFER, 2007, p. 282, tradução minha).

Obviamente que o desenvolvimento histórico, o sistema político, somados a fatores culturais e sociais levam a esse desenrolar, que se diferencia daquele experienciado em muitos países ocidentais. As estruturas da sociedade são diferentes dos modelos ocidentais, baseados em liberdades e direitos individuais (LIU; GOODNIGHT, 2016). Isso vai moldar as estratégias das ONGs, a partir da década de 1990, e a constituição da esfera pública verde, que são influenciadas pelas estruturas e reivindicações internacionais a partir do processo de abertura e modernização, que marca a China na década de 1980.

O movimento ambiental chinês teve um começo muito diferente do oeste. Nos países ocidentais, o movimento ambientalista começou com a sociedade civil e seguiu, principalmente, os passos do movimento pelos direitos civis e do movimento feminista. Mas na China foi o governo que iniciou as ações ambientais. As reações civis, inicialmente, não eram sobre resistência ao governo. Era mais como a sociedade alcançando o governo. Por isso as organizações ambientais civis da China estão apenas apoiando os atores [o governo] (ZHANG; BARR, 2013, p. 104, tradução minha).

A perspectiva de Frank, Longhofer e Schofer (2007) é interessante por reconhecer que a política ambiental nacional e as ONGs nascem na sociedade mundial e não na doméstica, evidenciando que a problemática ambiental ela é eminentemente global, conforme afirma Ulrich Beck (2010), e por isso não se pode ignorar que as ONGs acabam servindo como instrumentos de cosmopolitização, afinal elas funcionam como receptores locais, recebendo e transmitindo sinais da sociedade mundial para as autoridades e cidadãos locais.

Nesse cenário, é fundamental reconhecer a função desempenhada pelas ONGs ambientais internacionais, que começam a se estabelecer na China, inserindo o país nessa rede global.

As ONGs ambientais internacionais

As primeiras ONGs ambientais internacionais começaram a funcionar em meados da década de 1980, como a World Wildlife Fund e a International Crane

Foundation, atuando na área de proteção de espécies animais, a partir de convite

oficial do governo chinês (YANG, 2005). Somente no final dos anos 1990 as ONGs ambientais internacionais começaram a se expandir, lançando projetos e estabelecendo escritórios na China, porém é nítida a influência internacional entre as primeiras ONGs domésticas criadas, seja por meio de financiamento ou expertise, assim como a influência dessas ONGIs na ascensão da sociedade civil chinesa.

Muitos dos fundadores de ONGs chinesas eram indivíduos que estudavam no Ocidente ou trabalhavam em ONGIs antes de criarem suas próprias organizações, levando à China conhecimentos sobre as ONGs adquiridos no exterior (YANG, 2004).

O desenvolvimento das ONGs domésticas e internacionais ocorre por meio de uma relação simbiótica entre elas. Geralmente as ONGIs fornecem expertise, prestígio, organizam conferências, workshops, seminários, e conseguem financiamento. Em diversas campanhas ambientais ocorridas na China, as ONGIs deram apoio direto e auxiliaram na divulgação dos problemas locais, como ocorreu na campanha contra as hidrelétricas do Rio Nu e na campanha do antílope tibetano, que conseguiram mobilizar atores internacionais, uma forma adicional de fazer pressão sobre o governo chinês. Já as ONGIs, que possuem uma agenda global, conseguem aproximação com o governo chinês e aprendem sobre a realidade chinesa a partir de informações passadas pelas ONGs domésticas. A área ambiental foi onde se desenvolveu mais intensamente a relação transnacional, além de ser a principal área de atuação das ONGIs, seguida por áreas de saúde pública, pobreza e educação – áreas menos sensíveis politicamente.

A China não está mais fora da tendência global de solidariedade e rede entre ONGs através das fronteiras nacionais. Na era da globalização, comunidades compartilham muitos aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais e

preocupações políticas que exigem respostas transnacionais colaborativas por parte das sociedades (CHEN, 2010, p. 505, tradução minha).

Dados indicam que o financiamento das ONGs chinesas a partir das ONGIs é significativo: de 1996 a 1999, 85% do financiamento da ONG Global Village Beijing veio de ONGIs e governos estrangeiros; em 2000, 52% da receita total (em torno de 2,5 milhões de yuans) da Friends of Nature veio de fontes estrangeiras; o Centro de Biodiversidade e Conhecimentos Indígenas de Kunming recebeu a maior parte do financiamento do projeto, 203 mil dólares, em 2002, a partir de ONGIs; muitas associações estudantis ambientalistas também receberam pequenas quantias de financiamento internacional (YANG, 2005).

O financiamento em prol do meio ambiente não chegou à China apenas por via dos ONGs ambientais. É importante destacar que o PNUD (Programa Nações Unidas para o Desenvolvimento) estabeleceu importantes programas na China e investiu grandes somas em questões relacionadas ao meio ambiente. Em 1997, quatro áreas foram privilegiadas pelo PNUD: governança ambiental (visando a formulação e implementação da Agenda 21); sustentabilidade e desenvolvimento energético (visando a utilização eficiente do carvão e redução das emissões de gases de efeito estufa); prevenção e controle da poluição (principalmente da poluição atmosférica) e gestão dos recursos naturais. Durante a década de 1990 estima-se que o PNUD tenha fornecido aproximadamente 140 milhões de dólares em assistência ambiental à China (MORTON, 2005).

Como é que o governo chinês respondeu ao investimento do PNUD para as questões ambientais? Pode-se esperar que o PNUD tenha algum poder de persuasão com o governo chinês, porque é vista como um parceiro internacional “confiável” e, portanto, novas ideias são mais propensas a serem levadas a sério. Mas, por outro lado, como no caso de outros doadores internacionais, a política do PNUD é limitada; nenhuma ideia, não importa o quão importante seja, é possível sem o endosso total do governo chinês (MORTON, 2005, p. 93, tradução minha).

Os investimentos do PNUD continuaram na década de 2000, e a China passou a ser um país com maior abertura para as negociações internacionais, ajuda externa, ainda que o sistema político acabasse restringindo muitos projetos e ações em território chinês. Da mesma forma que as instituições internacionais conseguiram adentrar na China, as ONGs internacionais também se expandem nesse período.

No início das atividades das ONGIs ambientais na China havia 11 ONGIs em 1994, alcançando 25 ONGIs em 1997. Em 2002 havia 33 ONGIs desenvolvendo 91 projetos ambientais na China (YANG, 2005). Em 2005 o número de ONGIs registradas passa para 68 (CHEN, 2010) e em 2008 atinge 90 organizações (JOHNSON, 2010). Houve um aumento significativo dessas ONGIs, mas além do número de ONGIs expandiu também os recursos e o número de pessoas envolvidas. Por exemplo, o WWF tinha apenas um escritório em Beijing, em 1996, com 9 funcionários. Até 2005 já havia fundado outros 5 escritórios, contando com mais de 80 funcionários (CHEN, 2010).

O ativismo ambiental na China se fortalece com a presença das ONGs internacionais que levam à China valores e padrões ambientais internacionais, permitindo a inserção das ONGs domésticas numa rede transnacional. Tal fato possibilitou que a área ambiental na China se tornasse uma das mais globalizadas, com intensas conexões entre organizações e agências locais e internacionais. Como exemplo, a WWF, em 2003, trabalhou ativamente com o governo nacional com o intuito de introduzir questões ambientais no currículo de escolas primárias e secundárias da China. Já a ONG Nature Conservancy prestou assistência ao Congresso Nacional na formulação da Lei de Áreas Protegidas em Parques Nacionais. Outras ONGIs ofereceram treinamento para funcionários dos governos central e local sobre questões ambientais locais (CHEN, 2010).

Para além do estabelecimento dessas ONGIs em território chinês, as ONGs domésticas passam a participar mais ativamente de encontros internacionais, como ocorreu em 2002, quando pela primeira vez mais de 100 grupos ambientalistas chineses participaram do Fórum da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Joanesburgo). O episódio marcou a estreia da sociedade civil no palco internacional e a inserção na rede global de ONGs, facilitando a cooperação entre organizações, compartilhando conhecimentos, respondendo às preocupações políticas que demandam respostas transnacionais colaborativas entre as diversas sociedades (CHEN, 2010). O Fórum representou a conquista das ONGs ambientais chinesas, já que puderam participar do evento global, de forma independente e lado a lado com a delegação oficial chinesa (WU, 2009).

Entretanto, apesar dos esforços de colaboração, os resultados não são imediatos, visto que a sociedade civil chinesa e as ONGs domésticas estão se

desenvolvendo sob o olhar atento das autoridades e dentro dos limites permitidos, enfrentando barreiras para seu crescimento.

Como poderíamos esperar, as ONGs precisam se adaptar às particularidades políticas da China. Isto pode ser visto a partir da interpretação oficial do termo “ONG”. Como um estudo apontou, “a definição oficial chinesa de ONGs não menciona a autogovernança, um critério fundamental das organizações não governamentais ocidentais (ZHANG; BARR, 2013, p. 11, tradução minha).

A figura abaixo esquematiza a estrutura de influência existente entre os diversos campos envolvidos no desenvolvimento das ONGs ambientais e da sociedade civil. A linha preta contínua indica influência mais dominante, enquanto o pontilhado influência menos dominante:

Figura 10: Campos institucionais e o desenvolvimento das ONGs ambientais

Fonte: YANG, 2005

O campo político domina o desenvolvimento das ONGs e da sociedade civil, influenciando diretamente o seu funcionamento. Outros campos, como a mídia, as ONGIs (INGOs na figura), a internet, também são elementos importantes na estruturação das ONGs, porém esses campos também estão diretamente controlados

pelo Estado chinês, seja a partir da censura, dos regulamentos e demais políticas domésticas.

Fica claro que as ONGs e a sociedade civil chinesa distinguem-se das suas contrapartes ocidentais, em virtude da relação não convencional do Estado com as atividades cívicas. Por esse motivo é fundamental reconhecer elementos únicos da experiência chinesa (LIU; GOODNIGHT, 2006). A diversidade de contextos sociais e políticos é um dos fatos que influencia o desenvolvimento das ONGs na China e a aliança entre as organizações internacionais e domésticas, afinal, muitos ativistas chineses argumentam que as ONGIs tentam impor uma política global ignorando a própria situação e particularidades da China.

Por exemplo, enquanto ativistas internacionais priorizam as mudanças do clima, algumas ONGs chinesas consideram a poluição industrial mais relevante e importante para a China. Além do desacordo sobre o foco da questão, os ativistas chineses também acreditam que as idéias internacionais sobre desenvolvimento sustentável devem ser combinadas com o contexto chinês. Em particular, os ambientalistas tibetanos tratam algumas teorias de conservação ocidentais como McDonalds e KFC, argumentando que serão mais bem servidos com uma grande dose de ingredientes locais (CHEN, 2010, p. 518, tradução minha).

Os desafios para a consolidação da atuação internacional na China são enormes, afinal, os elementos locais possuem grande peso na determinação das ações e na mobilização da população.

Segunda fase do desenvolvimento das ONGs ambientais

A primeira fase do desenvolvimento das ONGs ambientais, conforme analisado no capítulo 2 item 2.3, é marcada pelo nascimento das primeiras ONGs e um lento crescimento no número dessas organizações, que tentam se adequar ao espaço permitido pelo Estado. Naquele momento a sociedade ainda tinha um baixo interesse pela problemática ambiental, as legislações nacionais não asseguravam a participação pública e os regulamentos de 1998 sobre o registro de funcionamento e legalização das ONGs eram um empecilho para o avanço delas. As ONGs se engajavam principalmente com a educação e conscientização ambiental, mantendo- se politicamente neutra e com estratégia não-confrontacional (TAO, 2011)

Essa primeira fase se encerra em 2003, quando após o episódio das hidrelétricas do Rio Nu, há uma mudança substancial no reconhecimento do papel desempenhado pelas ONGs, tanto pelo Estado quanto pela sociedade.

As ONGs conseguiram mobilizar a população, estimulando a conscientização ambiental, pressionando respostas do Estado, criando mecanismos capazes de influenciar a tomada de decisão do governo, porém mantém a estratégia não-confrontacional, a partir de petições, debates públicos, campanhas na internet (LIN, 2007).

A influência delas [das ONGs] se tornou mais ampla quando elas revelaram fatos sobre alguns problemas ou poluição ambiental; até mesmo grandes meios de comunicação as reportaram, e mais pessoas, incluindo os níveis mais altos de líderes, assistiram, leram ou ouviram, em alguns casos tomaram atitudes (AIKAWA, 2017, p. 182, tradução minha).

Com o episódio do Rio Nu as ONGs passaram a requisitar mais transparência nas informações, assim como maior participação no processo de avaliação de impactos ambientais. Tal fato levou à promulgação da lei de avaliação de impacto ambiental, vista no item 3.1.

A partir de 2003 começou a ocorrer uma expansão no número de ONGs e uma descentralização, surgindo em locais afastados de Beijing, localidade em que a maioria das ONGs da primeira fase se instalaram. As ONGAs são criadas em localidades como Shanghai, Guandong, Yunnan, onde os grupos ambientais têm acesso a ampla variedade de recursos financeiros, incluindo ONGs internacionais, mas também conseguem se integrar melhor com os grupos civis locais.

As temáticas das ONGs também começaram a variar, não se restringindo mais apenas à educação ambiental e sensibilização. Fundadores das primeiras ONGs saíram dessas organizações e criaram novas, intensificando a rede de contatos entre as organizações, aprimorando o networking, um fato essencial para o avanço do ambientalismo, que necessita de estruturas de cooperação para melhor funcionamento (AIKAWA, 2017). Entretanto, a expansão da rede de contatos entre as ONGs nem sempre é vista com bom grado pelo governo, afinal “o governo desconfia de laços fortes demais entre grupos, e se as ONGs quiserem continuar a se dedicar ao seu próprio trabalho, é melhor agir por elas mesmas” (HILDEBRANDT; TURNER, 2009, p. 101, tradução minha). Por isso, Gaudreau e Cao (2015) questionam se efetivamente as ONGs estão vinculadas em redes ou se há forte pressão para

permanecerem fora da rede e atuarem de maneira desconectadas umas das outras. Para eles, na prática, há pouca cooperação real entre ONGs, o que dificultaria a consolidação de um movimento ambientalista efetivo.

Outra mudança fundamental foi a intensificação no uso das mídias pelas ONGs nos anos 2000, conforme visto no item 3.2, que permitiu divulgação das atividades das ONGs e da problemática ambiental. Porém, o apoio fundamental para o avanço das ONGs veio da SEPA e do redirecionamento político que passa a reconhecer a necessidade do desenvolvimento sustentável.

Porque o governo central segue uma política nacional de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável, o movimento ambiental frequentemente busca apoio de agências governamentais, como a SEPA, a fim de atingir seus objetivos (YANG, 2004, p. 6, tradução minha).

Nesse sentido, as ONGs costumam estabelecer cooperação com o governo central, defendendo as prioridades definidas pela SEPA, posteriormente pelo MEP, se opondo, muitas vezes, ao governo local e às empresas (LIU; GOODNIGHT, 2016). Como estratégia de sobrevivência e manutenção da estabilidade é preciso estabelecer relação direta com o Estado (SIMA, 2011), agindo de acordo com as expectativas consensuais (HO, 2007).

Desde o final dos anos 1990, a SEPA expandiu seu foco, não se concentrando apenas na questão da poluição, mas criou uma agenda mais ampla, com base em uma agenda de desenvolvimento sustentável, integrando diversos aspectos de gestão e proteção ambiental.

Muitas ONGs funcionam como “braço prolongado” da SEPA e de outras instituições do Estado, pois visam a melhoria da situação ambiental e o cumprimento das leis. A ONG internacional Environmental Defense, com escritório em Beijing, auxilia diretamente a SEPA na formulação de políticas (LEHRACK, 2006). Diversas ONGs participaram ativamente do planejamento das Olímpiadas de 2008, prestando consultorias ao governo, elaborando planos e estratégias para conquistar melhorias ambientais. Líderes das ONGs Global Village of Beijing, Friends of Nature e Green

Home, incluindo Liang Congjie e Liao Xiaoyi, foram nomeados assessores ambientais

do Comitê de Propostas dos Jogos Olímpicos de Beijing e impressionaram os membros do Comitê Olímpico Internacional com suas ideias e boas práticas em proteção ambiental (MADUNIC et al., 2008).

Enquanto as ONGs ambientais puderam participar ativamente dos preparativos para a Olimpíada de 2008, ONGs que trabalhavam em outras áreas ficaram sob forte vigilância, não apenas durante as Olimpíadas, mas nos anos seguintes também, quando se comemorou o aniversário de 60 anos da fundação da República Popular da China e durante a Exposição Mundial de Shanghai em 2010. “Líderes de ONGs chinesas foram orientados a não receberem visitantes estrangeiros durante estes importantes eventos nacionais e os líderes das ONGs foram colocados em prisão domiciliar e extensa vigilância” (TAI, 2015, p. 23, tradução minha). O temor do governo chinês eram as manifestações acerca dos direitos humanos, pró- democracia, que poderiam afetar a imagem internacional da China.

Crescimento e diversificação das ONGs – dados empíricos

A década de 2000 vivenciou um crescimento explosivo das ONGs de maneira geral, não apenas daquelas voltadas a assuntos ambientais. De acordo com o Ministério das Relações Civis, em 2008, havia 212.000 ONGs registradas, sendo 5.330 ambientais (GAO, 2013).

Entre 1988 e 2013, o número de ONGs aumentou mais de 100 vezes, passando de pouco menos de 4.500 em 1988 para mais de 540.000 em 2013. Segundo muitos especialistas, o número de ONGs acima mencionado nem sequer chegam perto de representar o tamanho do setor de ONGs na China. Por exemplo, He Jianyu e Wang Shaoguang estimaram que pode haver mais de 8 milhões de ONGs na China (TAI, 2015, p. 20, tradução minha).

Os dados exatos sobre os números de ONGs ambientais são difíceis de se identificar, mas as principais fontes, como o Ministério das Relações Civis e a GONGO

All China Environment Federation, indicam que houve um crescimento do setor de

ONGs ambientais em torno de 10% a 15% por ano, em toda década de 2000. Tal crescimento foi tanto no número de ONGs quanto no número de funcionários que trabalham para elas (XIE; VAN DER HEIJDEN, 2010). As dificuldades em precisar o número dessas ONGs decorrem das possibilidades de registro, como organização ou como empresa, registro efetivado com o Ministério das Relações Civis ou sob outro Ministério, além do fato de haver um significativo número de organizações que funcionam sem registro formal.

As organizações não-governamentais (ONGs) não registradas na China não têm apoio legal, porém existe uma “tolerância do governo chinês a essa situação, porque o governo usa regras ocultas que não são declaradas nas leis atuais e regulamentos para gerenciar tais ONGs. Sob a pré-condição de que essas organizações não prejudicam a segurança do Estado e a estabilidade social, a atitude do governo chinês em relação a elas é de ‘não reconhecimento, sem proibição, sem intervenção’ (DENG, 2010, p. 183, tradução minha).

Conforme evidencia o gráfico abaixo, que apresenta os dados publicados pela All China Environment Federation, é possível visualizar o crescimento constante das ONGs ambientais, que se mantém no início da década de 2010. Para ilustrar a discrepância nos números, segundo os dados do Ministério das Relações Civis, em 2008 havia 5.330 ONGAs, um número 50% maior do que o apresentado pela All China

Environment Federation (GAO, 2013; ACEF, 2007):

Gráfico 9: Crescimento das ONGs ambientais na China

Fonte: ACEF, 2007.

O episódio do terremoto na província de Sichuan, em maio de 2008, que atingiu 7,9 graus na escala Richter e matou mais de 80 mil pessoas35, proporcionou

uma oportunidade única para as campanhas de caridade e trabalho voluntário, funcionando como impulsionador para o desenvolvimento de ONGs (CHEN, 2010).

35 https://g1.globo.com/mundo/noticia/chineses-relembram-10-anos-do-terremoto-de-sichuan.ghtml 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 1998 2005 2008 2012 Número de ONGs

Sobre o episódio do terremoto, alguns especialistas afirmam que ele foi ocasionado pelo peso do reservatório da barragem das Três Gargantas - mais um impacto ambiental de um projeto que não foi discutido pela população (WINES, 2011; BARBIERI, 2019).

Particularmente após o terremoto de Sichuan em 2008, o Estado congratulou- se com campanhas de voluntariado e de doações auto-organizadas por um período de tempo limitado, o que deu ao setor de ONGs um impulso inesperado, e o ativismo social de baixo para cima multiplicou-se em várias políticas públicas, em questões como resgate e reconstrução após desastres, desenvolvimento da comunidade rural e saúde pública (WU, 2017, p. 126, tradução minha).

Fengshi Wu (2013) afirma que o episódio do terremoto em 2008 deu início a uma terceira fase do ambientalismo na China, quando uma geração mais jovem e diversificada, com envolvimento de empresários e de novos líderes, se envolveu com a problemática ambiental, tornando as ONGs ambientais um fenômeno nacional, que se espalhou por todas as províncias do país.

Os dados da All China Environment Federation de 2005 (ACEF, 2007) mostram que o crescimento das ONGs ambientais é baseado na forte expansão das GONGOs e daquelas organizações ligadas às Universidades e grupos estudantis, o que reafirma a ideia de que o ambientalismo se desenvolve principalmente entre as