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O litoral brasileiro possui cerca de 8.500 km de litoral, dentre os quais 187 km ficam no Estado de Pernambuco. A importância do litoral pernambucano pode ser constatada pelo fato de ser este o mais importante aglomerado populacional do estado, com cerca de 44 % da população residindo e trabalhando nesta área. Aliado a isto, abrange uma multiplicidade de ecossistemas que incluem segmentos de planícies cobertas por coqueirais, remanescentes da Mata Atlântica, estuários com extensos manguezais, recifes de arenitos e de corais, coroas, ilhas e restingas (CPRH, 2003).

A faixa litorânea pernambucana se estende desde Goiana, ao Norte, na divisa com o Estado da Paraíba, até o município de São José da Coroa Grande, ao Sul, tendo como limite o Estado de Alagoas. De acordo com Diagnóstico Sócio-ambiental do Litoral Sul de

Pernambuco (CPRH,1999, p. 7), o litoral pernambucano foi dividido em três setores, de

acordo com municípios litorâneos e estuarinos, bem como os contíguos a estes, “que exercem e/ou recebem influência marcante dos mesmos ou que integrem região geo-administrativa, parcialmente localizada na faixa costeira do Estado”.

Desta forma, a Zona Costeira de Pernambuco foi segmentada em: Setor 1 – Note – abrangendo os municípios de Goiana, Itaquitinga, Itapissuma, Itamaracá, Igarassu, Abreu e Lima e Paulista; Setor 2 – Núcelo Metropolitano – compreendendo os municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, São Lourenço da Mata e Moreno; Setor 3 – Sul – incluindo o Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Sirinhaém, Rio Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande (FIGURA 1). De acordo com Pereira (2005, p. 89), tal

divisão teve como finalidade “facilitar os estudos inerentes a cada área, como também configuram as diversas formas de ocupação, produção e legado patrimonial”.

FIGURA 1 – Setorização costeira de Pernambuco Fonte: CPRH, 2001.

Entre os municípios do litoral sul, o de Ipojuca vem se destacando principalmente por sua forte vocação para o turismo, sendo, portanto, o foco deste trabalho. O município de Ipojuca tem uma área de 515 quilômetros quadrados, e está localizado a 51 quilômetros de Recife, capital de Pernambuco (EMPETUR, 1996). O acesso, em boas condições de circulação principalmente depois do sucesso do balneário de Porto de Galinhas, é feito através da PE – 60 e BR – 101. Ipojuca tem como componentes formadores os distritos de Camela, Nossa Senhora do Ó e os povoados da Vila de Porto de Galinhas, Pontal de Serrrambi, Praia de Toquinho e Suape.

Vale ressaltar que Ipojuca atualmente faz parte da Região Metropolitana do Recife, de acordo com a reconfiguração geopolítica feita pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (CONDEPE/FIDEM). De acordo com tal reconfiguração os

municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca passam a integrar a Região Metropolitana do Recife (RMR) (FIGURA 2).

FIGURA 2 – Região Metropolitana do Recife Fonte: CONDEPE/FIDEM, 2008.

Em relação à origem da freguesia de São Miguel de Ipojuca, não são encontrados dados exatos relativos à fundação da localidade. Os primeiro registros relativos a Ipojuca remontam ao meio do século XIX, quando em 30 de março de 1843 o município de Ipojuca foi criado pela Lei provincial nº 152, formado pelo distrito-sede, Camela, Nossa Senhora do Ó, Rurópolis, Engenho Maranhão e Porto de Galinhas, vindo a ser politicamente emancipado em 20 de março de 1890 (CPRM, 2005, p. 3).

Apesar de passar a constar em documentos oficiais apenas neste período, sua ocupação iniciou-se ainda no século XVI. As condições climáticas e solos favoráveis estimularam a produção de cana-de-açúcar na área, estando ela “marcada pela economia canavieira, caracterizada pela presença de engenhos ‘bangüês32’, posteriormente substituídos por usinas de cana-de-açúcar” (LIMA, 2006, p. 85).

32 Os engenhos ‘banguês’ produziam um açúcar de cor escura, mascavo. Por utilizarem técnicas mais arcaicas, entraram em decadência a partir de 1871, quando passaram a ser substituídos por engenhos centrais e usinas (FUNDAJ, 2008).

Neste período, o espaço litorâneo era utilizado não apenas para a produção de cana, como também para servir de apoio às rotas comerciais para o escoamento do pau-brasil e do açúcar produzindo nos engenhos bangüês. Recife e Salvador são exemplos de importantes entrepostos comerciais da antiga colônia, bem como os Portos de Suape e Porto, no litoral pernambucano. Assim, por suas condições geográficas propícias, estes portos se tornaram pontos naturais de atracação de embarcações, geralmente utilizados para escoamento da produção de açúcar, bem como para o contrabando de escravos (BARROS JUNIOR, 2002, p. 57).

O foco da área continua sendo a cana-de-açúcar até a década de 1950, quando são dados os primeiros incentivos à sua diversificação econômica, com a criação do distrito industrial do Cabo e a tentativa de implantação de um projeto de colonização neste município na década de 60 (LIMA, 2006, p. 85). Desapropriação de engenhos, parcelamento de terras e assentamentos rurais por meio do PROTERRA33 foram algumas das estratégias utilizadas pelo governo no sentido de racionalizar o uso da terra no local. Tais esforços, no entanto, foram praticamente invalidados pelo PROÁLCOOL34, que estimulou a aquisição de pequenas propriedades para a produção de cana em larga escala, reforçando assim a concentração fundiária do local (CPRH, 2003 apud LIMA, 2006, p. 86).

Um dos problemas do município do Ipojuca, fruto deste passado histórico, é a grande concentração fundiária. Hoje as terras são monopolizadas por três usinas de cana-de-açúcar: Trapiche, Ipojuca e Salgado (AGENDA 21 IPOJUCA, 2004, p. 14). Com a falência da indústria sulcro-alcoleira, a economia do local fica abalada, afetando principalmente a população de baixa renda. As conseqüências disto são o êxodo rural para os centros urbanos (CPRH, 2003, p. 6). Em Ipojuca isto representou a concentração de pessoas pouco ou nada qualificadas nas cidades. Em 1940 apenas 13,67% da população vivia na área urbana, enquanto que em 2000, 67,99% desta população já vivia na cidade (AGENDA 21 IPOJUCA, 2004, p.14). Para Lima (2006, p. 87), embora a cana-de-açúcar ainda seja a atividade agrícola predominante no litoral sul de Pernambuco, outros usos vêm se consolidando nesta região. Um exemplo é o loteamento para veraneio, bem como as atividades ligadas a lazer e entretenimento, entre elas o Turismo.

O município de Ipojuca está situado na mesorregião da Mata pernambucana, especificamente na microrregião da Mata úmida. Sua sede está a 10 metros de altitude,

33 O PROTERRA – Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agropecuária do Norte e do Nordeste, criado em 1971.

34 O PROÁLCOOL – Programa Nacional do Álcool, cuja a meta era a produção em larga escala de álcool carburante a partir da cana-de-açúcar, na década de 70.

limitando-se ao Norte-Nordeste com o município do Cabo, ao Sul-Sudoeste com Sirinhaém, ao Leste-Sudeste com o oceano Atlântico e a Oeste-Noroeste com o município de Escada.

A paisagem característica do litoral sul é de morros e colinas, cujas altitudes variam de 30 a 400 metros, e de 12 a 50 metros respectivamente. A hidrografia da área tem como característica ser formada por duas categorias de rios: rios litorâneos e rios translitorâneos. “Os primeiros nascem e deságuam na zona litorânea, sendo em geral perenes. Os segundos nascem no Agreste Pernambucano onde apresentam regime temporário, tornando-se perenes ao penetrarem na Zona da Mata” (CPRH, 1999). O clima da área é o tropical úmido, com fortes chuvas nos meses de maio, junho e julho e os mais secos em outubro, novembro e dezembro. Em termos de variação de temperatura, elas vão de 18 ºC até 32 ºC, apresentando média anual em torno de 24 ºC (CPRH, 2003, p. 5). A vegetação é caracterizada por remanescentes de floresta tropical atlântica, bem como ecossistemas associados a áreas de restingas e manguezais.

A principal atividade econômica da região é ainda ligada à plantação de cana-de-açúcar. Entretanto por causa do grande crescimento da atividade turística nos últimos anos, o município tem grande apoio no setor de serviços. De acordo com o Gráfico 1 (CONDEPE, 2006), uma comparação entre os anos de 1998 e 2001 mostra a composição, em porcentagem, da participação na produção de valor adicionado bruto dos três setores na economia do município. Fonte: CONDEPE, 2006. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Agropecuária Indústria Serviços

1998 1999 2000 2001

GRÁFICO 1: Participação dos diferentes setores no PIB Municipal

A história do turismo em Ipojuca, especificamente os povoados de Porto de Galinhas e Maracaípe, iniciou-se a partir de 1975, quando as terras da antiga fazenda Merepe foram loteadas pra venda (MENDONÇA, 2004, p. 57). Entretanto é a partir da década de 90 que a localidade se transforma em um grande atrativo turístico de Pernambuco, com a construção de

hotéis e pousadas, e a divulgação maciça da vila na mídia do Sudeste. De acordo com Mendonça (op. cit, p. 77), para a chegada de grande contingente de turistas “reformam-se casas, constroem-se novas pousadas e novos meios de hospedagem são criados em ritmo e velocidade jamais vistos em qualquer praia do Estado”. A acelerada ocupação espacial das praias de Ipojuca persiste, chegando a consolidar o município como um destino indutor de turismo para o Estado.

Entretanto, se em um primeiro momento os lotes e terras eram vendidos para a construção de casas de veraneio e pousadas, a consolidação de tal destino, baseado nas praias e belos arrecifes de corais posteriormente significou uma corrida para a construção de grandes

resorts, como no caso do Beach Class Resort, Summerville Beach Resort, Nannai Beach

Resort e Parthenon Marulhos. Para os três últimos empreendimentos portugueses no local foram previstos investimentos na casa dos R$ 320 milhões. São eles o Enotel Porto de Galinhas Resort e Spa, o Dorisol Ancorar Suíte e Beach Resort, e um complexo hoteleiro do Grupo Teixeira Duarte (TD Hotels) nos 70 hectares da antiga Casa do Governador, totalizando 1537 novos apartamentos para o município (SANDES, 2006).

Tais empreendimentos efetivamente deverão trazer uma série de benefícios para a área, desde geração de empregos diretos e indiretos, valorização do espaço, melhorias infra- estruturais e recolhimento de impostos. Entretanto, o que se verifica em geral é uma exacerbada ênfase a estes aspectos, contrariamente havendo um descaso com relação à localidade e sua população, como verificado na passagem a seguir:

Apesar dos grandes empreendimentos – e de ser o segundo município com maior arrecadação de impostos em Pernambuco – quem chega à sede de Ipojuca se depara com a pobreza da população e a desorganização urbana da cidade, que apresenta um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da RMR (RABELO, 2006).

Dentro dos problemas sentidos pela população, estão a falta de investimentos em educação, saúde e lazer, como atesta Rabelo (2006), em matéria para o Jornal do Comércio. Para um dos moradores de Ipojuca, “Todos estes investimentos não adiantam nada pra gente que mora aqui. Os hotéis de Porto de Galinhas e o Porto de Suape só empregam pessoas de fora. Eles só querem profissionais com experiência (...)”.

Neste contexto, há que se analisar a real eficiência de tal desenvolvimento para a localidade. Um estudo sobre os reais impactos do crescimento do Turismo na região em detrimento do bem estar da população local é, portanto, indispensável para a gestão integrada

de fatores sociais, econômicos e ambientais ligados ao desenvolvimento sustentável e responsável das atividades aí realizadas.