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Delimitação da recorribilidade e racionalização no acesso ao STJ

No documento Temas de Direito Tributrio 2019 (páginas 163-171)

TEMAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO –

II. Temas de procedimento e processo tributário 2 O processo 3 O regime dos recursos no CPC

5. Delimitação da recorribilidade e racionalização no acesso ao STJ

Um dos principais objectivos da reforma do regime dos recursos, operada pelo DL n.º 303/07 e continuada no CPC 2013, traduziu-se na racionalização do regime da recorribilidade, muito em particular a filtragem no acesso ao STJ.

a) No que respeita ao recurso de apelação, deve realçar-se o regime limitativo constante do artigo 630.º, condicionando a recorribilidade quando estiverem em causa decisões proferidas no exercício das tarefas de simplificação ou agilização processual, concretizadoras dos princípios da gestão e da adequação processual, bem como das proferidas sobre nulidades

secundárias, nos termos do n.º 1 do artigo 195.º.

No primeiro caso, trata-se de reconhecer que esse tipo de decisões, ligadas à flexibilização da tramitação processual na especificidade de uma concreta situação, comporta uma certa vertente de discricionariedade judicial, considerando-se que seria excessivo – e desmotivador do efectivo exercício de tais tarefas pelo juiz de 1.ª instância – a existência de um pleno e generalizado grau de recurso para a Relação, levando em muitos casos a substituir a margem de discricionariedade consentida ao juiz a quo pela exercitada pelos desembargadores.

No que respeita à limitação estabelecida em sede de decisões proferidas acerca de nulidades secundárias, trata-se de reconhecer a menor relevância das questões instrumentais e adjectivas que, em muitos casos, estão na sua base, a qual justifica a limitação introduzida a um absoluto, generalizado e irrestrito exercício, em todos os casos, do duplo grau de jurisdição.

Porém – e como não podia deixar de ser – as limitações à admissibilidade, nestas situações, da interposição do recurso de apelação não são absolutas, mas antes meramente relativas – dependendo de não contender a ilegalidade pretensamente cometida pelo juiz com os princípios fundamentais da igualdade e do contraditório (emanações directas do próprio direito fundamental de acesso aos tribunais, garantido pelo artigo 20.º da Constituição), com as regras que regem a aquisição processual dos factos essenciais, resultantes em particular do artigo 5.º, ou com o direito à prova: ou seja, o recurso de apelação passará a ser admissível se o recorrente lograr convencer que, na base da decisão impugnada, está a violação plausível

TEMAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO – 2019

II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC

revista (ou seja, em que ela não é viável mesmo que o valor da causa ultrapassasse em muito a

alçada da Relação, – por ex. as decisões proferidas acerca da indemnização arbitrada ao expropriado, perante o estatuído no artigo 66.º, n.º 5 do C. Exp., as decisões que decretem a insolvência, face ao preceituado no artigo 14.º do CIRE, as que sejam proferidas no âmbito de procedimentos cautelares – artigo 370.º, n.º 2, CPC, etc.) – visando com este regime estabelecer-se um verdadeiro recurso de uniformização da jurisprudência contraditória eventualmente formada e sedimentada ao nível das Relações.

c) Finalmente – e é obviamente a alteração mais significativa e plena de consequências práticas – o DL n.º 303/07 veio instituir um mecanismo inovatório específico de filtragem no acesso ao STJ.

Assim – e para além de o fundamento da revista continuar a assentar no conceito de questão

de direito, que não sofreu alterações nas reformas processuais dos últimos anos – o recurso de

revista implica que:

– O seu objecto se reporte à decisão de mérito ou a uma decisão processual final do

litígio, nos termos prescritos no artigo 671.º;

– O acesso ao STJ, em revista normal, fique precludido quando se verifique dupla

conformidade do decidido pelas instâncias – artigo 671.º, n.º 3;

– Sendo, porém, admissível revista excepcional, quando estejam preenchidos os específicos pressupostos de admissibilidade desta, ou seja, quando a questão coenvolvida no recurso implique relevância jurídica ou social ou revele uma efectiva contradição de soluções jurisprudenciais entre o acórdão recorrido e outro acórdão já antes definitivamente proferido pela Relação ou pelo STJ – artigo 671.º, n.º 2;

– Cabendo a verificação dos pressupostos específicos da revista excepcional exclusivamente a um órgão jurisdicional específico – a formação prevista no n.º 3 do artigo 672.º – constituída no âmbito do STJ.

Como é evidente, este inovatório regime, instituindo um mecanismo de filtragem no acesso ao STJ com laivos de alguma discricionariedade, ao envolver a densificação e concretização de amplas clausulas gerais, inspirou-se, até certo ponto, no regime já em vigor no artigo 150.º do CPTA, nomeadamente no que se refere à definição das próprias cláusulas gerais condicionadoras do excepcional acesso ao STJ e na criação de um órgão jurisdicional específico – a formação – exclusivamente competente para as aplicar.

Defrontou-se, porém, o legislador de 2007 com uma particular dificuldade no campo do processo civil, que obviamente não existia no processo administrativo: a tradição de uma quase irrestrita possibilidade de acesso ao STJ, exercendo este o triplo grau de jurisdição sobre as questões de direito já resolvidas pelas instâncias, sempre que o valor da causa e da sucumbência o permitissem (é certo, com algumas tímidas restrições introduzidas em

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC 1995/96, nomeadamente, em sede de decisões processuais interlocutórias, com o disposto no artigo 754.º, n.º 2, do velho CPC).

Deste modo, e não sendo obviamente aceite pela comunidade jurídica a transformação radical do recurso para o STJ em meio impugnatório puramente excepcional, dependente exclusivamente de um juízo discricionário sobre a relevância das questões controvertidas – bastando-se em regra o direito ao recurso com o exercício pela 2.ª instância do duplo grau de jurisdição sobre os temas controvertidos – sentiu o legislador a necessidade de manter aberta uma via alternativa, traduzida na figura da revista normal, conexionando-a com a inexistência no processo de uma situação de dupla conformidade das decisões proferidas pelas instâncias. Só que, ao fazê-lo, com base neste critério da existência ou não de coincidência ou

conformidade entre a sentença e o acórdão da Relação, veio complexizar desmesuradamente

o sistema de recursos, originando uma infinita multiplicidade de dúvidas e relevantes dificuldades interpretativas, versando, nomeadamente, sobre:

– A exacta definição do que seja decisão processual final;

– A espinhosa problemática da definição do conceito de dupla conforme, erigido em primeiro obstáculo ao normal acesso ao Supremo;

– A precisa articulação de competências, no plano orgânico, entre a formação competente para apreciar os pressupostos da revista excepcional e a competente para, nos termos normais, apreciar e julgar os restantes aspectos envolvidos na revista.

Para ilustração desta ampla e complexa problemática veja-se, por exemplo, a extensa jurisprudência do STJ publicada sob os descritores dupla conforme, fundamentação

essencialmente diferente e revista excepcional.

Tendo em conta os destinatários da presente intervenção não iremos, porém, aprofundar e desenvolver este tema, já que a grande maioria das questões suscitadas em processo civil se não colocam no domínio do processo administrativo/tributário.

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC III.

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo.

No documento Temas de Direito Tributrio 2019 (páginas 163-171)