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Delimitação da recorribilidade e racionalização no acesso ao STJ Vídeos

No documento Temas de Direito Tributrio 2019 (páginas 151-154)

TEMAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO –

II. Temas de procedimento e processo tributário 2 O processo 3 O regime dos recursos no CPC

5. Delimitação da recorribilidade e racionalização no acesso ao STJ Vídeos

1. O regime recursório instituído pelo CPC de 2013 é essencialmente o estabelecido pela reforma anteriormente operada através do DL n.º 303/2007, já que as alterações introduzidas em 2013 não modificaram os traços essenciais do modelo cuja vigência se iniciou em 2008, limitando-se a prescrever alguns esclarecimentos ou pontuais melhoramentos nos regimes adjectivos criados poucos anos antes – e apenas aplicados, até então, aos processos nascidos após a entrada em vigor do DL n.º 303/07.

Na verdade, o ter-se deixado, em larga medida, intocado o regime criado em 2007 não se deveu a um absoluto convencimento, por parte dos membros da Comissão mandatada para a elaboração do que veio a ser o Código de 2013, dos méritos de todas as soluções legislativas consagradas em 2007, mas antes e fundamentalmente, à constatação de que se não justificava, em nome da estabilidade legislativa, a introdução prematura de alterações estruturais num modelo que então – face à opção legislativa minimalista traduzida na aplicação da reforma apenas às causas iniciadas posteriormente a 2008 – ainda não tinha adquirido velocidade de cruzeiro, revelando as eventuais fragilidades decorrentes do confronto ou teste decisivo com as exigências concretas da prática judiciária.

Importa fundamentalmente analisar as mais relevantes alterações introduzidas no regime dos recursos cíveis e, muito em particular, verificar quais têm sido, na prática judiciária, as dificuldades e fragilidades na aplicação em concreto dos regimes normativos criados em 2007. Uma das mais relevantes bandeiras da reforma de 2007 traduziu-se na consagração de um monismo recursório, abandonando a tradicional dicotomia entre apelação revista e agravo,

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC significado e relevância das múltiplas decisões proferidas pelo juiz ao longo da tramitação da causa torna extremamente difícil criar um único modelo ou tipo de recurso, dotado de um regime procedimental essencialmente uniforme, que possa abarcar adequadamente a impugnação de toda e qualquer dessas decisões judiciais: o que fundamentalmente ocorreu foi o surgimento de novos tipos recursórios, dotados de relevantes especificidades ao nível do regime de impugnação estabelecido – substituindo-se a tradicional dicotomia dos tipos de recursos cíveis, moldados consoante fosse impugnada decisão de mérito ou decisão de conteúdo meramente procedimental, há muito estabilizada e pacificamente aplicada sem dúvidas relevantes, por novas dicotomias quanto aos modelos recursórios, de aplicabilidade e inteligibilidade bem mais problemática.

Assim, no que se refere à apelação – que no novo figurino abrange também as impugnações de decisões de 1.ª instância de natureza processual ou adjectiva – passa a vigorar em 2007 uma estrutural dualidade de regimes, consoante esteja em causa a impugnação da decisão que, no todo ou em parte, ponha termo ao processo ou de decisão puramente interlocutória – sendo que os regimes estabelecidos para cada um destes tipos recursórios não podiam ser mais profundamente diferentes. Na realidade, só as decisões finais, contidas na sentença ou no despacho saneador, podem em regra ser objecto de apelação autónoma, surgindo a impugnação das decisões interlocutórias, proferidas ao longo da causa – e que se não subsumam a algum dos casos especialmente ressalvados pelo n.º 2 do artigo 644.º – imperativamente sujeita a um regime de impugnação conjunta, inserida ou diluída no recurso interposto da decisão que ponha termo ao processo.

Ou seja: em vez da dicotomia apelação/agravo, passamos a ter uma diferenciação estrutural entre apelações autonomamente interpostas (correspondendo à impugnação das decisões finais, acrescidas das situações especialmente previstas no n.º 2 do artigo 644.º) e apelações obrigatoriamente diluídas no recurso interposto de decisões que hajam posto termo ao processo.

Por outro lado – e no que se refere aos recursos para o STJ – o desaparecimento da figura do agravo em 2.ª instância não conduziu a uma verdadeira unificação do regime impugnatório, já que acabou por se instituir uma dualidade de recursos de revista – a revista normal e a revista

excepcional – sujeitas a pressupostos de admissibilidade específicos, a requisitos formais

próprios e inclusivamente sujeitas a apreciação por órgãos jurisdicionais diferentes no âmbito do STJ (o relator, quanto à primeira, a formação prevista actualmente no artigo 672.º, n.º 3, quanto à segunda), criando problemas práticos de articulação porventura bem superiores aos que decorriam da tradicional diferenciação da revista e do agravo em 2.ª instância: bastará, para tal, notar que presentemente as partes sentem necessidade, num número assaz elevado de causas, de cautelarmente interporem revista normal, a título principal, e revista excepcional, a título subsidiário – necessidade essa que nunca se havia verificado na época em que o acesso ao STJ estava construído com apelo às figuras da revista e do agravo em 2.ª instância…

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC 2. Devem realçar-se duas das principais alterações introduzidas em 2007 na tramitação dos recursos:

a) Quanto à interposição do recurso, criando o ónus de alegar no momento da interposição, cumulando obrigatoriamente as fases de interposição e alegação e diferindo para o momento em que estão findos os prazos concedidos às partes para alegar e contra alegar a prolação de despacho sobre os requerimentos de interposição de recurso apresentados.

Este regime surge justificado por razões de simplificação e celeridade do processamento, ao concentrar num momento unitário as fases de interposição e de alegações por recorrentes e recorridos, apenas chamando a intervir o juiz, para apreciar dos recursos interpostos, quando todos os interessados se pronunciaram já sobre os respectivos objectos e suscitaram as questões prévias tidas por pertinentes.

Tem sido, todavia, notado que este regime – inovatório no campo do processo civil – implica substancial alargamento da situação de pendência e incerteza, após prolação da decisão final sobre o litígio, ignorando o vencedor durante um período que poderá ser bastante prolongado se a decisão proferida se vai consolidar ou será objecto de impugnação ordinária pela parte vencida: na verdade, enquanto no regime que vigorou em processo civil até 2007, ao fim de 10 dias, contados da notificação da sentença, ficava irremediavelmente definido se tinha ou não havido apelação do vencido, no actual figurino será necessário aguardar eventualmente pelo decurso do prazo de 40 dias, para saber se é ou não interposta apelação e se nela se impugna a decisão proferida sobre a matéria de facto, com a consequente ampliação do prazo recursório.

Por outro lado, este regime de concentração das fases de interposição e de alegações é susceptível de, em processos complexos, originar uma relevante sobrecarga do recorrido que – mesmo que comece por suscitar alguma questão prévia sobre a admissibilidade do recurso que lhe pareça claramente fundada – não poderá deixar de, à cautela, se pronunciar também sobre o objecto do recurso, já que a sua alegação quanto ao mérito ficaria naturalmente precludida se, no momento previsto no artigo 641.º, n.º 1, o juiz acabasse, afinal, por considerar a apelação admissível…

b) Em segundo lugar – e como atrás se notou a propósito da pretendida instituição de um monismo recursório – o regime da apelação passou a comportar o surgimento da figura da apelação não autónoma, levando a que a generalidade dos recursos de

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II. Temas de procedimento e processo tributário. II.2. O processo. 3. O regime dos recursos no CPC naturalmente susceptível de criar alguma instabilidade na tramitação do processo, por se ignorar em absoluto, até ao momento final, quais as decisões interlocutórias que a parte pretenderá pôr em causa no recurso de apelação que porventura venha a interpor quando findar o processo.

Saliente-se que este inovatório regime é substancialmente diferente do que vigorou, até à reforma de 1995/96, quanto aos agravos retidos, em que o recorrente podia optar por alegar logo após prolação do despacho de admissão do recurso ou diferir a apresentação da alegação para a altura em que o agravo devesse subir (cfr. artigo 746.º do velho CPC): é que neste caso a impugnação (consubstanciada na apresentação do requerimento recursório) continuava a ter de ser necessariamente apresentada na imediata sequência da decisão impugnada – o que ficava para final era apenas a sustentação das razões do recorrente, traduzidas na apresentação da alegação do recurso.

Pelo contrário, o regime actualmente vigente quanto às apelações não autónomas implica que a própria interposição do recurso só poderá ter lugar conjuntamente com a impugnação que venha a ser deduzida quanto à decisão final – o que significa que, durante a pendência da causa, se ignora se a generalidade das decisões interlocutórias (isto é, de todas as que se não mostrem ressalvadas pelo n.º 2 do artigo 644.º) proferidas pelo juiz no decurso de todas as fases do processo serão ou não objecto de impugnação a final pelo interessado, gerando-se inevitavelmente algum grau de incerteza e instabilidade sobre a consolidação do andamento do processo: significa isto, em bom rigor, uma radical alteração quanto à formação do caso julgado formal, naturalmente relegada ou diferida para o momento final do processo – o único em que é legalmente possível impugnar a generalidade das decisões interlocutórias; ou seja, não se forma, neste novo regime, caso julgado formal sobre a generalidade das decisões interlocutórias, as quais permanecem num limbo de incerteza até que, finda a causa, a parte vencida defina se, para além da decisão final que lhe foi desfavorável, pretende também impugnar algum ou alguns dos múltiplos e heterogéneos espachos que o juiz proferiu ao longo das precedentes fases do processo.

c) Uma outra relevante alteração estrutural consistiu em cometer a decisão do procedimento de reclamação pelo indeferimento do recurso no tribunal a quo ao relator – e não, como até então sucedia, ao Presidente do tribunal superior.

No DL n.º 303/07 não se mostrava, porém, claramente explicitado se era ou não possível deduzir a reclamação para a conferência do despacho proferido pelo relator do processo – o que veio a ser esclarecido, no sentido afirmativo, pelo CPC de 2013, no n.º 4 do artigo 643.º.

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