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3.4.1 Delineamento da pesquisa

Esta pesquisa caracterizou-se como sendo de natureza qualitativa. Para Creswell (1998) pesquisa qualitativa é um processo de pesquisa compreensiva ou interpretativa baseada em tradições metodológicas distintas de pesquisa, que exploram um problema social ou humano.

Cooper e Schindler (2003) apontam que pesquisas qualitativas se referem ao significado, à definição, ao modelo que caracteriza alguma coisa, buscando, portanto, “o que” e não “o quanto”.

Godoy (1995) acrescenta que, na pesquisa qualitativa o pesquisador estabelece contato direto com o ambiente e com a situação estudada, observando o ambiente e as pessoas inseridas nele como um todo. Porém, a autora alerta que apesar de ser importante a visão da totalidade do fenômeno, é necessário ter claro os focos de interesse, evitando acúmulo de informações irrelevantes.

Creswell (1998) complementa que na pesquisa qualitativa, o pesquisador constrói um retrato holístico, complexo, analisa palavras, opiniões detalhadas, e conduz a pesquisa no ambiente natural. As estratégias de pesquisa utilizadas neste tipo de pesquisa são narrativas, fenomenologia, etnografias, grounded theory, ou ainda, estudos de caso.

O estudo de caso é uma forma de fazer pesquisa empírica, que geralmente envolve questões do tipo “como” e “por que” e investiga fenômenos contemporâneos inseridos no seu contexto da vida real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas. (YIN, 2001). Ainda, o estudo de caso pode ser ainda de caso único ou múltiplo, sendo múltiplo, quando envolve dois ou mais sujeitos, duas ou mais instituições, pode-se ter como objetivo descrever mais de um sujeito, organização ou evento ou pretender estabelecer comparações entre os casos (YIN, 2001; GODOY, 1995).

Levando-se em consideração o escopo da presente pesquisa (profundidade e amplitude), a estratégia de pesquisa que foi utilizada é a estudo de caso, especificamente, estudo de casos múltiplos, levando-se em consideração que cada projeto a ser estudado é um caso.

Justifica-se a adoção do estudo de caso pela possibilidade de realizar comparações, proporcionando resultados mais robustos e, principalmente, por serem especialmente recomendados na exploração de processos e comportamentos dos quais há uma compreensão

limitada, pois auxiliam na geração de pressupostos explicativos e elaboração de teorias.

Ademais, a utilização de estudo de caso contribui com o conhecimento de fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos relacionados. (GODOY, 2006; YIN, 2001).

A análise dos casos foi “dentro do caso” e “entre casos” possibilitando ao investigador a familiaridade com os dados e a geração preliminar de teoria, além da identificação de temas emergentes e características únicas dos casos, levantando evidências por meio de lentes múltiplas (EISENHARDT, 1989).

Quanto ao objetivo, as pesquisas podem ser classificadas em exploratórias, descritivas ou explicativas/explanatórias (COLLIS; HUSSEY, 2005; NEUMAN, 1997).

Os estudos exploratórios, de acordo com, Selltiz et al. (1965, p. 59), visam descobrir ideias e intuições, e permitem a visualização de diferentes aspectos de um fenômeno, por meio da familiarização e compreensão deste. Os estudos exploratórios são especialmente úteis quando há pouco ou nenhum estudo anterior em que se possam buscar informações e, desta forma, se deseja por meio da pesquisa, ampliar a compreensão acerca de um determinado problema. (SAUNDERS ET AL, 2000, COLLIS; HUSSEY, 2005).

A pesquisa descritiva, segundo Collis e Hussey (2005), é a pesquisa que descreve o comportamento dos fenômenos, sendo utilizada com o objetivo de identificar e obter informações sobre as características de um determinado problema ou questão. Os autores destacam ainda que a pesquisa descritiva está além da pesquisa exploratória ao examinar um problema, uma vez que avalia e descreve as características das questões pertinentes.

A continuação da pesquisa descritiva são as pesquisas explicativas/explanatórias, que buscam saber o porquê das coisas, identificar causalidades ou relações entre variáveis de algum fato ou fenômeno. Neste tipo de pesquisa, o pesquisador vai além da descrição das características, analisando e explicando porque ou como os fatos estão acontecendo (NEUMAN, 1997; COLLIS; HUSSEY, 2005).

Diante do exposto até então, entende-se que a presente pesquisa é caracterizada como descritiva, pois buscou, além de explorar o processo de geração da inovação na gestão pública local, tema com poucos estudos identificados na literatura, descrever como este processo ocorreu, quais seus elementos principais e como estes foram desenvolvidos, bem como os fatores que o influenciaram.

Em relação à perspectiva temporal, o presente estudo se enquadrou como transversal, tendo em vista que estudos de corte transversal são realizados quando há limites de tempo, ou

seja, os dados são coletados apenas uma vez (COLLIS; HUSSEY, 2005; NEUMAN, 1997).

Há de se considerar, no entanto, que o estudo é de corte transversal, porém com características longitudinais, uma vez que os dados foram coletados uma única vez, todavia foi necessária uma análise retrospectiva de cada projeto para entender como ocorreu o processo de inovação.

O nível de análise desse estudo é organizacional, pois visou compreender o sistema de inovação das prefeituras municipais. A unidade de análise foi individual, pois foram analisados os projetos inovadores de cada prefeitura.

3.4.2 Escolha dos casos

De acordo com Godoy (1995), a escolha da unidade social para análise é realizada considerando o problema levantado pelo investigador. Complementando, Yin (2001) relata que a utilização de múltiplos casos deve seguir a lógica de replicação e não de amostragem.

Nesse sentido, o pesquisador deve escolher cuidadosamente os casos, tendo em vista prever resultados semelhantes ou produzir resultados que gerem contrastes.

De acordo com Cooper e Schindler (2003, p. 604) a seleção de casos ou a amostra da população não precisa ser necessariamente aleatória, Pode-se fazer uma ‘seleção por julgamento’, ou seja, “um tipo de amostragem proposital na qual o pesquisador arbitrariamente seleciona elementos para atender a alguns critérios”.

A escolha dos casos foi intencional ao se limitar aos municípios da região da AMAUC- SC. Tal região, localizada no Oeste do estado de Santa Catarina, é composta por 16 municípios que representam apenas 2,5% do PIB total do Estado, mas que se destaca por ser a região que possui a maior produção agropecuária do Estado, dentre as 20 regiões existentes.

Esta região foi selecionada em função da facilidade de acesso às informações e de deslocamento até os municípios, bem como para delimitar a área de abrangência da pesquisa.

Inicialmente, fez-se contato via telefone com os prefeitos dos municípios da região da AMAUC, questionando acerca dos projetos implantados nos últimos dez anos, que apresentassem as características de inovação descritas neste estudo. Destaca-se, porém, que foi possível contato com dez dos dezesseis prefeitos da região.

Na sequência, verificou-se dentre aqueles que citaram a existência de projetos inovadores, os que haviam disponibilidade em participar da pesquisa. Tendo em vista a quantidade limitada de projetos que possuíam as características de inovação requeridas neste

estudo e que poderiam participar da pesquisa, formou-se, assim, um estudo de caso de nove projetos inovadores, de diferentes municípios e áreas. Portanto, as unidades de análise foram selecionadas intencionalmente, dependendo da existência de projetos inovadores nos municípios, bem como da acessibilidade e disponibilidade dos envolvidos em participar da pesquisa.

3.4.3 Fontes de evidências e tratamento dos dados

Os dados são definidos por Collis e Hussey (2005, p. 321) como “fatos ou coisas conhecidos como base para inferência ou conclusão”. Yin (2001) e Godoy (1995), destacam que, no estudo de caso, há de se coletar dados de múltiplas fontes de evidência, com os dados convergindo em formato de triângulo. Yin (2001, p. 108) apresenta seis tipos diferentes de fontes de evidência, com seus pontos fortes e fracos, conforme apresentado no quadro 8.

Fontes de evidências Pontos fortes Pontos fracos

Documentação estável – pode ser revisada inúmeras vezes;

discreta – não foi criada como resultado do estudo de caso;

exata – contém nomes, referências e detalhes exatos de um evento;

ampla cobertura – longo espaço de tempo, muitos eventos e muitos ambientes distintos.

capacidade de recuperação pode ser baixa;

seletividade tendenciosa, se a coleta não estiver completa;

relato de visões tendenciosas – reflete as ideias preconcebidas (desconhecidas do autor);

acesso – pode ser deliberadamente negado.

Registros em arquivos [os mesmos mencionados para documentação];

Precisos e quantitativos.

[os mesmos mencionados para documentação];

Acessibilidade aos locais graças a razões particulares.

Entrevistas direcionadas – enfocam diretamente o tópico do estudo de caso;

reflexibilidade – o entrevistado dá ao entrevistador o que ele quer ouvir.

Observações diretas realidade – tratam de acontecimentos em tempo real;

contextuais – tratam do contexto do evento.

Observação participante [os mesmos mencionados para documentação];

Perceptiva em relação a comportamentos e razões interpessoais.

[os mesmos mencionados para documentação];

Visão tendenciosa devido à manipulação dos eventos por parte do pesquisador.

Artefatos físicos Capacidade de percepção em relação a aspectos culturais;

Capacidade de percepção em relação a operações técnicas.

seletividade;

disponibilidade.

Quadro 8 – Seis fontes de evidências: pontos fortes e pontos fracos Fonte: Yin (2001, p. 108).

Os dados coletados através das diversas fontes de evidência apresentadas podem ser classificados como primários, quando se trata de uma pesquisa original na qual os dados coletados são obtidos objetivando responder à questão de pesquisa e, dados secundários, quando coletados por terceiros com objetivos diferentes daqueles para os quais os dados foram revisados (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Na presente pesquisa, as técnicas de coleta de dados utilizadas como fontes de evidência foram entrevista (para coleta de dados primários), análise de documentos, vídeos, registros em arquivos e site (para coleta de dados secundários), apontados por Godoy (1995) como sendo as técnicas mais utilizadas.

Para coleta de dados primários, o tipo de entrevista que foi utilizado nesta pesquisa foi a entrevista semi-estruturada (apêndice A e B), a qual, conforme Laville e Dionne (1999, p.188) significa uma “série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento”. Foram realizadas entrevistas no período de setembro a novembro de 2009, com o responsável por cada projeto selecionado e demais envolvidos neste, indicados pelo prefeito ou pelo responsável. Também foram entrevistados alguns beneficiários do projeto, indicados pelos entrevistados na etapa anterior. O registro das entrevistas, por sua vez, foi feito por meio de anotações realizadas pelo entrevistador durante a entrevista.

Deste modo, os dados levantados foram analisados por meio de análise de conteúdo, especificamente análise de conteúdo temática, na qual utiliza a identificação de temas e padrões temáticos nas entrevistas. A análise dos casos foi feita através da descrição detalhada de cada projeto, de acordo com cada elemento do sistema de inovação, permitindo conforme exposto por Eisenhardt (1989), que características únicas de cada caso se destaquem antes de generalizações de padrões entre os casos

No caso dos dados secundários, estes foram levantados através de pesquisa documental, a qual, segundo Richardson (1989, p. 182), é uma técnica que consiste em “estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com as quais podem estar relacionados”. Dentre os documentos pesquisados constam atas de reuniões, relatórios, documentos, vídeos, dados eletrônicos e publicações (jornais, sites), indicadores, entre outros. Os dados levantados foram tratados por meio da análise documental, pois, segundo Richardson (1989), esse tipo de investigação busca analisar o conteúdo dos documentos.

Foi realizada, portanto, a triangulação de dados, elemento que, de acordo com Flick (2004) e Yin (2001) refere-se ao uso de diferentes fontes de dados para sua análise, sendo uma abordagem que visa reforçar a produção do conhecimento. A triangulação proporciona clareza dos significados, por meio da identificação de diferentes visões do fenômeno em estudo, tornando os achados mais robustos e apurados e permitindo maior confiabilidade na pesquisa (STAKE, 2000; COLLIS; HUSSEY, 2005; EISENHARDT, 1989).

3.4.4 Limitações da pesquisa

Como limitações da pesquisa, destacam-se, inicialmente, àquelas que se referem à utilização das entrevistas como fonte principal de coleta de dados, considerando as limitações de cada entrevistado para lembrar ou verbalizar todas as questões que foram consideradas para a resposta das pesquisas, assim como o seu viés acerca do projeto.

Outra limitação refere-se à falta ou escassez de registros ou documentação acerca dos projetos para a realização da pesquisa documental, tendo em vista que muitos entrevistados citaram não terem registros efetivos das atividades desenvolvidas (reuniões, cronogramas) ou ainda, que muitos documentos escritos que eram referentes ao projeto, constituíam-se apenas arquivos de trabalho, e devido a isso, foram excluídos com o passar dos anos, dificultando o resgate no momento da pesquisa.

Destaca-se ainda como limitação deste estudo, a ausência de pesquisa com outros atores sociais envolvidos no projeto, como a oposição, ONG`s e instituições privadas, tendo em vista a limitação de tempo para desenvolvimento do estudo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Na análise dos resultados inicialmente os projetos foram separados por município, sendo feita uma breve contextualização de cada município. Em seguida, em cada município foram apresentados os projetos identificados, iniciando com a descrição de cada um deles de modo a identificar as características do sistema de inovação, e na seqüência realizar a análise e comparação das características dos modelos de sistema de inovação propostos pelos estudos identificados na revisão da literatura com o sistema de inovação identificado em cada projeto.

Para finalizar, foi realizada a comparação entre os casos de projetos inovadores estudados.