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4.4 MUNICÍPIO DE ALTO BELA VISTA (SC)

4.4.1 Projeto Jiricada

O projeto Jiricada iniciou no município de Alto Bela Vista – SC, em 2004, sob coordenação de Sérgio Luiz Schimitz, atual prefeito. O objetivo do projeto é proporcionar lazer aos munícipes, bem como divulgar o município na região, auxiliando no desenvolvimento do mesmo.

Os entrevistados deste projeto foram a Sr. Sérgio Luiz Schmitz (técnico agrícola e biólogo no início do projeto e atual prefeito); Sr. Elizur Raizer (diretor de agricultura no início do projeto e atual vice-prefeito). Também foram analisados documentos como uma reportagem divulgada pelo Clic RBS e o regulamento do evento.

A Jiricada é um evento realizado no município anualmente, desde 2004; uma corrida interestadual em que os jiriqueiros do próprio município e de municípios vizinhos reúnem-se para competição e corrida em pista, com nada de tecnologia ou velocidade, mas muito público, risos e lama. O projeto é um método diferente de proporcionar lazer à sociedade, valorizando os jiriqueiros, que podem utilizar o jirico2 não somente como um instrumento de trabalho, mas também para lazer.

A ideia de criar o evento surgiu do Sr. Sérgio, que em 2004, era técnico agrícola do município. Ele estava assistindo o programa Globo Rural, na TV Globo, e foi apresentada

2 Jirico é um tipo de veículo adaptado, bastante rústico, criado a partir de peças de veículos já rejeitados com a finalidade de proporcionar maior facilidade aos agricultores na hora de transportar seus produtos e em muitas outras tarefas vindouras no dia a dia da lavoura.

uma reportagem relatando um evento semelhante realizado em outro estado do Brasil, que utilizava um tipo de veículo comum na região e que trouxe para o município idealizador resultados positivos.

Analisando o perfil do município de Alto Bela Vista – SC, na época, com dezenas de agricultores que possuíam o jirico como instrumento de trabalho, com constantes reivindicações de criação de mais opções de lazer para os munícipes e necessidade de divulgação e desenvolvimento do município, surgiu a ideia de criar um evento semelhante ao apresentado no programa de TV, evento que seria inédito na região.

O Sr. Sérgio participava de uma reunião de trabalho todas as segundas-feiras na prefeitura municipal, entre o prefeito, vice-prefeito e diretores e encarregados dos setores de agricultura, urbanismo, transporte e a Epagri. Já na primeira reunião que participou, após ter tido a ideia (por volta de março/abril de 2004), apresentou-a na reunião.

Os participantes da reunião acharam a que a ideia poderia ser colocada em prática no município e discutiram viabilidade do evento (se teria a participação dos jiriqueiros), data para realização do mesmo (se seria neste mesmo ano ou no ano seguinte) e quem iria coordenador este projeto. O então diretor de agricultura se colocou a disposição para coordenar o evento e ficou responsável por levantar se os jiriqueiros do município teriam interesse em participar.

Através de uma sondagem informal com os jiriqueiros do município, verificou-se que se o evento fosse realizado, grande parte dos mesmos tinham interesse em participar.

Assim, novamente em reunião de trabalho informal o Projeto Jiricada foi aprovado e definiu-se que seria realizado já neste mesmo ano, no mês de julho, na semana do município, como um evento para comemorar esta data.

Criou-se uma equipe de apoio para atuar na organização do evento, auxiliando o diretor de agricultura que era o coordenador geral. Participaram da equipe o técnico agrícola (auxiliando na preparação/organização no dia do evento); o setor de transporte e urbanismo (auxiliando na liberação e controle das máquinas); setor de educação e saúde (responsável por disponibilizar profissionais para acompanhar a realização do evento) e setor de comunicação (responsável pela divulgação do evento).

Não foram disponibilizados cursos ou treinamentos para nenhum membro da equipe, pois não se sentiu esta necessidade, tendo em vista que cada profissional iria ser responsável pela área que já atuava na administração municipal. Também não foram disponibilizados

recursos exclusivos para este projeto, sendo que os recursos utilizados foram os previstos para os eventos de comemoração da semana do município.

A equipe realizou reuniões de trabalho para criação do regulamento do evento, e na sequência, a equipe fez visitas nas residências para convidar os jiriqueiros a participarem do evento. Também foram feitos anúncios no rádio para divulgar o evento.

A administração municipal avalia o projeto positivamente, estando satisfeita com os resultados. Os indicadores analisados são: número de jiriqueiros participantes e público que comparece no evento.

ANO 2004 2005 2006 2007* 2008

N. de participantes 18 42 52 38 38

Público presente 2000 3000 7000 3500 8000

Tabela 6 – Indicadores de avaliação da Jiricada

* Neste ano houve problemas climáticos

Como impactos ou efeitos do projeto os entrevistados citaram: a valorização do jiriqueiro, a divulgação da imagem do município, melhoria da participação da comunidade em outros eventos do município, motivação e satisfação dos participantes e da família. Destaca-se, porém, que a administração não realizou avaliações periódicas e também não definiu indicadores formais para avaliar e comprovar estes resultados.

Destaca-se ainda uma notícia escrita por Lílian Simioni, divulgada pelo Clic RBS, no dia 23 de junho de 2008, avaliando o evento como positivo, citando que “a Jiricada levou dezenas de "pilotos rurais" para uma emoção diferente. Os veículos que carregam produtos cultivados na terra da região passaram a ser "carros envenenados" na pista de 500 metros do Jiricódromo. A brincadeira, que serve como lazer aos agricultores, atrai mais adeptos a cada ano desde sua criação, há cinco”... “A festa em Alto Bela Vista é familiar. Casais jovens, idosos, filhos e netos são atraídos pela brincadeira, que dura o dia todo”.

Os entrevistados citam que o sucesso do evento se deve a alguns fatores como: apoio da iniciativa privada principalmente com patrocínios; participação da comunidade;

participação dos municípios da região e envolvimento e dedicação da comissão organizadora.

Em contrapartida, citam que houve alguns dificultadores na realização do projeto: falta de recursos financeiros (não havia recursos exclusivos para este projeto); crítica e descrédito da oposição; variações climáticas (como é um evento, se chover atrapalha e prejudica a participação).

Foram pesquisados dois beneficiários do projeto, sendo entrevistado a Sr. Ademir Engel e depoimento do Sr. Edgar Knecht, em notícia publicada no site do município.

O Sr. Ademir Engel destaca que os munícipes souberam do evento através dos meios de comunicação e da conversa com amigos e funcionários da prefeitura e cita que sempre participou do evento desde a primeira edição, mas como expectador. No ano de 2009, ele montou o seu jirico para participar também da corrida, pois ficou motivado a participar, tendo em vista que todo o ano o evento fica mais bonito e maior e não pode acabar. Destaca que o sucesso do evento se deve a ótima organização da administração municipal e a grande participação das pessoas do município e também dos municípios vizinhos, bem como ressalta que o único dificultador do evento são os fatores climáticos, pois se chover no dia, atrapalha a realização da corrida.

O Sr. Edgar Knecht, com seus 77 anos é um piloto que disputa a jiricada há cinco anos. Destaca que é muito divertido e que sempre participa do evento levando a família e que ainda pretende participar pilotando mais alguns anos.

4.4.1.2 Análise do projeto

A Jiricada caracteriza-se como um projeto inovador por ser um método diferente de proporcionar lazer à sociedade, valorizando os jiriqueiros do município, que podem utilizar o jirico não somente como um instrumento de trabalho, mas também para lazer. O projeto demonstrou mudanças em relação às práticas de lazer anteriores, bem como atendimento às expectativas e necessidades dos cidadãos, características de projeto público inovador de acordo com os autores pesquisados (BRASIL, 2007; FGV, 2008; REZENDE; CASTOR, 2005; ENAP, 2008; MULGAN; ALBURY, 2003). Estas características puderam ser identificadas por meio de resultados citados pelos coordenadores do projeto e depoimentos dos beneficiários.

Na geração da ideia, a fonte pode ser caracterizada de acordo com a classificação de Mulgan e Albury (2003) como atenção especial ao ponto de vista dos usuários, funcionários e ocupantes de cargos médios e constante análise de parâmetros: aprendendo com os outros, pois a ideia surgiu do técnico agrícola do município, que conheceu uma experiência semelhante, assistindo a um programa de TV. Verificou-se, portanto, que a ideia foi única, não tendo sido sugeridas outras. Ressalta-se também que a ideia não foi estimulada pela administração municipal, pois surgiu de observações de um profissional, mas a administração

assumiu o projeto e viabilizou sua realização, apoiando o projeto com investimentos financeiros e envolvimento na organização.

No desenvolvimento da proposta de projeto, não ocorreu a seleção ou teste de ideias formal e crítica de todos os fatores citados por Mulgan e Albury (2003) como importantes nesta etapa (se a inovação tem possibilidades de ser bem sucedida; se há um plano claro acerca de como desenvolver a ideia inovadora, e se os benefícios potenciais da inovação são maiores, ou ao menos iguais, aos custos com seu desenvolvimento e implantação). Somente pode ser verificado uma análise informal de probabilidade de sucesso da inovação, quando os entrevistados citam que para elaborar a proposta do projeto foi realizada uma sondagem do interesse dos jiriqueiros do município em participar do evento. No entanto, não foi elaborado um plano formal de implantação do projeto, com definição de estratégias, objetivos e metas, somente a elaboração de um regulamento para o evento e não foram analisados os riscos do projeto. Também não foi realizado um projeto piloto: iniciou-se o evento convidando todos os jiriqueiros do município e com um evento organizado.

Ainda com relação ao desenvolvimento da proposta, destaca-se que os beneficiários foram envolvidos no desenvolvimento da proposta, quando sondados pela equipe organizadora a respeito do interesse em participar, o que motivou os organizadores a realizar o evento. Não houve destinação de recursos financeiros específicos para o projeto, foram utilizados recursos já previstos para investimentos em eventos da semana do município, não havendo, portanto, relação direta do projeto com o planejamento legal do município.

Na implantação do projeto, a divulgação foi bem realizada, pois foram feitas visitas da equipe às residências para convidar os jiriqueiros e anúncios nos meios de comunicação para informar e convidar a sociedade a comparecer no evento. Além disso, os entrevistados informaram que os beneficiários em geral tomaram conhecimento do projeto por meio de uma dessas mídias. Finalmente, não foi constatada nenhuma reclamação de público beneficiário por falta de informação sobre o projeto.

Ainda na implantação do projeto, não foi evidenciada a elaboração de um cronograma formal do projeto, somente definidas datas de execução da obra e programação para o dia do evento, o que dificultou o resgate histórico e a avaliação do cumprimento dos prazos. O acompanhamento do projeto foi feito pela equipe organizadora, sendo este fundamental para deixar o local pronto e estruturado no dia do evento.

Ressalta-se também na implantação do projeto, que não houve preparação (treinamento) específico para os envolvidos no projeto, tendo em vista que cada profissional

iria ser responsável pela área que já atuava na administração municipal. No entanto, este fator não foi citado influenciador do projeto.

Para implantação do projeto, não foi criada estrutura específica, somente definida uma comissão organizadora, composta por um coordenador (Diretor de agricultura), com envolvimento de outras secretarias para auxiliar na realização do evento, como setor de transporte e urbanismo (auxiliando na liberação e controle das máquinas), setor de educação e saúde (responsável por disponibilizar profissionais para acompanhar a realização do evento) e setor de comunicação (responsável pela divulgação do evento), além do técnico agrícola (auxiliando na preparação/organização do evento). No entanto, apesar de não existir estrutura especifica para o projeto, não foram citados problemas neste quesito, sendo que os entrevistados destacam que a ótima relação entre a equipe contribuiu para o alcance dos resultados.

A administração municipal avalia o projeto através de dois indicadores: número de jiriqueiros participantes e público que compareceu ao evento. Os resultados são citados como satisfatórios, pois tem evoluído no decorrer dos anos, no entanto, não há estabelecido objetivo de crescimento anual que possibilite uma análise do atendimento das expectativas do público (governo, comunidade, beneficiários). Destaca-se ainda que não é avaliada formalmente e regularmente a satisfação dos beneficiários do projeto, porém, os entrevistados destacam a satisfação dos beneficiários com o projeto, com avaliação positiva do mesmo.

Analisando os fatores influenciadores, destacaram-se como fatores facilitadores os referentes à estrutura (participação da equipe e da comunidade, organização). Os fatores dificultadores citados estão relacionados ao desenvolvimento da proposta (falta de recursos financeiros) e implantação do projeto (variações climáticas).

Finalizando, na análise do sistema de inovação do Projeto Jiricada evidenciou-se a existência de três elementos do sistema que são a geração da ideia, estrutura e os fatores influenciadores. Destaca-se que mesmo não tendo sido criada uma estrutura especifica para o projeto, este elemento foi considerado completo pois este fator não foi citado como dificultador. Os elementos desenvolvimento da proposta, implantação do projeto e avaliação dos resultados não foram totalmente atendidos, tornado assim, o sistema de inovação deste projeto incompleto nestes três elementos.