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O programa Gestão Pública e Cidadania foi criado em 1996, como uma iniciativa conjunta da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e da Fundação Ford. Seu objetivo era facilitar e disseminar o que está indo bem na administração pública; descobrir inovações e inovadores dos níveis subnacionais de governo; aumentar o estoque de conhecimentos sobre experiências eficazes; premiar as melhores iniciativas. O programa era aberto às instituições públicas governamentais, dos níveis estadual e municipal, tanto do poder Executivo, como do Legislativo e do Judiciário, e às organizações próprias dos povos indígenas.

O Programa tinha por foco experiências – políticas, programas, projetos ou práticas – com impacto positivo no fornecimento de serviços públicos, passíveis de reprodução em outras localidades, que utilizassem recursos e oportunidades de maneira responsável e que ampliassem o diálogo entre a sociedade civil e os agentes públicos. A estratégia utilizada nos primeiros dez anos do Programa combinou uma metodologia de pesquisa pouco convencional na busca de informações (um ciclo de premiação anual aberto a todas as organizações públicas subnacionais, inclusive as de caráter intermunicipal, interestadual ou regional) com um mecanismo coletivo de análise e discussão das informações colhidas, incluindo ainda a devolução das informações reunidas às equipes dos programas. Reunia, assim, elementos dos observatórios de políticas públicas com aspectos da pesquisa-ação.

Como requisitos para a inscrição, os programas, projetos ou práticas precisavam ter pelo menos um ano de efetiva implantação, ser liderados por entidades governamentais e ter demonstrado um aumento na capacidade de atender às necessidades sociais e comunitárias.

As iniciativas deviam, portanto:

- representar uma mudança substancial, qualitativa ou quantitativa, com relação a práticas e estratégias anteriores em determinada área geográfica ou temática, seja através da implantação de um novo programa ou conjunto de atividades, seja por intermédio de um significativo aprimoramento de atividades ou programas existentes;

- apontar caminhos pelos quais a experiência pudesse ser repetida (ou transferida) em outras regiões ou instituições;

- ampliar ou consolidar formas de acesso da sociedade a seus agentes públicos, elevando a qualidade das práticas políticas e institucionais;

- utilizar recursos locais ou oportunidades, nacionais e internacionais, na perspectiva do desenvolvimento responsável, estimulando, sempre que possível, práticas autóctones e autônomas, que pudessem se tornar autossustentáveis.

Em cada ciclo anual, os programas, projetos e práticas inscritos foram avaliados por pesquisadores, técnicos e especialistas em administração pública, sendo escolhidas cem experiências como semifinalistas. Após enviar mais detalhes sobre suas atividades, trinta eram selecionadas anualmente para receber visitas in loco e vinte, selecionadas como finalistas do ano. Todo material coletado foi registrado, servindo de base a estudos de acompanhamento.

Nos seus dez anos de existência ou de operação, o programa identificou e registrou mais de 8.000 experiências inovadoras localizadas em mais de 890 municípios de todos os tamanhos – incluindo um número significativo de municípios com menos de 20.000 habitantes – distribuídos por todos os estados brasileiros, além de um número significativo de experiências estaduais e dos povos indígenas. De todas as inscrições, 82% foram submetidas por organizações e instituições municipais, 17% por organizações e instituições estaduais e 1%

provenientes de governos tribais. As experiências registradas vêm de muitas áreas diferentes da ação pública e fornecem informações importantes sobre o que está acontecendo em uma parte dos governos subnacionais, orientada para a mudança e para a inovação. O banco de dados reunido pelo Prêmio constitui um observatório importante para acompanhamento daquilo que acontece no dia a dia da administração pública, quando gestores, políticos e técnicos, na maioria das vezes em diálogo direto com a sociedade civil, buscam resolver as questões que enfrentam.

Com relação à distribuição das inscrições de âmbito municipal por município segundo as classes de tamanho da população, quando comparado com o total de municípios brasileiros, 8,9% dos que possuem até 20.000 habitantes já participaram do Programa Gestão Pública e Cidadania, em contraste com a participação de 100% dos municípios com população acima de um milhão. Nesta comparação, cujo resultado é de certa forma esperado, dada a competência técnica presente nas grandes cidades, os municípios de menor porte parecem ter menos presença. Entretanto, no cômputo geral, os pequenos municípios representam 40% do total de todos os municípios que inscreveram experiências, uma clara indicação de competência em situações muitas vezes adversas, e de um desejo de contribuir para as discussões sobre melhoria.

Em termos de áreas de atuação, as mais frequentes, por ordem, são: educação, criança e adolescente, saúde, assistência social, formação de mão de obra e geração de emprego e

renda, cultura, patrimônio histórico e artístico e desenvolvimento local em base sustentável.

São as áreas de políticas públicas que formam o dia a dia das pessoas e que foram também foco de diversas ações e propostas constitucionais em termos de descentralização. A identificação da área de atuação é feita pelo gestor da experiência, a partir de uma lista com mais de 50 áreas diferentes de atuação.

Uma das características marcantes da grande maioria de experiências submetidas é a presença constante de alianças e vínculos inter-organizacionais com outros atores, tanto do setor público quanto de outros setores da sociedade. Ao todo, 66% de todos os programas, projetos e práticas inscritos mencionam a existência de vínculos de trabalho com outros departamentos e agências públicas da mesma ou de diferentes jurisdições e 60% mencionam alianças com diferentes organizações da sociedade civil (organizações de base comunitária, empresas, entidades de comércio local e outras associações presentes no lugar). Em 46% dos casos, tais vínculos e alianças envolveram tanto outras organizações do setor público quanto da sociedade civil e somente em 20% dos casos não havia menção de outras organizações presentes na atividade inscrita. Em termos gerais, tais dados não somente reforçam observações já feitas por outras pesquisas sobre as tendências no campo da gestão e da governança pública, mas também sugerem que – pelo menos neste nível de governo e nos locais onde as inovações acontecem – também há sinais de que elementos para uma nova teoria de gestão estão emergindo da prática do agir consciente e comprometido: uma teoria que assume como necessário o engajamento do outro na busca de soluções e, conseqüentemente, que aceita a presença do outro no controle e no monitoramento dos impactos das iniciativas. Ao analisar as razões dadas explicitamente pelos responsáveis de uma amostra de programas inscritos à questão sobre por que a experiência era inovadora, cerca de 20% responderam que a inovação consistiu no envolvimento ativo da comunidade na identificação e na co-gestão da solução.

Monitoramento e análise de inovações

A análise das inovações teve início paralelamente aos ciclos de premiação, por iniciativa de pesquisadores ligados ao CEAPG, de membros de instituições parceiras, de outros centros da EAESP e de alunos de pós-graduação.

Esta constitui atualmente a atividade principal desta linha de pesquisa, com o monitoramento do progresso dos finalistas dos 10 anos do Prêmio e da análise específica de

certas áreas temáticas, utilizando o banco de dados com um todo. Entre as áreas temáticas que vêm sendo analisadas incluem-se: a área legislativa, a judiciária, as de educação e de meio ambiente e a área de cultura e patrimônio, dentre outras. Neste trabalho, o Centro mantém contatos com outras agências envolvidas com a disseminação de atividades exitosas, fornecendo exemplos e recebendo também indicações para serem incluídas em seu banco de dados. Em um destes trabalhos, todas as experiências finalistas oriundas de governos municipais foram contatadas por meio de visitas ou conversas telefônicas, para acompanhamento de seu progresso e para se obter resposta a uma pergunta freqüentemente feita a respeito de inovações em governos locais: porque investir em inovações diante do risco de descontinuidade? Confirmando outras investigações sobre este tema feitas ao longo do programa, os resultados demonstram que a continuidade é alta, entre 85 a 90%, e independente de mudança do partido político no poder. Igualmente importante foi descobrir que, mesmo entre os programas, projetos e experiências descontinuados, havia exemplos de difusão para outros lugares. Ao todo, pelo menos entre os finalistas, a evidência direta ou indireta de difusão está presente em 87% dos casos.