• Nenhum resultado encontrado

1. Bases teóricas da ‘construção democrática’: pressupostos e escopo da pesquisa

1.3. Delimitação do objeto e tratamento dos dados

Esta seção apresenta brevemente os quatro grupos civis que, em sua relação com a institucionalidade paraguaia, constituem centralmente meu objeto de pesquisa. Eles são: a Coordenação de Mulheres do Paraguai (CMP), a Rede de Mulheres Políticas (RMP), a Coordenadoria Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas (CONAMURI) e o capítulo paraguaio do Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM-Paraguai). A apresentação dessas atrizes vem aqui acompanhada de uma pequena referência ao contexto no qual foram coletados os dados durante as duas etapas de pesquisa de campo realizadas em abril e novembro de 2008. A seleção destas organizações responde ao critério de autoidentificação, quer dizer, elas foram selecionadas porquanto se definem feministas. Essas articuladoras, suas organizações e atrizes individuais mantiveram, desde fins do regime autoritário até o ano 2008, vários tipos de relação com diferentes partes do tecido institucional paraguaio e se identificam como feministas. De olho em nossos objetivos, importa entender os projetos políticos dessas articuladoras e como eles se relacionam com contextos mais, ou menos, oportunos.

A primeira e mais importante articuladora civil no processo de aproximação junto ao Estado paraguaio é a Coordenação de Mulheres do Paraguai. O peso atribuído a essa rede feminista de organizações civis se deve, como veremos adiante, ao fato de que a CMP desempenhou um inegável protagonismo na sequência e na intensidade das formas e pontos de contato com a institucionalidade estatal. Fundada em 1988, a Coordenação é internamente composta por organizações civis, a maior parte delas organizações não-governamentais, cuja área de atuação está voltada exclusiva ou parcialmente para temas relacionados a ‘mulher’ ou ‘gênero’. Entre as organizações que trabalham de forma exclusiva com tais temas, é possível situar o Coletivo 25 de Novembro, organização que até hoje compõem a Coordenação e que trabalha na prevenção e assistência a mulheres em situação de violência e de risco. Nesta mesma área de atuação, poderia citar a Fundação Kuña Aty (reunião de mulheres, em guarani), organização integrante da CMP até meados de 2007, quando se desligou desta última, e cuja líder principal – a feminista ‘histórica’39, Gloria Rubin – que desde o início do mandato de Fernando Lugo ocupa o cargo de Ministra da Secretaria da Mulher.

A menção à saída da Fundação Kuña Aty de dentro da CMP importa aqui por duas razões. Primeiramente, ela serve para indicar a dificuldade em situar exatamente quantas e quais organizações civis compuseram ou compõem a Coordenação ao longo de quase duas décadas. Embora conte, desde sua fundação até hoje, com a participação contínua e ativa de um mesmo grupo de pessoas e organizações integrantes, a articuladora feminista tem sua história permeada por uma série de tensões e conflitos, significativamente traduzida na variação encontrada, em diferentes fases, no número total de organizações participantes.

Em segundo lugar, a menção à saída da Fundação Kuña Aty permite entender e, sobretudo, relativizar a situação na qual encontrei, com os fins da pesquisa, a Coordenação. Não foram poucas as entrevistas em campo nas quais escutei, por parte de militantes de fora da CMP e de algumas de suas ex-integrantes, que ela estava ‘morta’, ‘falida’, ou ainda que a Coordenação ‘sequer alcança quorum nas reuniões’. Ou seja, durante meu período de pesquisa parecia haver uma crise interna aguda, pela qual a Coordenação estava passando ou talvez da qual ela estivesse saindo. Seja como for, tal crise será abordada no décimo capítulo e será compreendida à luz dos embates geracionais que então permeavam a CMP e, em especial, à luz do contexto de rearranjo interno e externo pelo qual a articuladora passou no bojo da última gestão colorada, desde 2003, e por ela potencializado. Portanto, menos do que se juntar ao

39 Feminista ‘histórica’ é a designação atribuída a algumas personagens individuais da luta feminista, cuja performance é amplamente reconhecida dentro e fora do amplo campo de mobilização de mulheres. Adiante, ao tratar dos paralelos entre feminismos sulamericanos, voltaremos a essas personagens.

coro do réquiem da Coordenação e aceitar os depoimentos coletados por si próprios, vou inseri- los em uma interpretação mais ampla do processo no qual eles se enraízam e ganham sentido. À diferença da CMP, a Rede de Mulheres Políticas não é uma articuladora, mas uma organização civil que agrupa militantes da maior parte dos partidos políticos do país. Como veremos, a RMP foi criada pelas lideranças da chamada Multisetorial de Mulheres do Paraguai, cujo projeto político, por sua vez, tomou como alvo a criação de um órgão ministerial dedicado à formulação de políticas de gênero. Por meio de quais argumentos a ‘Multisetorial’ conquistou o reconhecimento institucional reivindicado e como, no rastro de nossos objetivos de pesquisa, esta conquista teve efeitos sobre a sua fração líder, serão algumas das questões abordadas ao longo da tese.

A terceira organização selecionada é a Coordenadoria Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas. A gênese de CONAMURI se deu entre os anos de 1999 e 2000, e suas estratégias de interpelação dirigidas às autoridades político-institucionais passam pelos olhos da opinião pública paraguaia e assuncena, em particular. Na base dessas estratégias está um projeto político cruzado por dimensões de classe e de gênero. A ação dessas mulheres ‘socialistas feministas’ se dá em um contexto atravessado pelas heranças da maior convulsão social da história do Paraguai pós-ditatorial: o Marzo paraguaio. O espírito fundamentalmente público dessas heranças e como elas permearam a mobilização da fração feminista do campesinato mobilizado serão observados no nono capítulo.

Por fim, a quarta articuladora feminista selecionada é o capítulo paraguaio do Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM-Paraguaio). A rede tem sede em praticamente todos os países da região e atua a partir de uma noção ampla de direitos – humanos, sexuais, reprodutivos. No Paraguai, CLADEM surgiu apenas ao início do século XXI, em um contexto duplamente em transformação: ao mesmo tempo em que transcorria uma série de mudanças geracionais, temáticas e identitárias dentro dos limites do feminismo, a entrada do último presidente colorado do período pós-ditatorial, Nicanor Duarte Frutos, iria também direta e indiretamente reorganizar os pontos de contato entre partes do movimento e partes da institucionalidade paraguaia. No último capítulo serão observadas a natureza ‘sócio-jurídica’ do projeto de CLADEM-Paraguai e sua recente consolidação no campo feminista de mobilização.

O acesso aos dados empíricos que nutriram a pesquisa foi possibilitado inicialmente pelas entrevistas realizadas em campo. Realizei nas duas fases de pesquisa um total de 55 entrevistas. Entre elas, estão 40 representantes ligadas às quatro organizações civis selecionadas, 09 funcionárias e ex-funcionárias da Secretaria da Mulher, e ainda 06

interlocutores civis e estatais dessas organizações. Especialmente com algumas das feministas ‘históricas’, como Esther Prieto e Line Bareiro, cheguei a repetir duas ou três vezes nossos encontros. De caráter aberto, as entrevistas tinham como objetivo redesenhar a trajetória delas e basearam-se no seguinte plano: ‘como começou a sua militância’, ‘já trabalhou para ou na Secretaria da Mulher’, ‘onde atua neste momento e por quais organizações civis já passou’, e a questão, ‘como é/foi a relação de sua organização com a Secretaria?’. Esse mesmo roteiro foi traduzido para a realidade do funcionalismo público: ‘desde quando você está na Secretaria’, ‘como foi sua trajetória dentro dela e qual seu primeiro posto aqui’, e ‘como é a relação de seu departamento com a sociedade civil’.

A abertura implicada no plano de entrevista me aproximou de forma bastante forte do universo de mobilização das mulheres entrevistadas, das suas trajetórias e das posições que elas julgam ocupar nas oposições e conflitos desse universo. No entanto, ainda que tenham sido bastante longas, chegando por vezes a mais de duas horas de escuta, as entrevistas não contribuíram de forma substantiva para reconstruir os momentos um pouco mais distantes no tempo e que dissessem respeito à aproximação de outrora entre suas organizações e autoridades político-institucionais. Um exemplo disso está nas memórias e relatos sobre a Convenção Constituinte, ocorrida entre 1991 e 1992 no país, a respeito da qual pouco ou quase nada foi dito nas entrevistas. As falas, portanto, se concentraram no contexto mais imediato, isto é, no mandato presidencial que coincidentemente terminava à mesma época da realização da pesquisa de campo. Isso não significa que os depoimentos sejam desimportantes no todo da pesquisa; significa apenas que eles devem ilustrar nosso argumento em seu cotejo com os documentos de cada caso aventado. Assim, a reconstrução dos projetos políticos levantados organizações feministas, ao longo do período delimitado, tem como fonte fundamental os documentos produzidos nas interações sócio-estatais e a respeito delas, e, de modo complementar, se dá com base nas falas coletadas nas entrevistas.

A maior parte desses documentos foi retirada do Anuario Mujer, síntese anual publicada pela Área Mulher do Centro de Documentação e Estudos (CDE), uma das mais antigas e renomadas ONGs do Paraguai e organização de peso dentro da Coordenação de Mulheres do Paraguai. Atualmente dividido em duas áreas de atuação40, áreas Mujer e Sociogremial, o CDE congrega especialistas em Ciências Sociais, cuja produção de conhecimento está voltada para outras organizações sociais e pretende auxiliar na construção de bases e consensos para a

40 A gênese dessa ONG remonta aos tempos do stronismo, quando ainda levava a denominação de ‘Banco Paraguaio de Dados’ até ter sido fechado, em 1983, pelo regime ditatorial. Embora não haja aqui espaço maior para uma história dessa organização, é preciso dizer que parte significativa da reflexão intelectual de corte democrático do país passou e passa por essa organização e por seus líderes, dentre os quais já estiveram José Carlos Rodriguez, Benjamin Arditi, Line Bareiro, dentre tantos outros. Para mais dados, veja-se www.cde.org.py.

democratização do país. No que toca à mobilização feminista, as pesquisas levadas a cabo no CDE têm formado gerações de pesquisadoras, como Line Bareiro e Clyde Soto, por exemplo, e com atuação bastante intensa e expressiva na Coordenação de Mulheres do Paraguai.

Produzidos durante toda a década de 1990, os Anuarios Mujer encerram uma espécie de memória do movimento amplo de mulheres e formam um de nossos principais eixos de dados. Cada Anuario tem a seguinte divisão: primeiramente, são expostas análises sobre os principais eventos sócio-políticos e sobre as arenas e temas da mobilização de mulheres no país relativos ao ano a que se refere o volume; essas análises são, em geral, assinadas por participantes da Coordenação de Mulheres do Paraguai e do próprio CDE. Em seguida, é apresentada uma cronologia dos eventos relativos ao movimento, ocorridos mês a mês. Por fim, são compilados os documentos que marcam tomadas de posição pública, acordos ou convênios civis/estatais e que foram publicados e debatidos durante o período correspondente.

Exemplo de documento publicado pelo anuário de 1994 é 'Mujeres paraguayas camino a

Beijing’ (CMP, 1994), que foi resultado de uma série de arenas de consulta lideradas pela

Coordenação no contexto das preparações da IV Conferência Mundial da Mulher. Vários detalhes a respeito desse processo ao redor da conferência estão descritos no texto ‘En

Paraguay no hay terremotos, pero hay mujeres que movilizan todo’, de Carmen Vallejo,

feminista àquela época integrante do CDE e da CMP. Tal como me foi explicado em entrevista, embora tenham autoria individual, os textos do anuário circulavam entre as demais colegas da articuladora feminista que podiam, ou não, fazer críticas e sugerir modificações antes de sua última versão. Importante notar que a publicação da maior parte dos Anuarios Mujer se deu com um intervalo de tempo entre o ano da publicação e o ano a que se refere cada volume41. Relativamente a estes dois exemplos, embora se trate do anuário de 1994, sua publicação se deu apenas em 1997, daí então a referência CDE (1997 [1994]) e VALLEJO (1997 [1994]). Contudo, esse lapso editorial não compromete a qualidade do dado empírico. Isso porque documentos como aquele ‘Camino a Beijing’, produzidos por organizações feministas ou por instituições, ou por ambas em situações de interação, foram reproduzidos nos anuários em suas datas e versões originais – daí, então, a referência a CMP (1994).

Eixo importante de dados foi construído a partir da cronologia, publicada nos anuários, a respeito das atividades e práticas mensalmente desenvolvidas pelas organizações e redes do feminismo paraguaio. Neste tipo de dado consta, em geral, a atividade desenvolvida, o público e/ou local, bem como seus eventuais apoiadores e/ou oponentes. As práticas e arenas

41

A lista dos anuários, de 1989 até 1999, com suas respectivas datas originais de publicação, segue ao final da tese no espaço reservado às fontes.

feministas foram agrupadas em função de três contextos distintos da política institucional paraguaia: o primeiro deles, entre 1989 e 1990, período imediatamente posterior ao fim do regime ditatorial paraguaio; o segundo, entre 1998 e 1999, ano no qual o maior ciclo de protestos da história recente do país selou o respeito das elites partidárias à institucionalidade democrática; e o terceiro, entre 2004 e 2005, quando do último mandato presidencial colorado do período pós-ditatorial.

Exemplo de dado retirado da cronologia do anuário é:

“[28, octubre:] en el marco del proceso de elaboración para la propuesta del Anteproyecto de Ley de Salud

Sexual y Reproductiva que lleva adelante la CMP, con el apoyo del FNUAP, se desarolló el ‘Seminario Internacional de Debate del Anteproyecto de Ley de Salud Sexual y Reproductiva’ en el Parlamento Nacional. Para el mismo se contó con la presencia de Susana Chiarotti, coordinadora [regional] del Cladem y Susana Galdós, de la organización peruana Manuela Ramos. El seminario fue organizado por la Cámara de Senadores y la CMP, con el apoyo del FNUAP”(CDE, 2000b [1999], p.132).

Tal como se pode ver no apêndice, este tipo de dado foi organizado em seis tabelas, relativas aos anos de 1989, 1990, 1998, 1999, 2004 e 2005. A escolha dos dados incorporados nessas tabelas se deu, primeiramente, em função da pluralidade de sujeitos organizadores e, apenas secundariamente, dos públicos e apoiadores observáveis. Esse critério de pluralidade se escora naquela premissa segundo a qual os movimentos sociais são internamente heterogêneos e, portanto, exigem uma postura metodológica afim a ela. Além disso, vale dizer que não se trata de uma análise quantitativa desses dados, mas, antes, de situá-los frente a nossos objetivos e hipóteses que tratam dos efeitos das interações sócio-estatais mantidas por organizações e redes do feminismo paraguaio. A tabela seguinte, formada com base na citação anterior a respeito de uma arena de interação entre a CMP e o Senado paraguaio, ilustra como esses dados foram decompostos e organizados:

Quadro 1: Exemplo de sistematização dos dados

Data Formato / Nome

Quem realiza Para/com

quem

Local Temas tratados, apresentação 28 de out Seminário / Debate Anteprojeto de Saúde Sexual e Reprodutiva Coordenação de Mulheres do Paraguai e Câmara de Senadores Parlamen- tares

Senado Elaboração para a proposta de anteprojeto de Lei de Saúde Sexual e Reprodutiva, com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas, no Parlamento Nacional. O evento contou com a presença de Susana Chiarotti, coordenadora de Cladem e Susana Galdós, da organização peruana Manuela Ramos.

Em tempo, cabe esclarecer que, devido ao período total de publicação dos anuários ir de 1989 a 1999, os dados relativos a práticas e atividades feministas realizadas em 2004 e 2005, foram retirados da ‘Cronología sobre Mujeres y Género’42. À diferença dos anuários, esta cronologia é mensal, mas, a despeito disso, seus dados seguem a mesma lógica daqueles expostos no Anuario: “[Enero, 2004] La Red de Mujeres Políticas presentó el [día] 6 en el salón

de actos del Tribunal Superior de Justicia Electoral su Plan de Trabajo 2004” (CDE, 2004a, p.1);

e ainda “Coordinadora Nacional de Mujeres Trabajadoras Rurales e Indígenas (CONAMURI) dió

a conocer el 7 un comunicado a la opinión pública sobre el caso del niño Silvino Talavera

(idem).

Embora tenham posição central na reconstrução das interações sócio-estatais em cada um desses contextos que atravessam nossa tese, os anuários não foram nossa única fonte de dados. Durante a pesquisa de campo, as militantes entrevistadas entregaram cópias de documentos e memórias centrais nas suas próprias trajetórias e das suas organizações. Exemplos desses documentos são a memória do ‘Encuentro Taller de Mujeres’ (ETM, 1988), ‘Memoria de la Secretaría de la Mujer 1993-1998’ (SMPR, 1998), ‘Al rescate de nuestra historia:

La historia de lucha y conquistas de la Multisectorial y de la Red de Mujeres Políticas del Paraguay’ (YORE & COLAZO, 2001) e ‘Mujeres en rebeldía y resistencia. Ñande Rape. Nuestro

caminho. Ñane Ñe’e. Sistematización de nuestros relatos’ (CONAMURI, 2009). É, então, por meio da aproximação entre este conjunto de documentos e as entrevistas de campo, que deve se dar a reconstrução dos projetos feministas e dos momentos nos quais eles foram dirigidos às autoridades político-institucionais paraguaias.

A essas fontes foram somadas outras reflexões não diretamente ligadas à luta feminista, mas igualmente importantes para a compreensão dos contextos e processos nos quais se dá essa luta. Exemplo deste tipo de fonte são ‘Es mi informe: los archivos secretos de la policía de

Stroessner’ (BOCCIA PAZ; GONZÁLEZ & PALAU, 1994) e o conjunto de relatórios ‘Derechos Humanos Paraguay’, anualmente elaborados pela Coordenadoria de Direitos Humanos do

Paraguai (CODEHUPY), desde 1999. Junto destes documentos, a reflexão de outros atores civis forneceu maior insumo à tese. Dentre outras organizações, estão o próprio CDE, o grupo BASE - Investigações Sociais, bem como o Centro Paraguaio de Estudos Sociológicos, sendo esta última responsável pela publicação da Revista Paraguaia de Sociologia. Este conjunto de fontes permite entrever um traço da sociedade civil paraguaia: diferentemente do Brasil, por exemplo, onde parte significativa do debate e do pensamento críticos advém da reflexão universitária ou da interlocução com ela, as principais referências do debate intelectual no

42

Paraguai, e sobre ele, estão situadas em grupos e personagens da sociedade civil majoritariamente, embora não exclusivamente, desligados das universidades. Como veremos no terceiro capítulo, essa distribuição do trabalho intelectual, caracteristicamente concentrada na sociedade civil, se fez sentir sobre a gênese do feminismo paraguaio. Mas, antes de passar às arenas e tensões da gênese feminista no país, vamos observar alguns dos traços institucionais e ideológicos do último autoritarismo paraguaio, o chamado stronismo, e como a sua vocação totalitária, dentre outros efeitos, imprimiu um tom monocromático (colorado) não apenas no pensamento acadêmico paraguaio, mas sobretudo no seu imaginário.

2. Herança stronista: sobre a tríade Partido-Estado-Forças Armadas e a