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A trilha científica e o esforço acadêmico para implementação dos instrumentos metodológicos estabelecidos foram embebidos de significado, objetividade e aprendizagem permitiram, após quatro viagens de imersão em campo, que resultaram no reconhecimento de sete munícipios, três deles Esperantinópolis, Lago do Junco e Pedreiras, eleitos para esta investigação, com os povoados: Palmeiral e Ludovico patenteados cultural e historicamente pela luta socioambiental, além da construção de laços humanos através dos relacionamentos com empreendedores, comunidades extrativistas e quebradeiras de coco babaçu permitiram a obtenção de dados e informações infundidos na sabedoria popular e calcados na preocupação com ações ambientais efetivas.

Detecta-se a incidência do babaçu13 no território geográfico que vai de parte da América do Norte, México, estendendo-se por várias localidades da América do Sul, com ocorrência expressiva na Colômbia e na Bolívia. No Brasil, avista-se essa cobertura vegetal no Maranhão, Piauí, Tocantins, Amazonas, Pará, Ceará, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Minas Gerais.

O Banco de Dados Agregados para Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), referente à Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, promove o levantamento, elaboração e disposição de dados e estatísticas oficiais das unidades de registro da comercialização e exploração das amêndoas de babaçu. Dentre as informações disponibilizadas por esse relatório, atualizado em 2016, destacam-se os registros de produção nacional do referido produto no período compreendido entre os anos de 2013 a 2016. Nota-se, enfaticamente, a liderança da Região Nordeste, responsável por 99,56% da capacidade produtiva nacional (Tabela 2).

13 O babaçu é uma espécie da família das palmáceas, com incidência predominante nos babaçuais localizados em zonas de várzeas, próximo ao vale dos rios e, fortuitamente, em pequenas colinas e elevações (BRASIL, 1982 apud ALMEIDA, 1995). O óleo extraído dessa espécie, derivado do babaçu mais explorado economicamente, apodera teor vultoso de ácido láurico, é aplicado como insumo em processos industriais e na alimentação humana e animal, além da fabricação de cosméticos e biocombustíveis (PENSA, 2000).

Tabela 2 - Produção nacional, em toneladas, de amêndoas de babaçu durante o período de 2013 a 2016

Fonte: adaptado de IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (2018)

No nordeste brasileiro, apropriando-se, ainda, de dados confeccionados pelo IBGE (2016), vislumbra-se que os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Ceará são, respectivamente, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto maiores produtores de amêndoas de babaçu (Tabela 3). Na Região Norte, a produção conjunta dos estados do Pará e Amazonas não chega a 500 toneladas.

Tabela 3 - Produção na Região Nordeste, em toneladas, de amêndoas de babaçu entre 2013 e 2016

Fonte: adaptado de IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (2018)

A pesquisa de campo foi desenvolvida na área de incidência do babaçu no estado do Maranhão, unidade federativa que, conforme o IBGE (2016), responde por 93,57% da produção nacional das amêndoas dessa palmeira, o que fundamenta quantitativamente a escolha. Dentro do estado, destacam-se as microrregiões geográficas do Médio Mearim, de Pindaré, da Baixada Maranhense e de Codó, detentoras de 66% da produção estadual, emergindo do Médio Mearim metade desse volume.

Delimitou-se essa abrangente zona de investigação às localidades onde ocorrem a exploração ativa do babaçu por meio de associações extrativistas e empreendimentos

2013 2014 2015 2016

Brasil e Grande Região Ano X Quantidade de Amêndoa de Babaçu Produzida (t)

2013 2014 2015 2016

Brasil e Região Nordeste Ano X Quantidade de Amêndoa de Babaçu Produzida (t)

ecologicamente criativos. Estes, por sua vez, foram mapeados e designados conforme atuação ativa e legítima em uma dinâmica que configura efetivamente a economia criativa.

Para o presente estudo, um território criativo é aquele que materializa um cenário vivo e dinâmico de economia criativa, no qual estão inseridos os negócios de cunho criativo e ambiental responsável. A título de sistematização metodológica, a matriz de critérios específicos para avaliação e seleção de territórios e empreendimentos criativos, consolidada e obedecida por este estudo, está discriminada conforme especificações a seguir:

a) Eixo Criativo e Produtivo: o principal insumo dos processos de produção dos empreendimentos foi o intangível (criatividade, conhecimento, experiência e cultura);

b) Eixo Cultural e Econômico: reconhecimento dos ativos culturais – a tradição, o valor e a cultura das comunidades extrativistas do babaçu e que são transmitidos histórica e socialmente pelas quebradeiras de coco –, considerados agentes fundamentais de geração de riquezas, empregos, desenvolvimento socioeconômico, respeito, valorização e ampliação de valores das comunidades;

c) Eixo Social e Ambiental: geração de retornos positivos para os indivíduos, comunidades e para a floresta babaçual diante dos interesses exclusivamente financeiros, o que acarreta em uma melhor distribuição local da renda e proteção do meio ambiente explorado;

d) Eixo Comportamental, Ambiental e Cultura de Sustentabilidade: a preocupação com o meio ambiente é expressa por meio de ações concretas e mensuráveis, as quais extrapolam o processo produtivo e atingem o modo de pensar e agir das pessoas e grupos sociais envolvidos na cadeia produtiva do babaçu.

Estabelecidos e fundamentados os critérios de delineamento e determinação do campo de pesquisa, o território geográfico recortado para este estudo acadêmico, bem como as considerações pertinentes a cada unidade segmentada são apresentados abaixo:

a) a Microrregião do Médio Mearim, parte integrante da Mesorregião do Centro Maranhense. Esta última é detentora de 43,84% da produção estadual, 26.914 toneladas de amêndoas de babaçu, conforme levantamento feito pelo IBGE (2016).

Cabe enfatizar que, para delimitação do campo geográfico concernente à microrregião do Médio Mearim, esta investigação científica, em obediência aos

critérios de recorte para detecção de territórios produtivos inseridos em contextos de economia criativa, foi desenvolvida na cidade de Pedreiras, Lago do Junco e Esperantinópolis, municípios integrantes da referida microrregião;

b) os municípios maranhenses de Lago do Junco e Esperantinópolis são produtores, respectivamente, de óleo de babaçu e mesocarpo, derivados do coco babaçu e fabricados em parceria com a empreendimentos sustentáveis, em rede produtiva inserida em dinâmica que materializa a economia criativa;

c) Reporta-se, oportunamente, mediante inventário do IBGE (2016), que Lago do Junco engendrou 1055 (mil e cinquenta e cinco) toneladas de amêndoas de babaçu e Esperantinópolis produziu 720 (setecentas e vinte) toneladas.

Com efeito, a estratégia de segmentação aplicada aos municípios de Lago do Junco e Esperantinópolis, para além do critério mencionado imediatamente acima, determinou que somente fossem interpeladas, nessas localidades, as formas associativas assumidas por organizações de trabalhadores extrativistas vinculadas à entidade de assessoria e representação:

Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA). O desígnio foi recortar ainda mais o campo de investigação a ser inquirido e descomplexificar o delineamento do perfil alvo dos sujeitos de pesquisa.

A ASSEMA é uma organização não governamental resultante do processo de luta contra a apropriação e privatização das terras no Médio Mearim Maranhense. Essa associação direciona seus esforços para consolidação das terras reconquistadas em função das diretrizes traçadas pelas famílias de trabalhadores que a constituem. Enquanto entidade, consolida-se como espaço de debate, interação e integração de seus membros, no qual são edificadas as principais matérias que estruturam as pautas dos grupos de trabalhadores rurais filiadas a ela, em Lago do Junco (LIMA NETO, 2007).

No âmbito do campo em Lago do Junco e em Esperantinópolis, este estudo restringiu-se a duas das cooperativas que constituem a ASSEMA: a Cooperativa de Pequenos Produtores de Lago do Junco (COPPALJ) e a Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis (COOPAESP).

Na COOPAESP, em Esperantinópolis, é feita a produção artesanal de mesocarpo14 para alimentação e, também, para prover matéria-prima à indústria de cosméticos, em particular a empresa Natura15.

Lago do Junco encerra no extrativismo do babaçu e na agropecuária suas atividades produtivas e econômicas fundamentais, cabendo à prefeitura municipal o papel de maior eixo gerador de empregos formais, segundo dispõe o IBGE (2016). A principal indústria inserida nesse limite geográfico é a de propriedade da COPPALJ, que, a partir da amêndoa de coco babaçu, extrai o óleo láurico16.

No próximo subitem serão delineados os instrumentos de recolha de dados eleitos para aplicação em campo, bem como os sujeitos da pesquisa e os critérios de seleção.