Gil (2004, p. 131) esclarece que nos estudos de campo a ênfase “[...] é colocada na profundidade e não na precisão, o que leva o pesquisador a preferir a utilização de depoimentos e entrevistas com níveis diversos de estruturação [...]”. Em sintonia com o preceituado, os instrumentos para recolha de dados que esta pesquisa empregou foram: entrevistas semiestruturadas e observação sistemática.
A realização de entrevistas visou alcançar o maior número possível de pessoas, inclusive aquelas que não sabem ler e escrever, ajudar aquelas com dificuldades para responder e, também, permitir ao entrevistador a análise do comportamento não verbal dos entrevistados, favorecendo aprofundamento ou exemplificação das respostas quando necessário. A entrevista como técnica ofereceu maior flexibilidade e não se restringiu aos aspectos culturais do entrevistado, fator primordial para esta pesquisa. Conforme será explicado, engloba três grupos diferentes social, cultural e economicamente.
Foram selecionados e abordados três grupos, ou sujeitos de pesquisa, para o empreendimento das entrevistas, a citar:
14 O mesocarpo de babaçu é a substância colhida entre o epicarpo e o endocarpo do coco de babaçu e quimicamente formado de compostos ricos em glicerina, ácido fosfórico e colina. Pode ser utilizado como complemento alimentar rico em amidos e sais minerais, além disso, possui propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, sendo indicado no tratamento de artrite reumatoide, prostatite, úlceras, cansaço físico e mental, esgotamento, tumores e inflamações em geral. Disponível em: <www.centraldocerrado.org.br>. Acesso em: 23 abr. 2018.
15 Conforme endereço eletrônico na internet, abaixo, a empresa nasceu da paixão pela cosmética e pelas relações e tem como missão a promoção do bem-estar através de produtos confeccionados por meio de uma rede de pessoas habilitadas a integrar conhecimento científico e uso sustentável da biodiversidade nacional. Disponível em:
<http://www.natura.com.br/a-natura>. Acesso em: 23 abr. 2018.
16 Óleos láuricos são aqueles entre os seus ácidos graxos livres e que apresentam o ácido láurico como componente mais expressivo, em média 46% (PENSA, 2000).
a) o primeiro grupo alvo é composto por empreendedores criativos que atuam na cadeia produtiva do babaçu;
b) o segundo grupo entrevistado foi integrado por representantes das comunidades, de associações ou cooperativas (ou, didaticamente nomeados, para esse estudo, de líderes comunitários) de quebradeiras de coco babaçu em Pedreiras, Lago do Junco e Esperantinópolis;
c) por fim, foram interrogadas as quebradeiras de coco atuantes econômica e culturalmente na cadeia produtiva do babaçu nos campos recortados.
Em relação aos líderes das comunidades extrativistas de babaçu e às quebradeiras de coco, segundo e terceiro sujeitos de pesquisa, respectivamente, destaca-se que estão correlacionados ao recorte geográfico fixado e foram selecionados para as entrevistas mediante quantitativo (amostra) assinalado a seguir:
a) Foi designado 1 (um) representante de comunidade, associação ou cooperativa de quebradeiras de coco em Lago do Junco e Esperantinópolis; já no município de Pedreiras, sede da ASSEMA, foram designados 2 (dois). Totaliza-se, assim, 3 (três) líderes comunitários alvo de entrevistas;
b) No que tange às quebradeiras de coco, foram nomeadas 2 (duas) em Pedreiras, 3 (três) em Lago do Junco e 3 (três) em Esperantinópolis;
c) Em resumo, consolida-se um total entrevistados: 2 (dois) empreendedores sustentáveis, 3 (três) líderes/representantes de associações, comunidades ou cooperativas extrativistas e 8 (oito) quebradeiras de coco babaçu.
Frisa-se que a triagem e a seleção dos líderes comunitários e das quebradeiras de coco babaçu, além da residência fixa e da realização de atividade profissional nos campos de pesquisas prescritos, observaram e acataram determinados critérios de inclusão no grupo a ser entrevistado (excluindo-se, automaticamente, indivíduos que não detenham esse perfil traçado), tais como:
a) a quebradeira de coco deve, obrigatoriamente, ser membro de comunidade extrativista inserida nos campos eleitos. A comunidade precisa estar associada a uma cooperativa e esta, por fim, vinculada à ASSEMA. Essa sentença delimita a
amplitude desses sujeitos ao raio de atuação das cooperativas: COPPALJ, em Lago do Junco, ou COOPAESP, em Esperantinópolis;
b) a quebradeira de coco deve trabalhar exclusivamente no extrativismo do babaçu e, necessariamente, em ação conjunta com negócios calcados em criatividade e cuidado ambiental;
c) a seleção foi realizada mediante método de amostragem não probabilística por conveniência de 30% (trinta por cento) das quebradeiras de coco e dos representantes de comunidades ou associações – em cada um dos campos determinados –, inseridos cultural e economicamente no ecossistema do babaçu durante toda a vida profissional e operantes nessa rede produtiva em parceria com empreendimentos criativos há, pelo menos, 2 (dois) anos.
Esse recorte foi necessário devido ao grande contingente de famílias ou grupos que sobrevivem a partir da exploração dessa palmeira nos campos em que as entrevistas foram realizadas, não sendo viável o estudo de todos os indivíduos das comunidades segmentadas, especialmente pela escassez de recursos e tempo. Nesse caso, utilizou-se o método de amostragem acima relevado, com intuito de obter um juízo sobre o universo. Para tanto, foi realizado o exame de apenas uma amostra, selecionada por procedimentos científicos que garantem sua representatividade relativa à totalidade dos possíveis sujeitos de pesquisa mapeados.
Malheiros (2011) recomenda que sejam delineados os grupos (ou blocos) de questões que devem compor o instrumento de pesquisa antes de formulá-lo. O Quadro 1, abaixo, representa a arquitetura conceitual balizadora da construção do roteiro de entrevistas a ser empregado no momento das abordagens aos empreendedores criativos, a qual está em sintonia com os objetivos do mapeamento das informações, percepções, valores e ações. A sequência estabelecida de forma interdependente promove a consecução do problema de pesquisa desta dissertação. Cabe mencionar que o roteiro semiestruturado para a realização das entrevistas está registrado no Apêndice B.
Quadro 2 - Estruturação do Roteiro de Entrevistas direcionado aos Empreendedores Criativos
Fonte: Dados da pesquisa (2018)
Evidencia-se, de forma sistematizada (Quadro 2), o arcabouço conceitual norteador da edificação dos roteiros de entrevistas que foram empregados durante as abordagens às quebradeiras de coco e aos líderes de comunidades ou associações extrativistas. A intenção é esmiuçar de forma clara, didática e objetiva aquilo que esta investigação se propõe a mapear e a depreender em cada declaração dos interlocutores em campo.
Para tanto, construiu-se uma arquitetura que orientou todo o trabalho em campo, direcionando uma abordagem planejada aos sujeitos em questão e que detectou variáveis específicas, dispostas em ordem sequencialmente lógica. Essas variáveis também oportunizaram a identificação e o registro de informações de atuação profissional, as percepções concernentes ao relacionamento entre a cultura das quebradeiras de coco e o meio ambiente, e a culminância de um entendimento fundamental: a constituição de uma cultura de sustentabilidade ambiental na rede produtiva do babaçu.
Sujeito de
Pesquisa Bloco de Informação Indicadores /
Variáveis de Análise Objetivos
2. Informações sobre o empreendimento. Organizacional;
Econômica e Criativa
Identificar a filosofia e a prática de exploração do meio ambiente, bem éticos direcionados ao cuidado ambiental, bem como a emergência de ações sustentáveis que constituam uma cultura da sustentabilidade ambiental.
Quadro 3 - Estruturação do Roteiro de Entrevistas direcionado aos Líderes Comunitários e Quebradeiras de Coco
Sujeito de
Pesquisa Bloco de Informação Indicadores / Variáveis
de Análise Objetivos trajetória de atuação profissional, além de suas atuais atividades em parceria com os empreendimentos criativos.
2. Relacionamento entre a comunidade extrativista, a cultura da quebradeira de coco, o retorno financeiro e o ambiente natural.
Produtiva, Cultural e Ambiental
Qualificar o relacionamento entre a comunidade extrativista e a floresta de babaçu, em nível individual, através das quebradeiras de coco, e em percepção coletiva, por meio dos líderes comunitários: entender a incorporação da criatividade nos processos extrativistas; como se efetiva a correlação entre a cultura éticos direcionados ao cuidado ambiental, bem como a
Explicitados os instrumentos de pesquisa, dispõe-se que o procedimento utilizado para averiguar a sua validade foi o pré-teste. Esse mecanismo consiste em testar os instrumentos de pesquisa elencados sobre uma pequena parte do universo, ou da amostra, antes da aplicação definitiva. O objetivo é evitar a investigação de possíveis erros de inferência. Para tanto, verificou-se até que ponto esses instrumentos tiveram, efetivamente, possibilidades de assegurar resultados isentos de erros.
Marconi e Lakatos (2005) orientam que, em geral, é razoável empreender a mensuração entre 5 e 10% da extensão da amostra. Essa metodologia propõe o teste preliminar em 5% dos sujeitos elencados, em cada um dos grupos de abordagens, o que representa 1 (um) membro de cada segmento (empreendedores criativos, representantes de associação extrativista e quebradeiras de coco babaçu) selecionado, em cada um dos municípios aludidos.
A observação sistemática, também denominada de observação estruturada, planejada e controlada, segundo Marconi e Lakatos (2005, p. 191), permitiu “[...] obter provas
a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento [...]”. Perceber como agem os indivíduos diante de determinadas situações e/ou sob a influência de ações mercadológicas de empresas, por exemplo, foi a chave para uma melhor abordagem do objeto desta pesquisa. Durante o processo de observação, este pesquisador conviveu ativamente com os grupos, comunidades e representantes das empresas;
foi realizada uma imersão na realidade estudada.