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Esta categoria foi desenvolvida para compreensão das implicações da cultura das quebradeiras de coco babaçu e para mapear e dispor ações concretas e mensuráveis que integrem a sustentabilidade ambiental ao modo de pensar e agir consciente nas comunidades investigadas. Assim, foi selecionada a unidade de registro central desta categoria, apreciando-se criticamente os resultados expostos.

5.5.1 Cultura da Sustentabilidade Ambiental

Para esta unidade de registro, dispõe-se:

Nós precisa trazer mais protetores ambientais e conscientização pro valor do babaçu.

Já conseguimos trazer mais gente para o nosso time. Elas (quebradeiras) conseguem fazer isso muito bem. Hoje estamos conseguindo fazer coisas que muitos outros setores da sociedade não fazem, como trazer cada vez mais pessoas pro entendimento e conhecimento de que esse ambiente precisa ser cuidado pras futuras gerações. Elas são os guardiães da floreste e grandes propagadoras do cuidado ambiental, formadoras de um exército de cuidado e proteção da floresta de babaçu. Nas nossas falações

dizemos que não é uma questão de propaganda, mas são as pessoas diretas na construção da preservação. (Entrevistado 6).

A valorização econômica da economia do babaçu tem um reflexo direto na valorização da identidade cultural que as quebradeiras têm com a palmeira. É como se não se separasse o aproveitamento econômico da reprodução cultural. Elas têm uma ligação muito forte com o fazer, com o cuidar da palmeira, com o manejar de forma tradicional. É uma relação de troca, a palmeira dá muitos frutos e produtos a elas, mas elas também devolvem, não apenas as quebradeiras como as famílias como um todo.

Incentivar esse tipo de trabalho tem um retorno ambiental muito forte e cultural também uma vez que valoriza o trabalho delas e respeita o modo de vida das comunidades e contribui pra formar uma cultura de proteção ambiental. (Entrevistado 1).

Um processo histórico de crítica, de admissibilidade, de implementações e reformulações dos contornos e limites da intervenção da sociedade civil na natureza qualificam o horizonte edificador da sustentabilidade ambiental. Tal configuração implica elementos diversificados, intrínsecos às diversas dimensões da sustentabilidade e arrolados até o presente momento neste estudo (BELLEN, 2004). Com efeito, Feitosa (2016) delibera que a fertilização de nichos socioambientais originais introduzem novos termos de classe natural e da natureza humana.

O final do século XX, em reação às implicações socioambientais nocivas do desenvolvimento econômico, evidencia o despertar da consciência social sobre a temática (BELLEN, 2004). O autor alude que ferramentas de aferimento dos índices e níveis de sustentabilidade nesse cenário foram arquitetadas mediante fundamentação não devidamente explícita. Feitosa (2016) chancela o disposto e esclarece que a tomada de consciência sobre a degradação ambiental e o emprego desses instrumentos avaliativos inconsistentes estão atravancados nas fronteiras restritivas do discurso desprovido de prática real das ações cotidianas sustentáveis, sobretudo dos agentes determinantes dessa assolação.

Ponderações críticas em relação a essas práticas sustentáveis conduzem a “[...]

trilhas em meio à longa caminhada que deve resultar na adoção de atitudes conscientes, ao amparo da legislação ambiental com uma efetiva fiscalização e da incorporação do princípio da logística reversa ao dia-a-dia de pessoas, empresas e instituições [...]” (FEITOSA, 2016, p. 51).

Atitudes racionais e códigos de condutas éticas endereçadas à sustentabilidade ambiental foram oportunamente evidenciados na seção anterior. Neste espaço, identificam-se os resultados que potencialmente revelem a absorção dessas posturas no dia a dia dos sujeitos, de forma corriqueira e, inclusive, inconsciente. Em síntese, conjectura-se sobre os símbolos das condutas sociais que, porventura, constituem uma cultura de sustentabilidade ambiental.

Feitosa (2016) esclarece que a sustentabilidade ambiental é propalada como uma súplica para o equacionamento de um desiquilíbrio que acomete à sociedade, mas que, “[...]

individualmente, sabem que não deram causa, e para o resgate de uma condição ambiental que a grande maioria não sabe ter perdido, ou mesmo se existiu [...]”. Essa inércia social, significativa quanto à crise ambiental, é resultado da “[...] falta de educação formal com qualidade ou mesmo de instrução [...]” (FEITOSA, 2016, p. 52); falta de mobilização e representatividade políticas, e carência de sentimento de pertencimento e corresponsabilidade socioambiental e econômica comunitários – já debatidos neste capítulo.

Jacobi (2003) legitima o princípio supramencionado ao dispor que a argumentação e a prática sustentável devem contemplar as interações sociopolíticas inseridas nos espaços urbanos, resultando no reconhecimento da existência de atores sociais relevantes, práticas educativas e diálogos transparentes, os quais consolidam a engenharia de valores éticos e corresponsabilidade. Ademais, demandam políticas de desenvolvimento que abrangem a integralidade das dimensões sustentáveis.

Observou-se nas comunidades a ativação da consciência quanto à imprescindibilidade de minimização significativa da degradação da floresta de babaçu, bem como da condução racional dessa inquietação mediante ações factuais. O Entrevistado 6 patenteia essa inferência ao declarar que mais pessoas devem ser instruídas sobre a preservação do ecossistema do babaçu e educadas para a sustentabilidade local, inserindo-as no processo formal de salvaguarda desse patrimônio ambiental e cultural. O entrevistado finaliza seu discurso clarificando que a intenção das “falações”, ou seja, do processo socioeducativo, é o engajamento de todos – não se restringindo aos agentes cooperados ou envolvidos na cadeia produtiva – e a materialização de ações e valores ambientais. Forma-se, então, uma cultura comum viva de sustentabilidade ambiental.

Este trabalho de evangelização ambiental das comunidades extrativistas é consumado em comportamentos da coletividade. O Entrevistado 2, complementado pelos Entrevistados 9, 10, e 3, ressalta sobre a ação de replantio de espécies madeiras em povoados de Lago do Junco, Esperantinópolis e Bacabal, somando 145 hectares de área reflorestada: “[...]

a gente tá visando a melhoria na qualidade de vida alimentícia e econômica das famílias [...]

boa parte dessas plantas são madeira da região que acabaram, como ipê e jatobá, e madeiras exóticas de outras regiões, como o mogno [...]”.

O Entrevistado 1 informa que a valorização econômica do babaçu, fomentada pela economia criativa e dinamizada pelas parcerias com empreendimentos sustentáveis, conduz a intervenção das comunidades na natureza através de caminhos pavimentados pela identidade cultural das quebradeiras, além do resgate dos costumes e do conhecimento ancestral, que são indicadores do futuro e podem culminar na consolidação de uma cultura de proteção ambiental.

Cabe apontar que o inquirido embasa seu discurso na apreciação econômica do insumo natural, recorrentemente assinalado nas entrevistas. Logo, esta investigação apreende esse discurso como ponto de enfraquecimento das ações sustentáveis empreendidas no recorte geográfico pesquisado.

O Entrevistado 10 enfatiza que as próprias quebradeiras de coco babaçu ativas nas cooperativas posicionam o cuidado ambiental como condição necessária para o retorno financeiro: “[...] elas colocam que isso pode gerar consequências em seus rendimentos. Se cortarmos as palmeiras desordenadamente iremos ficar sem a renda [...] é uma preocupação real de proteção da natureza, mas embasada pelo retorno financeiro [...]”. O Entrevistado 7 contribuiu com a racionalização econômica da proteção natural e relembrou discursos de determinados agroextrativistas: “[...] usar agrotóxicos em determinadas comunidades vai prejudicar a renda das palmeira contaminadas [...] se derrubar as palmeiras de determinada localidade a gente vai ficar sem a renda dela [...]”.

Ao ser questionado sobre a possível ocorrência de ações legítimas de proteção da floresta de babaçu, sem a rentabilização da cadeia produtiva proporcionada pela economia criativa, o Entrevistado 4 declara que: “[...] teria preocupação, claro. Ninguém pode dizer que seria zero, mas não seria efetiva [...]”, potencialmente restrita ao plano conceitual, sem prática corporificada.

Os sujeitos investigados reconhecem que são agentes degradadores do ambiente natural, porém, com um contingente continuamente reduzido, através da educação e da atuação conjunta de conscientização e esclarecimento das cooperativas, associações e extrativistas. Em outras palavras, possuem menor expressividade e poder de degradação quanto aos apresentados por determinados latifundiários e empresas com diretrizes centradas irrestritamente na lucratividade.

Apesar disso, vislumbrou-se, nesses extrativistas cooperados, postura ativa e direcionada ao equacionamento da crise ambiental, indispensável à sobrevivência local, onde os agentes se posicionam como líderes e catalisadores desse processo, lutando para a materialização do viver sustentável nas comunidades, apesar de estarem situados desproporcionalmente na base das relações de influência sociopolíticas e fundamentarem suas intenções de preservação no retorno financeiro. Com efeito, isso torna suas medidas vulneráveis, apesar de fundamentadas na educação ambiental e em práticas de ações concretas.