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2. Procedimentos Metodológicos

2.1. Delineamento da Pesquisa

O desenvolvimento de uma pesquisa deve estar embasado em paradigmas científicos que norteiem a investigação. Para Morgan (1980) tais paradigmas representam um conjunto de abordagens que compartilham pressupostos fundamentais, comuns à natureza da realidade. Por sua vez, a compreensão dos paradigmas perpassam as perspectivas ontológicas, epistemológicas e metodológicas que precisam ser expostas pelo(a) pesquisador(a).

A perspectiva ontológica de um estudo considera como a realidade é percebida, ou seja, relaciona-se com a compreensão da natureza da realidade estudada, que varia entre aspectos subjetivos e objetivos. No que diz respeito à base epistemológica, tem-se o entendimento de como o conhecimento pode ser obtido. Por exemplo, o paradigma positivista pressupõe que o conhecimento pode ser adquirido a partir observação de relações causais e da frequência com que determinados eventos se repetem. Em uma abordagem interpretativista o conhecimento é relativo e deve ser compreendido a partir do ponto de vista dos indivíduos envolvidos, ou seja, busca-se significados para ação.

Desse modo, o(a) pesquisador(a) deve assumir que a realidade pode ser percebida a partir de dados e fatos concretos, como também pode assumir uma perspectiva na qual seja compreendido que a realidade é subjetiva e múltipla. Em uma perspectiva multiparadigmática busca-se ultrapassar esse enquadramento de uma pesquisa em um ou outro paradigma (GODOI; BALSIN, 2010). Desse modo, assume-se que “não há uma forma única de produzir conhecimento; não há uma explicação única para um fenômeno social; não há uma forma única de interpretar dados, como também não há verdade única e inquestionável” (BARBOSA et al., 2013, p. 03).

A abordagem que orienta esse estudo envolve articulações entre aspectos objetivos e não objetivos, o que resulta em um olhar multiparadigmático que ultrapasse a dicotomia pautada no antagonismo de paradigmas científicos, o que coaduna com a objeção a enquadrar um estudo em um paradigma ou outro condizente também com à postura pragmática de Creswell (2010)

ao defender que o pesquisador precisa se preocupar mais com “o que” e “como” pesquisar, enfatizando os objetivos pretendidos. Sendo assim, “o pragmatismo abre a porta para múltiplos métodos, diferentes concepções e diferentes suposições, assim como para diferentes formas de coleta e análise de dados” (CRESWELL, 2010, p.35).

Dito isso, essa pesquisa foi inspirada e seguiu as bases da teoria adaptativa, por se tratar de um estudo que se baseou na contraposição entre articulação teórica e os dados empíricos emergidos durante pesquisa de campo. A teoria adaptativa caracteriza-se como um meio termo entre duas abordagens metodológicas antagônicas, a Ground Theory e Middle-range Theory, se por um lado a primeira consiste na emersão dos dados a partir do campo, sem contato anterior com a teoria, portanto método indutivo, a segunda prevê o teste de hipóteses como a função central da pesquisa, ou seja, método dedutivo. Assim, ao perceber as limitações presentes nas duas abordagens, Layder (1993) propõe o uso simultâneo do método dedutivo e indutivo.

Essa proposição de Layder (1998) pressupõe que a construção da teoria é suscetível aos registros e resultados do campo empírico, uma vez que eles se manifestam a partir dos dados primários da pesquisa, tais como entrevistas, observações e interpretações de documentos. Nesse sentido, a teoria adaptativa consiste no ajuste e modificações da articulação teórica para acomodar as análises e interpretações de dados que estão sendo coletados, uma vez que os modelos teóricos, existem antes, e em paralelo com a coleta e análise dos dados da pesquisa, o que torna importante pensar sobre os elementos existentes e como eles estão sujeitos à emergência de novos dados e suas interpretações (LAYDER, 1998).

Portanto, na abordagem adaptativa as fontes teóricas referem-se à teoria existente, que podem ser de natureza geral ou substantiva, assim como tem-se as fontes empíricas de dados, que são os dados secundários, já existentes a respeito de um fenômeno e os dados primários que emergem durante coleta de dados da pesquisa. A teoria adaptativa de Layder (1998) admite a influência recíproca entre a teoria existente e os dados que emergirão durante realização da investigação.

Importante destacar que devido ao intercâmbio entre teoria existente e dados emergentes, a teoria adaptativa pressupõe um posicionamento epistemológico que não determine uma pesquisa como puramente interpretativista ou positivista. Ou seja, tem-se uma perspectiva pragmática na qual é possível desapegar os enquadramentos paradigmáticos e equilibrar objetividade e subjetividade em termos dos pressupostos ontológicos e epistemológicos.

Dito isso, a abordagem metodológica predominante desta tese é a qualitativa, pois, no caso do fenômeno estudado, governança no TBC, assume-se ser necessário o menor

afastamento possível do ambiente. Quanto à sua finalidade, o estudo caracteriza-se como exploratório (KLEIN et al. 2015) no sentido de gerar novas informações sobre as características e análise da governança do TBC. As pesquisas exploratórias não têm a preocupação de testar hipóteses, pois são orientadas para a descoberta, de forma geral pretendem obter melhor compreensão acerca do fenômeno investigado para servir de base à definição de conceitos e aspectos operacionais posteriores (CRESWELL, 2010).

Conforme exposto no capítulo anterior, evidencia-se a ausência de investigações sobre a governança no TBC, o que resulta na insuficiência de análises teóricas e empíricas com vistas a estabelecer avanços sobre o tema. Esse estudo pretende fornecer insights e problematizações que fomentem novas investigações, principalmente, referentes à caracterização e análise da governança de experiências de TBC. Logo, o desenho metodológico realizado para alcançar os objetivos estabelecidos neste estudo pode ser caracterizado em quatro fases distintas, que são discutidas e apresentadas a seguir.

2.2. O desenho metodológico da pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida em quatro fases distintas que contemplaram a seleção de técnicas para coleta e análise de dados. Tal seleção considerou as potencialidades e limitações de cada técnica em relação ao alcance dos objetivos do estudo.

A primeira fase metodológica caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica no intuito de coletar dados secundários e propor uma versão teórica do Modelo de Análise da Governança do TBC (MAG do TBC). A segunda fase consistiu na primeira consulta à um grupo de sete especialistas com objetivo de ajustar a versão teórica a partir do olhar colaborativo destes, por meio da realização de um grupo focal. A terceira fase refere-se à segunda consulta à especialistas em TBC, por meio de um grupo de discussões, o que resultou em uma versão do modelo para verificação empírica no campo, o que caracterizou a quarta fase desse estudo. O caso em questão foi a experiência de agroturismo da Associação Acolhida na Colônia, localizada no estado de Santa Catarina. Na figura 01 encontra-se a relação entre as quatro fases supracitadas, os objetivos específicos e as estratégias metodológicas utilizadas em cada uma delas.

Figura 01 – Fases metodológicas da pesquisa

Fonte: Elaboração própria, 2016.

No tocante à coleta de dados, um aspecto importante ressaltado por Creswell (2010), a respeito das pesquisas qualitativas, é a seleção intencional de indivíduos, locais e documentos para análise. O referido autor entende que em uma perspectiva qualitativa, a intencionalidade da escolha auxilia o pesquisador(a) a entender o problema e a questão de pesquisa, ao contrário dos estudos quantitativos que precisam da seleção aleatória e de um número representativo de participantes para alcance do objetivo do estudo (CRESWELL, 2010).

Dito isso, os indivíduos, o lócus da pesquisa e os documentos analisados neste estudo, foram selecionados intencionalmente conforme acessibilidade e relevância no alcance dos objetivos da pesquisa.

Por outro lado, no que tange à análise e interpretação dos dados, em pesquisas qualitativas tem-se a função de identificar os aspectos homogêneos assim como os que se diferenciam dentro de um mesmo meio social (GOMES, 2013). Ao pensar nas técnicas de análise e interpretação dos dados é necessário entender que se trata de um momento no qual o pesquisador(a), ancorado em todo o material coletado, articula-o com base nos propósitos da pesquisa e sua fundamentação teórica (GOMES, 2013).

Creswell (2010) entende a análise de dados como um processo no qual é preciso: (1) organizar e preparar os dados; (2) realizar uma leitura completa dos dados; (3) codificá-los; (4) descrever detalhadamente as informações; (5) comunicar os resultados; e (6) interpretá-los de

uma forma que represente o significado mais amplo da análise. Tais etapas devem ser pensadas independentemente do método escolhido para análise dos dados em uma pesquisa qualitativa. Neste estudo, o processo de análise dos dados foi realizado de forma independente para cada fase, no entanto as etapas sugeridas por Creswell (2010), serviram como direcionamentos para análise dos dados das quatro fases metodológicas em questão.

As duas primeiras etapas de análises aconteceram de forma inter-relacionada às fases metodológicas do estudo, visto que a visão geral e significado global dos dados foram registrados do início ao fim da pesquisa.

A codificação é tida como a etapa que requer maior sistematização por parte do pesquisador(a), em uma perspectiva qualitativa. Creswell (2010) entende o processo de codificação como o momento no qual o pesquisador(a) se preocupará em organizar o material em blocos ou segmentos de texto, o que antecede a atribuição de significados aos mesmos. “Isso envolve manter os dados de texto, ou as figuras, reunidos durante a coleta de dados, segmentando sentenças ou imagens em categorias e rotulando essas categorias com um termo” (CRESWELL, 2010, p. 219). Ao mesmo tempo:

A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão; suscetível de esclarecer o analista acerca das características do texto que podem servir de índices (BARDIN, 2011).

Assim, o processo de codificação da segunda, terceira e quarta fases foram realizadas de maneiras distintas e são explicadas nas seções seguintes. Além disso, a descrição detalhada das informações geradas por meio da codificação dos dados aconteceu por meio da técnica de análise de conteúdo categorial que “funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamento analógicos” (BARDIN, 2011, p. 201). A vantagem da análise categorial é sua rapidez e eficácia quando aplicada a discursos diretos e simples.

A etapa de comunicação dos resultados foi estruturada conforme as categorias de análise da segunda, terceira e quarta fases da metodologia, composta pelas três dimensões centrais do MAG do TBC: participação, transparência e eficácia. A passagem narrativa selecionada para comunicar fundamenta-se no confronto entre os elementos teóricos e os dados empíricos resultantes da coleta de dados. Por fim, a interpretação dos dados contemplou questões acerca da interpretação pessoal da pesquisadora sobre os resultados da pesquisa, assim

como a formulação de novos direcionamentos para futuros estudos, conforme recomenda Creswell (2010).

Ressalta-se que as fases metodológicas desta pesquisa obedeceram um processo inspirado na teoria adaptativa de Layder (1998) no qual cada fase originou dados para a fase subsequente que foram confrontados com as perspectivas teóricas direcionadoras das discussões. Consequentemente a operacionalização da pesquisa é ilustrada na figura 02.

Figura 02 – Desenho metodológico da Pesquisa

Fonte: Elaboração própria, 2016.

2.3. Primeira fase: Proposição teórica do MAG do TBC

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