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Demais disfunções ocasionadas pela fissura labiopalatina

3 FISSURA LABIOPALATINA

3.3 CONSEQUÊNCIAS DA FISSURA LABIOPALATINA

3.3.2 Consequências funcionais

3.3.2.3 Demais disfunções ocasionadas pela fissura labiopalatina

A fissura labiopalatina, diante do grau de acometimento da face de um determinado indivíduo, além de problemas na fala e na audição, pode ocasionar outras disfunções em relação à respiração, deglutição, nutrição, alteração e oclusão dentária. Ainda, em decorrência dessas disfunções, o fissurado pode sofrer com o aparecimento de outros distúrbios corporais. (FERNANDES; DEFANI, 2013, p. 112)

Determinadas categorias de fissuras, diante de sua extensão, atingem a região do palato e demais estruturas da arcada superior. Com isso, ao realizar um procedimento cirúrgico para correção da fissura, há um comprometimento no crescimento facial do fissurado. Tal comprometimento é, em sua grande maioria, responsável pelo aparecimento de disfunções relacionadas à alteração dentária e má-oclusão, como explica Figueiredo et al. (2008, p. 73):

Sabe-se que as cirurgias realizadas para fechamento de lábio e palato interferem no crescimento facial e do arco dentário superior, resultando em faces retrognáticas e maxilas estreitas. Além disso, alterações dentárias, como erupção ectópica, ausência de dentes ou a presença de supranumerários na região da fissura, levam a um relacionamento maxilomandibular desfavorável, causando diversas más oclusões. Portanto, diante da frequência das más-oclusões em indivíduos com fissuras, principalmente em fissurados com fissuras transforame incisivo, no qual há o comprometimento do palato, ocorre o diagnóstico de mordida cruzada provocada pelo déficit maxilar daquele indivíduo, fazendo com que a pessoa não consiga realizar a devida oclusão da boca, visto que há um desalinhamento entre as arcadas dentárias. (FERNANDES; DEFANI, 2013, p. 113-114)

Outro ponto que influencia diretamente na má-oclusão, seria as alterações nas questões dentárias dos fissurados, como a presença de dentes supranumerários, que seria o número de dentes superior a 20 na dentição decídua e 32 na dentição permanente, e, ao inverso dos supranumerários, também podem ocorrer alterações quanto a ausência de dentes ocasionadas pela anomalia. (FIGUEIREDO et al., 2008, p. 73-75)

Ainda, cabe destacar que essas alterações, geralmente, ocorrem ao lado da fissura, trazendo diversas complicações na saúde bucal do indivíduo, conforme lecionam Stringhini Junior, Stang e Oliveira (2015, p. 90-93):

Várias são as complicações funcionais e estéticas associadas a dentes supranumerários. Dentre elas destacam-se clinicamente o atraso na erupção do dente permanente; o surgimento de diastemas e rotações dentárias; alteração do crescimento ósseo, do direcionamento e erupção do dente antagonista; a dificuldade de higienização e predisposição a gengivite e cárie; alteração no padrão de mastigação e oclusão.

Além das consequências da fissura labiopalatina na área bucal, diante do déficit maxilar dos fissurados, há também a presença de alterações funcionais na região nasal, sendo que as principais alterações nessa região são o desvio de septo e a hipertrofia dos cornetos nasais, trazendo consequências quanto à respiração desses indivíduos, como explicam Bertier e Trindade (2007 apud Lima, 2015, p. 22):

Do ponto de vista fisiológico, 60% dos indivíduos com fissura labiopalatina apresentam as vias aéreas comprometidas. Isto porque, a deficiência de crescimento maxilar, comum neste grupo de indivíduos, leva à deformidades como desvio de septo nasal, hipertrofia das conchas nasais e as alterações do assoalho nasal.

Com essas alterações, há uma diminuição considerável no espaço disponível na cavidade nasal para o fluxo respiratório do indivíduo, ocasionando, portanto, uma respiração bucal de suplência, no qual busca fornecer o oxigênio necessário para manutenção do corpo e supressão da incapacidade de uma respiração adequada pelo nariz. (LIMA, 2015, p. 22)

Entretanto, com o transcorrer do tempo, a respiração bucal pode trazer diversas consequências severas à saúde do indivíduo. Nesse sentido, Ianni Filho, Bertolini e Lopes (2005, p. 92-93), demonstram algumas consequências:

Conforme o tempo de instalação da respiração bucal, a criança desenvolve sinais e sintomas de severidade variável aos níveis local, corporal e psicossocial, dentre eles: face longa e estreita; boca aberta em repouso; lábios abertos e ressecados; lábio superior curto; lábio inferior volumoso, hipotônico e evertido; língua hipotensa repousando no assoalho bucal; palato ogival e transversalmente atrésico; olheiras profundas; desarmonias oclusais como mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e incisivos superiores protusos; respiração audível; hiponasalidade; nariz pequeno, afilado, tenso ou com uma pirâmide óssea larga; desvios posturais como cabeça flétida, ombros com rotação dianteira (queda) com exposição das escápulas, cifose, lordose e região torácica mal desenvolvida e déficit de ventilação pulmonar. Na anamnese e na história clínica do paciente, é comum encontrarmos antecedentes de infecções repetidas como otites médias e, consequentemente, distúrbios auditivos, pneumonias, sinusites, amigdalites, hiperatividade (síndrome da apnéia obstrutiva do sono) e trauma nasal.

Em consonância, diante da respiração bucal, as pessoas com fissuras, em destaque as que foram submetidas à retalho faríngeo, possuem uma qualidade de sono ruim, sendo que, conforme observado em estudos, alguns indivíduos podem desenvolver a apneia do sono, tendo

sintomas como sono excessivo durante o dia, cansaço elevado e, em casos mais severos, paradas respiratórias durante o sono. (SILVA JÚNIOR, 2013, p. 87)

Outra disfunção ocasionada pela fissura labiopalatina seria a dificuldade de alimentação em bebês fissurados, podendo causar, em determinados casos, desnutrição e problemas no seu desenvolvimento durante a infância. A dificuldade na alimentação se dá pela falta de pressão intra-oral no bebê, visto que a fissura no palato ocasiona uma limitação na ação natural de sucção para o aleitamento materno. Para suprir tal dificuldade, é necessário ensinamentos às mães dos fissurados, o que infelizmente nem sempre ocorre, fazendo que a alimentação seja dificultosa e com possíveis engasgos, vômitos e refluxo nasal. (CAMPILLAY; DELGADO; BRESCOVICI, 2010)

Diante disso, Carraro, Dornelles e Collares (2012, p. 458) explicam a consequência de uma alimentação inadequada:

A dificuldade da alimentação é um importante fator causal no déficit ponderal e de crescimento dessas crianças, pois influencia diretamente no estado nutricional, uma vez que, especialmente nos primeiros anos de vida, a presença de fissuras pode resultar na interrupção precoce do aleitamento materno ou mesmo no fato de essas crianças não serem amamentadas.

Portanto, a fissura labiopalatina, em todas suas categorias, pode apresentar consequências funcionais em seus indivíduos, no qual o grau de severidade dependerá do tipo de fissura e da sua extensão. Os problemas funcionais, por serem decorrentes de uma anomalia congênita, tendem acompanhar o indivíduo fissurado desde o seu nascimento até o final de seu tratamento, sendo que, em diversos casos, alguns dos problemas funcionais perduram até mesmo após o seu encerramento, visto que nem sempre ocorre a esperada reabilitação completa do paciente.