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3 FISSURA LABIOPALATINA

3.4 TRATAMENTO DA FISSURA LABIOPALATINA

3.4.2 Procedimentos terapêuticos

Em decorrência da fissura labiopalatina, além de todos os procedimentos cirúrgicos necessários para corrigir as consequências estéticas e funcionais do fissurado, também há a necessidade do acompanhamento do fissurado por uma equipe multiprofissional terapêutica, composta, em sua grande maioria, por fonoaudiólogos, dentistas, psicólogos, nutricionistas e outros profissionais que auxiliem no tratamento do fissurado, conforme o tipo de fissura. (FERNANDES; DEFANI, 2013, p. 114-115)

O fonoaudiólogo é essencial para a reabilitação do fissurado por completo, visto que os problemas de fala e de audição são frequentes em indivíduos com fissuras. O profissional participa efetivamente do tratamento da fissura, sendo que, em um primeiro momento, conjuntamente com um cirurgião e um dentista, realiza o diagnóstico da fissura presente em um determinado indivíduo, trazendo contribuições para definição do plano de tratamento do fissurado. Após os procedimentos cirúrgicos iniciais, o profissional de fonoaudiologia trabalhará intensivamente com a fonoterapia, buscando retirar os distúrbios de fala e reabilitá- la por completo, trazendo qualidade de vida para a pessoa fissurada. (LIMA et al., 2007, p. 240- 241)

Em consonância, Lima et al. (2007, p. 241) demonstram a importância do tratamento fonoaudiológico:

Essas alterações resultam em dificuldades comunicativas porque afetam a inteligibilidade da fala, o que chama a atenção do interlocutor para a sua particularidade e dificulta a aceitação do indivíduo nos ambientes familiar, escolar, profissional e social. Em função disso, o tratamento fonoaudiológico é de fundamental importância para a evolução da fala, principalmente para a correção dos distúrbios articulatórios compensatórios.

Em determinados casos, o fonoaudiólogo se faz presente durante anos na vida do fissurado, visto que o tratamento, diante de sua complexidade, pode ser longo. Além disso, pela questão do fissurado, normalmente, possuir barreiras físicas, ou seja, disfunções ocasionadas pela falta de estrutura ou pela sua baixa mobilidade, o profissional de fonoaudiologia não consegue reabilitar totalmente a fala do paciente, sendo necessário intervenção cirúrgica por um cirurgião, além de um acompanhamento extenso de fonoaudiologia para trazer o melhor resultado ao paciente, respeitando os seus limites. (LIMA et al., 2007, p. 240-241)

O dentista, por sua vez, atua diretamente na identificação e correção de problemas ortodônticos oriundos da fissura. Para tanto, é necessário traçar um planejamento ortodôntico, possuindo fases a serem respeitadas para que o tratamento seja eficaz e seguro, conforme lecionam Antunes et al. (2014, p. 240):

Assim como o protocolo de tratamento, o planejamento ortodôntico de pacientes portadores de fissuras labiopalatinas também deve ser realizado em conjunto por uma equipe multidisciplinar, no qual a mecânica ortodôntica deve ser dividida em fases, de acordo com a gravidade de cada caso. A primeira fase consiste em corrigir a atresia do arco maxilar superior e sua deficiência no sentido ântero-posterior, preferencialmente por terapia ortopédica. Na segunda fase, que deve ser após a cirurgia de enxerto secundário, o tratamento é feito com a instalação de aparelhos fixos multi-bráquetes e seguido até que o crescimento tenha sido finalizado. Diante de tantas peculiaridades, o tratamento ortodôntico nestes pacientes requer protocolo diferenciado.

Portanto, o acompanhamento ortodôntico tende a perdurar durante um tempo considerável na vida do fissurado, pois está diretamente relacionado aos procedimentos cirúrgicos realizados para correção de problemas funcionais, principalmente o procedimento de enxerto ósseo, no qual corrige a descontinuidade óssea da fissura alveolar, possibilitando o movimento ortodôntico correto, realizando o posicionamento dos dentes fixos nos locais da fissura, sem ricos de comprometer a vitalidade dos dentes. (ANTUNES et al., 2014, p. 242)

Conforme observado, a pessoa com fissura é submetida à diversas cirurgias durante o seu crescimento, sendo que, além do tratamento longo e complexo, há ainda a questão do enfrentamento de preconceitos e exclusões sociais ocasionadas pelas consequências da fissura

e a falta de conscientização da sociedade em si. Com isso, além do comprometimento físico, há também a presença de comprometimento psicossocial em indivíduos com fissuras, conforme expõem Maggi e Scopel (2011, p. 175):

O tema das fissuras labiais e/ou palatais se insere nas malformações craniofaciais que se constituem, congenitamente, nos primeiros meses de gestação. Tais malformações acarretam dificuldades fonoaudiológicas, odontológicas, estéticos e funcionais, além de comprometimento psicossocial devido à estigmatização e às frequentes cirurgias e hospitalizações, razões pelas quais exigem tratamento longo e realizado por equipes interdisciplinares, incluindo a área da psicologia.

Assim sendo, o acompanhamento do fissurado por um psicólogo, durante o seu tratamento, é essencial para preservação da saúde mental do paciente, visto que o stress ocasionado pelas intervenções cirúrgicas no pré e pós-operatório podem trazer comprometimentos ao fissurado. Além disso, o psicólogo poderá oferecer terapia para auxiliar o indivíduo em sua aceitação, aprendendo a lidar com as barreiras sociais que venha enfrentar. (RIBEIRO; TAVANO; NEME, 2002, p. 71-74)

Outro profissional que se faz necessário durante o tratamento da pessoa com fissura é o nutricionista, em especial durante os primeiros anos de vida do fissurado, visto que esses podem apresentar problemas de deglutição, além de muitos não serem amamentados, por consequência da falta de pressão intra-oral que prejudica a sucção do leite materno. Com a dificuldade na alimentação, há um déficit alimentar desses indivíduos, se tornando necessário o acompanhamento de um nutricionista para inserção de uma dieta adequada, suprindo essas necessidades. (CAMPILLAY; DELGADO; BRESCOVICI, 2010)

O nutricionista também desempenha papel importante para auxiliar no pré e pós- operatório dos fissurados, visto que a dieta para realização das cirurgias, especialmente na região do lábio e palato, é extremamente rigorosa, sendo necessário que os fissurados se alimentem somente de alimentos líquidos e pastosos durante o período de recuperação. (BELUCI, 2010, p. 41-43)

Com isso, considerando as consequências da fissura labiopalatina, incluindo o seu tratamento complexo e a sua relevante incidência no Brasil, prossegue-se para o próximo capítulo, no qual se buscará correlacionar a anomalia com a deficiência, baseando-se nos modelos médicos e sociais para verificação da possibilidade do reconhecimento da fissura labiopalatina como deficiência.

4 A FISSURA LABIOPALATINA E A SUA CARACTERIZAÇÃO COMO