• Nenhum resultado encontrado

DEPUTADO PARTIDO ATUAL TRAJETÓRIA PARTIDÁRIA

3 MULHER E PODER NO MARANHÃO: AÇÃO POLÍTICA E AÇÃO PARLAMENTAR

DEPUTADO PARTIDO ATUAL TRAJETÓRIA PARTIDÁRIA

Aderson Lago PSDB PDC, PTB, PSB,

Domingos Dutra PT PT

Hélio Soares PP PSD*,PFL,

Joaquim Haickel PMDB PDS, PMDB, PTB, PSB

Julião Amin PDT PDT

Manoel Ribeiro PTB ARENA, PFL, PSD, PTB*, PFL

Mauro Bezerra PDT PMDB

Max Barros PFL PFL

Pavão Filho PDT PL, PSC, PTB

Pedro Veloso PDT PTB, PSDC

* Fusão do PSD com o PTB.

Ao questionar as/os deputadas/os sobre os motivos que justificaram tais saídas, eles enfatizaram que

O PSDB não foi cortês nem leal. Sei que em política não existe cortesia nem lealdade, principalmente em ano de decisão… Percebe-se que algumas mudanças acontecem ainda em Brasília, o que aconteceu é que o PSDB convidou uma liderança, um político com o qual eu tinha divergências muito recentes, não dava para aceitar de forma nenhuma, não havia sido cogitado, não havia conversado, não foi nem sequer trabalhado para amenizar a situação, foi uma decisão de cima para baixo, como eu ainda estava no partido, fui questionar e a coisa não foi bem tratada. Eu entendi que o partido não estava fazendo questão da minha presença, e aí eu procurei outro que me queria dentro dele (Deputada Cristina Archer, PTB).

Fui do PFL por três mandatos. Somente mudei de partido por conta da ruptura no grupo político. Fiz isso para poder encaminhar os projetos de minha base política. Aqui na Assembléia [Legislativa do Maranhão] nenhum deputado/a… são raros os que vão por uma questão ideológica ou por compromisso com os partidos, é difícil… fui sempre do PFL por que minha família sempre militou dentro desse partido… então eu continuei (Deputada Maura Jorge, PDT).

Estou filiada no mesmo partido desde que iniciei a política, somente mudei agora porque o mesmo se fundiu com o PTB (Deputada Janice Braide). Não queria sair do partido (PSB) estou sendo “gentilmente” convidado a sair de maneira coercitiva. Não é por espontânea vontade… é um partido de quadros muito bons. O Brasil não tem partido, tinha apenas um que era o PT, hoje não tem nenhum (Deputado Joaquim Haickel, PMDB).

Entrei para o PSD porque me tiraram do Diretório Municipal, achei falta de consideração me tirar porque fui o 2º deputado estadual mais votado do Maranhão, por esta razão procurei outro partido, fui para o PSD, que era um partido pequeno e que tive oportunidade de fazer crescer (Deputado Manoel Ribeiro, PTB).

Comecei no PFL, onde tinha voz e voto. A minha saída do PFL foi por conta do projeto político do meu grupo, que não encontrou respaldo no partido. A liderança do partido tinha outros projetos que não me incluíam. A Roseana e o Jorge Bonhause e outros líderes do partido já tinham os projetos deles para o PFL de São Luís e eu já tinha concebido como projeto maior para minha trajetória política, que é a Câmara Federal (Deputada Telma Pinheiro, PSDB).

O sistema partidário no Brasil é muito frágil, porque as pessoas usam o partido como se fossem donas, é como se nós ficássemos prisioneiros da vontade daqueles que dirigem o partido… Pela fragilidade do sistema partidário, você acaba saindo de um e entrando no outro (Deputado Pavão Filho, PDT).

Os argumentos são os mais variados. Percebe-se que a maioria daquelas/es que mudaram recentemente de partido não o fizeram por questões ideológicas: as escolhas partidárias estão relacionadas aos projetos pessoais de cada deputado. Os depoimentos explicitam claramente essa relação. Se isso pode ser uma boa justificativa para o fortalecimento de suas bases políticas, porém, demonstram o individualismo com que são tratadas essas questões.

A fidelidade partidária é um fator importante para a politização das idéias, pois se subtende a existência de debates, a elaboração de políticas e estratégias que deverão nortear a ação política dos parlamentares. De outra forma, é um fator de dispersão, dando margem a que os deputados trabalhem e legislem de forma individualizada, como pode ser avaliado pela fala da deputada Maura Jorge: “Fiz

isso para poder encaminhar os projetos de minha base política”; ou como enfatiza a

deputada Telma Pinheiro: “A minha saída do PFL foi por conta do projeto político do

meu grupo”. Esse individualismo é, sem dúvida, um dos fatores que potencializam a

ação do Executivo e fragilizam a ação do Legislativo.

Alguns deputados declararam que até gostariam de permanecer no mesmo partido, como foi o caso do deputado Joaquim Haickel, que afirma que gostaria de permanecer no PSB: “é um partido de quadros muito bons”. Porém, como o deputado é mais alinhado ao grupo da senadora Roseana e do senador José Sarney, foi “aconselhado” a se desfiliar desse partido. Essa atitude do deputado Joaquim Haickel, de certa maneira, está refletida no depoimento do deputado Pavão Filho, que enfatiza que “O sistema partidário no Brasil é muito frágil,

porque as pessoas usam o partido como se fossem donas”. Talvez isso explique as

muitas mudanças partidárias do deputado, antigo aliado do grupo Sarney e hoje filiado ao PDT. De fato, no Maranhão prevalece ainda uma relação coronelista44 na dinâmica dos partidos.

Algumas/ns entrevistadas/os deixaram claro o constrangimento que sentiam ao serem questionados sobre o problema, chegando a omitir ou a não responder a questão. Outros/as, porém, verbalizaram claramente seus sentimentos de “traição” e “desprestígio”, alegando o autoritarismo dos grupos que dominam os partidos para justificar as mudanças constantes.

Nota-se que as/os deputadas/os que mais migram são aquelas/es oriundas/os de partidos considerados mais conservadores, entre os quais se podem enquadrar o PFL, o PTB e os de centro-direita, como o PMDB e PSDB. Surpreendentemente, partidos como o PSB e o PDT, que em alguns Estados estão ou estiveram ligados a setores de esquerda, no Maranhão tiveram, nos últimos anos, uma trajetória completamente fisiológica.

O PSB, que durante toda a década de 1980, foi um partido aliado dos movimentos sociais, na década de 1990 passou a ser controlado pelo ex-deputado

44 O “coronel”, como figura política, opera no cenário reduzido dos municípios, caracterizando-se pela falta de idealismo. Embora seja um fenômeno que tem se alterado significativamente no Brasil, ele permanece sob novas bases, condicionado por fatores que determinam seu poder e autoridade e que, nos partidos políticos do Maranhão, são percebidos claramente (LEAL, 1978).

Ricardo Murad, que nesse período, era adversário político do grupo Sarney. Entretanto, nas eleições de 2002 para governador, aliou-se ao grupo para derrotar a coligação que tinha como candidato o ex-prefeito Jackson Lago, garantindo assim a eleição do governador José Reinaldo. Na atual conjuntura, o ex-deputado Ricardo Murad voltou a ser um aliado do grupo Sarney. Nas eleições municipais de 2004, candidatou-se a prefeito numa coligação que agregava partidos como o PRONA, o PFL e o PSC. Situação semelhante se observou no Partido Democrático Trabalhista (PDT). A coligação que apoiou o prefeito de São Luís, Tadeu Palácio, “São Luís no rumo certo”, reuniu partidos como o PC do B, o PP, o PTN, o PSL… e o PT do B.

Tais evidências me levam a relativizar o fato de que:

[...] tão notório quanto recorrente, que a quase totalidade dos partidos em disputa [no Maranhão] seja os comumente classificados como de esquerda ou centro esquerda (PDT, PSB, PT, PSTU e PSDB) e os de direita, não operam com rigidez ideológica na definição dos seus parceiros eleitorais. O quadro geral das coligações no Estado revela que os partidos têm servido mais para as conveniências político-eleitorais do que para as ideologias ou representação de interesses sociais específicos (BORGES, 2005, p. 152).

Na atual conjuntura (2005-2006) (Gráfico 1), o PDT foi o partido que mais cresceu no Legislativo estadual, ampliando seu quadro de cinco para quinze deputados/as, seguido do PSDB, que ampliou seu quadro de três para dez deputados/as. Ambos dão sustentação ao governo na Assembléia Legislativa. Por outro lado, o partido que mais perdeu quadros nos últimos três anos foi o PFL, que é representado pela senadora Roseana Sarney. Esta, por seu turno, já se articula para se lançar em mais uma campanha para governar o Maranhão, aliada a partidos como o PMDB, o PV e o PTB, este último, até bem recentemente, sob o comando do governador José Reinaldo.

GRÁFICO 1 REPRESENTAÇÃO PARTIDÁRIA DO LEGISLATIVO MARANHENSE