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OS PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

LISTA DE SIGLAS

3 MULHER E PODER NO MARANHÃO: AÇÃO POLÍTICA E AÇÃO PARLAMENTAR DAS DEPUTADAS MARANHENSES

1 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Ao se pensar a sociedade brasileira, não se pode deixar de considerar as contradições que ainda persistem e que se refletem nas grandes desigualdades sociais e regionais difundidas pelas organizações hierárquicas, responsáveis por propagar uma cultura de exclusão profundamente enraizada em corpos e mentes dos/as brasileiros/as, marcados/as por critérios de classe, raça e gênero. Esses critérios são determinantes na divisão e partilha do poder na sociedade, cujos reflexos se traduzem na desigualdade de representação legislativa e em praticamente todos os espaços de decisão e poder que vão do Judiciário ao Executivo, das direções sindicais e partidárias aos cargos nas universidades, entre outros.

Ao analisar a importância da política na sociedade e seu reflexo no imaginário das pessoas, esta tem sido vista como um espaço de decisão e de determinação no qual se dão os esforços para participar do poder ou “influenciar a divisão do poder” (WEBER, 1996, p. 56). A ausência de mulheres nos espaços de decisão reforça idéias de que elas não são “talhadas” para o exercício do poder.

Uma foto publicada recentemente na grande imprensa, na qual se vê a imagem de dirigentes de dezenove países da América Latina e Caribe que compõem o Grupo do Rio, a presença de apenas uma mulher6

não deve passar despercebida. Essa imagem, em certa medida, retrata os descompassos da história de luta das mulheres com a realidade, quando se trata da divisão de poder, da igualdade e da paridade política. A essa imagem, somam-se fatos recentes e remotos apresentados nos quadros da segunda parte deste texto7, que demonstram como a ausência das

mulheres na política é o espelho de uma sociedade cujo cotidiano produz e reproduz velhos modelos de páginas não viradas de uma história passada que continua presente.

6 Trata-se de uma reunião organizada pelos dezenove países que compõem a América Latina e

Caribe, realizada no Rio de Janeiro, no dia 5 de novembro 2004, tendo como objetivo o estabelecimento de metas de flexibilização junto ao FMI para investimentos sociais nesses países. Na foto, a imagem da mulher está quase invisibilizada, pois ela se encontra na última fileira, logo atrás do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Anexo) (LEAL, 2004).

7 Os quadros apresentados no capítulo 2 e nos anexos desta tese são um demonstrativo de como os cargos de decisão e deliberação, tanto nos Executivos quanto nos Legislativos, têm sido historicamente ocupados pelos homens.

Como analisar esses fatos no presente, após tantas conquistas femininas nos vários campos do saber, quando constatado que, em se tratando da política, a ação das mulheres não tem conseguido romper o muro autoritário que separa o mundo público do privado?

Como romper as barreiras quase intransponíveis que dificultam a diluição desses dois mundos ao se insistir em permanências que impedem a ampliação da igualdade entre os gêneros?

Na construção das representações das mulheres no poder, procurei romper com os modelos hegemônicos de fazer ciência, cujas regras, leis, normas e regulamentos impingidos tradicionalmente quase sempre obscurecem a realidade, por estarem fundamentados num modelo de sociedade visto como padrão universal.

Esta sociedade tem como representação central a figura masculina: pai, político, padre, patrão, governante. A mulher não se enquadra nesse modelo, pois, durante muito tempo, a ciência desconsiderou a sua presença e sua condição de sujeito.

A ciência foi construída com base numa lógica cujos valores operam contradições que espelham uma sociedade produtora de hierarquias (masculino X feminino; cultura X natureza; urbano X rural; homem branco X homem não branco; cultura ocidental X outras culturas) traduzidas em processos de dominação naturalizados nas relações sociais.

Tais processos constituem uma marca das sociedades de classes, cujas representações são, segundo Bourdieu (1996, p. 17.), “construídas de forma que os agentes ou grupos são distribuídos em função de sua posição na distribuição estatística, de acordo com os dois princípios de diferenciação: o capital econômico e o capital cultural”. Esses diferentes capitais, por sua vez, influenciam a ocupação de espaços sociais e políticos no mundo público e, em se tratando do exercício do poder, são determinantes na definição dos referidos espaços.

Ao analisar como as mulheres têm rompido com as relações patriarcais8

para adentrar o mundo público, busco dialogar com outros/as autores/as, como Passos (2001), Scavone (2004), Maffia (2002) e Saffiotti (2004), que propõem novos olhares para se pensar o conhecimento científico. Consideram que o fato de vivermos numa sociedade vista sob a ótica do masculino tende a nos fazer pensar a sociedade tendo o homem como sujeito. Essa visão tem sido gradativamente desconstruída pelos estudos de gênero, os quais, ao

[...] enfatizar uma perspectiva relacional, transversal, histórica das desigualdades sexuais, rompe com os determinismos biocategoriais, contribuindo para a construção de um conhecimento mais voltado para ‘a lógica da descoberta’ (não cartesiano) do que para a ‘lógica da prova’ (cartesiano). (SCAVONE, 2004, p. 13-4).

Além disso, grande parte desses estudos passa por uma relação direta dos/as pesquisadoras/es com o movimento feminista, responsável pelo estabelecimento de um debate e uma ação política que proporcionaram mudanças substanciais na vida das mulheres.

A construção do objeto a partir de novos olhares propostos por essas autoras pressupõe uma postura ativa e sistemática, que rompe com a passividade empirista e com as pré-construções do senso comum, pondo à prova elementos constituídos como verdades e apontando caminhos para desvendar questões aparentemente menos importantes.

Em se tratando do meu objeto, os fatos podem revelar, ao mesmo tempo, ausência / presença das mulheres nos espaços decisórios. Por esta razão, pretendo mergulhar neste estudo seguindo os passos de Bourdieu (1996, p. 15), que recomenda:

[...] não podemos capturar a lógica mais profunda do mundo social a não ser submergindo na particularidade de uma realidade empírica, historicamente situada e datada, para construí-la como “caso particular do possível”, conforme expressão de Bachelard, isto é, como uma figura em um universo de configurações possíveis.

8

Patriarcado é definido por Saffioti (2004, p. 102-6) “Como um pacto masculino para garantir a opressão das mulheres”, o qual é estabelecido através da solidariedade entre os homens, para manter o controle sobre as mulheres. Assim, eles mantêm e asseguram para si mesmos a produção e a reprodução da vida. Para essa autora, a “base material do patriarcado não foi destruída”, ela se mantém vivo, tanto na área profissional quanto na representação no parlamento brasileiro.

Nesse sentido, ao estudar a ação parlamentar das mulheres no Legislativo, parto de um caso particular – a Assembléia Legislativa do Maranhão, considerada um campo de poder e reconhecido como espaço político de decisão –, para construir minhas análises. Estas, por sua vez, são feitas comparando-se dados e buscando-se identificar, nas ações das mulheres, particularidades que poderão determinar novas abordagens, com a finalidade de desvendar o invariante. A presença das mulheres em diferentes instâncias do Legislativo, todas elas representadas de forma desigual, pode ser vista como invariante, daí a necessidade de compreender e desvendar ações efetivas no exercício parlamentar.

Uma característica só se torna diferente não indiferente socialmente na medida em que é percebida por alguém capaz de estabelecer diferenças. Isso irá demonstrar que esse alguém não é indiferente e é dotado de “categorias de percepção, de esquemas classificatórios, de um gosto que lhe permite estabelecer diferenças, discernir, distinguir” (BOURDIEU, 1996, p. 23).

Ao demonstrar, por meio dos dados, as relações de desigualdade na partilha do poder político e ao estudar como se dá a ação política das mulheres, não estou indiferente a esta realidade. Pretendo, sim, discutir em que momento essa ação se distingue ou se assemelha à ação política desenvolvida pelos homens e até que ponto essas distinções podem constituir particularidades para desvendar e clarificar melhor as interrogações que ora coloco.

Acredito que as correntes teóricas de pensamento no campo da Sociologia, num diálogo permanente com a crítica feminista, podem dar respostas às minhas inquietações. Mas sabemos que as vivências e práticas feministas demarcarão e direcionarão meu olhar, que não nega o passado sexista nem os vários modos como nós, mulheres, temos superado os limites da ausência e da negação a essa participação.

Considero que “qualquer teoria que utilizarmos para entender nossa situação já tem uma história, uma história na qual seu significado foi elaborado numa prática feminista e não feminista” (NYE, 1995, p. 14). Ao aprofundar essas teorias, procuro dar resposta às formas como as mulheres foram (e ainda são) silenciadas,

sendo-lhes interditados os espaços de poder, uma vez que a produção das idéias acerca do mundo social está subordinada a uma lógica de conquista do poder.

O poder, segundo Foucault, não deve ser compreendido apenas como algo que se adquire, arrebata ou compartilha nem como algo que se guarda ou se deixa escapar, mas como algo exercido a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis. “Não é uma instituição nem uma estrutura, não é uma certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada” (FOUCAULT, 1988, p. 89).

É, como afirma Bouretz (1994, p. 31) “un type particulier de relations entre

individus que se limite au fait que certains hommes peuvent plus ou moins entièrement déterminer la conduite d’autres hommes”9. É também “luta e relação de força, situação de estratégia”, que não está necessariamente relacionada com um lugar que se ocupa nem com um objeto que se possui. “Ele se exerce, se disputa”, enfatiza Machado (1993, p. XVI), a partir de uma infinidade de funções (disposições, táticas, manobras, técnicas), que formam uma rede infinitamente complexa de “micro-poderes” e relações que permeiam todos os aspectos da vida social.

As concepções de Foucault acerca do poder reforçam minhas teses para analisar a invisibilidade da presença da mulher no Legislativo e a forma como estão produzindo ou reproduzindo, nos discursos e nas práticas, modelos preestabelecidos. Tais modelos são frutos de uma cultura construída nas sociedades androcêntricas e são viabilizados pelas formas de manipulação e dominação, nas quais, em geral, não há possibilidade de inclusão nem flexibilidade para se aceitarem novos sujeitos com práticas diferentes.

No que se refere às mulheres no Legislativo, analiso se há diferenças entre homens e mulheres no exercício do poder, tendo como ponto de análise os discursos e ações parlamentares. Estes possibilitarão compreender as mediações e articulações nas movimentações no plenário e nas comissões parlamentares e como essas articulações se consubstanciam em ações e projetos que visibilizam a prática parlamentar.

9

“Um tipo particular de relações entre indivíduos que se limita ao fato de que certos homens podem, mais ou menos completamente, determinar a conduta de outros homens”. (BOURETZ,1994, p. 31).

Ao privilegiar uma análise dos discursos das parlamentares, parto de alguns pressupostos de Foucault (2004), que considera que a formulação do discurso exige ritual e qualificação dos indivíduos para que possam ser ouvidos e referenciados, e de Fontana (2005), que em estudos sobre linguagem enfatiza que:

[...] a linguagem é uma arena de disputa de poder, na qual as mulheres têm um lugar desprivilegiado; começando pela diferença no timbre de voz, as mulheres têm um lugar e uma forma diferente de uso da linguagem do que os homens, com uma evidência mássica da dominação masculina nas interações tanto no domínio privado como no domínio público (FONTANA, 2005. p. 5).

A escolha de Foucault para iluminar as análises sobre poder se deu em virtude da amplitude do pensamento desse autor e por considerar que há um conjunto de subjetividades pouco analisadas dentro do Legislativo, no qual as mulheres se constituem em sujeitos privilegiados para estudos mais aprofundados. Além disso, para Perrot (1998, p. 424):

L’analyse foucaldienne des pouvouirs est de même adéquate à la recherche sur les femmes et les rapports de sexes. Elle scrute les micropouvoirs, leurs ramifications, l’organisation des temps et des espaces, les stragégies minuscules que parcourent une ville ou une maison, les formes de consentement et de résistance, fornelles et informelles. Elle s’occupe non seulement de répression, mas de production des comportements. Considérer comment les femmes sont “produites” dans la définition variable de leur féminité renouvelle le regard porté sur les systèmes éducatifs, leurs principes et leurs pratiques10.

Se Foucault ilumina minhas análises objetivas e subjetivas sobre poderes e micro-poderes tão presentes nos Legislativos, em Bourdieu busco respostas para compreender o Legislativo como um campo político.

As análises de campo: político, poder, científico, a teoria da ação e

habitus de Bourdieu são importantes para compreender como estas relações se

estabelecem. Como se dá a interação e os conflitos dos sujeitos neste campo marcado pelo exercício desigual de poder e por relações de gêneros interiorizados

10 “A análise foucaultiana dos poderes é inclusive adequada à pesquisa sobre as mulheres e as relações dos sexos. Ela perscruta os micro-poderes, suas ramificações, a organização dos tempos e dos espaços, as estratégias minúsculas que percorrem uma cidade ou uma casa, as formas de consentimento e de resistência, formais e informais. Ela se ocupa não somente de repressão, mas de produção dos comportamentos. Considerar como as mulheres são ‘produzidas’ na definição variável de sua feminilidade renova o olhar lançado sobre os sistemas educativos, seus princípios e suas práticas”.

por homens e mulheres a partir de habitus adquiridos em experiências vivenciadas e que são transportadas para o exercício parlamentar

O campo político é entendido por Bourdieu como campo de força e campo de lutas no qual as relações de poder podem ser transformadas. Em dado momento, sua estrutura, dependendo da situação e dos sujeitos envolvidos, não é vista como um império, uma vez que os efeitos se dão, sobretudo, pelo tipo de relação que os mandantes estabelecem com seus mandatários e da relação que estes mantêm com suas organizações.

O campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que neles estão envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de “consumidores”, devem escolher com probabilidade de mal entendido tanto maior quanto mais afastados estão do lugar de produção (BOURDIEU, 2000, p. 164).

Nesse esquema de interpretação se enquadra o Legislativo, reconhecido como um campo de poder produtor de leis e normas determinantes de modos de viver, comportamentos e ações públicas que garantem mudanças ou não nos modelos estabelecidos. É também responsabilidade do Legislativo garantir os anseios da população através da formulação de leis e controle das ações do Executivo, assegurando recursos para implementação de políticas públicas, de forma a viabilizar solução de problemas e medidas capazes de superar os dilemas da sociedade. Nesse espaço de poder, os embates políticos se dão através de articulações partidárias, que envolvem diferentes interesses, nem sempre explícitos.

Ao definir o Legislativo como um campo político e de força, faço-o partindo das idéias de Bourdieu (1989, p. 169-70), que considera que o exercício nesse campo tem necessidade de uma preparação, como certo domínio da linguagem, certa retórica política, com provas e ritos de passagem determinados por uma lógica imanente que impõe valores e hierarquias e que, em muitas situações, se revestem de constrangimentos, tornando-se para alguns sujeitos participantes uma relação difícil e penosa. No caso das mulheres, conforme tenho presenciado no decorrer de minha pesquisa, grande parte de sua atuação é feita de silêncios e poucos discursos políticos. Sua “timidez” em discursar e as exigências de “qualificação”, como sugerem Foucault e Bourdieu, reforçam visões de que as mulheres não estão preparadas para o exercício parlamentar.

O campo político é ainda “subjetivamente indissociável da relação direta com os mandantes, determina as tomadas de posição, por intermédio de constrangimentos e dos interesses associados a uma posição determinada nesse campo”, enfatiza Bourdieu (2000, p. 191). A desigualdade numérica das mulheres no Congresso já demarca, de antemão, uma posição de inferioridade que, em algumas situações, as coloca em situação constrangedora.

A partir dessas análises, o Legislativo é visto ao mesmo tempo como campo político e campo intelectual, no qual a presença / ausência das mulheres é demarcada por habitus, “Como sistema das disposições socialmente construídas que, enquanto estruturas estruturadas e estruturantes, constituem o princípio gerador e unificador do conjunto das práticas e das ideologias características de um grupo de agentes” (BOURDIEU, 1992, p.191).

Por ser construído socialmente, o habitus é condição primordial nos processos de inculcação. É também um princípio de estruturação de todas as experiências e práticas profissionais e políticas vivenciadas por indivíduos ou grupos em suas histórias cotidianas em diferentes espaços de socialização: família, escola, trabalho, igrejas, etc., que se reproduzem como mecanismos e disposições estruturantes condicionadoras de modos de agir e pensar, assim como nas diferentes formas de exercer o poder.

Em se tratando de análise do Legislativo, é possível perceber como o

habitus permeia a ação das/os parlamentares no exercício desse poder, cuja

tendência é reproduzir os modelos tradicionais de fazer política, a partir de práticas adotadas pelo sistema de disposições conducentes e estratégicas que tendem a reforçar o sistema das relações entre os grupos e as classes sociais. Tais práticas se refletem nos discursos inflamados, no timbre de voz, na retórica, usada pela maioria dos deputados, que em geral, representam classes sociais mais favorecidas.

Mas, como recomendam Bachelard e Bourdieu, o fazer ciência está ligado a um processo permanente de rupturas, no qual os dados são visões aparentes e podem se constituir em obstáculos na construção do real. A construção do real pode ser mais claramente demarcada quando passo a compreender, na leitura de Bourdieu (1998, p. 112), que “o mundo social é também representação e vontade;

existir socialmente é também ser percebido, aliás, percebido como distinto”. A história política tem representado a mulher socialmente como inferior e incapaz no exercício do político.

Essas representações, marcas das sociedades ocidentais, construídas, naturalizadas e disseminadas a partir de visões que justificam a ausência das mulheres na política, são baseadas numa pseudo-incapacidade de gerir bens públicos, ressaltada por estereótipos como “fragilidade”, “irracionalidade”, “submissão”, que reforçam argumentos para excluí-las dos espaços de decisão e de poder.

De Bourdieu, portanto, quero apreender suas reflexões para reforçar meus argumentos a fim de ultrapassar a aparência da ausência / presença da mulher no Poder Legislativo, que, como campo político, gerador de disputas e produtor de leis, tem se apresentado, por um lado, hostil à presença feminina e, por outro, permeável a determinados atos. Pretendo rediscutir com Foucault os sentidos de poder e enveredar por novos caminhos da ciência.

Ao romper com os modelos cartesianos de fazer ciência para descortinar a presenças das mulheres na política dialogo permanentemente com as categorias de gênero apoiada pela teoria feminista, cujas demarcações são fundamentais para uma maior clareza de meu objeto de estudo.

Ao destacar a teoria feminista como o ponto central de minhas análises, reconheço sua importância e efetividade em responder aos dilemas sofridos pelas mulheres numa sociedade reconhecidamente androcêntrica. A teoria feminista tem como fundamento “analisar como nós pensamos, ou evitamos pensar, sobre gênero, como estas [categorias] são construídas e experimentadas e como nós pensamos ou, igualmente importante, não pensamos, sobre elas” (FLAX, 1992, p. 219).

O fato de a teoria feminista ser demarcada por análises das relações sociais e pela filosofia pós-moderna faz com que seus pressupostos não sejam definitivos: “Seu percurso é construído com base nas críticas às ‘invenções’ de modelos já existentes procurando reconfigurar os paradigmas das ciências humanas e sociais” (ÁLVARES, 2001, p. 10).

As discussões que tenho amadurecido gradativamente com as autoras Fraser (2002), Scavone (2004), Mouffe (1996), Flax (1992) e Ritzer (1993) sobre a teoria feminista constituem parte de uma investigação recente sobre as mulheres, cujos pressupostos estão fundamentados numa visão segundo a qual elas são apresentadas e representadas como sujeitos, a partir de experiências vivenciadas no campo social. As explicações de Ritzer (1993, p. 354) sobre a teoria feminista