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A) Derivação por prefixação

3.7 A derivação

A derivação é tratada, tradicionalmente, pelas gramáticas do uso padrão normativo como a formação de uma palavra com o auxilio de afixos.

São afixos um conjunto de unidades que por não terem vida independente, ou seja, não poderem ocorrer por si só em um texto, são unidas a uma palavra livre, ou seja, que pode ocorrer em qualquer posição oracional, em um texto.

As palavras são classificadas pelos gramáticos tradicionais, pela sua formação afixal, em palavras formadas por prefixação e palavras formadas por sufixação.

3.7.1 Derivação prefixal

Os prefixos de língua portuguesa têm origem latina e grega, como foi indicado no capítulo 2.

Segundo Silveira, as palavras formadas por prefixação pode ocorrer mudança do lugar do acento ou mantê-lo no mesmo lugar.

Nossos gramáticos não se referem a essa dupla acentuação acentual. Segundo a autora, o acento é da palavra primitiva e a acentuação é a seleção feita para o lugar do acento na palavra derivada.

Por exemplo, nos casos de:

87 “in + feliz” > “infeliz”;

- seleção do acento, modificando a acentuação do acentema, no lexema: “meta + fora” > “metáfora”;

“hiper + bole” > “hipérbole”.

No caso da mudança do lugar do acento do lexema, o lugar selecionado para o acentema no prefixo ocasiona a mudança do paradigma vocálico; assim sendo, e (ê) > (é); por exemplo: “hiper + onimo > hiperônimo”; “hiper + bole > hipérbole”.

No caso de “hiperônimo”, não há abertura vocálica por que o lugar do acento se mantém no lexema, formando uma palavra proparoxítona. Já, em “hipérbole” a formação da proparoxítona é realizada no prefixo.

Todavia, na formação por derivação prefixal, muitas vezes, a seleção do acento é constituída pela manutenção do acentema no lexema. Nesse caso, o mesmo prefixo pode ser realizado de forma acentuada e de forma inacentuada.

Por exemplo, os prefixos “pré-, pós”:

- prefixo inacentuado e o fechamento do timbre vocálico: “preposição, posterior”; - prefixo acentuado e a abertura do timbre vocálico: “pré-história, pós-tônico”.

Silveira, no caso dos prefixos serem acentuados, trata a formação da palavra por composição, a vista cada uma das palavras manter o seu acentema.

A autora comenta que os morfemas “pré-, pós-” têm suas origens em palavras adverbiais que são lexemas. Cada qual mantém seu conteúdo semântico, respectivamente: << anterioridade, posterioridade>>, para a marcação temporal.

Porém, no caso de ocorrer à perda semântica da noção temporal, as vogais são fechadas, apresentando metafonia de timbre. Por exemplo: “preposição, pressuposto”; “posterior, posterioridade”. Nesses casos, ocorre apenas um acento. Por ter um único acento na palavra, Silveira classifica essa formação como derivação prefixal.

Para a autora os registros acústicos existentes demonstram que os sons da fala são lineares e contínuos, mas que os usuários da língua portuguesa percebem-nos como segmentos distintos que se sequenciam tanto na fala quanto na escrita. Segundo o pressuposto de Silveira, uma parte significativa do saber que os falantes nativos têm da língua portuguesa consiste no conhecimento do léxico e dos gramemas. O fato de não se separar, na fala oral, as palavras por pausa não causa sérios problemas para o seu reconhecimento, pois o

88 conhecimento da língua em que as palavras são pronunciadas possibilita que os ouvintes segmentem o contínuo da expressão vocal, em hierarquias diferentes: sílabas, palavras, sintagmas, períodos e textos.

Para a autora, as palavras pronunciadas/ouvidas têm propriedades acústicas que são importantes para a memorização das mesmas, pelos falantes /ouvintes nativos da língua e são essas propriedades que diferenciam, pela memorização, as palavras através de seus sinais acústicos que atingem os ouvidos dos interlocutores. Estes reconhecem os traços fonológicos e morfofonológicos, resgatando as palavras do contínuo sonoro.

Sendo assim, no caso de “preposição” os nativos reconhecem apenas uma unidade lexical; mas, no caso de “pré-história”, são reconhecidas duas unidades lexicais, devido aos dois acentos.

Quando as unidades da língua são juntadas num processo de formação de palavras, ocorrem junturas externas e internas.

As junturas externas compreendem a sequência de duas unidades livres; por exemplo: a derivação por composição.

As junturas internas são formas que ocorrem no interior de uma mesma palavra, como por exemplo: o caso da prefixação e da composição em que ocorre apenas um acento; o caso de flexões nominais e verbais, etc.

As junturas externas mantêm os acentos das unidades livres; as junturas internas selecionam um lugar para ocorrer um único acento.

Logo, o que os nossos gramáticos tradicionais consideram derivação prefixal pode ser, segundo Silveira tanto derivação quanto composição, dependendo das junturas serem internas ou externas.

3.7.2 Derivação por sufixação

Segundo nossos gramáticos tradicionais, a derivação por sufixação é definida pela sequência de um lexema mais um sufixo. Esses gramáticos apresentam uma lista dos sufixos da língua portuguesa.

Segundo Silveira os elementos que compõem o conjunto das unidades classificadas como sufixos pelos nossos gramáticos tradicionais como sufixos, nem sempre todos eles são

89 sufixos, pois as junturas ocorridas na formação das palavras ora são junturas externas, ora junturas internas.

Dentre os diferentes sufixos elencados pelos nossos gramáticos tradicionais o grau, “-inho, -zinho, -ão” e os demais classificados como diminutivos e aumentativos formam palavras por juntura externa; o mesmo ocorre com “-mente” que também forma juntura externa.

Segundo a autora, os estudos fonológicos do acento podem ser realizados sobre prismas diferentes, entre eles:

- a descrição do acento no sistema linguístico, com a preocupação voltada para a organização hierárquica das unidades fonológicas, como produto pronto cuja arquitetura se quer desvelar; o sistema é descrito fora de seu efetivo uso compreendendo unidades fonológicas, morfológicas e frasais e as suas regras combinatórias para formarem sílabas, palavras, orações e período;

- a preocupação voltada para o uso efetivo da língua, realizado por falantes/ouvintes conhecedores da língua; nesse caso, os processos de produção são tratados no uso efetivo por falantes reais, que reconhecem as unidades que compõem o contínuo sonoro da pronúncia.

No caso da derivação sufixal, a regra sistêmica no processo de formação da palavra é selecionar o lugar do acento no sufixo, de forma a manter uma única acentuação na palavra.

Essa regra é a mais geral aplicada no uso do português brasileiro. Assim, por exemplo: “casamento, beleza, sinceridade, alegria, etc.”.

Silveira, ao tratar das palavras formadas com unidades que contém semas de diminuição e aumento e das palavras formadas por “-mente”, apresenta uma discussão a respeito do lugar do acento.

Segundo a autora, quando o acento é selecionado para o sufixo, ocorre um único acento e a palavra formada é por juntura interna.

Por exemplo: - base: “pé”;

- forma derivada por sufixação juntura interna um único acento: “pedestal”

Ao se selecionar o lugar do acento no sufixo, ocorre o fechamento da vogal aberta da base primitiva da palavra porque essa tornou-se inacentuada.

90 - base: “pó”;

- forma derivada por sufixação juntura interna um único acento. - por exemplo: “pó”, “poeira”.

Todavia, no caso das unidades, que constituem o grau de “-mente”, na formação da palavra a vogal “é e ó” não fecham mantendo-se abertas e acentuadas. Dessa forma, ocorrem dois acentos dando autonomia morfológica para cada um dos elementos sequenciados.

Segundo Silveira, trata-se, de uma juntura externa. Por exemplo:

- base: “pó”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica. - por exemplo: “pozinho”.

No caso de “é”, por exemplo: - base: “pé”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa. - por exemplo: “pezinho, cafezinho”.

O mesmo ocorre com os aumentativos: - base: “pé”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica. - por exemplo: “pezão, cafezão”.

O mesmo ocorre com as formas compostas “-mente”. Por exemplo:

- base: “certo”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica. - por exemplo: “certamente”.

A vogal aberta “o” acentuada na base primitiva mantém-se acentuada na formação com “-mente”.

Por exemplo: - base: “só”;

- forma composta com dois acentos, juntura externa mantendo o grau de abertura vocálica. - por exemplo: “somente”.