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Para finalizar: comentários relativos ao Acordo Ortográfico de 1990

O Acordo Ortográfico de 1990 teve a representação dos sete países de língua portuguesa, integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Esses países são: Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Para unificar a ortografia portuguesa foi necessário que todos esses países assinassem o documento.

Por não haver o número exigido dos acordados, no início do século XXI, em 2004, o Protocolo modificativo reduz o número mínimo de assinaturas, pois os países envolvidos protelaram a entrada em vigor das novas regras ortográficas.

Em 2008, o Parlamento português aprovou o Acordo e o Brasil entra no processo de transição da mudança ortográfica segundo o novo Acordo, em 2009.

Em 2009, os livros didáticos do Ensino Fundamental passaram a ser publicados conforme ao novo acordo e, no ano seguinte, também passou a seguir o novo acordo as obras técnicas ou científicas ou livros didáticos do Ensino Médio.

A última reforma ortográfica que envolveu os países lusófonos, por vezes foi aceita e, por vezes desagrada falantes lusófonos, principalmente alguns segmentos sociais relacionados à economia e à política que têm, como alvo fundamental, as estratégias de mercado.

Além disso, cada país lusófono continua a se comunicar com o uso efetivo de suas variedades/variações linguísticas e o Acordo Ortográfico de 1990, muitas vezes, constrói uma situação conflitante para a sua aceitação.

No Brasil, há, também, contras e prós. Para alguns, o Acordo Ortográfico de 1990 é bom, pois facilita o diálogo e/ou a comunicação internacional, facilita contatos diplomáticos,

42 comerciais e internacionais, diminuindo as ambigüidades de construções sistemáticas ou pragmáticas dos textos oficiais, literários ou científicos entre os países lusófonos.

43 CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL.

44 CAPÍTULO II

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL.

2.1 Apresentação

A gramática do padrão normativo com o objetivo político tem origem em Roma e seu papel foi importante para romanização das regiões conquistadas que integraram o Império Romano. Com a queda deste, o controle da variação linguística desapareceu dando origem às diferentes línguas românicas. Durante a Idade Média o latim eclesiástico manteve uma unidade linguística através da Igreja, já que os romances apresentavam divergência entre si dependendo dos feudos que eram situados em diferentes regiões geográficas europeias. Com a queda do sistema feudal apareceram as monarquias nacionais e com elas a delimitação de territórios nacionais europeus. Como cada território nacional continha romances diferentes foi necessário buscar uma unidade linguística para politicamente integrar a nação. Nesse momento, apareceram às gramáticas que passaram a padronizar uma norma nacional e, por isso, são designadas gramáticas do uso padrão normativo. Esta gramática passou a ser ensinada nas escolas, tornando-se assim institucionalizada.

Segundo Evanildo Bechara (1975), uma língua pode ser um instrumento particular de um único povo, como por exemplo: o chinês e o romeno, ou comum a mais de uma nação. Este é o caso do português e dos países lusófonos que compreendem Portugal, Brasil e outras colônias ultramarinas lusas. A explicação é histórica e relativa à expansão de Portugal com a sua colonização de diferentes povos.

A língua não existe em si mesma, pois ela decorre do uso que é feito pelos seus falantes.

Sendo assim, uma língua se apresenta, em povos civilizados, com as modalidades oral e escrita.

A modalidade oral é muito dinâmica e atende às necessidades de interação sócio- -comunicativas.

45 A língua escrita é menos variável e diferencia-se, portanto da língua falada. Pois a sua situação de produção é diferente, na medida em que objetiva ultrapassar tempo e espaço. A língua oral pode ser definida por frequências de usos, designadas normas. E essas variam de falantes para falantes, devido aos idioletos; de grupo para grupo social, devido às normas grupais ou gírias; de região para região, devido às normas regionais ou dialetos e de nação para não que tem a mesma língua oficial, devido às normas nacionais.

Segundo Evanildo Bechara (1976, p. 24-25):

Mas dentro das diversidades das línguas ou falares regionais e grupais se sobrepõem o uso comum a todo à área geográfica, fixado pela escola e utilizada pelas pessoas cultas: é isso que constitui a língua geral, língua padrão ou oficial do país.

Cabe a Gramática registrar os fatos da língua geral ou padrão, estabelecendo os preceitos de como se fala e escreve bem ou de como se pode falar e escrever bem uma língua. (...) Cabe a Gramática ordenar os fatos linguísticos da língua padrão em sua época, para servirem às pessoas que aprendem o idioma também em usa época.

Segundo Mattoso Camara Jr. (1964, p.188):

Idioma é o termo com que se insiste na unidade linguística inconfundível de uma nação em face das demais. Enquanto o conceito de língua em seu uso constante é relativo e se aplica a uma língua comum, a um dialeto, a um falar, a uma gíria e até um idioleto, o idioma só se referem à língua nacional, propriamente dita, e pressupõem a existência de um estado político, do qual seja a expressão linguística.

Segundo Jean Calvet (1997, p. 145-146):

“Políticas linguísticas” é um conjunto de escolhas conscientes referentes às relações entre língua (s) e vida social; e “planejamento linguístico” a implementação prática de uma política linguística, em suma, a passagem ao ato. Não importa para qual grupo se possa elaborar uma política linguística: fala-se, por exemplo, “de políticas linguísticas familiares”; pode- se também imaginar que uma diáspora se reunisse em um congresso para decidir uma política linguística ou política de língua. Mas, em um campo tão importante quanto as relações entre língua e vida social, só o Estado tem o poder e os meios de passar do estágio do planejamento para por em prática suas escolhas políticas.

O planejamento linguístico para a construção da gramática portuguesa decorre da decisão estatal de se construir as regras gramaticais a partir do texto literário de prestígio. Um autor literário é considerado de prestígio pelas classes críticas que servem ao poder estatal quando esse autor serviu o poder político na época em que viveu.

46 Sendo assim, os gramáticos de língua portuguesa, dependendo da época em que se escrevem as suas gramáticas, selecionam autores literários de prestígio para servirem com os seus textos de exemplos para as regras gramaticais que compõem as suas gramáticas.

Todavia, a organização dessas gramáticas não pode variar em suas partes em seus conteúdos.

Na história da gramática portuguesa há fases: - fase greco-latina;

- fase filosófica; - fase histórica; - fase prescritiva.

A fase greco-latina, cujo modelo gramatical foi retirado da gramática grega e da latina, compreende a gramática portuguesa no século XVI, com Fernão de Oliveira e João de Barros e, no século XVII, com Amaro de Roboredo.

A fase filosófica da gramática portuguesa compreende o século XVIII e começo do século XIX, cujo representante é Jerônimo Soares Barbosa. Cujo modelo tem sua origem na gramática filosófica de Port-Royal.

A fase histórica, no Brasil, tem por representante Julio Ribeiro e João Ribeiro, cujo o modelo foi retirado da gramática histórica que apareceu no século XIX.

A fase prescritiva no Brasil apareceu no começo do século XX com a Replica e a Treplica de Carneiro Ribeiro e Rui Barbosa.

Até a década de 50 Portugal e Brasil manteve a mesma nomenclatura gramatical dependendo das fases pelas as quais passou a gramática portuguesa.

No Brasil, dependendo das escolas eram selecionados gramáticos de fases diferentes. Isso ocasionou uma série de dificuldades, como por exemplo, um aluno ser transferido de uma escola para a outra ou um professor mudar de escola. Essa mudança implicava em reaprender a nomenclatura gramatical.

Sendo assim, o Ministério da Educação e Cultura através do professor doutor Clovis Salgado da Gama, portaria ministerial nº 152, de 24 de abril de 1957 (Diário Oficial de 30/4/1957) designou uma comissão para estudar o assunto e elaborar um projeto de simplificação da nomenclatura gramatical, no Brasil.

Essa comissão foi constituída por 5 professores catedráticos do Colégio Pedro II: Antenor Nascentes (presidente), Clóvis do Rego Monteiro, Cândido Juca Filho, Carlos

47 Henrique da Rocha Lima (secretário) e Celso Ferreira da Cunha.

A terminologia gramatical elaborada atendeu a três aspectos: a) Exatidão científica do termo;

b) A sua vulgarização internacional;

c) A sua tradição escolar na vida brasileira.

O texto da NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) foi editada pela primeira vez em 1958. Após, houve várias reedições, com ligeiras modificações, em relação à primeira edição, no modo de apresentar a matéria.

A partir de 1959, por Decreto-lei a NGB foi imposta nas escolas brasileiras.