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Para finalizar: dificuldades existentes para o uso do hífen,

A) Derivação por prefixação

2.4 Para finalizar: dificuldades existentes para o uso do hífen,

Embora não haja nos textos gramaticais uma crítica à confusão de critérios existente para o uso do hífen na formação de palavras, uma análise crítica desses textos indica que:

- há um critério semântico, segundo o qual, os compostos que perdem certa noção de composição, são grafados aglutinadamente, dentre eles: “girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, embora, etc”.

Por essa razão, a derivação prefixal com prefixos que mantêm suas integridades semânticas, usa-se o hífen, como com os prefixos “es- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), ex-, sota-, soto-, vice-, e vizo-”. Por exemplo: “ex-almirante, ex-diretor, ex- hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei: sota-piloto, soto-mestre, vice- presidente, vice-reitor, vizo-rei”.

- há um critério morfo-sintático, segundo o qual, escrevem-se com hífen os topônimos/topônimos compostos, principiados pelos adjetivos “grã, grão” ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo, por exemplo: “Grã-Bretanha, Grão- Pará, Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca- Fortes: Albergaria-a-Velha, Baia de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes”.

71 Observa-se que os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados e sem hífen, como em; “América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta”. O topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

O critério morfo-sintático, também, rege o uso do hífen fora da formação de palavras. No caso da ênclise, da mesóclise e do verbo haver.

Grafam-se ou empregam-se o hífen na ênclise e na tmese; amá-lo, dá-lo, dá-se, deixa- o, parti-lhe, amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

Mas, não se emprega o hífen nas ligações da preposição “de” com as formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver. Por exemplo: “hei de, hás de, não de, etc.”

Grafam-se, também, com o hífen as ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio “eis”. Por exemplo: eis-me, ei-lo, e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo “no-lo, vo-las”. Por exemplo: “esperamos que no-lo comprem”.

- há um critério sintático, segundo o qual, emprega-se o hífen nos compostos com os elementos “além, aquém, recém e sem”: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras, aquém- mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, sem- -vergonha.

Porém, emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios “bem e mal”, quando estes formam com o elemento que se lhes seguem uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou “h”. No entanto, o advérbio “bem” ao contrário de “mal”, pode não se aglutinar com vocábulos principiados com consoantes. Eis alguns exemplos: “bem- aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem- criado, mas, malcriado; bem-ditoso, mas malditoso; bem-nascido, mas malnascido; bem- soante, mas malsoante; bem-visto, mas malvisto”. Embora a regra prescreva o uso do hífen nos compostos com o advérbio “bem”, ele não é usado em “benfazejo, benfeitor, benfeito, benquerença, etc.”. Nesses casos, o advérbio “bem” aparece aglutinado com o segundo elemento.

- há um critério pela tradição que segue o histórico da formação da palavra, segundo o qual, nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, advérbios, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já

72 consagradas pelo uso como é o caso de “água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais- que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa”.

- há um critério relativo à sequenciação de palavras, segundo o qual, emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares do tipo: “a divisa Liberdade-Igualdade- Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola- Moçambique, além dessas, nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos, como por exemplo: Áustria-Hungria, alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro etc.”.

- Há um critério de grafação por letras, segundo o qual, usa-se o hífen nas palavras em que o segundo elemento começa por “h”: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co- herdeiro, contra-hormónico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra- hiperbólico; aqui-hipérbole, eletro-higrômetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan- helenismo, semi-hospitalar.

Mas, não se usa o hífen em formações que iniciam-se com os prefixos “des- e in-” nas quais o segundo elemento pode ser escrito sem o “h” inicial: “desumano, desumidificar, inábil, inumano etc.”.

Também não se usa o hífen nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por “r” ou “s”, devendo estas consoantes duplicar-se, prática, aliás, já generalizada em palavras desse tipo pertencentes aos domínios científicos e técnicos. Assim, por exemplo: antirreligioso, antissemita, contrarrega, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.

- há um critério fonético-fonológico, segundo o qual, nas formações em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular, arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.

Mas, nas formações com o prefixo “co-, pre-, re- e pro-“ estes se aglutinam em geral com o segundo elemento, sem o uso do hífen, mesmo quando iniciado por “o”, como em: “coobrigação, coocupante, coordena, cooperação, cooperar, prefixo, preconceito, reencontro,

73 reestrutura, proótico etc.”.

Já, usa-se o hífen nas formações com os prefixos “circum-” e “pan-”, quando o segundo elemento começa por vogal, “m” ou “n” (além do “h”, caso já considerado acima): “circum-escolar, circum-moderado, circum-navegação: pan-africano, pan-mágico, pan- negritude”.

Mas, não se usa o hífen nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada para os termos técnicos e científicos. Como por exemplo: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

- há um critério acentual para os prefixos, segundo o qual, nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente “pós-, pré- e pró”, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte). Por exemplo: “pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor): pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover)”.

- há um critério misto etimológico e fonético-fonológico para a derivação sufixal, segundo o qual, nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nas palavras terminadas em sufixo de origem tupi-guarani que apresentam formas adjetivas, como “açu, guaçu e mirim”, quando o primeiro termo acaba em vogal acentuada graficamente ou a ortoépia exige a distinção gráfica dos dois elementos. Por exemplo: “amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim”.

Em síntese, as dificuldades são muitas e ocasionadas pela mistura de critérios. Esta mistura está presente no item da formação das palavras cujos critérios são: semântico, mórfico, sintático e morfo-sintático. Esse item precisa, urgentemente, ser revisto.

74 CAPÍTULO III

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA.

75 CAPÍTULO III

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Este capítulo apresenta fundamentos teóricos da fonologia portuguesa e de aspectos morfológicos, decorrentes da intensidade, ou seja, de uma língua de acento.

3.1 Apresentação

Os sons sempre foram objeto de atenção dos homens civilizados. Embora não se saiba quem é o inventor da escrita alfabética, sabe-se, apenas, que foram os fenícios que a divulgaram.

A invenção do alfabeto, como forma de escrita, resulta do estudo dos sons, pois cada letra era usada com o objetivo de grafar sons.

Sabe-se, também, que os gregos, a partir da investigação sonora, construíram as grandes conchas acústicas, com o objetivo de ampliar a frequência sonora em seus teatros ao ar livre. Os hindus estudaram os sons com o objetivo religioso. Os sacerdotes verificaram que a cada geração de iniciados havia uma mudança na articulação sonora, para a leitura dos livros sagrados, os Vedas. Estes registraram a produção de sons mandras e nandras cujos efeitos sonoros, segundo a crença, produziam a interação entre o homem e os deuses. Como esses sons não podiam variar, pois acreditavam que eles haviam sido ensinados pelos deuses, os sacerdotes hindus preocuparam-se em descrevê-los.

Dessa forma, pode-se dizer que os gregos são os pais da Fonética Acústica e os hindus, da Fonética Articulatória.

Os sons passaram a ser objeto de estudo da língua, com o aparecimento das gramáticas do uso padrão normativo. Com o objetivo político, ou seja, com o objetivo de construir uma unidade para controlar a variedade de pronúncias de uma nação, faz-se necessário selecionar uma norma de pronúncia, a partir do critério de seu prestígio político. Essa norma é descrita

76 na parte Fonética das gramáticas tradicionais. No Brasil, a norma de pronúncia é a carioca que foi selecionada no Congresso de língua falada e língua cantada, na década de 40. Tal norma passa a ser ensinada na escola para o controle da variação de pronúncia brasileira.

Ferdinand Saussure, em seu primeiro Curso propõem a diferença entre langue e parole. Langue é o sistema de signos, convencionados socialmente e se define por um conjunto de unidades que são combinadas por regras gramaticais. Parole é o uso desse sistema pelas pessoas, durante a comunicação.

Em 1928, Nicolai Sergi Troubetzkoy, com a proposição nº 22 do congresso de Haia, instaura a diferença entre fonema e som.

A sua famosa proposição foi:

Langue = fonema = Fonologia Parole som Fonética

Essa proposição diferencia, no plano linguístico, as duas disciplinas que tratam do significante do signo. A Fonética estuda os sons do significante do signo da parole e a Fonologia preocupa-se com os fonemas significantes dos signos da langue. Tanto os sons quanto os fonemas podem ser estudos sincrônica e diacronicamente.

Antes da proposta de Troubetzkoy, o termo “Fonética” era usado para o estudo diacrônico dos sons (gramática histórica) e o termo “Fonologia”, para o estudo sincrônico dos sons. A Escola Norte Americana, por essa razão, usa o termo “Fonêmica” para o estudo dos fonemas e mantém para o termo “Fonética” para estudo diacrônico dos sons, e “Fonologia” para o estudo sincrônico dos sons.

Esta dissertação segue, terminologicamente, a Escola de Praga da qual Troubetzkoy era membro, utilizando o termo “Fonética”, para o estudo dos sons e o termo “Fonologia” para o estudo dos fonemas.

As regras de uso do hífen não são numeradas. Neste capítulo, elas foram numeradas para facilitar o exame da prescrição do uso do hífen.