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UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Ciro Carlos Antunes

UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP PROGRAMA DE PÓS-GRADUADOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

Ciro Carlos Antunes

UM ESTUDO DAS REGRAS DE USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

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Banca Examinadora

___________________________________________________

___________________________________________________

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A ortografia de um povo, como a própria língua, é um fato, sistemático ou assistemático, lógico ou incongruente, mas um fato sempre respeitável em seus fundamentos e intuitos. Desconhecê-lo, deturpá-lo, feri-lo na própria substância, incentivar as gerações, que, seguindo o natural instinto, foram, às apalpadelas, por assim dizer, acumulando, a pouco e pouco, os elementos a cujo acervo chamamos ortografia usual, é realmente seguir caminho errado e anarquizar ainda mais a herança paterna, que representa o esforço secular de nossos avós.

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AGRADECIMENTOS

Aos treze anos de magistério vivido por mim, o ingresso na Pós-Graduação de Língua Portuguesa – PUC-SP. E as experiências diárias resultaram neste trabalho marcado pela presença e participação de tantas pessoas.

Meu muito obrigado a PUC-SP por fecundar um saber incansável e busca constante de bons resultados e qualidade no ensino.

Agradeço aos meus familiares: meus pais Luzia de Souza Cordeiro e Augusto Antunes Cordeiro (in memorian), irmãos e sobrinhos, aos meus amigos pelo incentivo e força para que eu não desistisse desse mestrado.

Especialmente, aos irmãos Luis Miriz A. Cordeiro, Ana Apª. A. Cordeiro e as amigas: Marinalva Evaristo Gomes, Eronildes, Raquel Maria Cordeiro Haun e Sônia Letícia Cordeiro pelo apoio e pela amizade que me presentearam.

Agradeço especialmente à Professora Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira que desde 2011, passou a constituir em mim um modelo de mestre. Sou muito grato por compartilhar sua sabedoria, na condição de lecionando, de usufruir de seu estímulo e disponibilidade, por ter sido uma amiga em todas as horas. O meu sincero agradecimento por seu trabalho, dedicação e incentivo. E, pelo convite para participar do Grupo de Pesquisa: “Língua Portuguesa para Estrangeiros”.

Agradeço as Doutoras Nancy Casagrande e Alaide Aparecida dos Santos Fernandes, Examinadoras da Comissão pelas colaborações, sugestões, leituras atentas, pela entusiasmada leitura crítica dos textos que ajudou-me a gerar esta dissertação.

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ANTUNES, Ciro Carlos. Um estudo das regras de uso do hífen, segundo o Acordo Ortográfico de 1990.

RESUMO: Esta dissertação trata do uso do hífen na formação de palavras conforme o Acordo Ortográfico da língua portuguesa formulado entre 1986-1990 e aprovado pelas nações que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Justifica-se a investigação realizada, pois, embora o Acordo Ortográfico imposto a partir de 1996 apresente um conjunto de regras de uso do hífen na formação de palavras, há muitas exceções para cada regra, causando dificuldades. O problema consiste em responder as seguintes questões: 1) Por que usar o hífen na formação de palavras? 2) Quando o uso do hífen se faz necessário? 3) Se a língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os falantes nativos reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados? 4) Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado para o acento em lexemas, acarreta o uso do hífen? 5) Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si só nos enunciados? Esta dissertação tem por objetivo geral contribuir para uma reflexão a respeito do Acordo Ortográfico de 1990 e da formação de palavras da parte Morfologia de nossas gramáticas do uso padrão normativo. São objetivos específicos: 1) apresentar um breve histórico da ortografia portuguesa e suas reformas ortográficas para situar o distanciamento entre Brasil e Portugal; 2) apresentar as dificuldades existentes na parte Morfologia para formação de palavras em nossas gramáticas do uso padrão gramatical; 3) examinar as regras de uso do hífen em palavras derivadas; 4) examinar as regras de uso do hífen em palavras compostas. O procedimento metodológico adotado foi teórico-analítico para um corpus composto de exemplos apresentados no Acordo de 1990, em gramáticas brasileiras e guias ortográficos. Os resultados obtidos indicam que, para o uso do hífen: 1. As regras do hífen na formação de palavras derivadas por prefixação e sufixação foram construídas com oscilação de critérios: a) semântico; b) morfológico; c) sintático; d) fonético; e) ortográfico; f) morfossintático; g) morfofonético; 2. Critérios variados criam dificuldades para o uso do hífen e as mesmas estão presentes no item gramatical: Formação de palavras. Conclui-se a necessidade de se rever o item relativo à formação das palavras, que é lacunoso e confuso, na gramática tradicional brasileira. Sem essa revisão qualquer regra de uso do hífen para a formação de palavras, torna-se difícil de ser elaborada.

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ABSTRACT: This paper deals with the use of the hyphen in the word formation, as the Portuguese Spelling Agreement, made between 1986-1990 and approved by the nations that make up the Community of Portuguese Language Countries. Justifies the investigation because , although the Orthographic Agreement tax from 1996 presents a set of rules for the use of the hyphen in the word formation, there are many exceptions to every rule, causing difficulties. The problem is to answer the following questions: 1) Why use the hyphen in the word formation? 2) When the use of the hyphen is needed? 3) If Portuguese is a language accent, ie, intensity, native speakers recognize prefixes and suffixes accented and inacentuados? 4) In the derived and compound forms, the place selected for the accent in lexemes, entails the use of the hyphen? 5) Why multiple prefixes in Portuguese are accentuated if the affixes are treated by traditional grammarians as dependent ways that can not occur by itself in utterances? This work has the objective to contribute to a reflection on the Orthographic Agreement of 1990 and the formation of words Morphology part of our normative grammars of standard use. The specific objectives : 1) to present a brief history of English spelling and its orthographic reforms , to situate the distance between Brazil and Portugal , 2) present difficulties on the Morphology for word formation in our grammars in grammatical usage pattern , 3) examine the rules of use of the hyphen in derived words , and 4) examine the rules of use of the hyphen in compound words . The methodological approach was theoretical and analytical to a corpus consists of examples given in the 1990 Agreement in Brazilian spelling and grammar guides. The results indicate that, for the use of the hyphen: 1. The rules of the hyphen in the word formation derived by prefixing and suffixing were built with oscillation criteria: a) semantic b) morphological c) syntactic d) phonetic e) spelling f) morphosyntatic g) morfofonético. 2. Varying criteria create difficulties for the use of the hyphen and the same are present in the grammar item: Word formation. It follows the need to review the item related to the formation of words, which is spongy and confused, in Brazilian traditional grammar. Without this revision of any rule for hyphenation, word formation, it is difficult to elaborate.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO I ... 17

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM BREVE HISTÓRICO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS. ... 17

CAPÍTULO I ... 18

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM BREVE HISTÓRICO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS. ... 18

1.1 Apresentação ... 18

1.2 Um breve histórico da Língua Portuguesa e sua ortografia ... 19

1.3 Reformas Ortográficas da língua portuguesa ... 26

1.3.1 Reforma da Ortografia brasileira de 1907 ... 26

1.3.2 Formulário Ortográfico de 1911 ... 27

1.3.3 Acordo Ortográfico de 1931 ... 29

1.3.4 Formulário Ortográfico de 1943 – Oficial no Brasil ... 29

1.3.5 Acordo Ortográfico de 1945 – Decreto Nº.: 35.228, de 8 de dezembro de 1945 ... 32

1.3.6 Documento nº 2: Base Analítica do Acordo Ortográfico de 1945 ... 33

1.3.7 Acordo Ortográfico de 1971, Lei nº 5.765, de 18 de dezembro de 1971 ... 36

1.3.8 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 ... 37

1.4 Para finalizar: comentários relativos ao Acordo Ortográfico de 1990 ... 41

CAPÍTULO II ... 43

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL. ... 43

CAPÍTULO II ... 44

UMA REVISÃO DO HÍFEN E DA FORMAÇÃO DE PALAVRAS, SEGUNDO AS GRAMÁTICAS TRADICIONAIS, NO BRASIL. ... 44

2.1 Apresentação ... 44

2.2 O uso do hífen e a ortografia brasileira. ... 47

2.2.1 O hífen na gramática portuguesa, no Brasil. ... 47

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2.2.1.2 Pós NGB ... 49

A) Celso Cunha ... 49

B) Evanildo Bechara ... 51

C) Outros autores ... 52

2.3 A formação das palavras na gramática tradicional, no Brasil. ... 52

2.3.1 Celso Cunha ... 53

2.3.1.1 Derivação ... 54

2.3.1.2 Composição ... 58

2.3.2 Evanildo Bechara ... 60

2.3.2.1 Derivação ... 61

A) Derivação por prefixação ... 61

2.3.2.2 Composição ... 65

2.3.3 Outros autores e o uso do hífen ... 67

2.4 Para finalizar: dificuldades existentes para o uso do hífen, a partir dos textos de gramáticos brasileiros tradicionais ... 70

CAPÍTULO III ... 74

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA. ... 74

CAPÍTULO III ... 75

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: FONOLOGIA E MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA. ... 75

3.1 Apresentação ... 75

3.2 A língua portuguesa é uma língua de acento: a natureza fonética do acento ... 76

3.3 Estrutura silábica do português ... 79

3.4 O acentema: a natureza fonológica do acento em língua portuguesa ... 82

3.5 Os paradigmas vocálicos e o acentema ... 83

3.6 A formação de palavras por composição ... 85

3.7 A derivação ... 86

3.7.1 Derivação prefixal ... 86

3.7.2 Derivação por sufixação ... 88

3.8 O sufixo grego “-ico” ... 90

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CAPÍTULO IV ... 93

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 ... 93

CAPÍTULO IV ... 94

UM EXAME DAS REGRAS ORTOGRÁFICAS PARA O USO DO HÍFEN, SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 ... 94

4.1 Apresentação ... 94

4.2 Resultados obtidos do exame realizado com as regras de uso do hífen, segundo o Acordo Ortográfico de 1990 ... 95

A) Regras para a derivação prefixal: ... 95

4.2.1 Regra I ... 95

4.2.2 Regra II ... 98

4.2.3 Regra III ... 101

4.2.4 Regra IV ... 105

4.2.5 Regra V ... 108

4.2.6 Regra VI ... 110

4.2.7 Regra VII ... 112

B) Regra para a derivação sufixal: ... 114

4.2.8 Regra VIII ... 114

C) Composição ... 115

Regra 9 – Justaposição ... 116

4.2.9 Regra IX ... 116

4.2.10 Regra X ... 117

4.2.11 Regra XI ... 119

1.3 Para finalizar: uma síntese dos resultados obtidos e discussões ... 120

4.3.1 No que se refere às palavras designadas no Acordo de 1990 como palavras derivadas por prefixação e sufixação. ... 120

4.3.1.1 Para a prefixação ... 121

I) Devido à oscilação de critérios, o uso do hífen faz-se necessário, também, em: ... 121

4.3.1.2 Para a sufixação ... 123

4.3.2 No que se refere às palavras formadas por composição. ... 124

4.4 Usa-se o hífen para separar graficamente unidades lexicais sequenciadas ... 125

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13 INTRODUÇÃO

Tratar do Acordo Ortográfico de 1990 envolve saber que discursos sobre a língua são admitidos como verdadeiros, determinando um conjunto de práticas e que práticas são essas que controlam a língua oficial do Brasil.

Esta dissertação está vinculada à linha de pesquisa História e a Descrição da Língua Portuguesa do Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa da PUC-SP e situa-se na área da Ortografia. Seu tema é o uso do hífen para grafar a formação de palavras, conforme o Acordo Ortográfico da língua portuguesa, formulado entre 1986-1990 e aprovado pelas nações que compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Segundo as políticas de língua, adotadas em um país, compete ao Estado determinar o conjunto de regras que são oficializadas na nação, para construir uma unidade na diversidade de variedades/variações de usos nacionais.

Com o fenômeno da globalização, tornou-se importante determinar as línguas mais faladas no planeta. A língua portuguesa é a sétima língua mais falada no mundo; todavia, os países lusófonos não estão integrados por uma única política de língua. Nesse sentido, Portugal, tomando a dianteira, passou a se preocupar com uma política de unificação lusófona. Entre os países de língua portuguesa, o Brasil é o que mais esteve distanciado da política linguística portuguesa. As causas são históricas, pois, devido ao distanciamento geográfico e às mudanças causadas pelos períodos Colônia, Império e República, o partido brasileiro passou a se sobressair em relação ao partido português, no território brasileiro.

A ortografia é um recurso muito importante para se manter a unidade escrita na diversidade oral dos países lusófonos. Por esta razão, Portugal iniciou um movimento e progressivamente determinou o Acordo Ortográfico de 1990, pois os acordos anteriores não haviam sido suficientes para se obter a desejada unidade.

Como a política de língua é selecionada e imposta pelo Estado, houve a necessidade de ser aceito pelo poder político brasileiro. Esse Acordo se refere tanto ao uso de letras e do hífen quanto à acentuação. No que se refere ao uso do hífen, foi imposto um conjunto de regras para o seu uso.

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14 Esta dissertação está delimitada ao uso do hífen na formação de palavras escritas. A dificuldade consiste no tratamento gramatical dado para a formação de palavras, a partir da derivação e composição. Nesse enfoque, há muitos problemas, pois, nas gramáticas tradicionais portuguesas do padrão normativo, há lacunas e misturas de critérios que, até hoje, não foram focalizadas adequadamente.

Justifica-se a investigação realizada, pois, embora o Acordo Ortográfico de 1990, imposto a partir de 1996, apresente um conjunto de regras de uso do hífen na formação de palavras, há muitas exceções para cada regra. Da mesma forma, na parte Morfologia das gramáticas tradicionais brasileiras o tratamento dado à derivação e à composição é problemático. Sendo assim, ocorrem dificuldades para o uso escrito do hífen pelos falantes lusófonos.

Logo, o problema consiste em responder as seguintes questões: 1) Por que usar o hífen na formação de palavras?

2) Quando o uso do hífen se faz necessário?

3) Se a língua portuguesa é uma língua de acento, ou seja, de intensidade, como os falantes nativos reconhecem prefixos e sufixos acentuados e inacentuados?

4) Nas formas derivadas e compostas, o lugar selecionado para o acento em lexemas acarreta o uso do hífen?

5) Por que vários prefixos da Língua Portuguesa são acentuados, se os afixos são tratados pelos gramáticos tradicionais como formas dependentes que não podem ocorrer por si só, nos enunciados?

Esta dissertação tem por objetivo geral contribuir para uma reflexão a respeito do Acordo Ortográfico de 1990 e da formação de palavras da parte Morfologia de nossas gramáticas do uso padrão normativo.

São objetivos específicos: 1) apresentar um breve histórico da ortografia portuguesa e suas reformas ortográficas, para situar o distanciamento entre Brasil e Portugal; 2) apresentar as dificuldades existentes na parte Morfologia para formação de palavras em nossas gramáticas do uso padrão gramatical; 3) examinar as regras de uso do hífen em palavras derivadas; 4) examinar as regras de uso do hífen em palavras compostas.

Tem-se por pressuposto que, de forma geral, as reformas ortográficas da língua portuguesa sempre deram atenção ao uso das letras que grafam as palavras de forma correta. Por essa razão, as regras de uso do hífen foram pouco tratadas.

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15 passos:

1º passo: levantamento bibliográfico:

- Foram levantados os casos de uso do hífen apresentados pelo Acordo de 1990 e por gramáticos tradicionais brasileiros;

- Foram selecionadas bases teóricas da Fonologia, relativas ao acento, aos fonemas e às sílabas acentuadas e inacentuadas.

- Foram selecionadas bases teóricas da Morfologia, relativas à formação de palavras.

2º passo: o corpus

O corpus foi constituído por casos de derivação e composição, levantados em gramáticas tradicionais da língua portuguesa, publicadas no Brasil, em guias ortográficos brasileiros e nos exemplos apresentados no Acordo 1990. O corpus foi composto qualitativamente de forma a abarcar tanto as regras quanto as exceções de cada regra.

3º passo: as análises

As análises realizadas objetivaram responder às perguntas que orientaram a investigação proposta.

Esta dissertação está composta por 4 capítulos:

Capítulo I A história da ortografia portuguesa e um breve histórico das reformas ortográficas.

Neste capítulo são apresentadas as fases históricas da ortografia portuguesa, seguidas das reformas ortográficas ocorridas no Brasil e em Portugal e do último Acordo Ortográfico de 1990.

Capítulo II Uma revisão do hífen e da formação de palavras, segundo as gramáticas tradicionais, no Brasil

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16 dificuldades para se apresentar as derivações e composições de palavras e, consequentemente, as regras de uso do hífen.

Capítulo III Fundamentos teóricos: Fonologia e Morfologia da língua portuguesa. Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos fonológicos do português como língua de acento, diferenciando a sílaba acentuada e inacentuada com os seus respectivos paradigmas fonológicos vocálicos; em seguida são apresentados os fundamentos teóricos da Morfologia, relativos à formação de palavras.

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17 CAPÍTULO I

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18 CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA PORTUGUESA E UM BREVE HISTÓRICO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS.

Este capítulo apresenta uma breve revisão crítica da história da ortografia portuguesa, considerando o sistema fonético, o etimológico até chegar ao momento atual, com um sistema ortográfico misto

1.1 Apresentação

Com o aparecimento da Linguística, os estudos da língua modificaram-se, voltando-se para a sincronia. No seu percurso histórico, a Línguística é caracterizada por três paradigmas, a saber: estruturalismo, gerativismo e pragmatismo.

Durante o estruturalismo os estudiosos preocuparam-se com a descrição do sistema da língua e buscaram descrevê-lo, fundamentados na teoria dos níveis. Esta diferencia como nível superior, o sintático que dá conta das estruturas linguísticas da oração. O nível intermediário é o morfológico que trata das unidades significativas, diferenciadas em lexemas e gramemas. O nível inferior é o fonológico que descreve os fonemas, unidades distintivas, vogais e consoantes.

Para os estruturalistas, a gramática é vista como um conjunto de regras que combinam as unidades do sistema. Dessa forma, no nível sintático, as regras são frasais e de sequencias oracionais. No nível morfológico, essas regras são de formação de palavras, flexões, regências e concordâncias. No nível fonológico, as regras combinam os fonemas em sílabas, descrevendo quais fonemas ocupam a parte central e quais, as partes marginais da sílaba fonológica. Além, essas regras fonológicas regem como as sílabas se sequenciam para a formação de lexemas e gramemas.

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19 Para o gerativismo, os estudos estão fundamentados na teoria dos componentes: o da base, o transformacional e o de superficialização.

O componente da base é inato e define a linguagem humana, sendo ela apresentada por uma regra oracional. O componente transformacional é o conjunto de regras que atendem às necessidades semânticas. O componente fonológico é o de superficialização.

Durante o gerativismo, embora haja a diferença entre competência (conhecimento interiorizado por um falante ideal das regras dos componentes de sua língua que constitui a sua gramática) e performance (aplicação ordenada das regras da competência para construção da superfície linguística), a língua foi estudada fora de seu uso, pois a gramática da competência é a de um falante ideal e abstrato; logo, tratar da língua fora de seu uso, delimita as descrições e explicações à dimensão da frase.

No paradigma do pragmatismo, a atenção dos línguistas voltou-se para o uso efetivo da língua. E, por essa razão, o texto e o discurso passaram a ser objeto de estudo. Sendo assim, foram verificadas as variedades/variações linguísticas que passam a ser objeto da sociolinguística. Essas variedades/variações, no momento atual, são tratadas pelo funcionalismo e pela gramaticalização. O funcionalismo entende que as unidades sistêmicas nos usos efetivos realizados pelos falantes adquirem novas funções. A gramaticalização trata dessas novas funções a fim de verificar como um gramema se torna lexema, um lexema se torna gramema e um gramema se torna outro gramema, produzindo assim ressemantizações.

As contribuições dadas pelo funcionalismo e pela gramaticalização propiciaram entender a língua como um sistema dinâmico. Sendo assim, as alterações de propriedades sintáticas, semânticas e pragmáticas de uma unidade linguística promovem a alteração de seu estatuto categorial.

A partir do uso, a Sociolinguística passa a ser desenvolvida e direciona-se, também, para as políticas linguísticas. Com isso, foi possível de se entender o devido lugar da gramática do uso padrão normativo e das políticas linguísticas de uma nação.

A gramática de uso padrão normativo é política, na medida em que objetiva manter uma unidade nas variedades/variações existentes no uso dos falantes nativos de uma língua. A política de língua é relativa a construção de um estado político para uso nacional da língua, em um determinado momento histórico. As políticas linguísticas são relativas a quais línguas uma nação ensina na escola, dependendo de suas relações internacionais com outros países.

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20 modalidade escrita de uma língua, pois ela é mais adequada para fundamentar o controle das variedades/variações orais.

Sendo assim, é necessário diferenciar em uma língua tanto num sistema oral quanto num escrito. O sistema oral é altamente dinâmico, ao passo que o escrito é menos dinâmico. Logo, para as políticas de língua a construção do controle das variedades/variações tem por ponto de partida o uso do sistema escrito que passa a ser controlado pela política de língua estabelecida. Nesse sentido, a questão da ortografia fica sob a responsabilidade do Estado e de sua política de língua.

1.2Um breve histórico da Língua Portuguesa e sua ortografia

A origem do Português é no latim, antiga língua falada no Lácio, situado na Península Itálica, no início do século VII antes de Cristo.

Considera-se que a história da língua portuguesa tem início no século XIII, quando aparecem os primeiros registros escritos. Segundo António Houaiss (2009) é possível identificar estágios anteriores ao século XIII, a saber:

1º) pré-histórico – o idioma é falado, mas não documentado; este período inicia no século V ou VI até o final do século IX;

2º) proto-histórico – período em que as primeiras palavras do português surgem em textos do baixo-latim e do latim cartorial, na Idade média.

3ª) histórico – período que se inicia no século XIII aos dias atuais, com textos escritos totalmente em português.

O período histórico costuma ser dividido em duas fases: a arcaica, do século XIII ao século XVI. Neste momento elabora-se a primeira gramática da Língua Portuguesa, de Fernão de Oliveira, em 1536. Nessa primeira fase, os copistas não grafavam letras que não fossem pronunciadas, como no caso do “h” inicial.

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21 modificarem-se até chegar ao romance português, com o qual surgem novas unidades inexistentes, anteriormente, na língua.

Com o Renascimento, o aparecimento da imprensa e os descobrimentos, foi necessário que Portugal construísse uma gramática portuguesa, no século XVI. Nessa ocasião, aparecem dois gramáticos Fernão de Oliveira e João de Barros. Ambos não tratam da ortografia em suas gramáticas, por que ela era tarefa dos ortógrafos.

Desde o seu início, o português é língua que tem um sistema de escrita alfabético. Desse modo, cada letra e cada sequência de letras buscam grafar sons do sistema linguístico oral. Além das letras, o sistema ortográfico da Língua Portuguesa passa, progressivamente, a utilizar sinais gráficos que exercem variadas funções na Prosódia e Morfologia. Esses símbolos tanto podem ser diacríticos ou não verbais, quanto podem ser exceções de uma regra ortográfica.

A grafia da língua portuguesa começa, aproximadamente, oito séculos antes dos ortógrafos oficiais, sem a menor interferência quer por parte do governo quer das Academias de Ciências de Lisboa e Academia Brasileira de Letras, no sentido de fixá-la dentro de regras.

Porém, na história da escrita, em suas origens, a grafação era feita através de desenhos que buscavam representar um objeto, para a comunicação. Nessa escrita, havia pelo menos dois mil sinais, pois cada desenho grafava uma palavra; sendo assim, o seu uso era bastante complicado. Tal escrita foi designada pictográfica.

Com o passar dos tempos, os sinais gradativamente tornaram-se abstratos e passaram a ser compostos por uma série de representações escritas, relativas às ideias. Tal escrita foi designada ideográfica.

Tudo indica que, anterior à escrita ideográfica, existiu a escrita cuneiforme. Esta escrita ocorre na Síria e Babilônia. A grafação é por coluna da direita para a esquerda e foi utilizada em seus primórdios para registros e documentos, cartas de reis e registros comerciais.

Na escrita ideográfica, a figura grafada representa uma ideia, pela tentativa de relação motivada e direta; porém, progressivamente, as representações deixam de ser motivadas e passam a ser convencionadas.

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22 Tudo indica que foram os fenícios que simplificaram a escrita alfabética num sistema reduzido de caracteres e a difundiram, a fim de realizar comércio com os povos do Mediterrâneo. Em busca de facilidade e de praticidade, os escribas passaram a escrever seus textos da esquerda para a direita, resultando assim na forma atual da escrita alfabética.

Foi a necessidade da divulgação dos documentos escritos que propiciou o aparecimento de normas para padronizar o uso da escrita, originando a ortografia.

O termo “ortografia” tem seu étimo nos radicais gregos: “orto-“ (reto, direto, correto, normal) e “–grafia” (representação escrita de uma palavra). No dicionário da Língua Portuguesa de António Houaiss, o verbete, “ortografia” é, assim, definido: “o conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras”.

J. J. Nunes (1956) apresenta a ortografia portuguesa por dois períodos, ressaltando que ela nunca foi uniforme, mas que mesmo assim, pode se notar uma diferença sensível entre a usada nos antigos escritos e a que se praticou nos escritos que lhes seguiram.

Ernesto Carneiro Ribeiro (1890) apresenta três diferentes períodos da ortografia portuguesa, designados por ele “sistemas ortográficos”:

1) O sistema fonético, racional ou filosófico; 2) O sistema etimológico ou de derivação; 3) O sistema usual, misto ou eclético.

O sistema fonético foi utilizado pelos primeiros ortógrafos portugueses com o objetivo de grafar, por uma letra, o som emitido pelo falante.

Durante essa fase, ocorreram muitas dificuldades, pois os sons não correspondiam aos fonemas. Estes são realizados por variedades/variações de pronúncias que dependem de individuo para individuo, de grupo social para grupo social, de região geográfica para região geográfica e de nação para nação onde se fala a mesma língua. Por essa razão, foi necessária a fase etimológica.

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23 As dificuldades ortográficas persistiram, durante a fase etimológica, pois os étimos portugueses foram pouco estudados. Até hoje, quando se buscam os étimos portugueses, a pesquisa é realizada em um dicionário espanhol, cujo autor é Corominas.

No que se refere à língua portuguesa, não há ainda dicionários especializados. Como exemplo, pode se citar a palavra “cacho” que nos dicionários de língua portuguesa tanto podem ter origem latina quanto africana.

Sendo assim, foi necessário que se adotasse o sistema misto, ou seja, fonético-etimológico.

Segundo Carneiro Ribeiro (1890) as regras do sistema misto são:

1. Quando a pronúncia não se opuser à etimologia, devemos seguir a etimologia.

2. Quando houver desacordo entre a pronúncia e a etimologia, deve-se preferir o sistema fonético.

3. Naquelas palavras cuja ortografia e uso estiverem identificadas por mais de uma etimologia, devemos seguir o sistema fonético.

Segundo o autor, o sistema fonético ou arcaico da língua portuguesa origina-se com a língua escrita e dura até o século XVI.

O sistema fonético apresentou muitas dificuldades. Sendo assim, nesse período, a ortografia portuguesa nunca foi uniforme, o que pode se verificar, por exemplo, na Carta de Pero Vaz de Caminha, informando ao El-Rei D. Manuel (CORTESÃO, p. 31):

Snõr, Posto queo capitam moor desta vossa frota e asy os outros capitaã esscrepuam avossa alteza anoua do acha mento desta vossa terra noua que se ora neesta naue gaçam achou. nom leixarey tam bem de dar disso minha comta avossa alteza asy como eu milhor poder ajmda que perao bem contar e falar o saiba pior que todos fazer. / pero tome vossa alteza minha jnoramçia por boa vomtade. aqual bem certo crea q por afremosentar nem afear aja aquy de poer ma is caaquilo que vy e me pareçeo. da marinha jem e simgraduras do caminho nõ darey aquy cõta a vossa alteza por queo nom saberey fazer e os pilotos deuem teer esse cuidado e por tanto Snõr de que ey de falar começo e diguo.

Caminha representava os sons da fala, mas havia instabilidade na padronização da escrita, pois, nessa época, a ortografia portuguesa seguia o sistema fonético. As dificuldades de se grafar ortograficamente um sistema fonético estão avaliadas no comentário de Rosetti (1962, p. 164) “a representação exata, por escrito, dos sons falados, é uma utopia”.

(24)

24 Do século XIII a meados do século XVI, a ortografia portuguesa é fonética. Esse período, como já foi dito, é caracterizado por uma adesão da escrita à pronúncia. Foi no século XIII que se começou a estabelecer certas tradições gráficas, para a língua portuguesa.

Do século XVII ao início do século XX: ortografia portuguesa tenta ser etimológica. Os intelectuais, nesse período, buscaram resgatar os valores da civilização greco-romana e exaltar as potencialidades realizadas pelos homens; com esse novo rigor, buscou-se grafar palavras com “ph, rh, th e y”, conforme eram grafadas nas palavras de origem grega (archaico, phrase, rhetorica, theatro, estylo); e “ct, gm, gn, mn, mpt”, nas palavras de origem latina (aucthor, fructo, phleugma, assignatura, damno, prompto). Ao decorrer do século espalhou-se o uso de grafias etimológicas ou pseudo-etimológicas, a denotar o desejo de justificar as palavras vernáculas através dos seus antecedentes latinos ou gregos.

Esse período etimológico é comentado por Bizzochi (1997, p. 9):

as línguas vernáculas sofreram processos (não) vulgarizantes e vulgarismos (resultantes de herança vernácula, vulgarismo alogenéticos - empréstimos de vulgarismos estrangeiros, empréstimos de tradução e vulgarismos resultantes de metamorfismo, vulgarismos resultantes de combinação sintagmática - composição ou derivação, coocorrência de processos lexicogênicos no mesmo vocábulo e vocábulos cujas formas flexionais pertencem a categorias lexicogênicas diferentes).

Pode-se verificar que o tratamento etimológico da língua portuguesa torna-se uma questão confusa por não se conhecer todo o inventário dos étimos do idioma, pois é esse conhecimento que regulariza a ortografia etimológica, para a determinação jurídica das regras de uso da escrita, por leis oficiais.

Por essa razão, o período etimológico, também ocasionou várias dificuldades para a ortografia portuguesa, pois muitos étimos haviam sido perdidos, o que proporcionou o surgimento de falsas etimologias (por ex.: thesaurus > thesoura > tesoura).

Com o aparecimento da tipografia, expandiu-se cada vez mais rápido o aparecimento de novas grafias etimológicas em manifestos artísticos, científicos ou literários, aumentando o número das falsas etimologias.

(25)

25 reformar a ortografia portuguesa. Devido ao desconhecimento de etimologias, muitas palavras até hoje são aceitas com duas formas de escrita (exemplo: cachumba, étimo latino; caxumba com “x” étimo africano, designação de uma doença infecciosa respiratória em língua banto).

Logo, a fase etimológica não resolveu as dificuldades ortográficas existentes para grafar a língua portuguesa.

Por essa razão, optou-se pelo sistema misto fonético-etimológico. Segundo esse sistema, quando se tem conhecimento do étimo, grafa-se com as letras do étimo; quando a palavra é nova por entrada neológica ou o étimo é desconhecido, grafa-se foneticamente.

Devido à mistura de critérios, no Brasil, ocorre a primeira simplificação ortográfica da Língua Portuguesa, considerada Reforma Ortográfica de 1907.

No que se refere à padronização ortográfica, Carolina Michaelis de Vasconcelos (sd) assinalou que era necessário oficializar a ortografia portuguesa de forma regularizada e simplificada, por assim ser conveniente tanto sob aspecto científico quanto sob o estético e, sobretudo o pedagógico.

Em virtude de tanta confusão, segundo J.J. Nunes (1956) foi nomeada, em 1911, pelo governo português, uma Comissão que propusessem uma ortografia portuguesa mais adequada. Essa comissão foi orientada para organizar uma ortografia nacional que não deveria contrariar nem disfarçar a evolução real do idioma pátrio nem as suas diferenças e diferenciações dialetais, desde que elas pudessem ser coadunadas com a escrita comum.

Como houve conflitos para acordos ortográficos entre Brasil e Portugal (que serão apresentados a seguir), pode se dizer que a grafia da língua portuguesa, nesse período, apresentou-se por duas ortografias: a portuguesa e a brasileira. Isso porque não houve uniformidade para esses dois países que passaram a seguir suas normas próprias, a fim de atender os seus próprios usos da língua.

Qualquer língua em uso está sujeita a variedades/variações fonéticas, morfológicas, sintáticas e lexicais. É natural que dois países separados por extensas dimensões geográficas apresentem diferenças razoáveis entre as variedades/variações de seus usos da língua portuguesa.

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26 Já, em 1984, Caetano Veloso cantou as especificidades do português brasileiro na música Língua ao dizer que

Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões. Gosto de ser e de estar E quero me dedicar

A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtam dores

E furtam cores como camaleões. Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa,

E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade. E que há de negar que esta lhe é superior? E deixa os portugais morrerem à míngua. “Minha pátria é a minha língua”

_Fala, Mangueira!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que questionamentos O que quer

O que pode Esta língua?

(Velô, 1984)

Essa música sugeriu a necessidade de se atender às políticas de língua portuguesa traçadas no momento.

1.3 Reformas Ortográficas da língua portuguesa

No Brasil e Portugal ocorreram as seguintes reformas ortográficas: 1907, 1911, 1924 a 1971 e 1990.

1.3.1 Reforma da Ortografia brasileira de 1907

Em 1907, a Academia Brasileira de Letras propôs o seu sistema ortográfico, elaborado dentro da própria instituição. Houve aceitação e rejeição por muitos ou partes divergentes à inovação da acadêmica.

(27)

27 Consoantes:

1) proscrição do “k” substituído por “que” e “c”: “quermes, cágado”;

2) substituição do “s” com valor “z” por esta letra: “caza, roza, meza, formozo e Móizes”;

3) substituição do “g” medial com valor de “j” por esta letra: “orijem, viajem”;

4) supressão das consoantes mudas ou insonoras nos grupos consoantes, inclusive o “h” nos grupos gregos (ch, th e rh): “atenção, ação, diretor, aumento, ortografia, orquestra e retórica”.

Excetua-se “ss, rr" (cassa e carro), provisoriamente, “ll”, “aquelle, aquillo”. Igualmente, “lh, nh, ch = x”: “pilha, pinha, pecha”.

1. Eliminação do h, exceto no início do vocábulo e seus compostos: empreender, cair, honra, deshonra, humanidade, deshumano, deshumanidade.

2. Escrever-se-ão com z e não s as sílabas tônicas finais: ananaz, portuguez, matiz, albornoz, cuscuz.

Exceção:

Os plurais: pás, pés, urubus, mercês; Os pronomes: nós, nos, vós e vos;

As formas verbais: farás, dirás, vês, dês, dás, ris, proferis; Os nomes próprios: Moisés, Jesús.

Vogais:

1) Proscrição do y, substituído por i: mistério, tímpano, tipo, Ipiranga.

2) Representação das finais nasais tônicas por ão, e as átonas por am, an: pão, irmão, dirão, farão, irmã, orfam, diriam, fizeram e orfan.

3) Representação dos ditongos orais por: ai, au, eu, iu, oi, ui: pai, pau, céu, fugiu, herói, boi, dilui; gerais, sais, sois, crizois, nacionais. O hiato é semi-ditongo por o: tio, rio e vario.

Observação: a Academia Brasileira rejeitou posteriormente a sua reforma de 1907 e adotou a portuguesa de 1911.

1.3.2 Formulário Ortográfico de 19111

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28 Em 1910, Portugal determinou, por meio do governo, uma Comissão de filólogos, a fim de se elaborar uma reforma ortográfica simplificada e uniforme para ser usada no ensino e publicações oficiais.

Compuseram essa Comissão: Francisco Adolpho Coelho, José Leite de Vasconcellos, Candido de Figueiredo, Manuel Borges Grainha, Aniceto dos Reis Gonçalves Vianna, José Joaquim Nunes, D. Carolina Michaelis Vasconcelos, Dr. Antonio José Gonçalves Guimarães, Antonio Ribeiro de Vasconcellos e Julio Moreira.

No mês de setembro de 1911, o governo português adotou a reforma ortográfica, elaborada pela referida Comissão.

Para o plano de regularização e simplificação da escrita portuguesa foram propostas 46 bases que são enumeradas por algarismos romanos.

Em uma breve síntese, poder-se-ia dizer que essa reforma visou, principalmente, à grafia de letras, como, por exemplo, a simplificação de consoantes geminadas e de grupos consonantais que grafam um único som, como: “ph, rh, th”; as substituições “k, w, y” por “qu, u ou v, i”, sendo facultativo a regra para nomes estrangeiros.

As palavras iniciadas “ç” passaram a ser escritas por “s”. Foi realizada, também, uma reforma no que se refere ao acento gráfico e a divisão nos prefixos.

Embora a simplificação proposta seja relativa às letras para grafarem as palavras da língua portuguesa, esse acordo tratou, também, do uso do hífen e nos seguintes termos:

XXXIII - Os vocábulos compostos cujos elementos conservam a sua independência fonética unem-se por hífen (-) e conservam igualmente a sua acentuação; ex.: água-pé, pára-raios, guarda-pó. O hífen repetir-se há na linha imediata, quando por ele se faça a separação silábica de linha para linha; ex.:pára-/-raios. Quando um dos termos do vocábulo composto não existe independente em português, na sua forma integral, unem-se os dois elementos sem hífen; ex.: clarabóia, fidalgo. Outro tanto se fará quando a noção do composto se haja perdido, como em solfa, dezoito (dez-a-oito). XXXIV [outros empregos do hífen]

O hífen será utilizado também nos seguintes casos:

a) Unir os pronomes pessoais enclíticos aos respectivos verbos, de que são complemento; ex.:louvá-lo, devê-lo, puni-lo, dá-nos, dou-vos, falo-lhes, etc. A acentuação do verbo mantém-se, como se não se lhes unissem esses complementos. São erros inadmissíveis, mas muito frequentes, louvá-lo, devê-louvá-lo, puni-louvá-lo, etc.

b) Os advérbios “mal, bem”, formando o primeiro elemento de um composto, unem-se ao segundo elemento por hífen, quando sem ele a soletração seria errada; ex.: bem-aventurança, mal-logrado, para que se não leiam bem aventurança, ma logrado. Este último, todavia, pode ler-se também malogrado, pois dizemos malograr, malogro.

(29)

29 será “águas-ardentes” 2.

Na citação acima, verifica-se que as palavras compostas separadas por hífen são duas palavras autônomas, ou seja, que podem ocorrer em outras orações separadamente. Essas palavras são caracterizadas por terem autonomia fonética e lexical, ou seja, terem acentuação própria. Porém, não há referência as palavras derivadas.

Por haver, ainda, divergência ortográfica, ocorreu pela primeira vez o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 1931.

1.3.3 Acordo Ortográfico de 1931

Por haver divergência ortográfica entre Brasil e Portugal, pela primeira vez ocorreu, para os dois países, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 1931.

Com os esforços das duas academias - brasileira e portuguesa -, para estabelecer uma grafia comum, surgiu o 1º acordo ortográfico datado neste ano, que entrou em vigor em 1940 em Portugal e em 1943 no Brasil.

Esse acordo, também, estava mais direcionado para a grafia correta de letras e de acentos. Todavia, tratou também do uso do hífen na base XXVI, na qual lê-se:

Separar-se-ão com hífen os vocábulos compostos cujos elementos conservam sua independência fonética: pára-raios, guarda-pó, contra-almirante.

Nota – Não raro o uso reúne, sem o hífen, os elementos dos compostos: claraboia, parapeito, malmequer, malferido.

Como se pode verificar, no que se refere ao hífen, esse acordo ortográfico manteve as mesmas regras do formulário Ortográfico de 1911.

1.3.4 Formulário Ortográfico de 1943 – Oficial no Brasil

O Formulário Ortográfico de 1943 foi oficializado somente no Brasil e estava constituído por dezessetes bases que podem ser reunidas em: 1) alfabeto; 2) Letras estrangeiras: “k, w, y”; 3) uso e emprego do “h” inicial, medial e final; 4) consoantes mudas; 5) encontro consonantal “sc” inicial e medial; 6) letras dobradas; 7) vogais nasais; 8)

(30)

30 ditongos; 9) hiatos; 10) parônimos e vocábulos de grafia dupla; 11) nomes próprios; 12) acentuação gráfica; 13) sinais de pontuação.

As bases do Formulário Ortográfico de 1943 propiciaram a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

O uso do hífen é, assim, apresentado, segundo referencias coletadas no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

45 - Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto, perfeita unidade de sentido. 46 - Dentro desse princípio, deve-se empregar o hífen nos seguintes casos: 1º - Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica: água-marinha, arco-íris, galinha-d'água, couve-flor, guarda-pó, pé-de-meia (mealheiro; pecúlio), pára-choque, porta-chapéus, etc.

Observação 1ª - Incluem-se nesta norma os compostos em que figuram elementos foneticamente reduzidos: bel-prazer, ês-sueste, mal-pecado, su-sueste, etc.

Observação 2ª - O antigo artigo el, sem embargo de haver perdido o seu primitivo sentido e não ter vida à parte na língua, une-se por hífen ao substantivo rei, por ter este elemento evidência semântica.

Observação 3ª - Quando se perde a noção do composto, quase sempre em razão de um dos elementos não ter vida própria na língua, não se escreve com hífen, mas aglutinadamente: abrolhos, bancarrota, fidalgo, vinagre, etc. Observação 4ª - Como as locuções não têm unidade de sentido, os seus elementos não devem ser unidos por hífen, seja qual for a categoria gramatical a que elas pertençam. Assim, escreve-se, v. g., vós outras (locução pronominal), a desoras (locução adverbial), a fim de (locução prepositiva), contanto que (locução conjuntiva), porque essas combinações vocabulares não são verdadeiros compostos, não formam perfeitas unidades semânticas. Quando, porém, as locuções se tornam unidades fonéticas, devem ser escritas numa só palavra: acerca (adv.), afinal, apesar, debaixo, decerto, defronte, depressa, devagar, deveras, resvés, etc.

Observação 5ª - As formas verbais com pronomes enclíticos ou mesoclíticos e os vocábulos compostos cujos elementos são ligados por hífen conservam seus acentos gráficos: amá-lo-á, amáreis-me, amásseis-vos, devê-lo-ia, fá-la-emos, pô-las-íamos, possuí-las, provém-lhes, retêm-nas; água-de-colônia, pão-de-ló, pára-sóis, pesa -papéis; etc.

2º - Nas formas verbais com os pronomes enclíticos ou mesoclíticos: ama-lo (amas e ama-lo), amá-ama-lo(amar e ama-lo), dê-se-lhe, fá-ama-lo-á, oferecê-la-ia, repô-ama-lo-eis, serenou-se-te, traz-me, vedou-te, etc.

Observação - Também se unem por hífen as enclíticas lo, la, los, las aos pronomes nos, vos e à forma eis: no-lo, no-ias, vo-la, vo-los, ei-lo, etc. 3º - Nos vocábulos formados pelos prefixos que representam formas adjetivas, como anglo, greco, histórico, ínfero, latino, lusitano, luso, póstero, súpero, etc.: anglobrasileiro, greco-romano, histórico-geográfico, ínfero-anterior, latino-americano, lusitano-castelhano, luso-brasileiro, póstero-palatal, súpero- posterior, etc.

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31 (austríaco), dólico (= dolicocéfalo), euro (= europeu), telégrafo (= telegráfico ), etc.: austro-húngaro, dólico-louro, euro-africano, telégrafo-postal, etc. 4º - Nos vocábulos formados por sufixos que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o exige a pronúncia e quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente: anda-açu, amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu, etc.

5º - Nos vocábulos formados pelos prefixos:

a) auto, contra, extra, infra, infra, neo, proto, pseudo, semi e ultra, quando se lhes seguem palavras começadas por vogal, h, r ou s: auto-educação, contra-almirante, extra-oficial, infra-hepático, infra-ocular, neo-republicano, proto-revolucionário, pseudo-revelação, semi-selvagem, ultra-sensível, etc. Observação. - A única exceção a esta regra é a palavra extraordinário, que já está consagrada pelo uso.

b) ante, anti, arqui e sobre, quando seguidos de palavras iniciadas por h, r ou s: ante-histórico, anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia, etc.

c) supra, quando se lhe segue palavra encetada por vogal, r ou s: supra-axilar, supra-renal, supra-sensível, etc.

d) super, quando seguido de palavra principiada por h ou r: super-homem, super requintado,etc.

e) ab, ad, ob, sob e sub, quando seguidos de elementos iniciados por r: ab-rogar, ad-renal, ob-reptício, sob-roda, sub-reino, etc.

f) pan e mal, quando se lhes segue palavra começada por vogal ou h: pan-asiático, pan-helenismo, mal-educado, mal-humorado, etc.

g) bem, quando a palavra que lhe segue tem vida autônoma na língua ou quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança, etc.

h) sem, sota, soto, vice, vizo, ex (com o sentido de cessamento ou estado anterior), etc.: sem-cerimônia, sota-piloto, soto-ministro, vice-reitor, vizo-rei, ex-diretor, etc.

i) pôs, pré e pró, que têm acento próprio, por causa da evidência dos seus significados e da sua pronunciação, ao contrário dos seus homógrafos inacentuados, que, por diversificados foneticamente, se aglutinam com o segundo elemento: pós-meridiano, pré-escolar pró-britânico; mas pospor, preanunciar, procônsul, etc.

Texto coletado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, 2012.

Segundo essas regras pode-se verificar o uso do hífen em palavras compostas que conservam seus conteúdos semânticos e que podem ocorrer fora da composição em outros textos; palavras derivadas por prefixos e sufixos, sendo “-mirim, -açu, -guaçu” tratados como sufixos; na separação de pronomes átonos do verbo.

Diante do exposto, pode-se dizer que há algumas divergências de regras entre Portugal e Brasil, principalmente no que se refere às palavras derivadas.

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32 1.3.5 Acordo Ortográfico de 1945 – Decreto Nº.: 35.228, de 8 de dezembro de 1945

O Acordo Ortográfico de 1945 teve três documentos de conclusões complementares em relação ao Acordo de 1931. A 1ª parte foi composta por 6 bases (1-6); a 2ª, parte por 51 bases (1-51); a 3ª parte, última, a conclusão do Acordo de 1931 divididos em subitens e em 4 alíneas.

Nessa tentativa de unificação entre Brasil e Portugal, as regras de uso do hífen estão nas bases de 28-32 como segue abaixo:

XXVIII - Limitação do emprego do hífen, de acordo com o uso tradicional e corrente, em compostos do vocabulário onomástico formados por justaposição de palavras (Vila Real, Belo Horizonte, Santo Tirso, Rio de Janeiro, porém Montemor-o-Novo, Grã-Bretanha, Áustria-Hungria, Sargento-Mor); e emprego do mesmo sinal nos derivados de compostos onomásticos desse tipo (vila-realense, belo-horizontino, austro-húngaro). XXIX - Regularização do emprego do hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros análogos elementos de origem grega, de conformidade, em suas linhas gerais, com as «Instruções» de 1943.

XXX - Emprego do hífen em palavras formadas com sufixos de origem tupi-guarani, que representam formas adjectivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos.

XXXI - Emprego do hífen nas ligações da preposição de com as formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver (hei-de, hás-de, há-de, heis-há-de, hão-de).

XXXII - Emprego do hífen em combinações ocasionais de formas diversas que não constituem propriamente palavras, mas encadeamentos vocabulares. (Exemplos: A estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de xadrez Portugal-França, etc.)

BASE III - Se um h inicial passa a interior, por via de composição, e o elemento em que figura se aglutina ao precedente, suprime-se: anarmónico, biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver, transumar. Igualmente se suprime nas formas do verbo haver que entram, com pronomes intercalados, em conjugações de futuro e de condicional: amá-lo-ei, amá-lo-ia, dir-se-á, dir-se-ia, nos-emos, falar-nos-íamos, juntar-se-lhe-ão, juntar-se-lhe-iam. Mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.

Como se pode verificar houve uma tentativa de simplificação, mas falta, ainda, uma aliança pactual entre Brasil e Portugal.

No que se refere às regras de uso do hífen no Acordo Ortográfico de 1945, Mattoso Camara Jr. (1966, p. 37) comenta que:

(33)

33 critério mórfico, que primordialmente a orienta na separação dos vocábulos, e o critério fonológico.

Porém, o Acordo de 45 não foi aceito pelo Brasil. Nogueira (1956, p. 115) comenta o Acordo Ortográfico de 1945:

O acordo ortográfico, resultante da Conferência Interacadêmica de Lisboa encerrada em 6 de outubro de 1945 não pode ser adotado no Brasil, apesar de aprovado pelo Decreto-lei nº 8.286, de 5 de dezembro daquele mesmo ano. O acordo continha duas disposições que contrariavam fortemente as tendências da língua falada em nosso país.

1.3.6 Documento nº 2: Base Analítica do Acordo Ortográfico de 1945

Como as divergências continuaram, foi elaborado o documento número dois para rever a base analítica do Acordo Ortográfica de 1945.

Nesse documento, as regras prescritas estão bastante especificadas e ampliadas como se pode ler na citação abaixo:

28. Emprega-se o hífen nos compostos em que entram, foneticamente distintos (e, portanto, com acentos gráficos, se os têm à parte), dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um sentido único ou uma aderência de sentidos. Exemplos: água-de-colónia, arco-da-velha, bispo-conde, brincos-de-princesa, cor-de-rosa (adjectivo e substantivo invariável), decreto-lei, erva-de-santa-maria, médico-cirurgião, rainha-cláudia, rosa-do-japão, tio-avô; alcaide-mor, amor-perfeito, cabra-cega, criado-mudo, cristão-novo, fogo-fátuo, guarda-nocturno, homem-bom, lugar-comum, obra-prima, sangue-frio; alto-relevo, baixo-relevo, belas-letras, boa-nova (insecto), grande-oficial, grão-duque, má-criação, primeiro-ministro, primeiro-sargento, quota-parte, rico-homem, segunda-feira, segundo-sargento; amarelo-claro, azul-escuro, azul-ferrete, azul-topázio, castanho-escuro, verde-claro, verde-esmeralda, verde-gaio, verde-negro, verde-rubro; conta-gotas, deita-gatos, finca-pé, guarda-chuva, pára-quedas, porta-bandeira, quebra-luz, torna-viagem, troca-tintas; puxa-puxa, ruge-ruge; assim-assim (advérbio de modo), bem-me-quer, bem-te-vi, chove-não-molha, diz-que-diz-que, mais-que-perfeito, maria-já-é-dia, menos-mal (=«sofrivelmente»), menos-mau (=«sofrível»). Se, porém, no conjunto dos elementos de um composto, está perdida a noção da composição, faz-se a aglutinação completa: girassol, madrepérola, madressilva, pontapé.

(34)

34 apenas a alguns casos, tendo-se em consideração as práticas correntes. Exemplos:

a) nomes em que dois elementos se ligam por uma forma de artigo: Albergaria-a-Velha, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes;

b) nomes em que entram os elementos grão e grã: Grã-Bretanha, Grão-Pará; c) nomes em que se combinam simetricamente formas onomásticas (tal como em bispo-conde, médico-cirurgião, etc.): Áustria-Hungria, Croácia-Eslavónia;

d) nomes que principiam por um elemento verbal: Passa-Quatro, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes;

e) nomes que assentam ou correspondem directamente a compostos do vocabulário comum em que há hífen: Capitão-Mor, como capitão-mor; Norte-Americanos, como norte-americano; Peles-Vermelhas, como pele-vermelha; Sul-Africanos, como sul-africano; Todo-Poderoso, como todo-poderoso.

Limitado assim o uso do hífen em compostos onomásticos formados por justaposição de vocábulos, são variadíssimos os compostos do mesmo tipo que prescindem desse sinal; e apenas se admite que um ou outro o tenha em parte, se o exigir a analogia com algum dos casos supracitados ou se entrar na sua formação um vocábulo escrito em hífen: A dos Francos(povoação de Portugal), Belo Horizonte, Castelo Branco (topónimo e antropónimo; com a variação Castel Branco), Entre Ambos-os-Rios, Figueira da Foz, Foz Tua, Freixo de Espada à Cinta, Juiz de Fora, Lourenço Marques, Minas Gerais, Nova Zelândia, Ouro Preto, Ponte de Lima, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santa Rita do Passa-Quatro, São [ou S.] Mamede de Ribatua, Torre de Dona [ou D.] Chama, Vila Nova de Foz Côa. Entretanto, os derivados directos dos compostos onomásticos em referência, tanto dos que requerem como dos que dispensam o uso do hífen, exigem este sinal, à maneira do que sucede com os derivados directos de compostos similares do vocabulário comum. Quer dizer: do mesmo modo que se escreve, por exemplo,bem-me-querzinho, grande-oficialato, grão-mestrado, guarda-moria, pára-quedista, santa-fèzal, em harmonia com bem-me-quer, grande-oficial, grão-mestre, guarda-mor, pára-quedas, santa-fé, deve escrever-se: belo-horizontino, de Belo Horizonte; castelo-vidense, de Castelo de Vide;espírito-santense, de Espírito Santo; juiz-forano, de Juiz de Fora; ponte-limense, de Ponte de Lima; porto-alegrense, de Porto Alegre; são-tomense, de São [ou S.] Tomé; vila-realense, deVila Real.

Convém observar, a propósito, que as locuções onomásticas (as quais diferem dos compostos onomásticos como quaisquer locuções diferem de quaisquer compostos, isto é, por não constituírem unidades semânticas ou aderências de sentidos, mas conjuntos vocabulares em que os respectivos componentes, apesar da associação que formam, têm os seus sentidos individualizados) dispensam, sejam de que espécie forem, o uso do hífen, sem prejuízo de este se manter em algum componente que já de si o possua: América do Sul, Beira Litoral, Gália Cisalpina, Irlanda do Norte; Coração de Leão, Demónio do Meio-Dia, Príncipe Perfeito, Rainha Santa; etc. Estão assim em condições iguais às de todas as locuções do vocabulário comum, as quais, a não ser que algum dos seus componentes tenha hífen (ao deus-dará, à queima-roupa, etc.), inteiramente dispensam este sinal, como se pode ver em exemplos de várias espécies:

a) locuções substantivas: alma de cântaro, cabeça de motim, cão de guarda, criado de quarto, moço de recados, sala de visitas;

b) locuções adjectivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho (casos diferentes de cor-de-rosa, que não é locução, mas verdadeiro composto, por se ter tornado unidade semântica);

c) locuções pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, nós outros, quem quer que seja, uns aos outros;

(35)

35 e) locuções prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, a quando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;

f) locuções conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto como.

29. Emprega-se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega (primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos imediatos, por motivo de clareza ou expressividade gráfica, por ser preciso evitar má leitura, ou por tal ou tal prefixo ser acentuado graficamente. Assim o documentam os seguintes casos:

1.°) compostos formados com os prefixos contra, extra (exceptuando-se extraordinário), infra, intra, supra e ultra, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s:contra-almirante, contra-harmónico, contra-regra, contra-senha; extra-axilar, extra-humano, extra-regulamentar, extra-secular; infra-axilar, infra-hepático, infra-renal, infra-som; intra-hepático, intra-ocular, intra-raquidiano; axilar, intra-hepático, supra-renal, supra-sensível; humano, oceânico, romântico, ultra-som;

2.°) compostos formados com os elementos de origem grega auto, neo, proto e pseudo, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s: auto-educação, auto-retrato, auto-sugestão; neo-escolástico, neo-helénico, neo-republicano, neo-socialista; proto-árico, proto-histórico, proto-romântico, proto-sulfureto; pseudo-apóstolo, pseudo-revelação, pseudo-sábio;

3.°) compostos formados com os prefixos anti, arqui e semi, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s: anti-higiénico, anti-ibérico, anti-religioso, anti-semita; arqui-hipérbole, arqui-irmandade, arqui-rabino, arqui-secular; homem, interno, recta, semi-selvagem;

4.°) compostos formados com os prefixos ante, entre e sobre, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h: ante-histórico; entre-hostil; sobre-humano;

5.°) compostos formados com os prefixos hiper, inter e super, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h ou por um r que não se liga foneticamente ao r anterior: hiper-humano; helénico, inter-resistente; super-homem, super-requintado;

6.°) compostos formados com os prefixos ab, ad e ob, quando o segundo elemento começa por um r que não se liga foneticamente ao b ou d anterior: ab-rogar; ad-renal; ob-reptício;

7.°) compostos formados com o prefixo sub, ou com o seu paralelo sob, quando o segundo elemento começa por b, por h (salvo se não tem vida autónoma: subastar, em vez de sub-hastar), ou por um r que não se liga foneticamente ao b anterior: sub-bibliotecário, sub-hepático, sub-rogar; sob-roda, sob-rojar;

8.°) compostos formados com o prefixo circum, quando o segundo elemento começa por vogal,h, m ou n: ambiente, hospitalar, circum-murado, circum-navegação;

9.°) compostos formados com o prefixo co, quando este tem o sentido de «a par» e o segundo elemento tem vida autónoma: autor, dialecto, co-herdeiro, co-proprietário;

10.°) compostos formados com os prefixos com e mal, quando o segundo elemento começa por vogal ou h: com-aluno; aventurado, mal-humorado;

11.°) compostos formados com o elemento de origem grega pan, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal ou h: pan-americano, pan-americanismo; pan-helénico, pan-helenismo;

(36)

bem-36 humorado; bem-criado, bem-fadado, bem-fazente, bem-fazer, bem-querente, bem-querer, bem-vindo;

13.°) compostos formados com o prefixo sem, quando este mantém a pronúncia própria e o segundo elemento tem vida à parte: sem-cerimónia, sem-número, sem-razão;

14.°) compostos formados com o prefixo ex, quando este tem o sentido de cessamento ou estado anterior: ex-director, ex-primeiro-ministro, ex-rei; 15.°) compostos formados com os prefixos vice e vizo (salvo se o segundo elemento não tem vida à parte: vicedómino), ou com os prefixos soto e sota, quando sinónimos desses: vice-almirante, vice-cônsul, vice-primeiro-ministro; vizo-rei, vizo-reinado, vizo-reinar; capitão, mestre, soto-piloto; sota-capitão, sota-patrão, sota-soto-piloto;

16.°) compostos formados com prefixos que têm acentos gráficos, como além, aquém, pós(paralelo de pos), pré (paralelo de pre), pró (com o sentido de «a favor de»), recém: além-Atlântico, além-mar; aquém-Atlântico, aquém-fronteiras; pós-glaciário, pós-socrático; pré-histórico, pré-socrático; pró-britânico, pró-germânico; recém-casado, recém-nascido.

30. Emprega-se o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjectivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.

31. Emprega-se o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei-de, hás-de, há-de, heis-há-de, hão-de.

32. É o hífen que se emprega, e não o travessão, para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos compostos, mas encadeamentos vocabulares: a divisa Liberdade- -Igualdade-Fraternidade; a estrada Rio de Janeiro-Petrópolis; o desafio de xadrez Inglaterra-França; o percurso Lisboa-Coimbra-Porto.

Como se pode verificar, o texto referente ao uso do hífen foi bastante ampliado no Acordo de 1945. Embora o documento número dois tenha objetivado a unificação entre Portugal e Brasil, especificando as regras do uso do hífen, não houve soluções para as dificuldades existentes para o seu emprego, nas formas escritas.

1.3.7 Acordo Ortográfico de 1971, Lei nº 5.765, de 18 de dezembro de 19713

Este acordo foi brasileiro e firmado pela Lei nº 5.765, de dezembro de 1971, sendo sancionado pelo presidente brasileiro Emílio Garrastazu Médici. Trata-se de um passo muito importante no caminho da unificação ortográfica, nomeadamente com a supressão do acento circunflexo na distinção dos homógrafos. Faz-se supressão do subtônicos em Portugal, dos vocábulos derivados com o sufixo “–mente” e com os sufixos iniciados em “-z-”, por exemplo: pràticamente, sòzinho.

(37)

37 Além, desses casos tratou de eliminar os acentos secundários, sem correspondência na linguagem falada, dos acentos grave e circunflexo dos derivados em “-mente” e iniciados por “z”.

Todavia, as regras de uso do hífen não são tratadas com especificidade. Sendo assim, as dificuldades persistiram.

Segundo Cegalla (2008, p. 58)

O emprego do hífen é matéria extremamente complexa e mal disciplinada pelo Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sobretudo no que diz respeito ao uso desse sinal em palavras formadas por prefixação, onde mais papáveis são as falhas e incoerências. Para quem escreve, o emprego do hífen é um autêntico quebra-cabeça.

Nessa condição, o mesmo autor refere que “o emprego do hífen é um ponto de nossa gramática que deveria ser, urgentemente, revisto, restringindo-se o uso desse sinal auxiliar aos casos de absoluta necessidade (...)” (CEGALLA, 2008, p. 61).

Desse modo, embora houve esforço para uma unificação ortográfica entre Brasil e Portugal, há muitas questões que merecem revisões e discussões. Entre elas, a questão do hífen foi se tornando prioritária.

1.3.8 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 19904

Devido ao fenômeno da globalização, decorrente do aparecimento das altas tecnologias, ocorreu a necessidade de se verificar quais as línguas mais faladas no mundo.

A língua portuguesa embora seja, ultimamente, situada como a 7ª língua mais falada do mundo, não tem recebido prestigio universal.

Portugal passou a se preocupar com políticas linguísticas para a difusão da língua portuguesa no mundo. Para tanto, propôs a AULP (Associação das Universidades de Língua Portuguesa) que objetivou a divulgação e a união da Língua Portuguesa nos diferentes países lusófonos. Nestes países, há conflitos para o uso da Língua Portuguesa. As causas são variadas, entre elas, pode-se citar o distanciamento entre Brasil e Portugal provocado desde a Proclamação da Independência do Brasil e do seu distanciamento geográfico de Portugal.

Referências

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