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DERIVAÇÃO SUFIXAL EM LSB MORFEMA-BASE: PALAVRA/ULS/MORFEMA

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais I (páginas 84-89)

A organização dos morfemas livres e presos em LSB: reflexões preliminares

DERIVAÇÃO SUFIXAL EM LSB MORFEMA-BASE: PALAVRA/ULS/MORFEMA

(Faria-Nascimento_vídeo001) MORFOLOGIA (Faria-Nascimento_vídeo006) COMPOSIÇÃO (Faria-Nascimento_vídeo007) DERIVAÇÃO (Faria-Nascimento_vídeo008) FLEXÃO (Faria-Nascimento_vídeo009)

UNIDADE SINALIZADA COMPLEXA6 (Faria-Nascimento_vídeo010)

AFIXO (Faria-Nascimento_vídeo011) SUFIXO (Faria-Nascimento_vídeo012) PREFIXO (Faria-Nascimento_vídeo013) INFIXO (Faria-Nascimento_vídeo014) SOBREFIXO (Faria-Nascimento_vídeo015) SÍLABA (Faria-Nascimento_vídeo016) Quadro 01

No corpus gerado para essa pesquisa e analisado nesse estudo, não foram

identificados prefixos, infixos, nem circunfixos em LSB. Encontramos como afixos, os sufixos e aqueles aos quais ousamos denominar por ‘sobrefixos’, 6 Uma Unidade Sinalizada Complexa – USC refere-se à construção na qual duas ULS são empregadas para se

afixos articulados simultaneamente com outros constituintes morfológicos de uma ULS em LSB. Para aprofundarmos nosso conhecimento acerca da natureza dos afixos em LSB precisamos, antes, fazer uma discussão ‘fono- morfológica’ dos parâmetros identificados nas línguas de sinais.

Uma discussão ‘fonomorfológica’ dos parâmetros da LSB

Stokoe (1965/1976:vii), em seus primeiros estudos, apresentou a locação,

a configuração de mão e a ação (da mão ou das mãos) como aspectos de uma ULS

em língua de sinais americana – ASL, os quais têm sido reconhecidos pela literatura como parâmetros. Esses parâmetros, conhecidos por Configuração de Mão – CM, Locação – L ou Ponto de Articulação – PA e Movimento – M ou Mov.; mais tarde, acrescidos de outros parâmetros considerados secun- dários: a Orientação da Palma da Mão – OP, diretamente ligada à CM, e a Expressão-Não-Manual – ENM, que inclui Expressões Corporais – ECs e Expressões Faciais – EFs, têm sido normalmente categorizados, todos, como unidades fonológicas.

A direção do movimento e a frequência do sinal (único ou repetido) também são parâmetros distintivos em LSB. A direção como parâmetro justifica-se, por exemplo, na constituição de ULS como ADULTO (Faria- -Nascimento_vídeo017) em oposição a QUENTE (Faria-Nascimento_ vídeo018), cuja distinção entre uma e outra ULS não se encontra na CM, na orientação da palma, na locação, nem no movimento, mas na direção; na primeira ULS, ‘para trás’ e na segunda, ‘para frente’, considerando-se, para as ULS exemplificadas, o centro do corpo como ponto de partida.

Essa primeira e mais básica análise dos parâmetros que se unem para construir uma ULS, coloca-os na posição de unidades fonológicas das lín- guas de sinais. Contudo, essa análise é fluida; precisamos reconhecer que um parâmetro, grande parte das vezes, além do traço distintivo, traz em si um significado que é acrescido à unidade lexical à qual adiciona. Essa análise leva- -nos a categorizar os parâmetros como unidades ‘fonomorfológicas’ em vez de unidades apenas fonológicas ou apenas morfológicas.

Um exemplo dessa fluidez de análise encontra-se na OP, que carrega na LSB o significado orientacional metafórico, partilhado pela cultura ocidental. Por exemplo, orientada “para cima” a OP agrega o significado de bom, positivo

ou de aceitação; orientada “para baixo” agrega o significado de ruim, negativo ou

de rejeição. É o caso de QUERER (Faria-Nascimento_vídeo019) e QUE- RER-NÃO (Faria-Nascimento_vídeo020). Mesmo que de forma opaca, a

OP adiciona significado a uma série de ULS. A OP também tem uma mar- cação importante na concordância dos verbos conhecidos por direcionais ou de movimento, uma reconhecimento presente em grande parte dos estudos clássicos sobre as LS. Assim como a OP, as EFs, as ECs, a direção do Mov. também adicionam significado às ULS.

A partir dessas reflexões, os parâmetros em nosso estudo passam a ser considerados, nessa condição fonomorfológica, como morfemas presos. Considerando-se que esse estudo tem como objetivo principal refletir sobre a Morfologia específica da LSB, buscamos descrições gramaticais que atendam a análise de estruturas específicas dessa língua e de outras LS. É, todavia, um estudo preliminar e incipiente, que não traz questões fechadas, mas propostas de análise com base em pressupostos que quebram paradigmas construídos (ou não) para as línguas de sinais.

Morfemas constituídos por Expressões Faciais

É muito comum a EF estar presente no discurso dos falantes de línguas orais, de forma a agregar ou enfatizar o significado de uma sentença. Os latinos, por exemplo, são reconhecidos como falantes que apresentam EFs e ECs associadas à produção oral, de forma mais acentuada que em outras culturas; essas expressões contêm traços suprassegmentais com significado discursivo a ser interpretado na leitura dos enunciados que as tem como com- ponente.

Nas línguas de sinais, além de traços discursivos, as EFs contêm traços semânticos e morfológicos intervenientes na composição do significado de uma ULS com elas construída. Fato é que EFs e ECs encontram-se presentes tanto nos enunciados de falantes de LOs quanto nos de falantes de LS, em- bora com funções ora semelhantes, ora distintas.

Os pesquisadores tratam as expressões de forma diferenciada. Para al- guns pesquisadores de LS, as EFs têm sido analisadas como traços segmen- tais, i.e. fonemas da LS. Sandler e Lillo-Martin (2006:257 e 263) defendem que os falantes empregam EFs de duas formas: uma não-linguística e outra linguística e classificam-nas linguisticamente como traços prosódicos de en- tonação em LS, ou seja, suprassegmentais que contêm marcas de duração, tom e intensidade, da mesma forma que pesquisadores de LOs têm classifi- cado as EFs presentes nas LOs. Estudos de Quadros et alii (2008) defendem

a subcategorização das EFs como afetivas ou gramaticais, ainda que estejam de conteúdo e de significado a ser interpretado, no mínimo discursivamente,

uma vez que uma EF pode dizer mais do que uma frase constituída de uma série de palavras. As EFs precisam, então, ser analisadas por dois ângulos, pois há que se distinguir, conforme as autoras, as expressões que não têm um traço linguístico das que têm.

Nos estudos de Liddell (1986), por outro lado, algumas EFs foram es- tudadas como parte da sintaxe, por exemplo, na marcação de tipos de frases (negativas, afirmativas, interrogativas, condicionais, relativas, entre outras) e na topicalização.

Quais as implicações dessas reflexões acerca dos parâmetros? De forma bem simplificada, o que distingue uma unidade fonológica de uma unidade morfológica é o fato de que a primeira não tem significado, enquanto a se- gunda tem. Podemos dizer que, em princípio, isolados, nenhum desses pa- râmetros tem significado? Poderia algum parâmetro ser categorizado como unidade morfológica sinalizada em vez de apenas um fonema, o que levaria esse parâmetro a ser considerado morfema? Esses questionamentos impõem- -nos a necessidade de não restringir nossa análise.

Essas reflexões levam-nos a postular que as EFs e as ECs não se en- quadram exclusivamente numa posição fonológica, pois agregam significa- do à ULS com ela construída. Se essas expressões encontram-se numa zona inespecífica, na confluência de traços fonológicos, morfológicos e também sintáticos, elas podem ser tomadas num continuum fonológico-morfológico-

-semântico-sintático. Nosso estudo fixou-se nas reflexões que buscam uma discussão morfológica, escopo de nossa análise.

Fez parte deste estudo, por exemplo, verificar que a ULS TRISTE (Fa- ria-Nascimento_vídeo021) tem como um de seus constituintes a EF de tristeza, que se caracteriza pela contração/fechamento da EF. A ULS que designa CASINHA (Faria-Nascimento_vídeo022) traz em si a marca fle- xional de diminutivo, que ocorre por meio de uma EF caracterizada pela con- tração das sobrancelhas, ao mesmo tempo em que os lábios unem-se e ficam salientes (EF de ‘biquinho’). A marcação flexional para aumentativo produz- -se pelas bochechas infladas que significam: cheio/inflado, muito, marcação presente em GORD@7(Faria-Nascimento_vídeo023) e para significados

opostos, como vazio, pouco, pelas bochechas sugadas, marcação presente em MAGR@ (Faria-Nascimento_vídeo024).

Assim, postulamos nesse estudo que, assim como as EFs e ECs, a OP, o PA, a direção do Mov. e também as CMs contêm informação morfológica, 7 Registro com base no Sistema de Notação por Palavras, normalmente empregado para registro de dados de

pois, além de traços distintivos, determinam, especificam ou ressignificam um referente.

As CMs como morfemas

As CMs, a priori, analisadas também como unidades fonológicas de uma

LS, a partir dos distintos formatos possíveis que a mão pode tomar, podem, na verdade, se manifestar de diferentes formas; algumas sem significado; ou- tras com o significado que importam da língua oral tomada como base a língua oral de principal contato com a LSB, a Língua Portuguesa.

Podemos dizer, então, que há as CMs de natureza puramente fono- lógica, as quais não carregam relação semântica com outra língua ou cuja relação semântica foi perdida com a assimilação sofrida na acomodação da ULS construída com traços importados da LO. Exemplo desse tipo de CM é TRABALHAR (Faria-Nascimento_vídeo025), cuja CM em “L” não tem uma relação transparente na ULS, embora o movimento alternado e repeti- do da CM para frente e para trás, em frente do corpo, possa remeter a um trabalhador de uma fábrica de produtos em série, cuja atividade é repetitiva durante toda sua jornada de trabalho.

As CMs empregadas em ULS construídas, por exemplo, a partir de uni- dades lexicais das LOs, incorporam significados que se repetem em diferen- tes ocorrências de ULS. Quando isso ocorre, essa CM traz em si um caráter híbrido, o que a torna mais que um fonema, pois equivale a uma unidade morfológica presa. Essas são as CMs de caráter híbrido, mor femas pre- sos, passíveis de opacidade, construídos a partir de empréstimos linguísticos da língua oral. Essas CMs carregam a letra inicial transliterada do nome do referente na língua oral. Essa CM transliterada do alfabeto da língua oral é empregada na construção da ULS, caso de ÉTICA (Faria-Nascimento_ví- deo026). Algumas dessas ULS têm motivação em CM híbrida, embora com a assimilação à LS possam perder a CM inicialmente motivada, como foi o caso da construção da ULS EMAIL-original (Faria-Nascimento_vídeo027), concebida com as CMs em “E” e “M”, que foi alterada para EMAIL-atual (Faria-Nascimento_vídeo028), com CMs diferenciadas e sem referência às CMs iniciais.

Essas CMs híbridas ocorrem somente com configurações já associadas a letras do alfabeto. Nesse caso, ao constituir uma ULS a partir de uma UL da língua portuguesa, é possível que a CM referente à letra inicial da denomina-

ção da palavra em LP seja aproveitada como CM para a construção de ULS, embora, futuramente, essa CM possa sofrer alteração.

Há também as CMs classificadoras, morfemas livres, que podem as- sumir estatuto morfológico de radical. Essas CMs equivalem a um referente e incorporam ações, como é o caso do CL:CARRO (Faria-Nascimento_ví- deo029):

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais I (páginas 84-89)