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na tradução de fábulas para Libras

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais I (páginas 183-186)

Nelson Pimenta de Castro Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Introdução

A partir da observação de aspectos imagéticos da linguagem das fábulas e sua comparação com a língua de sinais dos surdos, pressupõe-se que, tanto as narrativas em língua de sinais quanto as fábulas, em si, têm componen- tes que facilitam um desenvolvimento satisfatório dos surdos. Dessa forma, percebo que algumas ações mostradas em imagens cinematográficas podem criar ambientes visuais com aspectos semelhantes aos da língua de sinais, os quais, por sua vez, possibilitam o entendimento de narrativas por parte dos sujeitos surdos.

Em nível de referencial teórico, amparei-me em autores tais como Frei- tas (2009), por exemplo, que discute a relação dos surdos com a educação a partir de suas emoções e sentimentos negativos gerados em ambientes de aprendizagem não satisfatórios, em virtude da ausência da prática da língua de sinais. Segundo Freitas, isso resulta em uma falta de ligação afetiva dos surdos com os estudos e processos formais de aprendizagem.

Na sequência, busquei embasamento na discussão trazida por Bahan (2008) acerca das relações existentes entre a linguagem do cinema e a língua de sinais. Somado a isso, com base em Sutton-Spence (2011), em comparação com estratégias narrativas da linguagem cinematográfica, procurei estratégias narrativas de incorporação em língua de sinais. Fundamentei-me ainda em Bet- ts (2007), que apresenta uma importante discussão sobre planos narrativos na linguagem cinematográfica em comparação à língua de sinais, bem como, a uti- lização de outros parâmetros de linguagem como, por exemplo, as expressões faciais e corporais e os movimentos, que contribuem para a constituição do significado de narrativas, tanto no cinema quanto na língua de sinais.

Na mesma linha de Betts (2007), Setaro (2009) também contribui com essa pesquisa, ao discutir a modelação espacial de planos narrativos cinemato- gráficos, como: plano detalhe, plano próximo, plano médio, plano geral, close,

super close etc., e sua possível conexão com estratégias narrativas em língua de

sinais. Por meio de Baker (1992), proponho uma conexão entre a produção em língua de sinais e o que essa autora tipifica como sendo os três possíveis tipos de textos: expressivo, informativo e operativo.

Além desses autores, fiz observações acerca de narrativas praticadas por surdos, como também, tomei por base minha própria experiência pessoal como surdo utente da língua de sinais brasileira, educador de surdos e ator atuando em teatro e produções em cinema e vídeo em língua de sinais desde a década de 1990.

Nesse sentido, em meio a essas contribuições, neste artigo, concentro minha abordagem na apresentação de possíveis relações existentes entre a linguagem do cinema e a língua de sinais, por exemplo, como também, as expressões faciais e corporais, e ainda, os movimentos, que contribuem para a constituição do significado das narrativas, tanto no cinema quanto na língua de sinais (Betts, 2007).

Dessa forma, de início, trago uma revisão teórica sobre o cinema e a língua de sinais, ressaltando as contribuições de Setaro e Aumont para essa discussão científica. Em seguida, discorro a respeito da modelação espacial de planos narrativos cinematográficos e sua possível conexão com estratégias narrativas da língua de sinais (Setaro, 2009). Por fim, teço considerações fi- nais, apresentando as possíveis contribuições do uso conectado dos aspectos imagéticos da linguagem cinematográfica e da língua de sinais com proce- dimentos de tradução de fábulas para, dentre outras coisas, a educação de sujeitos surdos.

1 Cinema e língua de sinais segundo Setaro e Aumont

Mais que ser a sétima arte, o cinema é uma linguagem, uma forma de co- municação das mais importantes da contemporaneidade e vem sendo assim desde o seu aparecimento e consolidação entre os séculos XIX e XX.

Dentre as especificidades da linguagem cinematográfica, escolhi investi- gar os planos cinematográficos e as suas características comuns com aspectos da produção de narrativas em língua de sinais.

Nesses termos, comento que há inúmeras definições para plano da lin- guagem cinematográfica e, no que tange ao recorte desse estudo, fundamen-

tei-me na proposta de Setaro (2009), que ratifica a conceituação tradicional, ou seja, os planos são parte da sintaxe da fala do cinema que, junto com o enquadramento, o movimento e a montagem, compõem os elementos bási- cos dessa linguagem.

1.1 Plano e enquadramento – Setaro (2009) e Aumont (2009)

Alguns planos cinematográficos foram especialmente reservados para a utilização em minha investigação, pois, existem semelhanças imagéticas que esses produzem, tanto em linguagem cinematográfica quanto em língua de sinais. Esses planos tiveram sua denominação de acordo com Aumont (2009; p. 40): a) geral; b) conjunto; c) americano; d) aproximado; e) close up (Figuras

1 a 10). Abaixo, apresento uma definição geral de cada um deles:

a) Plano Geral – traz uma visão geral que procura ambientar o especta- dor ao lugar em que a cena acontece. Em língua de sinais, da mesma forma, existem maneiras de se descrever o local em que se transcorre a narrativa como, por exemplo, uma imagem de um homem em uma praia deserta to- mada do alto, em que o homem figura apenas como uma pequena imagem inserida em um vasto contexto, dando elementos para que o espectador veja, crie ou deduza situações ou sentimentos, que vão se modelando, na medida em que as tomadas se aproximam, e os planos mais detalhistas vão sendo uti- lizados, possibilitando a condução do olhar do espectador, pelo diretor, que age como narrador. As Figuras 01 e 02, a seguir, ilustram esse plano.

Figura 1 – Exemplo de Plano Geral segundo a linguagem cinematográfica

Figura 2 – Exemplo prático de Plano Geral segundo a língua de sinais

b) Plano Conjunto – também traz uma visão geral, mas com um deta- lhe: nesse plano, procura-se ambientar o espectador ao lugar em que a cena acontece, mas de uma forma um pouco mais detalhada, na medida em que o personagem principal da narrativa encontra-se focado mais próximo. Em lín- gua de sinais, da mesma forma, há como fazer essa descrição e, admitindo-se a narrativa anterior de um personagem humano em uma praia, por esse plano, então, ele seria representado em tamanho aproximado da tela com a praia ao fundo. As Figuras 03 e 04, abaixo, ilustram esse plano, segundo a linguagem

cinematográfica e conforme a língua de sinais.

Figura 3 – Exemplo de Plano Conjunto segundo a linguagem cinematográfica

Plano Geral

No documento Estudos da Língua Brasileira de Sinais I (páginas 183-186)