Figura 8 – Exemplo prático de Plano Aproximado segundo a língua de sinais
e) Plano Close Up – Nesse tipo de plano, o enquadramento focaliza detalhes de pessoas ou objetos com a intenção de ressaltar as emoções do personagem. Em língua de sinais, existem também maneiras de se produzir esse plano que, seguindo a narrativa do astronauta que segurava uma garrafa, demonstraria a forma da garrafa e seu movimento, e ainda, o beijo que o gênio da garrafa lhe dera ao ser libertado. As Figuras 09 e 10 ilustram esses
planos, abaixo:
Figura 9 – Exemplo de Plano Close Up na linguagem cinematográfica
Figura 10 – Exemplo prático de Plano Close Up segundo a língua de sinais
Plano Aproximado
Plano Close up Plano Close up
Da forma como foi exposta anteriormente, seguindo a sequência de pla- nos, desde o Plano Geral ao Plano Close up, ou seja, do mais abrangente ao
mais próximo, a narrativa teria se iniciado com o personagem inserido em um grande cenário com a tomada de toda a praia deserta no Plano Geral para ir se aproximando dos personagens, objetos e detalhes imagéticos até o Plano
Close up, sendo que, à medida que esses planos iriam se tornando mais próxi-
mos, mais detalhistas seriam as fases da narrativa. Nesse caso, o astronauta na praia inteira, grande e deserta, depois o astronauta olhando à sua volta com as ondas do mar ao fundo, corte temporal para o passado onde um grupo de astronautas e profissionais o teriam preparado para a viagem que foi terminar na praia; em seguida, o astronauta segurando uma garrafa, de onde saía um gênio em forma de fumaça, a garrafa se movimentando na areia ao ser jogada pelo astronauta assustado com a fumaça e, por fim, repetindo-se outro Plano
Close up, a tomada do beijo do gênio e do astronauta.
Em outra narrativa como a de bangue-bangue, por exemplo, poderia ser feita a ambientação inicial, mostrando as ruas de uma cidade empoeirada de casas de madeira, detalhando, em seguida, para o personagem em seu cavalo, depois, alguns detalhes de suas expressões faciais e sua vestimenta, objetos (chapéu, charuto, revólver etc.), que pudessem levar o espectador a concluir sobre as intenções ou mesmo sobre o caráter do personagem e o clima da situação narrada.
Por meio dos planos mais próximos (mais detalhados), até mesmo sen- timentos como o amor, o medo ou a raiva poderiam ser demonstrados, tanto em linguagem cinematográfica quanto em língua de sinais. Por outro lado, em ambas as formas de linguagem, se o personagem fosse mostrado estático e sem expressões, dificilmente algum significado poderia ser tirado da cena apenas pelas características imagéticas da mesma.
Concluindo, tem-se que, em todos os exemplos, um personagem mos- trado à distância em um Plano Geral ou Plano Conjunto, certamente, não tem a mesma precisão de significância sobre os seus sentimentos do que quando são mostrados detalhes de seu rosto ou olhos.
Ao avaliar esses recursos narrativos do cinema e da língua de sinais, recorri às propostas de Bahan (2007) e de Betts (2007) sobre cinema e língua de sinais, as quais, por sua vez, têm me possibilitado desenvolver minhas ideias sobre as narrativas das fábulas e suas possíveis produções e traduções, adicionan- do, por fim, os conceitos propostos por Baker (1992) dos três tipos de textos (expressivo, operativo e informativo) que, em língua de sinais, parecem depen- der fundamentalmente da capacidade do usuário de utilizar recursos narrativos imagéticos de movimento e expressões corporais e faciais em sua produção.
2 Planos em língua de sinais
Na produção em língua de sinais brasileira, a ocorrência de formação de planos pode ser facilmente observada. À categorização adotada por Aumont (2009: 40) dos planos da linguagem cinematográfica, acrescentei traduções li- vres em forma gráfica que, a meu ver, podem ajudar os surdos a visualizarem do que se trata, evitando a planificação e a falta de sentido que a narrativa pu- ramente lexical proporciona, por não possibilitar a “visualização” da língua. Essas traduções estão demonstradas nos primeiros quadros das figuras 11 a 14 para os planos e, daí em diante, até a figura 27.
2.1 Plano Geral
Um exemplo de produção em plano geral em língua de sinais é aquela que eu denominaria “puramente lexical” ou, como é popularmente mais conhe-
cida, “português sinalizado”. Essa seria a denominação de um caminho longo e
curvilíneo por meio de adjetivos, por exemplo, “caminho longo cheio de curvas” e
a utilização de expressões faciais, classificadores e movimentos corporais para demonstrarem um caminho longo e curvilíneo (Figura 11).
Figura 11 – Descrição do Plano Geral segundo a língua de sinais 2.2 Plano Conjunto
Um exemplo de produção em plano conjunto em língua de sinais poderia ser a utilização de expressões faciais, classificadores e movimentos corporais associados aos sinais, demonstrando árvores passando rápidas por alguém em um caminho, ou a afirmação de que algo ou um grupo de personagens estava sendo negado. Note-se, nesse caso, que foi utilizado o mesmo exemplo de “longínquo” da figura 11. No entanto, naquele caso, o corpo do utente
PLANO GERAL LONGÍNQUO CAMINHO
está inclinado para fora da cena e, no exemplo da figura 12, o corpo do utente está inclinado para dentro da cena, fazendo uma composição mais detalhada e “menor” da narrativa (figura 12).
Figura 12 – Descrição do Plano Conjunto segundo a língua de sinais 2.3 Plano Americano
Um exemplo de produção em plano americano em língua de sinais po- deria ser feito a partir da utilização de expressões faciais, classificadores e mo- vimentos corporais associados aos sinais, demonstrando a linha de chegada de uma corrida, por exemplo, na qual, estão presentes a tartaruga, desdenhan- do de algo e mostrando suas patinhas, e a lebre zangada e mostrando suas patinhas, tal como está ilustrado na figura 13, em seguida:
Figura 13 – Descrição do Plano Americano segundo a língua de sinais 2.4 Plano Aproximado
Um exemplo de produção em plano aproximado em língua de sinais po- der ser conseguido a partir da utilização de expressões faciais, classificadores e movimentos corporais associados aos sinais, demonstrando o momento de
PLANO
CONJUNTO NEGAÇÃO VELOCIDADEÁRVORES EM LONGÍNQUO
PLANO
uma surpresa ou de raiva de um personagem ou a figura do narrador dizendo algo (figura 14).
Figura 14 – Descrição do Plano Aproximado segundo a língua de sinais 2.5 Plano Close Up
Um exemplo de produção em plano close up em língua de sinais poderia
ser executado a partir da utilização de expressões faciais, classificadores e movimentos corporais associados aos sinais, demonstrando o momento de aproximação máxima da linha de chegada por parte do vencedor de uma corrida, os olhares de animais se entreolhando ou o momento de surpresa de um personagem (Figura 15).
Note-se, neste caso, que foi utilizado o mesmo exemplo de “surpresa” da figura 13. No entanto, naquele caso as patinhas do personagem estão de- monstradas pelo utente compondo a cena em plano americano (aproximada- mente a partir do joelho) e, no exemplo da figura 14, o corpo do utente está demonstrando apenas a expressão facial de “surpresa” do personagem, sem as patinhas, caracterizando desta forma uma cena com composição bem mais detalhada e “menor”, da narrativa (Figura 16).
Figura 15 – Descrição do Plano Close Up segundo a língua de sinais
PLANO
APROXIMADO SURPRESA RAIVA NARRADOR
PLANO
3 Conclusão
Este artigo procura contribuir para a melhoria da educação, atuando principalmente junto a professores e intérpretes surdos ou ouvintes, para que possam fazer uso de produções linguísticas com teor imagético acentuado. Ao utilizarem esse recurso, isso pode possibilitar uma melhor compreensão dos conteúdos programáticos ensinados nas escolas, a fim de que os surdos possam se desenvolver cognitivamente de uma forma melhorada e, conse- quentemente, desenvolver um protagonismo de sua própria trajetória como cidadãos, não mais relegados à categorização secundária na sociedade, sem que para isto tenha que se submeter a um processo educacional que signifique sacrifícios dolorosos.
Referências
AUMONT, Jacques et al. A estética do filme, tradução Marina Appenzeller, Campinas, SP:
Papirus Editora. 7. ed. 2009. ISBN 85-308-0349-3.
BETTS, Wayne Jr. Deaf Lens. Final work presented in the class of Visual Literature from Ben Bahan. Gallaudet University. 2007.
PIMENTA, Nelson. Seis Fábulas de Esopo em LSB. vol. 1. Rio de Janeiro RJ: Editora LSB Vídeo, 2002, livro digital em DVD.
SETARO, André. Como o cinema “fala”. Disponível em: <http://www.coisadecinema. com.br/matArtigos.asp?mat=1436>. (acesso em 25/mar/2009).