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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.2.2 DESAFIOS À SUSTENTABILIDADE

A partir do final do século XX, são visíveis as iniciativas de diversos atores públicos e privados, do cenário nacional e internacional, no sentido de disseminar a ideia de sustentabilidade e incorporar seus princípios às práticas políticas, em especial, aos países emergentes. Manter o ritmo de crescimento econômico, respeitando as imposições ecológicas tornou-se o grande obstáculo a ser superado pelos que reconheceram, tardiamente, a condição finita dos recursos naturais. Se por um lado, a consciência da finitude dos recursos naturais introduz como premissa básica a “sustentabilidade” do comportamento econômico e social do homem, por outro, exige que sejam implantadas medidas de controle e de ordenamento deste mesmo comportamento, no intuito de evitar uma crise ecológica e ambiental de dimensões desconhecidas (MILANI, 1999b).

A adoção de medidas mitigadoras, por si só, tem-se mostrado insuficiente para reduzir a magnitude dos impactos negativos sofridos pelo planeta terra. O modelo de desenvolvimento hegemônico, que prioriza os interesses econômicos em detrimentos dos direitos sociais e ambientais, dificulta, ainda mais, as tentativas de reverter a crise socioambiental instalada.

A sensação de impotência diante do caos social e ambiental que tem impactado negativamente o planeta, como um todo, desde a segunda metade do século passado, tem mobilizado atores sociais e institucionais que questionam a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento econômico que estimula o consumismo e a exploração dos recursos naturais não renováveis.

Segundo Camargo (2002), desde a década de 1960 movimentos estudantis e hippies chamavam a atenção para os riscos provocados por um modelo de desenvolvimento que não considerava os limites dos recursos naturais, na mesma época, intelectuais e especialistas, não ecologistas, preocupados com o destino do planeta terra, passaram a discutir formas conciliares de desenvolvimento com preservação de recursos naturais, essa iniciativa deu origem ao Clube de Roma, entidade que em 1972, publicou um importante documento denominado The Limits To Growth - Os Limites para o Crescimento – que provocou um debate mundial a respeito da relação entre sustentabilidade e questões como: crescimento populacional, crescimento industrial, insuficiência da produção de alimentos e, esgotamento dos recursos naturais, para o alcance da sustentabilidade.

No mesmo ano, 1972, em Estocolmo na Suécia ocorre a I Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, esta conta com a participação de 113 países, e apresenta como resultado o documento intitulado Declaração de Estocolmo que versa sobre educação ambiental e estabelece um plano de ação para o meio ambiente. Responsável por importantes recomendações sobre a forma com que os governos deveriam tratar da questão do meio ambiente e do desenvolvimento, entre os ganhos proporcionados pelo referido evento destaca- se a criação das avaliações de impacto ambiental, instrumento que tem como objetivo resguardar as reservas naturais de forma global, vale ressaltar que no Brasil este só foi oficializado em 1986, através da resolução CONAMA nº 1.

Em 1974, em Haia na Holanda, ocorre o I Congresso Internacional de Ecologia, neste evento é produzido o relatório que alerta sobre a redução da camada de ozônio e as graves consequências deste processo para a humanidade, nove anos depois, em 1983, cria-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD – liderada pela ministra Gro Harlen Brundtland, a referida comissão propõe-se a formular um método interdisciplinar para abordar as preocupações legítimas da humanidade (CMMAD, 1991). Em abril de 1987, esse objetivo concretizou-se a partir do documento denominado Our Commom

Future - Nosso Futuro Comum – que ficou conhecido mundialmente como Relatório de

Brundtland que propõe a definição de desenvolvimento sustentável mais aceita e citada até os dias atuais. “A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável, de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também as suas” (CMMAD, 1991, p. 9).

No ano de 1992, no Rio de Janeiro, Brasil, ocorreu a II Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92 – que teve como objetivo maior verificar as principais mudanças ambientais ocorridas desde a Conferência de Estocolmo e debater a possibilidade

de associar países desenvolvidos e emergentes em prol da busca do equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais e, ambientais. Como produtos da referida conferência têm-se os seguintes documentos: Convenção sobre Mudanças Climáticas; Convenção sobre a Diversidade Biológica; Protocolo de Florestas; Convenção sobre Debate a Desertificação e Agenda 21 Global. É importante salientar que, a Rio 92, reuniu para discutir o tema Meio Ambiente e Desenvolvimento chefes de Estado e de Governo, sociedade civil e organizações não governamentais de centenas de países.

Em 2002 na cidade de Johannesburgo, África do Sul, realizou-se a III Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), para discutir os desafios ambientais do planeta – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS), ou Rio + 10 - tendo ficado assim conhecido por ter ocorrido após 10 anos da Rio 92, este evento buscou identificar os avanços obtidos desde a Rio 92 e concluiu que pouco havia sido feito e, que a injustiça social só ganhava espaço diante do fenômeno da globalização e suas mazelas sociais e ambientais, reforçadas pela falta de compromisso dos governos, das empresas e da própria sociedade civil organizada. Neste evento, foram produzidos dois documentos oficiais, a Declaração Política e o Plano de Implementação, estes alertaram para a urgência em erradicar a pobreza, equilibrar os padrões de produção e consumo e proteger os recursos naturais (CAMARGO, 2004).

Apesar dos esforços envidados e das conquistas obtidas, em especial no que se refere ao maior nível de conscientização quanto ao tipo de desenvolvimento que se promove e suas consequências, a Rio + 10 reavalia a lacuna existente entre o debate conceitual e a prática do desenvolvimento sustentável, com foco na importância da implementação da Agenda 21 para o desenvolvimento sustentável em escala local, regional, nacional e internacional.

A preservação dos recursos naturais, o respeito à diversidade, a promoção da cidadania ativa, o acesso à educação, à saúde, ao lazer, e às demais formas de desenvolvimento humano consistem nos pilares que embasam a busca incessante por uma sociedade mais justa e independente. Percorrer este “novo caminho” exige disposição para enfrentar forças políticas internacionais, é preciso redefinir estruturas, relações e adotar ações que tenham impacto direto na atividade humana que impacta e até inviabiliza os diversos processos ambientais (SIENA, 2002).

O desenvolvimento sustentável, nesta perspectiva, surge como uma alternativa para atender às demandas reprimidas pelo modelo de desenvolvimento vigente, esse deve se pautar na busca da harmonia entre crescimento econômico, promoção da igualdade social e preservação do meio ambiente, garantindo que as necessidades das atuais gerações sejam

atendidas sem comprometer as condições de vida das gerações futuras. Vale ressaltar, que o paradigma dominante caracteriza forte obstáculo ao alcance dos objetivos do desenvolvimento sustentável.

As estratégias e ações que levam ao desenvolvimento sustentável devem apresentar características como: (i) a compreensão conjunta de todas as dimensões (econômica, social, política e ambiental) como atributo de uma visão sistêmica e maior possibilidade de sustentabilidade; (ii) visão e capacidade de análise e identificação das prioridades imediatas e futuras; e, (iii) descentralização e participação social (CASAROTTO FILHO e PIRES, 2001). Assim sendo, a base estratégica para o acesso à alternativa vislumbrada no desenvolvimento sustentável passa a ser a democratização das decisões públicas e o controle social do Estado, tendo em vista que os interesses dos cidadãos não se restringem aos aspectos econômicos nem se situam, apenas, no momento presente, o que viabiliza a adoção de outro tipo de desenvolvimento.

A seção a seguir trata do desenvolvimento sustentável no âmbito local, espaço de investigação deste trabalho. Para desenvolvê-lo, aprofundou-se o estudo à luz de autores como Chiasson (2003) e Buarque (2004) que alertam para os limites impostos à obtenção de êxito do desenvolvimento sustentável, oriundos de variáveis exógenas, ao tempo em que asseveram que a ênfase no local agora passa a ser estratégica e, dependem em larga escala da efetivação de parcerias, abertura de canais de participação cidadã e desenvolvimento do senso de co-responsabilidade social.