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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS INOVADORAS DE CUNHO DEMOCRÁTICO E

4.2.1 CATEGORIA 1 Ampliação do repertório e novos conteúdos das políticas públicas

4.2.1.1 Subcategoria 1.1 Novos temas e conteúdos substantivos

Tendo como foco solucionar problemas relacionados à discriminação de cunho econômico na configuração do espaço urbano do município, a Secretaria de Planejamento do Município de Campina Grande, PB – SEPLAN, com base em instrumentos legais, tem desenvolvido programas voltados para a inclusão sócioespacial e a melhoria da qualidade de vida dos moradores do referido município.

Ao submeter o Relatório de Gestão da SEPLAN ao método de análise de conteúdo, foi possível identificar frases modais que expressam a importância da legislação que embasa as ações voltadas para o planejamento urbano. O que está explicitado na frase modal a seguir.

“O Estatuto das Cidades, estabelecido pela Lei federal 10.257/2001, estabelece as novas bases de redefinição da Política Urbana, face ao crescimento desordenado das cidades brasileiras nas últimas décadas (...) foi a partir desse novo ordenamento jurídico que tivemos a atualização do Plano Diretor do Município, iniciado em 2005 e concluído em 2006, adequando-o ao novo Estatuto das Cidades”.

(Relatório de Gestão da SEPLAN, 2005-2008)

A frase modal acima destacada indica que esforços têm sido envidados para que as políticas públicas do município sejam planejadas e desenvolvidas com base nos pressupostos legais que sustentam a possibilidade de tornar as cidades mais inclusivas. Com o Estatuto das Cidades, os municípios brasileiros com mais de 20.000 habitantes ou, com potencial turístico comprovado, foram obrigados a elaborar ou rever seus planos diretores de forma a adequá-los à nova proposta de “pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade” e, a “garantia do direito a cidades sustentáveis”. Neste sentido e, através de um processo participativo, o município de Campina Grande, PB, através da Secretaria de Planejamento – SEPLAN adequou o plano diretor da cidade às novas exigências legais. Como mostra a seguinte frase modal.

“Caracterizado por um processo participativo, composto por coordenação compartilhada, discussões públicas, segmentos sociais e territoriais, além de audiências públicas, a realização da Revisão do Plano Diretor irá contribuir para a redução das desigualdades sociais, redistribuindo os benefícios que a urbanização pode trazer, garantindo o acesso a terra urbanizada e regularizada, proporcionando a todos os cidadãos o direito à moradia e aos serviços urbanos”.

(Relatório de Gestão da SEPLAN, 2005-2008)

O capítulo III do Estatuto das Cidades trata dos temas qualidade de vida, justiça social e desenvolvimento das atividades econômicas na cidade. Enquanto no capítulo IV, como forma de respaldar o capítulo anterior, propõe-se a gestão orçamentária participativa. Ao buscar cumprir tais orientações, o poder público municipal contribui para o fortalecimento dos laços entre Estado e sociedade, aprofunda o processo democrático-participativo e, quiçá passa a produzir, em parceria com a sociedade, políticas públicas efetivas no combate aos problemas urbanos. A frase modal a seguir reflete a importância desse processo para o desenvolvimento sustentável do município.

“(...) é desta forma, um importante instrumento político para a construção da cidade democrático-participativa e para que o direito a ela possa tornar-se uma realidade para todos, através de propostas e diretrizes para a Política Municipal de Desenvolvimento Urbano, em itens como saneamento, habitação, transporte, desenvolvimento econômico, leitura sócio-territorial rural, entre outros”.

Tendo como pano de fundo o Estatuto das Cidades e, por conseguinte, os instrumentos urbanísticos propostos pelo mesmo, a Prefeitura Municipal de Campina Grande, PB, através da Secretaria de Planejamento – SEPLAN, implementou na gestão 2005-2008, o “Programa Casa da Gente”, que busca minimizar os inúmeros problemas que atingem os excluídos do direito à cidade, através da construção de conjuntos habitacionais. A frase modal a seguir retrata a significância do referido programa para a subcategoria em análise:

“Importante instrumento na redução das desigualdades sociais e na melhoria na qualidade de vida da população, o Programa Casa da Gente é mais uma iniciativa da Prefeitura de Campina Grande que vem contribuir de forma decisiva na diminuição do déficit habitacional do Município”.

(Relatório de Gestão da SEPLAN, 2005-2008)

O “Programa Casa da Gente”, segundo dados da SEPLAN, deverá diminuir em 40%, até 2008, o déficit habitacional do município de Campina Grande, PB, que no ano de 2005 já se encontrava em torno de 16.000 moradias. É importante ressaltar que ao tempo que atinge a meta pré-estabelecida o referido programa se articula com outras linhas de intervenção urbana para alcançar um propósito maior, ou seja, contribuir para a redução das desigualdades sociais e promover a qualidade de vida da população.

A Secretaria de Planejamento – SEPLAN, no período foco deste estudo, implementou, também o “Programa Vias Abertas” que se propõe a tornar a cidade mais justa e democrática, através do planejamento sistemático e integrado do sistema viário urbano. Na prática, o referido programa tem feito muito mais que facilitar a vida dos que dependem de transporte público, já que ao abrir, prolongar e melhorar a malha viária da cidade tem cumprido um papel social relevante, principalmente, ao viabilizar o acesso a serviços e equpamentos públicos antes inacessíveis aos que vivem na periferia da cidade. A frase modal abaixo reflete o objetivo inicial do “Programa Vias Abertas”.

“O Vias Abertas é parte do cronograma de execução da implantação do Sistema Integrado de Transportes de Campina Grande, como instrumento para diminuir o custo operacional do sistema de transporte e viabilizar uma redução no valor da passagem”.

(Relatório de Gestão da SEPLAN, 2005-2008)

A superação do objetivo inicial do “Programa Vias Abertas” demonstra que, a partir de uma concepção participativa, o mesmo pôde alargar seu escopo englobando outros temas passíveis de intervenção pública.

Diante do exposto, pode-se considerar que, segundo a teoria que trata da ampliação do repertório e novos conteúdos das políticas públicas, os programas “Casa da Gente” e “ Vias Abertas”, implementados no município de Campina Grande, PB, na Gestão 2005-2008, atendem aos pressupostos da reforma urbana e do direito à cidade e, portanto, podem ser classificados na sub- categoria ora trabalhada.

A seguir, serão descritas e analisadas as frases modais identificadas, nos textos oriundos das entrevistas realizadas com os atores institucionais responsáveis pelos programas “Casa da Gente” e “Vias Abertas”, no intuito de identificar a presença ou ausência de frases modais que indiquem a relação dos referidos programas com esta subcategoria e, portanto, confirme, ou não, as informações encontradas nos Relatórios de Gestão da SEPLAN e nos Relatórios Anuais dos programas em questão.

Um dos fatores decisivos para a formulação e implementação do “Programa Vias Abertas” é a relevância dos problemas acarretados pelo crescimento urbano desordenado. O município de Campina Grande, PB, por ter uma localização privilegiada é a rota comum dos que trafegam entre o litoral e o sertão, e, entre o Brejo e o Cariri paraibano. Sendo o centro da cidade, o principal eixo de tráfego desses veículos, nos últimos anos, como resultado do aumento da frota de veículos, a população, em especial, os moradores do centro da cidade, vêm reivindicando junto ao poder público municipal providências no que diz respeito a problemas como: congestionamento; poluição sonora e ambiental. No sentido de atender à demanda da sociedade e, solucionar problemas já detectados pelos estudos urbanísticos realizados pela SEPLAN, a Prefeitura Municipal de Campina Grande, PB, formulou e implementou o “Programa Vias Abertas” que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida da população, através da criação de anéis viários, e melhoria da malha viária do município, o que, proporciona vias alternativas ao tráfego dos moradores da cidade e dos que por ali passam para atingir seus destinos.

A perspectiva de reforma urbana e de direito à cidade permeia todos os conteúdos relativos ao “Programa Vias Abertas”, o que se reflete na percepção dos atores institucionais quanto ao caráter abrangente do referido programa. Conforme frase modal a seguir.

“O programa Vias Abertas, vai mais além, ele não apenas desafoga o centro da cidade (...) na hora que abre uma rua, abre uma avenida, todos são beneficiados, o fluxo melhora em todos os sentidos. Tem locais que foram beneficados pelo Vias Abertas onde antes não entrava uma ambulância do SAMU, até a própria polícia não tinha como chegar lá para oferecer segurança aquela comunidade carente, tudo isso chegou com o Vias Abertas, sem falar na valorização dos imóveis, com a abertura dos anéis viários”.

A percepção do ator institucional indica a incorporação de novos temas e conteúdos ao campo das políticas urbanas, ou seja, os mesmos acreditam que há uma relação direta entre o planejamento urbano e a melhoria das condições sociais da população local. Essa percepção é reforçada pela seguinte frase modal.

“O programa Casa da Gente foi concebido para atuar de forma integrada, porque não adianta simplesmente você construir uma casa no meio do nada, antes da casa ser projetada, tem que se pensar nas condições de vida do local aonde estas irão estar, tem que contruir ou reformar creches, escolas, postos de saúde e de polícia, planejar todo o esgotamento sanitário, a iluminação pública, ou seja, oferecer toda uma infraestrutura para que os cidadãos possam receber junto com suas casas equipamentos e, serviços públicos e, poderem viver de forma digna”.

(Entrevista 2)

Vale destacar que o que faz com que os programas “Casa da Gente” e “Vias Abertas” possam ser referenciados na categoria - Ampliação do repertório e novos conteúdos das políticas públicas, através da subcategoria - Novos temas e conteúdos substantivos, ora analisada é a própria dinâmica dos mesmos, pois apesar de tratarem de temas remanescentes, em seu bojo apresentam uma outra concepção do conceito de planejamento urbano, agora muito mais alinhado as necessidades da população e, portanto, capazes de conjugar elementos e impulsionar o desenvolvimento sustentável das cidades.