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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.2.1 DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE

O termo “sustentável” tornou-se um ponto nevrálgico para a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável. Superando a visão das abordagens de desenvolvimento convencionais, que limitavam o monitoramento do desenvolvimento a medidas econômicas, os teóricos que defendem o desenvolvimento sustentável se apoiam na interdisciplinaridade do tema para demonstrar que os objetivos econômicos serão, a partir de então, determinados pela capacidade de suporte dos ecossistemas.

Segundo Rodriguéz (2006), existem três níveis de sustentabilidade e cada um mostra um caminho a percorrer dependendo do que se pretende sustentar:

– Sustentabilidade Fraca – concepção neoliberal que privilegia o capital físico, podendo substituir o capital natural pelo físico dando ênfase a tornar sustentável o capital;

– Sustentabilidade Forte – concepção fundamentalista que acredita que somente a paralisação de qualquer exploração natural propiciará um desenvolvimento;

– Sustentabilidade Sensata – aqui se permite a exploração do capital natural, porém conhecendo-se os limites dos recursos, isto é, o natural é a base.

De acordo com o referido autor, o nível de sustentabilidade alcançado por um determinado sistema é uma consequência direta dos comportamentos estimulados pelo modelo de desenvolvimento que este adota.

Sachs (1993) corrobora com o exposto ao afirmar que ao se vislumbrar o desenvolvimento sustentável, é necessário adotar modelos de desenvolvimento que contemplem o caráter multidimensional da sustentabilidade, a figura 01, representa as cinco dimensões da sustentabilidade consideradas pelo referido autor.

FIGURA 01 – As cinco dimensões da sustentabilidade

Fonte: Sachs (1993)

Dimensão Econômica – A sustentabilidade do desenvolvimento será dada pela eficiência do modelo em garantir um crescimento econômico que atenda ao dinamismo do mercado e possibilite a incorporação do maior número de beneficiários aos produtos desse crescimento de forma a reverter às disparidades no padrão de distribuição de renda.

Dimensão Ecológica – A utilização de técnicas e processos de produção comprometidos com a preservação e a recuperação da natureza leva ao controle sobre ações do homem, poluentes e devastadoras, em relação ao meio ambiente.

Dimensão Social – A equidade entre os cidadãos, principalmente do ponto de vista da satisfação das necessidades básicas, diminuição das disparidades na distribuição das riquezas.

Dimensão Espacial – Propõe a redução da concentração nas grandes cidades, através da promoção do manejo sustentável, incentivo à industrialização descentralizada, geração de tecnologias limpas e preservação da biodiversidade.

Dimensão Cultural - Reorienta os processos de desenvolvimento, na direção de um modelo ancorado no respeito aos padrões culturais vigentes, nas práticas historicamente produzidas que se constituem parte importante da identidade de um povo e de uma sociedade (SACHS, 1993).

Diante da complexidade que envolve o tema sustentabilidade, pode-se afirmar que a priorização de qualquer uma das dimensões acima elencadas leva a distorções no processo de avaliação devido à interdependência e influência mútua que permeiam a relação entre as dimensões da sustentabilidade.

Autores como Darolt (2000); Costabeber (1989) e Camino e Muller (1993) corroboram com esse entendimento ao analisarem, em seus trabalhos, a sustentabilidade através de múltiplas dimensões. Os mesmos ainda advertem que, o contexto, no qual se desenvolve a investigação, e o objeto de estudo influenciam a decisão de incorporar ou não todas as dimensões da sustentabilidade. Assim sendo, pode-se afirmar que a amplitude do conceito de sustentabilidade lhe concede um caráter variável, ou seja, dependente dos interesses e posicionamentos dos atores sociais e institucionais, e, portanto, sujeito a ambiguidades e dilemas quanto ao seu uso e significado. Corroborando com o exposto e ao mesmo tempo chamando a atenção para a importância da análise multidimensional da sustentabilidade Marzall e Almeida (2008) asseguram que para abordar o tema sustentabilidade, no mínimo, as dimensões econômicas, ambiental e social precisam ser consideradas.

Além de considerar as múltiplas dimensões da sustentabilidade, é fundamental compreender a relação direta entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Ao buscar o entendimento do termo meio ambiente passa-se inevitavelmente pelo resgate do seu aspecto sistêmico, o que leva ao reconhecimento de que todos fazem parte da cadeia trófica e, portanto, impactam e são impactados quando desrespeitarem os limites impostos pela própria vida. Neste sentido, o homem deixa de ser visto como um mero consumidor dessa cadeia, já que seu comportamento tem causado danos irreversíveis aos recursos naturais.

Diante da concentração de esforços teóricos e metodológicos no intuito de disseminar a importância do desenvolvimento sustentável, o meio ambiente destaca-se como importante impulsionador da discussão, debate e teorização, tendo em vista os impactos que vem sofrendo no decorrer de décadas de exploração e das consequências drásticas que têm colocado em risco a própria vida humana, impondo uma mudança radical da relação produção-consumo que ao tempo que se moderniza para gerar riqueza tem atraído degradação ambiental, miséria e violência de todos os tipos, principalmente, nos países periféricos.

O direito ao meio ambiente saudável e equilibrado é previsto na Constituição de 1988 como um direito fundamental imanente à vida das presentes e futuras gerações (caput do art. 225), e determinado como princípio geral da ordem econômica brasileira (art. 170, inc. VI, da CF). Com efeito, fazer valer este direito fundamental constitui-se num grande desafio para o

poder público e para sociedade brasileira, principalmente, pela relação predatória, estabelecida historicamente, entre ser humano e natureza. Portanto, qualquer que seja a estratégia adotada no intuito de superar a crise socioambiental deve apoiar-se nos novos valores disseminados pelo conceito de desenvolvimento sustentável. No subtópico que se segue iremos tratar da reunião de esforços que tem culminado na criação de instrumentos que se propõem a mensurar a sustentabilidade do desenvolvimento.

Os desafios a serem superados pelos que defendem um modelo de desenvolvimento que reconhece a inerente condição de finitude dos recursos naturais e a insustentabilidade da lógica destrutiva da acumulação capitalista são muitos e passam, inevitavelmente, pela mudança de postura dos governos, dos produtores e dos consumidores, a subsessão que se segue aborda essa temática.