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DESAPROPRIAÇÃO RURAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA

3 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

3.8 DESAPROPRIAÇÃO RURAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA

Marquesi (2001) explica que essa modalidade de desapropriação foi eleita pelo legislador como um dos instrumentos básicos para a consecução dos objetivos da reforma agrária.

Para Rocha (1992) a reforma agrária visa estabelecer um sistema de relações entre o homem, à propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento do país com gradual extinção do minifúndio e do latifúndio.

O Estatuto da Terra, em seu artigo 1612 destaca que a finalidade da reforma agrária é estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social.

Barros (1998) explica que a desapropriação rural para fins de reforma agrária se tornou possível através do art. 147, 1º, da Constituição Federal de 1946, pela redação que lhe deu a Emenda Constitucional nº 10, de 11 de outubro de 196413. E a implementação desse dispositivo veio com o artigo 20 do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964)14.

10 § 4º. É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano

diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

11 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel

rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

§ 1º. As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

§ 2º. O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. (...)

12 Lei 4.504/64, Art. 16. A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o homem,

a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, oi progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio.

13 Emenda Constitucional nº 10, de 11.10.04: Art. 5º Ao art. 147 da Constituição Federal são

acrescidos os parágrafos seguintes: 1º Para os fins previstos neste artigo, a União poderá promover desapropriação da propriedade territorial rural, mediante pagamento da prévia e justa indenização em títulos especiais da dívida pública, com cláusula de exata correção monetária, segundo índices

Como a desapropriação mediante prévio e justo pagamento em dinheiro era difícil, através da Emenda Constitucional nº 10/64, a União passou a ser autorizada a promover a desapropriação mediante prévia e justa indenização em títulos especiais da dívida pública, hoje conhecidos como títulos da dívida agrária. (FERREIRA, 2000).

A desapropriação rural tem o objetivo de permitir a perda da propriedade de imóveis rurais para fins de reforma agrária. A Constituição de 1988, no artigo 184, sob o título “Da Política Agrícola e Fundiária e Da Reforma Agrária”, prevê que a indenização será paga em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, sendo que as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. Possui disciplina na Lei 8.629/1993, e ainda na Lei Complementar 76/1993 e será objeto de estudo em item seguinte.

A desapropriação para reforma agrária incide sobre imóveis rurais que não estejam cumprindo sua função social, por isso, é denominada desapropriação- sanção.

O cumprimento da função social da propriedade rural requer o atendimento dos seguintes requisitos, previstos no art. 186 da Constituição Federal e regulados pela Lei 8.629/1993: a) aproveitamento racional e adequado; b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; c) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; e d) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

A Lei 8.629/93 (art. 6º) considera propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.

fixados pelo Conselho Nacional de Economia, resgatáveis no prazo máximo de vinte anos, em parcelas anuais sucessivas, assegurada a sua aceitação a qualquer tempo, como meio de pagamento de até cinqüenta por cento do Imposto Territorial Rural e como pagamento do preço de terras públicas [...].

14 Art. 20. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder Público, nas áreas prioritárias, recairão

sobre: I - os minifúndios e os latifúndios; II – as áreas já beneficiadas ou a serem por obras públicas de vulto; III – as áreas cujos proprietários desenvolverem atividades predatórias, recusando-se a pôr em prática normas de conservação dos recursos naturais; IV – as áreas destinadas a empreendimentos de colonização, quando estes não tiverem logrado atingir seus objetivos; V – as áreas que apresentem elevada incidência de arrendatários, parceiros e posseiros; VI – as terras cujo uso atual não seja, comprovadamente, através de estudos procedidos pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, o adequado à sua vocação de uso econômico. (BARROS, 1998, p. 47-48).

Quanto aos requisitos para ocorrer esta desapropriação, Alexandre de Morais (2005) enfatiza que são exigidas as seguintes condições: a) imóvel que não estiver cumprindo sua função social; b) prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária; c) indenização em dinheiro das benfeitorias úteis e necessárias; d) edição de decreto que declare o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária; e e) isenção de impostos federais, estaduais e municipais para as operações de transferências de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. Segundo o autor supramencionado (MORAES, 2005), a Constituição garantiu um tratamento constitucional especial à propriedade produtiva, vedando-se sua desapropriação e prevendo a necessidade de edição de lei que fixe requisitos ao cumprimento de sua função social. Neste diapasão, o enfoque do capítulo seguinte girará, justamente, em torno da possibilidade de desapropriação para reforma agrária da propriedade rural produtiva que não cumpre sua função social.

Destaca-se, por fim, que a pequena e a média propriedades rurais, cujas dimensões físicas ajustem-se aos parâmetros fixados em sede legal (Lei 8.629/1993, art. 4º, II e III), não estão sujeitas, em tema de reforma agrária, (CF, art. 184) ao poder expropriatório da União Federal, em face da cláusula de inexpropriabilidade fundada no art. 185, I, da Constituição da República, desde que o proprietário não possua outra propriedade rural.