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I.PROCESSO DA PESQUISA Introdução

Capítulo 1 – Roteiro

II.CENTRAR Capítulo 2 – Descobrir os próprios caminhos

1. Eu Pessoa – Já alguma vez? 2. Eu Educadora – Memórias

Capítulo 3 – Descobrir caminhos de outros

III.AGIR Capítulo 4 – Criar o caminho

IV.CELEBRAR O sentido do caminho

“Entre em si mesmo e examine as profundidades de que brota a sua vida. Neste manancial encontrará as respostas às suas perguntas. Tome-as como são, sem interpretações” – Rainer Maria Rilke.

Este capítulo, o meu referencial interno na pesquisa, é uma das respostas dadas neste trabalho a três desafios diferentes mas, aqui, também complementares: o desafio de revelar os interesses, motivações e descobertas que estão a montante do processo de investigação; o desafio de conciliar a dualidade dos papéis de observador e observado/objecto de observação; o desafio de não limitar a análise indutiva na escolha dos temas e, por isso, entrar no mundo dos sujeitos (de ir ao campo), sem nenhuma, ou quase nenhuma, revisão da literatura (Bogdan & Biklen, 2006, Martínez Salgado, 2006; Jaramillo, 2006b). Foi, por isso, composto com os saberes e sabores (conhecimentos extra-teóricos e empíricos), que resultaram dessa primeira fase do trabalho de campo64.

Dele também nasceram os temas que começaram por orientar a leitura dos autores e que depois (e numa perspectiva de ecologia de saberes), vieram a constituir as linhas de orientação da pesquisa – em função do seu desenho metodológico; em função da abordagem e observação da segunda fase do trabalho de campo.

É dos capítulos mais pequenos desta tese, mas, porque é resultado de um processo de busca interior, também é o que demorou mais tempo a redigir. Integra dois textos diferentes. “Eu Educadora – memórias”, de construção mais fácil, foi, como o nome indica, um trabalho feito a partir de uma selecção de recordações da minha vida de educadora. O outro, “Eu Pessoa – já alguma vez?”, de muito mais difícil construção, foi o primeiro de todos os textos públicos que escrevi. Parte das minhas histórias de vida e está escrito sob a forma de uma metáfora. Para explicar o que e como foi esse processo de criação, refaço algumas “folhas soltas” do meu diário da pesquisa:

Sobre as histórias de vida:

Preciso de muito tempo de “treino” (e coragem também) para ser capaz de deixar fluir o pensamento e escrever tudo aquilo que surge. Num percurso cheio de avanços e retrocessos, confronto-me com duas situações. Quando a auto-censura se instala, os resultados são repetitivos

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A razão por que nos dois textos deste capítulo, quando há alusão a alguns autores, não estão colocadas quaisquer referências bibliográficas. Quis manter na apresentação dos textos o mesmo princípio que norteou a sua redacção.

e “medrosos” – dão notícias do sabido, do já alcançado, não se aventuram em terrenos desconhecidos ou difíceis. A (minha) mente, por si só, é capaz de encontrar 1.000 explicações para evitar ir muito mais a fundo. É tão fácil enganar-nos(me) a nós(mim) mesmos(a)! Mas, quando me permito, timidamente, ouvir a mim mesma, os resultados começam a ser espelho da minha alma.

(...) Há dias em que as páginas escritas se sucedem umas às outras. Há dias em que é muito duro confrontar-me com as minhas sombras – e o estômago aperta. E, nesses dias, surge a dúvida: “Não estarei a exagerar? Não são todas as pessoas assim? Até parece que não sou uma pessoa normal”. Mas depois, e mais uma vez, confronto-me com a necessidade de fazer o que tantas vezes digo aos meus alunos: “Se queremos dar luz a um quadro, temos de lhe colocar a sombra. Temos de encarar as nossas Sombras para descobrir a nossa Luz”. Só me resta uma saída – continuar.

(...) Começo a ficar envolvida e comprometida com o que escrevo. Dou-me ao direito de chorar e rir.

Sobre a metáfora

Continuando a esquecer todas as leituras de autores, preciso escrever um texto sobre o tema do medo a partir das minhas histórias de vida. Devo recorrer a metáforas, à poesia, a desenhos. É-me sempre tão difícil começar uma nova etapa! E o pior é que preciso passar dos textos íntimos de descoberta e sofrimento para um texto de metáforas – e que vai ser tornado público!

(...) Dou-me muito tempo para incubação. Já que não me organizo por dentro, ponho em ordem o que está fora: arrumo prateleiras, reordeno a minha biblioteca, classifico dossiers... Os dias vão-se sucedendo e não acontece nada. Não consigo encontrar a ideia ou o fio condutor do trabalho. Os dias vão passando.

Quando já não sei mais como fazer, sento-me e releio, mais uma vez, as minhas histórias de vida e, simplesmente, sublinho o que considero serem as palavras e as ideias fundamentais. Organizo essas ideias e palavras em categorias, ordeno-as numa sequência que corresponda à minha experiência de vida e dou um título a cada uma delas. Procuro símbolos para cada uma das categorias: alguns, encontro-os nos meus textos; outros, vou buscá-los ao espaço da casa em que habito – a imagens, objectos, brinquedos... Começo a escrever o texto.

Mas nem todos os dias são dias de produção – preciso de tempo, de silêncio, de não ser interrompida... Algumas partes saem “a ferros” (há dias em que passo toda a tarde à volta de duas

páginas; às vezes até são mesmo dois parágrafos) – remoo e não avanço. Outras são escritas de um só fôlego.

Saiu aos arranques – como quem vomita. A imagem pode não ser muito bonita ou elegante, mas é a que vem. Não me lembro de um texto que me tivesse sido tão difícil organizar. Mas é o que consegui fazer até agora. A primeira leitura final é inquietante. Sinto que há ainda muito para fazer – está cheio de repetições e de ideias desorganizadas. Também acho que tem algumas coisas interessantes. Deixo, por isso, passar alguns dias antes de o voltar a ler. Dou-o também a ler a quem me pode ajudar.

Com a distância criada, a segunda leitura traz satisfação. Sinto que o trabalho, de facto, jorrou de dentro. É por isso que ele custou tanto. É o resultado de um processo muito longo. Ainda que não esteja completo, para já, está pronto.

Espero que façam sentido para quem as lê, como fizeram para mim depois de as ter escrito.

1. Eu Pessoa: Já alguma vez?

Ilustração II.1 – Os próprios caminhos. The Te of Piglet

Animal so shy and small, Dreaming you were Bold and Tall - You hesitate, all sensitive, Waiting for a chance to Live.

Time is swift, it races by; Opportunities are born and die... Still you wait and will not try -

A bird with wings who dares not rise and fly.

But that You you want to see Is not you, and will never be. No one else will ever do

The special things that wait inside of you.

You can be a guiding star,

If you make the most of Who You are. And the sensitivity

That you’re now ashamed to see Can be developed even more, So you can find the hidden doors To places no one’s been before. And the pride you’ll feel inside Is not the kind that makes you fall - It’s the kind that recognizes The bigness found in being Small.

Benjamin Hof