• Nenhum resultado encontrado

perguntas de investigação, o campo de criação e o processo da pesquisa.

EU – – OUTROS OUTROS – – COSMOS COSMOSCategorias de Análise

1. Criação do Desenho da Investigação As pessoas crescidas gostam de números Quando lhes falais de um novo

1.1 Os desafios da Complementaridade e da Pesquisa Colaborativa no contexto da Investigação Qualitativa

“Utilizamos a expressão investigação qualitativa como um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação que partilham determinadas características. Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização

de variáveis, sendo, outrossim, formuladas com o objectivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural. Ainda que os indivíduos que fazem investigação qualitativa possam vir a seleccionar questões específicas à medida que recolhem os dados, a abordagem à investigação não é feita com o objectivo de responder a questões prévias ou de testar hipóteses. Privilegiam, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação. As causas exteriores são consideradas de importância secundária. Recolhem normalmente os dados em função de um contacto aprofundado com os indivíduos, nos seus contextos ecológicos naturais” (Bogdan & Biklen, 2006:16).

Tendo definido como PROPÓSITO,não a busca de leis gerais, mas a inovação educativa

e didáctica, e, como PRESSUPOSTOS, (1) que o homem é um todo, (2) que a

subjectividade é uma característica essencial do comportamento humano, (3) que a realidade é múltipla e complexa, (4) que a conduta humana tem uma dimensão histórica e social e (5) que não há forma de fazer ciência, ou de evoluir cientificamente, sem pequenas ou grandes doses de criatividade capazes de romper com os paradigmas estabelecidos (Sousa Santos, 1988, 2002¸ Bohm & Peat, 1988, Patton, 2002; Morin, 2003; Sérgio, 2005), considerei que a INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA era o caminho

adequado para a realização desta pesquisa.

Assim, e porque esta metodologia se situa nos paradigmas sistémicos, ecológicos, da complexidade e da subjectividade (que entendem que o investigador faz parte do todo investigado) e permite a utilização de técnicas e procedimentos quantitativos e qualitativos diversos, fiquei também, e por inerência, colocada perante o PRIMEIRO

CONJUNTO DE DESAFIOS E REQUISITOS METODOLÓGICOS (Patton, 2002; Martínez Salgado,

1996; Castro, 1996; Bogdan & Biklenm 2006; Trigo et al, 2001; Murcia & Jaramillo, 2003; Bohm & Peat, 1988):

a) que considerasse as pessoas e os cenários da pesquisa dentro do seu próprio quadro de referência, numa perspectiva holística, como um todo integrado, não reduzidos a variáveis;

b) que, sob o pretexto da objectividade, não me quisesse separar dos factos e do investigado, pois, numa investigação educativa, a relação que se estabelece entre o investigador e o sujeito investigado tem repercussões decisivas sobre os resultados;

c) que fosse sensível aos efeitos que produzia sobre as pessoas que eram objecto do meu estudo;

d) que desse ênfase à validade na minha investigação.

Mas, além disso, a opção por uma metodologia qualitativa desencadeou duas outras escolhas: a do desenho da Complementaridade e a do processo da Pesquisa Colaborativa.

• Complementaridade

“Chamamos complementaridade à possibilidade que o investigador tem de reunir de forma inclusiva várias perspectivas e métodos de investigação com o propósito de compreender melhor um fenómeno social. Deste modo, considera o referido fenómeno da forma mais próxima possível da realidade vivida pelos sujeitos nele imersos e pressupõe que tal compreensão não se alcançaria na sua totalidade se a investigação se restringisse a pequenas observações por parte do investigador” (Jaramillo, 2006b:viii).

A opção pelo desenho da COMPLEMENTARIDADE também me colocou, por sua vez, e

enquanto investigadora, perante um NOVO PAR DE DESAFIOS (Jaramillo, 2006b):

a) que desenvolvesse um estudo impregnado de interculturalidade epistémica que se pudesse sobrepor à monocultura do saber;

b) que não investigasse por meio de um desenho pré-estabelecido, mas que criasse o desenho enquanto investigava.

O desenho criado no estudo acabou, assim, por ser composto por cinco etapas e seis

fases que, como adiante será explicado25, se interpenetraram e cruzaram ao longo de

todo o processo de investigação: etapa 0 – por outros caminhos; etapa 1 – na procura de caminhos (fase reflexiva e de aproximação à pesquisa); etapa 2 – caminhando (fase de aprofundamento); etapa 3 – achando luzes (fase de leitura da informação recebida; fase de construção de sentido; fase de apresentação e discussão dos significados

25

encontrados); etapa 4 – novos caminhos (fase de apresentação e discussão dos significados encontrados).

• Pesquisa Colaborativa

Nascida de uma preocupação despertada pela investigação qualitativa no campo da educação, a PESQUISA COLABORATIVA (Trigo et al, 2001) foi a outra opção metodológica. Primeiro, porque permite que se congreguem propósitos de investigação com propósitos de desenvolvimento. Segundo, porque pode revelar-se como uma alternativa importante para uma educação eficaz e de qualidade: (1) porque, tendo como valores fundamentais a colaboração, a competência e a solidariedade, é (nomeadamente em contexto de educação de adultos), uma forma de dar vida aos quatro pilares da educação enunciados pela Unesco – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a viver juntos (Delors, 1996); (2) porque coloca investigadores e educadores e outros membros da comunidade educativa numa mesma equipa e em processo de reflexão-acção; (3) porque, para além de investigadores e educadores trabalharem juntos no processo de construção do conhecimento (planificação, implementação e análise de uma investigação), eles também partilham a responsabilidade na tomada de decisões e na realização de tarefas que permitem resolver problemas imediatos e práticos dos educadores (Trigo et al, 2001:57-61).

Assim, e apesar de, por força dos objectivos académicos deste tese (e como adiante também será descrito), só ter sido usado numa perspectiva de cooperação nalgumas fases do projecto26

, a opção por um processo de Pesquisa Colaborativa fez(-nos)

enfrentar um TERCEIRO CONJUNTO DE DESAFIOS e compromissos (Trigo et al, 2001:57-

61):

a) o da criação de um clima de respeito e liberdade;

b) o do atendimento de uma grande diversidade de expectativas;

26

De acordo com os autores, e baseando-se em Hord e Devís, embora a investigação colaborativa possa também ser apelidada de “investigação cooperativa”, cooperação e colaboração são conceitos diferentes: A “cooperação” remete para uma forma imperfeita de participação; a “colaboração” exige o compromisso de cada um dos membros da equipa em todas as fases do projecto da pesquisa (Trigo & Kon-Traste, 2001:57).

c) o da criação de um espaço de assumir riscos, de criação colectiva e de compromisso social;

d) o da abertura para a modificação das mentalidades dos intervenientes; e) o da melhoria das práticas de ensino dos educadores envolvidos;

f) o da flexibilidade de desempenho, enquanto investigadora e de acordo com as fases da investigação, de uma diversidade de papéis.