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Vista-se da pessoa que quer ser

Capítulo 4 – Criar o caminho

2. Educação e Aculturação

A educação e a aculturação “acrescentam um conjunto de estratégias de tomada de

decisão socialmente permissível” (Damásio, 1995:141) – porque existem certos mecanismos que só são accionados depois da exposição a um estímulo específico; porque há razões e situações em que, ter medo, ou estar feliz, por exemplo, variam com a experiência individual e cultural. Assim, e ao terminar o desenvolvimento infantil, o cérebro (tendo passado pela intervenção da sociedade e aí cruzado o adquirido com o instintivo), está dotado de níveis adicionais de estratégias para a sobrevivência.

Emoções secundárias ou sociais

= vergonha, ciúme, culpa, orgulho simpatia, compaixão, embaraço, inveja, gratidão, admiração, espanto, indignação, desprezo… =

O mecanismo das EMOÇÕES SECUNDÁRIAS desenvolve-se logo que começamos a ter

sentimentos e a formar ligações sistemáticas entre as emoções primárias e determinadas categorias de objectos e situações Apesar de obtidas sob influência de disposições inatas, as emoções secundárias são representações adquiridas – por isso, únicas, individuais e personalizadas (Damásio: 1995:149ss). Esse mecanismo ocorre a três níveis:

1. Avaliação cognitiva do acontecimento – considerações deliberadas e conscientes em relação a uma determinada pessoa ou situação.

2. A um nível não consciente – reacção automática e involuntária das redes do córtex pré-frontal aos sinais resultantes do processamento de imagens mentais, tem subjacente o conhecimento de como, na experiência individual, certo tipo de situações tem dado origem a certo tipo de respostas emocionais.

3. De uma forma não consciente, automática e involuntária – sinalização à amígdala da resposta destas disposições pré-frontais. Afectam o organismo de duas maneiras:

a. Causando um estado emocional do corpo – as vísceras ficam colocadas no estado associado ao tipo de estímulo e provocam mudanças nos estados do corpo e do cérebro; a musculatura esquelética (expressões faciais e posturas corporais) completa o quadro externo da emoção.

b. Causando um impacto importante no estilo e eficiência dos processos cognitivos.

Emoções Secundárias ou Sociais

Vergonha, ciúme, culpa, orgulho simpatia, compaixão, embaraço, inveja, gratidão, admiração, espanto, indignação, desprezo…

- São representações adquiridas.

- Apresentam diversas combinações das componentes das emoções primárias (ex: o

desprezo utiliza as expressões faciais do nojo).

- Não se confinam aos seres humanos.

Exemplo: MEDO ►Embaraço, Vergonha, Culpa Estímulo-emocionalmente-

competente (EEC) Identificação de um problema no comportamento ou no corpo do próprio indivíduo.

Consequências do desencadear da emoção

Evitar a punição imposta por terceiros; reequilíbrio do próprio, do outro, ou do grupo; policiamento das regras de comportamento social.

Base fisiológica da emoção Medo, tristeza, tendências submissivas.

Quadro II.3 – Conceito de emoções secundárias. Destaques a partir de Damásio (1995, 2003).

Emoções de fundo

= bem-estar/mal-estar; calma/tensão; irritação/relaxamento; letargia/entusiasmo; desânimo/esperança; bom-humor/mau-humor;

fadiga/energia; dor/prazer, esperança/desencorajamento;

As EMOÇÕES DE FUNDO estão mais próximas do núcleo interior da vida e têm um alvo

mais interno do que externo. São causadas por um ou mais dos seguintes elementos: processos de regulação da vida; certas condições de natureza interna; processos de conflito mental manifesto ou escondido; processos fisiológicos; interacções do organismo com o meio ambiente.

Embora não especialmente proeminentes, mas representando um papel importante, podem ser detectadas através de manifestações subtis de:

a) Postura corporal – perfil dos movimentos, precisão, frequência e amplitude dos membros ou do corpo inteiro.

b) Expressões faciais – quantidade e velocidade dos movimentos oculares e grau de contracção dos músculos faciais.

c) Linguagem – música da voz, cadência do discurso, prosódia.

Emoções de Fundo

Dor/prazer, bem-estar/mal-estar; calma/tensão; irritação/relaxamento; letargia/entusiasmo; desânimo/esperança; bom-humor/mau-humor; fadiga/energia;

esperança/desencorajamento; estabilidade/instabilidade; equilíbrio/desequilíbrio; harmonia/discórdia…

- Correspondem ao estado do corpo que ocorre entre emoções.

- Apresentam manifestações subtis do corpo, linguagem e expressões faciais.

Quadro II.4 – Conceito de emoções de fundo. Destaques a partir de Damásio (1995, 2003).

Sentimentos de fundo

= sentimento de dor / prazer; bem-estar / mal-estar; calma / tensão; irritação / entusiasmo… =

Os SENTIMENTOS DE FUNDO, aqueles que, em íntima ligação com a consciência

nuclear68, sentimos com mais frequência ao longo da vida, não têm origem em

emoções, mas correspondem a estados do corpo que ocorrem entre emoções:

a) São a nossa imagem da paisagem do corpo quando as emoções não estão activadas.

b) Podem ser agradáveis ou desagradáveis, mas não são demasiado positivos nem demasiado negativos.

68“A consciência consiste na construção do conhecimento sobre dois factores: que o organismos está

envolvido numa relação com um objecto e que o objecto presente nessa relação provoca uma modificação no organismo” (Damásio, 2003:40).

c) Ajudam-nos a definir o nosso estado mental.

d) São o sentimento da própria vida, a sensação de existir.

Sentimentos de Fundo

Sentimento de dor / prazer; bem-estar / mal-estar; calma / tensão; irritação / entusiasmo …

- Têm origem em estados corporais de “fundo” e não em estados emocionais.

- Não são nem demasiado positivos, nem demasiado negativos.

- Não se encontram no primeiro plano da nossa mente.

- Permitem apreciar o tom físico geral do nosso ser.

Quadro II.5 – Conceito de sentimentos de fundo. Destaques a partir de Damásio (1995, 2003).

Humores

Os HUMORES (mood)69, ainda que quase só tratado em nota de rodapé, são um outro

tipo de estados emocionais referenciado por Damásio (2004) que me parece também ser relevante colocar.

“Quando os estados emocionais tendem a tornar-se razoavelmente frequentes ou até contínuos ao longo do tempo, é preferível referirmo-nos a eles como humores e não como emoções.

(...) Os HUMORES são emoções arrastadas, acompanhadas pelos consequentes sentimentos; transportam através do tempo os conjuntos de respostas que caracterizam as emoções: modificações endócrinas, modificações do sistema nervoso autónomo, modificações músculo-esqueléticas e modificações no modo de processamento das imagens” (Damásio, 2003:388-389).

Quando um determinado conjunto de emoções se desenvolve de forma não adequada e persistente durante um longo período de tempo, além de poder implicar um custo muito

69 Em Daniel Goleman (2005:180-181) também encontramos algumas considerações sobre o conceito de

humor:

1. O humor está relacionado com as emoções, mas é diferente delas, especialmente na duração – as emoções podem aparecer e desaparecer numa questão de segundos ou de minutos, mas um humor pode durar todo o dia.

2. Quando temos uma emoção, conseguimos identificar o que a produziu, especificar o evento que a desencadeou e aquilo que a fez emergir. Mas não conseguimos fazer o mesmo com um humor. 3. Um humor pode ser provocado por três tipos de situações:

- alterações internas não relacionadas com o que está a acontecer no exterior;

- uma experiência emocional muito densa;

- pensamentos subtis que decorrem em segundo plano na mente e de cujo controlo não nos

conseguimos libertar só pela consciência da sua existência.

elevado na vida do indivíduo afectado, pode, inclusive, tornar-se patológico*70. Os

humores ocorrem nas seguintes situações:

a) Quando a pessoa activa repetidamente a mesma emoção.

b) Quando a pessoa modifica frequentemente o seu tom emocional de forma inesperada.

c) Quando a pessoa emite uma nota predominantemente emocional de forma consistente, durante uma boa parte do tempo e a sua manifestação se torna um modo de ser físico e mental permanente.