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Descrição do ambiente de intervenção

3 A PROMOÇÃO DA COMPETÊNCIA SIMBÓLICA (CS) – BASE TEÓRICA

4.1 Descrição do ambiente de intervenção

O município de São Paulo do Potengi situa-se a aproximadamente setenta e três quilômetros de Natal, a capital do Rio Grande do Norte. O Campus SPP foi inaugurado em outubro 2013, e suas primeiras turmas de Ensino Médio iniciaram logo no primeiro semestre de 2014. Diferentemente da maioria das escolas estaduais e municipais, os alunos que cursam o Ensino Médio no IFRN têm o privilégio de fazer um curso técnico integrado ao nível médio. O campus supracitado atualmente oferece cursos técnicos regulares em duas áreas, a saber, construção civil e meio ambiente. Em nossa pesquisa, lidamos, ao todo, com seis turmas de terceiro ano: duas em 2016, em nosso estudo piloto, uma fase de planejamento e familiarização com a perspectiva da CS, e quatro em 2017, com as quais desenvolvemos a pesquisa nas fases de planejamento, ação, observação e reflexão (cf. BURNS; KURTOGLU-HOOTON, 2014). Metade dessas turmas eram do Curso Técnico de Nível Médio em Edificações na Forma Integrada, presencial; a outra metade, do Curso Técnico de Nível Médio em Meio Ambiente na Forma Integrada, presencial.

O privilégio de concluir a Educação Básica com uma formação profissional, no entanto, lança desafios consideráveis, como o fato de que os alunos do IFRN, ao mesmo tempo, predominantemente num mesmo turno, cursam disciplinas do ensino médio e disciplinas do ensino técnico. Em termos práticos, no segundo semestre do terceiro ano, em que realizamos o

workshop para promover a CS, todas as turmas estavam cursando 11 (onze) disciplinas. O

número de disciplinas pode aumentar em casos de alunos “pagando dependência”, ou seja, cursando novamente disciplinas em que foram retidos em algum ano ou semestre anterior, ou pode diminuir, no caso de alunos que foram retidos no terceiro ano e pagam somente as disciplinas em que ficaram retidos. A grande quantidade de componentes curriculares implica em um elevado número de atividades que os alunos precisam desenvolver. Esse fator, como veremos posteriormente nos comentários de alguns alunos, contribui para diminuir o tempo dedicado à aprendizagem da língua estrangeira fora da sala de aula.

Em vez de duas aulas semanais em três anos letivos, o que comumente se vê em escolas regulares de Ensino Médio em Natal, no IFRN a LI é oferecida em três aulas semanais, de 45 (quarenta e cinco) minutos cada, durante dois anos letivos. Em ambos os cursos em que aplicamos nossa pesquisa, esses dois anos letivos são o terceiro e o quarto. Desenvolvemos

nossa pesquisa em meio à disciplina de Inglês I, que corresponde aos horários regulares de LI no terceiro ano do curso técnico de nível médio. Essa escolha trouxe algumas dificuldades, pois vários participantes apresentavam pouca experiência com a língua – devido também à precariedade do ensino desse idioma na escola de nível fundamental, como apontado por alguns alunos. No entanto, não escolhemos aplicar nossa pesquisa no quarto ano, dentre outros fatores, porque, nessa unidade letiva, na disciplina de Inglês II, privilegiamos atividades, gêneros textuais e temas voltados para a profissão e o mercado de trabalho, como o desenvolvimento de entrevistas de emprego, de résumés, dos resumos de Trabalho de Conclusão de Curso em Inglês, leitura de textos técnicos etc.

Entendemos que nossa pesquisa apresenta alguns marcos, os quais são válidos mencionar para que nosso percurso metodológico fique mais claro. No início do quarto semestre do nosso doutoramento, mudamo-nos para a Califórnia, nos Estados Unidos da América, a fim de realizar um estágio doutoral de nove meses fomentado pela Capes e pela Fulbright. A universidade em que desenvolvemos nossos estudos foi a University of California at Berkeley, sob orientação da Professora Doutora Claire Kramsch. Nesse período, tivemos contato com a teoria da CS, que despertou nosso interesse e mudou consideravelmente o foco de nossa pesquisa. No entanto, não tivemos contato com salas de aulas em que a CS estivesse sendo desenvolvida, nem mesmo conhecemos pesquisas no âmbito do ensino-aprendizagem de língua estrangeira no ensino médio no Brasil em que tal competência fosse privilegiada. Cheios de ideias e saudosos de nossa sala de aula retornamos ao Brasil em junho de 2016. Foi quando conhecemos nossas primeiras turmas regulares de Inglês no campus SPP.

Como mencionado anteriormente, na primeira fase, uma das turmas estava no curso técnico de nível médio em Meio Ambiente (Mamb); a outra, no curso técnico de nível médio em Edificações (Edif). Ambas as turmas no terceiro ano e cada uma com 26 (vinte e seis) alunos. Ao chegarmos, os alunos estavam na quinta semana do ano letivo e precisamos repor várias aulas em cada turma, em sua maioria, no contraturno. Decidimos iniciar nossa experiência com a promoção da CS nessas turmas a partir do segundo bimestre. Isso nos deu a chance de trabalharmos com noções básicas do ILE e um tempo para amadurecermos nossa perspectiva sobre a CS em termos mais práticos. Trabalhamos com a promoção da CS, embora não exclusivamente, ao longo de três bimestres do ano letivo de 2016. Foi uma experiência enriquecedora para os alunos e para nós, enquanto pesquisador em linguística aplicada e professor de ILE. No entanto, tal experiência pode ser caracterizada como um estudo piloto, o qual nos preparou para posterior intervenção, a qual foi mais rigorosa no tocante aos requerimentos científicos. Ainda assim, alguns resultados das atividades desenvolvidas no

estudo piloto proveram-nos com um material relevante, parte do qual trazemos para nossa discussão nesta pesquisa. Consideramos esse material, produzido na investigação preliminar (NUNAN, 1992), um dos passos iniciais de nossa pesquisa-ação, uma espécie de familiarização que nos proporcionou uma iniciação. Essa iniciação rendeu novas ideias para a intervenção posterior, a partir de um planejamento mais informado e consciente (cf. NUNAN, 1992).

No ano letivo de 2017, havia o dobro de turmas no terceiro ano. Era uma turma de edificações no turno matutino (Edif 3M), e outra no turno vespertino (Edif 3V); uma turma de meio ambiente no turno matutino (Mamb 3M) e uma no vespertino (Mamb 3V). Edif 3M contava com 36 (trinta e seis) alunos matriculados regularmente e incluídos no diário de classe. No entanto, nem todos frequentavam as aulas – alguns desistiram antes da primeira aula, por motivos diversos (como matrícula em curso de nível superior na Capital); outros desistiram da disciplina no decorrer do ano letivo. Dos alunos evadidos, uma minoria solicitou formalmente o trancamento do ano letivo. Com isso, durante a realização do workshop para a promoção da CS, Edif 3M contava com 28 (vinte e oito) alunos. Já a turma Edif 3V era composta por 10 (dez) alunos matriculados regularmente e registrados no diário de classe. Todos os dez alunos participaram do workshop57.

Mamb 3M contava com 31 (trinta e um) alunos registrados no diário de classe. No início do ano letivo, o número era maior. Mas tivemos uma transferência para um campus na capital e algumas evasões. Desta turma, participaram integralmente do workshop 28 (vinte e oito) alunos58. Mamb 3V era composta por 13 (treze) alunos formalmente registrados no diário de classe. Todos eles participaram do workshop. Salientamos que alguns alunos de Edif 3M e de Mamb 3M que desistiram da disciplina fizeram-no durante as semanas do workshop, o que indica que alguns desses ainda chegaram a responder o questionário 1 e algumas atividades no período de nossa intervenção.

É necessário destacar que, apesar de as turmas já contarem com algumas experiências com o ILE ao iniciarmos a intervenção (pois iniciamos no quarto bimestre de 2017), muitos alunos demostraram o cansaço causado pela lide do ano letivo e do fim de bimestre, quando realizavam várias atividades avaliativas. Além disso, o quarto bimestre ainda concorreu com a aplicação do exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em dois fins de semana, antecedidos

57 Vale salientar que um desses alunos estava pagando dependência de Inglês I. Ou seja, ele estava no quarto ano pela manhã, mas fora retido nessa disciplina no ano anterior. Por isso, frequentava as aulas formalmente no turno vespertino. Isso implica que o aluno já tivera experiências com a promoção da CS no ano letivo anterior.

58 Desses alunos que participaram do workshop, dois haviam sido retidos, ou seja, deveriam estar cursando o quarto ano, mas foram reprovados em algumas disciplinas, inclusive Inglês I. Por isso, estavam cursando a disciplina novamente. Ou seja, esses dois alunos também tiveram alguma experiência com a promoção da CS no ano anterior.

pela Semana de Arte, Desporto e Cultura (Semadec) do Campus SPP. A Semadec ocupou toda a terceira semana de aula do quarto bimestre. E a aplicação do ENEM atraiu a atenção de muitos alunos do terceiro ano, apesar de os alunos do IFRN concluírem o curso técnico em nível médio no fim do quarto ano. Para não fragmentar a intervenção, optamos por realizá-la ao longo das últimas cinco semanas do ano letivo, o que certamente influenciou no desempenho dos alunos, devido ao cansaço já referido.

Levando em conta o fato outrora mencionado de que os alunos cursam diversas disciplinas, cada uma demandando dedicação para leitura e realização de atividades, o

workshop em prol do desenvolvimento da CS ocorreu no horário de aula regular de cada turma.

Ao todo, essa intervenção contou com três aulas de quarenta e cinco minutos, por cinco semanas. Nas turmas Mamb 3M, Edif 3M e Edif 3V, havia apenas um encontro semanal de três aulas. Na turma de Mamb 3V eram dois encontros, um com duas aulas, outro com uma aula. No entanto, na primeira e na última semana, quando realizamos a atividade de diagnóstico 1 e a atividade de diagnóstico 2, respectivamente, conseguimos trocar horários com outros colegas professores a fim de não fragmentarmos essas atividades nem extrapolarmos o horário de aula em algum encontro. Destacamos também que todas as atividades desenvolvidas ao longo dessas cinco semanas valeram alguma nota bimestral para os alunos. Reiteramos que tudo isso foi combinado com os alunos, ainda no bimestre anterior, com exceção dos questionários 1 e 2, nas quais os alunos comentaram sobre sua perspectiva acerca das experiências com a disciplina de

Inglês I no IFRN – Campus SPP.

É necessário mencionar ainda que contamos com uma infraestrutura privilegiada em nosso campus. Em termos de equipamento e material acadêmico, podemos citar que as salas de aula eram climatizadas com condicionadores de ar, já que a região do Potengi apresenta temperaturas elevadas ao longo do ano. Servidores e alunos podem utilizar gratuitamente a Internet com conexão não cabeada, inalâmbrica, dentro e fora da sala de aula. Cada sala de aula conta com um computador desktop com Internet cabeada que pudemos utilizar algumas vezes, já que também dispomos de um computador laptop de uso pessoal. O campus ainda conta com 03 (três) laboratórios de informática, um dois quais reservamos para a primeira e a última semana da intervenção do final do ano letivo de 2017. O laboratório que reservamos contava com 41 (quarenta e um) computadores desktop com acesso à Internet, sendo um deles para o professor. Cada sala de aula e laboratório de informática também conta com um projetor multimídia instalado, que utilizamos durante a intervenção para projetar textos, slides, imagens e vídeo. Além disso, a biblioteca contava com 22 (vinte e dois) dicionários impressos Inglês – Português e Português – Inglês, que apenas servem para consulta dentro da biblioteca, mas que

podem ser retirados pelos professores, assinando-se uma espécie de cautela. Foi o que fizemos: retiramos 20 (vinte) desses dicionários para que os alunos utilizassem nas questões avaliativas individuais do workshop. Toda essa estrutura física foi de grande valia não apenas para nossa intervenção, mas para o desenvolvimento das atividades acadêmicas no campus em geral.

Outro recurso de que dispõem os alunos é a existência, no IFRN, do Centro de Aprendizagem (CA). Cada professor pode reservar até duas horas-aula semanais por disciplina que ministra para atender os alunos no contraturno para tirar dúvidas e ajudar com as atividades. Como estávamos com carga horária semanal reduzida no campus devido ao afastamento parcial de que gozamos para realizar esta pesquisa, nosso horário para CA também estava reduzido. Com o aumento da demanda de estudo para a disciplina de Inglês I, provocada pelo workshop, disponibilizamos um horário maior para os alunos dos terceiros anos, que colaboraram com esta pesquisa. No entanto, esperávamos, na primeira semana do workshop, uma procura maior desses alunos no CA de Inglês. Provavelmente as muitas atividades do final do semestre ocuparam em demasia os alunos nos momentos em que disponibilizamos esse CA especial. Percebemos que a procura dos alunos para tirar dúvidas era maior em momentos em que não estávamos no campus, por meio de e-mail e mensagens de WhatsApp. Dispomo-nos a atender os alunos dessa forma também, o que foi bastante válido, tendo em vista que um número maior de alunos se beneficiou dos atendimentos em comparação com a semana em que fizemos o CA presencialmente.