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5 DISCUSSÃO METODOLÓGICA

5.3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE

A respeito da descrição e análise dos dados, apresentamos cada classe em capítulo específico, em que o grupo é estudado isoladamente. Para permitir mais clareza, cada capítulo apresenta a mesma estrutura e o mesmo tipo de descrição e análise. Evitam-se, na descrição de cada uma das classes, as comparações, pois queremos ter uma compreensão, primeiramente, individual e integral de cada um dos grupos. Identificamos que essa escolha permite um maior rigor no método comparativo, partindo-se de cada um dos casos para, posteriormente, incorrer em comparações.

Nas três partes referidas, as seções são organizadas em quatro ―eixos‖: apresentação das entrevistadas e suas características; modos de viver; modos de ver a mídia; e modos de ver a telenovela. Por modos de viver nos referimos àquilo tudo relacionado a suas vidas, da história às perspectivas de futuras. Já como modos de ver estamos nomeando aquilo que se refere ao consumo de mídia, em sentido abstrato, que pode significar ―ouvir‖, por exemplo.

A descrição das entrevistadas, especificamente, tomou como ponto de partida a definição de diversas categorias, resultantes das entrevistas, tais como: família, uso do tempo, educação, trabalho, posicionamento sobre gênero e sobre classe, felicidade e futuro, no âmbito dos modos de viver; na esfera de consumo da mídia, a divisão ocorreu basicamente entre mídia na infância, na adolescência e hoje; sobre os modos de ver a telenovela, destacamos as temáticas das recordações, o conhecimento da gramática; as preferências hoje; as representações de gênero e de classe.

Na descrição e análise, nos capítulos 6, 7 e 8, os dados foram apresentados de dois modos distintos e complementares: a) uma apresentação individual dos dados pessoais de cada entrevistada, assim como do consumo de mídia de cada uma; e b) uma descrição dos posicionamentos acerca das temáticas consideradas. Nesse segundo caso, parte-se das questões feitas nas entrevistas, reunindo-as em temáticas, e apontando qual o entendimento preponderante e diferencial em cada grupo.

Nesse sentido, entendemos como fundamental a exposição direta das falas das informantes, o que tem diversas implicações: compreender as similitudes e especificidades do discurso dentro do próprio grupo; conhecer a linguagem utilizada; permitir entender a análise apresentada. Além do mais, consideramos que as vozes das entrevistadas são a essência do trabalho empírico, dotando-o de emoção e fidedignidade.

Fazermos uso do discurso das pesquisadas, vale destacar, não é o mesmo que dizer que nossa interpretação sobre elas se restringirá a suas interpretações de si. Nesse sentido, nosso entendimento concerta ao de Jessé Souza, quando diz que,

[...] embora a informação fosse concedida pelo entrevistado, ela teria de ser reconstruída para que pudéssemos extrair uma verdade ‗além‘ e ‗apesar‘ da necessidade de autolegitimação do próprio entrevistado. Tomar a primeira declaração de qualquer entrevistado sobre si mesmo como verdade final é sempre ingênuo e conservador, posto que reflete apenas o interesse universal de legitimar sua própria condução da vida em relação ao mundo e a nós mesmos. É claro que a informação do entrevistado é fundamental. Mas ela tem de ser contextualizada para que percebamos os interesses – muitos deles ‗inconscientes‘ e ‗pré-reflexivos‘ – que produzem precisamente aquele tipo de resposta. É um método muito mais trabalhoso e arriscado, mas é o único que pode efetivamente ‗desconstruir‘ a violência simbólica dos discursos dominantes e naturalizados e explicar a sutil introjeção e incorporação da dominação social e simbólica moderna. (SOUZA, 2009a, p. 435).

As falas são fiéis à linguagem de cada pesquisada, mantendo-se os erros de concordância e a maior parte das marcas de pronúncia. Em alguns casos, em que entendemos que as marcações não colaborariam com a análise, deixamos a grafia usual das palavras. Foi o caso dos verbos no infinitivo, que são transcritos conforme a norma, não havendo transcrições como ―falá‖, ―comprá‖, pois não vemos esse modo de falar como uma forma de expressão específica de uma classe, e sim, praticamente, a pronúncia usual dessas palavras no português. Lindlof e Taylor (2011, p. 215) tecem alguns comentários sobre a escolha de se manter ou nãos as marcas vocabulares dos entrevistados. Eles assinalam que as correções no modo de expressão acabam ―escondendo aspectos do estilo discursivo ou da cultura do respondente‖. Observam, ainda, que ―editar o discurso de alguém para correção gramatical – ou,

alternativamente, deixá-lo assim – pode ativamente dar forma às impressões do leitor.‖ Conscientes dessas questões, e tendo em visto os objetivos que esse trabalho busca responder, que fizemos essa opção.

Ainda acerca da apresentação dos capítulos 6, 7 e 8, aproveitamos para elucidar alguns aspectos formais relativos à referência aos produtos de mídia citados pelas entrevistadas. Apresentamos em notas de roda pé informações acerca das produções midiáticas consumidas atualmente, e não de todas aquelas mencionadas, caso contrário, usaríamos esse recurso exaustivamente. Do mesmo modo, todas as novelas citadas receberam uma pequena nota descritiva para serem situadas. E, ainda, o ano de exibição da novela, assim como a nota, acompanha o nome da novela referida na primeira vez em que a mesma é citada. As notas foram produzidas a partir de fontes variadas, como as páginas das novelas, o site Memória Globo, sites das emissoras de televisão e de rádio, Wikipédia, etc.

Finalmente, o nono capítulo do trabalho é dedicado a desenvolver as comparações propriamente. Está organizado conforme os eixos e categorias que regem os demais capítulos teóricos: modos de viver, e modos de ver a mídia e a telenovela. Nesse capítulo, buscamos identificar as principais semelhanças e divergências entre os grupos, e, especialmente, perceber as relações do grupo de batalhadoras com as raladoras e a classe média. O objetivo é compreender o que, nessa classe que surge no contexto brasileiro recente como um fenômeno social importante, aproxima-se aos modos de vida, consumo de mídia e de telenovela de mulheres raladoras e de classe média.

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CLASSE MÉDIA: “TEM QUE ESTUDAR, TEM QUE SE FORMAR, TEM QUE