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Descrição e análise dos resultados da Etapa I

5 ANÁLISE DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DO GÊNERO

5.1 Análise da apropriação dos aspectos trabalhados

5.1.1 Descrição e análise dos resultados da Etapa I

O objetivo dessa etapa é descrever a realização da atividade diagnóstica da proposta interventiva, que serviu como umas das bases para a elaboração do material a ser utilizado, assim como suporte para analisar os resultados apresentados pelos alunos neste momento. Nessa etapa, nossa análise teve como base o cordel “Consciência Negra”, do autor Bráulio Bessa, porque o propósito era apresentar estratégias que possibilitassem ao aluno a identificação das informações que não se encontram na superfície do texto.

Para o direcionamento da aula, seguimos a proposta de uma aula interativa de leitura, que consiste na divisão da aula em três etapas (CICUREL, 1992; LEURQUIN, 2014)

com os seguintes objetivos: o levantamento do conhecimento prévio, o trabalho com as entradas das categorias do ISD e a socialização das compreensões e assimilação de novos conhecimentos. A descrição das três etapas consta logo a seguir.

5.1.1.1 Primeira Etapa: Levantamento do Conhecimento Prévio

Iniciamos nosso encontro realizando os seguintes questionamentos, com o intuito de acionar os conhecimentos que os alunos possuíam acerca do assunto abordado no texto Consciência Negra: “Sobre o que vocês acham que irá tratar o texto Consciência Negra?”, “Que informações vocês sabem sobre os negros?”, “A que estaria relacionada a Consciência Negra abordada pelo autor?” e “Todas as pessoas são conscientes dos direitos e da importância do povo negro?”

Nessa etapa, os estudantes puderam revelar suas expectativas em relação ao que seria abordado e expor o que sabiam sobre o assunto. Ao primeiro questionamento, dentre o que eles responderam, pudemos encontrar os seguintes posicionamentos, divididos por temáticas:

Quadro 18 - Previsão do texto Consciência Negra

O povo negro e seus direitos

 Sobre negros, direitos dos negros;

 Sobre a situação dos negros hoje no Brasil.

Preconceito e racismo

 Sobre o preconceito com os negros, racismo;

 Sobre o racismo e maneira como os negros são tratados;

 Sobre o racismo e o preconceito;

 Irá tratar do preconceito com os negros, que eles têm mais dificuldade de achar trabalho.

As lutas empreendidas pelos negros para terem seus

direitos reconhecidos

 Eu acho que irá tratar sobre resistência, luta, conquistas dos negros;

 Sobre as lutas deles.

Diferenças na forma de tratamento entre brancos e

negros

 Sobre a desigualdade de raças.

Previsão de ensinamento ou julgamento

 Para sabermos que nós e os negros somos todos iguais. Fonte: produzido pela autora.

Para a pergunta “Que informações vocês sabem sobre os negros?”, os alunos apresentaram respostas positivas, articulando a figura do povo negro à de um guerreiro, assim como também fizeram uma associação do povo negro ao preconceito e à escravidão,

demonstrando uma imagem ainda negativa, oriunda da forma de tratamento que prevalecia no período da colonização; eles também apresentaram uma previsão acerca de um possível ensinamento a ser encontrado no texto. Essas respostas podem ser percebidas nos seguintes exemplos:

Quadro 19 - Visão acerca do povo negro

Visão positiva do povo negro como guerreiro

 Que é um povo bonito e guerreiro.

 Que eles são guerreiros e não desistem fácil dos seus objetivos.

Associação ao preconceito e à escravidão

 Que foram escravizados, que sofreram e sofrem até hoje.

 Que eles eram escravizados porque eram negros.  Que eles foram escravos no passado e que sofreram de

todas as formas.

Possível ensinamento  Que não é para ter preconceito por conta da cor.

Fonte: produzido pela autora.

Quando foram questionados a respeito do que seria a Consciência Negra, dentre as respostas que eles apresentaram, podemos perceber as seguintes referências:

Quadro 20 - Significado de Consciência Negra

Alusão ao racismo e ao preconceito existentes na sociedade

 Ao preconceito.  Sobre racismo.

 Sobre o racismo que é crime.  Às pessoas que tem preconceito.

A história dos negros

 Aos negros, À história de vitória e de dor que tiveram.

 A falar um pouco da vida dos negros.

Possível ensinamento

 Que pare de racismo com essas pessoas.  À consciência que devemos ter com os

negros.

Fonte: Produzido pela autora.

Por fim, ao serem questionados se todos têm consciência da importância e dos direitos dos negros, alguns eles responderam que não, justificando que é porque “muitas pessoas são racistas e não veem a importância da cultura negra”, que “algumas são racistas e querem se achar melhor” e que “muitas pessoas acham eles inferiores”, trazendo à tona a visão que parte da sociedade ainda apresenta; um aluno respondeu que sim e justificou sua

resposta dizendo “só que não estão nem um pouco se importando”, demonstrando a consciência de que muitos conhecem os direitos dos negros, mas que são indiferentes a eles.

Essa etapa da aula de leitura foi muito importante porque, através do posicionamento dos alunos, pudemos perceber o nível de conhecimento apresentado pela turma em relação ao assunto a ser tratado no texto, assim como propiciar uma troca de informações e de conhecimentos entre os educandos, ampliando seu repertório de conhecimento.

Ao término desse momento, percebemos que os alunos apresentavam conhecimento acerca do assunto que seria tratado no texto. Assim, eles foram orientados a resolver a atividade diagnóstica de modo individual, em silêncio, sem a mediação da professora e sem interação com os outros colegas de sala, dando início à segunda etapa da aula.

5.1.1.2. Segunda Etapa: Atividade Inicial – Consciência Negra

Tendo em vista que o objetivo desse encontro era realizar um diagnóstico da turma, em relação à compreensão de textos do gênero cordel, a segunda etapa de uma aula interativa de leitura, proposta por Leurquin (2014), precisou ser adaptada nessa primeira etapa.

Segundo a autora, nesse segundo momento da aula, a professora intervém de forma mais direta em função de seus objetivos, trabalhando com as entradas dos níveis textuais apresentados pelo ISD. Na atividade inicial proposta, os níveis de entrada contexto de produção e enunciação foram abordados, assim como as características do gênero textual cordel e a construção de inferências. Porém, como consistia numa atividade diagnóstica, não houve a mediação da professora no processo.

5.1.1.3 Terceira Etapa: Socialização das compreensões

Após o término da realização da atividade inicial, a professora recolheu o material utilizado e realizou alguns questionamentos com o intuito de analisar se as expectativas iniciais dos alunos em relação ao assunto tratado foram confirmadas e de perceber se eles conseguiram perceber a mensagem transmitida no texto. Os questionamentos foram os seguintes: “O assunto tratado no texto correspondia ao assunto que vocês achavam que seria

apresentado?”, “De que maneira esse assunto é visto pela sociedade?” e “Que ensinamento vocês puderam obter a partir do texto lido?”.

Em relação ao primeiro questionamento, os alunos responderam que o assunto correspondeu ao que eles previram na primeira etapa da aula, confirmando, dessa maneira, o pensamento apresentado por eles inicialmente. Ao serem questionados sobre como a sociedade vê o assunto, eles revelaram, em suas respostas, que o racismo ainda é um problema presente na sociedade. Podemos perceber essa visão no quadro abaixo:

Quadro 21 - Visão da sociedade acerca do racismo

 Uma parte entende que está errado praticar o preconceito e alguns ainda praticam.  Alguns acham errado o preconceito mais infelizmente existe ainda.

 Alguns tem muito preconceito por conta da cor, mas os humildes e os honestos não.

Fonte: Elaborado pela autora.

Por fim, ao serem questionados acerca do ensinamento presente no texto, eles ressaltaram a importância de tratarmos todos com igualdade e demonstraram que concordavam com o pensamento expresso pelo autor, respondendo:

Quadro 22 - Ensinamento do texto Consciência Negra

 Todos somos iguais, só muda as cores, que mesmo sendo diferentes, somos iguais a todos.

 Ninguém é melhor do que ninguém, todos somos iguais.  Devemos aprender a respeitar as pessoas diferentes de você.

Negros tem mérito, importância histórica e cultura também e nós tem que respeitar.

Fonte: Elaborado pela autora.

Percebemos, através das respostas apresentadas pelos alunos durante as etapas das aulas que, entre eles, existe a consciência de que todo os seres humanos têm os mesmos direitos, mas que, infelizmente, ainda nos deparamos com pessoas que praticam o preconceito na sociedade e que essa prática é vista de forma negativa.

Entendemos que, possivelmente, essa visão seja fruto da observação de ocorrências de atitudes preconceituosas na sociedade, divulgadas diariamente nos telejornais ou presenciadas pelos alunos em seu cotidiano, o que pode interferir, de forma direta, nas ideologias e nos valores que eles absorvem.

Esse momento foi bastante rico e proveitoso, pois, através da participação dos alunos percebemos que eles demonstraram possuir conhecimento acerca do assunto e que esse

conhecimento prévio foi importante para que os educandos pudessem ter condições de expor seus pensamentos com mais segurança. Desse modo, concluímos que, para a realização do conjunto de atividades interventivas, a escolha de cordéis que tratem de assuntos familiares aos aprendizes era um fator relevante, pois serviria de suporte para o resgate de sua autoconfiança durante as aulas.

Para termos uma visão de como se deu a realização dessa atividade, apresentaremos um quadro-síntese que nos permitirá ver o material utilizado como suporte e o esquema de atividades realizadas.

Quadro 23 - Quadro-síntese Etapa 1

Projeto Cordel: Uma leitura crítica da realidade ETAPA 1: Atividade Diagnóstica Individual

Cordel: Consciência Negra Leia.

Consciência Negra “Eu tenho um sonho” Assim, Martin Luther King

falou à humanidade. Que um dia negros e brancos

andassem em irmandade, sentassem na mesma mesa

e num gesto de grandeza, e consciência em sua essência

se alimentassem de amor. Mas, afinal, qual é a cor

Dessa tal consciência? Sendo a consciência negra,

Tem a cor de muita luta. De um povo forte, guerreiro,

que não foge da labuta, tem a cor do sofrimento dos injustos julgamentos,

do preconceito velado, tem a cor de quem sofreu

que sofre, mas aprendeu a jamais ficar calado. Talvez essa tal consciência,

tem a cor da igualdade. De Mandela, de Rui Charles,

de outros reis, majestades, do pop, reggae, baião, Michael, Bob e Gonzagão

cortam o mal pela raiz, com um machado afiado, mas não é qualquer machado

é Machado de Assis. Não deixe que o preconceito

escravize sua mente. Afinal, somos iguais Mesmo sendo diferentes,

e não é contradição. É pura convicção, num conceito de igualdade,

baseado no amor que não divide por cor ninguém na humanidade.

Fonte: Bessa, Bráulio. Poesia com rapadura. CeNE. Fortaleza, 2017. 01. Sobre o texto que você acabou de ler, responda:

a) O texto “Consciência Negra” pertence a que gênero? b) Que características esse texto apresenta quanto à forma?

c) Você conhece o autor desse texto? Se conhece, sobre que assuntos ele escreve? d) Sobre qual problema social o autor do texto está falando?

e) Na terceira estrofe o autor do texto fala sobre Mandela, Rui Charles, Bob, Gonzagão e Machado de Assis. O que essas pessoas têm em comum?

f) O autor demonstra estar satisfeito ou insatisfeito com a existência desse problema na sociedade? Escreva um verso que justifique sua resposta.

02. Ao falar da cor da consciência negra, na segunda estrofe, na verdade o autor está falando:

a) da importância de retratar os diferentes modos de vida dos negros por causa do preconceito velado que existe em nosso meio;

b) da importância de reconhecer o valor que os negros possuem pelo que são, pelo que já conquistaram e pelo que já viveram;

c) do fato de que quem consegue trabalhar em meio às guerras merece respeito e admiração;

d) do fato de que não devemos ficar calados diante de uma situação injusta, mas sim lutar para muda-la

03. Para cada item, marque apenas uma alternativa correta.

a) Na segunda estrofe, os versos “tem a cor de muita luta”, “tem a cor do sofrimento” e “tem a cor de quem sofreu” expressam que o autor:

 está em dúvida sobre como os negros aprenderam a lutar pelos seus direitos;  apresenta certeza sobre como os negros aprenderam a lutar pelos seus direitos;  está certo de que os negros aprenderam a jamais ficar calados de uma maneira

pacífica;

 apresenta dúvidas quanto à forma como os negros aprenderam a lutar pelos seus direitos.

b) “Talvez essa tal consciência, tem a cor da igualdade”. Esses versos possui o mesmo valor semântico que a seguinte frase:

 Certamente essa tal consciência tem a cor da igualdade.  Justamente porque essa tal consciência tem a cor da liberdade.  Provavelmente essa tal consciência tenha a cor da liberdade.  Infelizmente essa tal consciência tem a cor da liberdade.

c) “Não deixe que o preconceito esvazie sua mente”. Nesses versos, o autor deixou clara a seguinte finalidade:

Proibir Criticar Informar Aconselhar 04. Responda de acordo com o texto que você leu.

a) De quem é a frase “Eu tenho um sonho”, que inicia o texto? b) “Que um dia negros e brancos

andassem em irmandade, sentassem na mesma mesa e num gesto de grandeza, e consciência em sua essência se alimentassem de amor”  Essa ideia é de:

 Bráulio Bessa, autor do texto.  Martin Luther King.

c) De quem são as ideias apresentadas na segunda, terceira e quarta estrofe? d) Que mensagem o autor do texto está tentando transmitir para o leitor?

Fonte: Elaborado pela autora.

5.1.1.4 Análise dos resultados da atividade inicial

Como podemos observar, a atividade era composta por quatro questões com itens que apresentavam perguntas para serem respondidas de forma objetiva e subjetiva, totalizando nove itens com perguntas subjetivas e cinco itens com perguntas de múltipla escolha. Logo em seguida, apresentaremos a análise das respostas apresentadas pelos alunos para essas perguntas.

Os questionamentos que tiveram foco no gênero, cuja finalidade era saber se os alunos conheciam o gênero cordel e suas características, revelaram que eles desconheciam o que era gênero e que, por isso, não conseguiram apresentar as características do texto lido, uma vez que 93% dos alunos não conseguiram identificar corretamente o gênero do texto, enquanto que apenas 3,5% acertaram a pergunta e 3,5% deixaram a questão em branco.

Esses resultados nos fez concluir que seria necessário trabalhar, junto aos alunos, a noção de gênero textual e do próprio cordel, uma vez que, de acordo com a nova BNCC, documento que regulamenta o ensino no Brasil, as práticas de ensino de leitura devem ter como objeto os gêneros do discurso, uma vez que constituem-se como articuladores das práticas de ensino e de aprendizagem (BRASIL, 2017).

Esses resultados podem ser observados no gráfico seguinte, que reflete o desempenho dos alunos para o aspecto analisado.

Gráfico 1 - Gênero Cordel e suas características

Fonte: Elaborado pela autora.

Em relação às perguntas que tiveram como foco a análise do contexto de produção, percebemos que, efetivamente, 65,5% dos alunos não conheciam o autor do cordel e que, por consequência, não sabiam sobre que temáticas ele costuma abordar em seus textos. Em contrapartida, 31% afirmaram que conheciam o autor e suas temáticas, e 3,5% dos alunos deixaram em branco.

Dessa maneira, concluímos que seria necessário, no início das aulas interventivas, apresentar o autor e seu estilo para os alunos, de modo que isso contribuísse para um melhor desempenho da turma como um todo, nas atividades de compreensão textual, uma vez que, segundo Bronckart (2007, p. 93), “todo texto resulta de um comportamento verbal concreto, desenvolvido por um agente situado nas coordenadas do espaço e do tempo”, o que significa dizer que, conhecer o autor, as temáticas por ele abordadas e a finalidade com que costuma escrever seus textos, contribui para que o leitor tenha condições de perceber as nuances presentes nas camadas mais profundas do texto.

O desempenho apresentado pelos alunos nesse aspecto pode ser observado no gráfico abaixo:

Fonte: Elaborado pela autora.

No que concerne à identificação do conteúdo temático, 79% dos alunos conseguiram identifica-lo, porém 21% apresentaram respostas que faziam referência ao título do cordel, como: “Consciência negra” e “Sobre a consciência negra”; assim como respostas que faziam alusão à cor, como: “Sobre a cor negra”. Esses dados nos permitiram concluir que o trabalho com a identificação do tema central ainda precisava ser feito, uma vez que quase 1/4 dos estudantes da turma ainda não conseguia identificar o assunto do texto.

Ademais, as informações presentes no conteúdo temático são representações construídas pelo autor do texto e, de acordo com Bronckart (2007, p. 97), “Trata-se de conhecimentos que variam em função da experiência e do nível de desenvolvimento do agente e que estão estocados e organizados em sua memória” o que torna relevante o trabalho com a identificação do conteúdo temático, sendo que, através da associação entre o assunto apresentado pelo autor e os conhecimentos trazidos pelo leitor, a compreensão do texto pode acontecer de uma forma mais produtiva e qualitativa.

Em relação a essa subcategoria do contexto de produção, os resultados apresentados pelos alunos podem ser observados no gráfico a seguir:

Gráfico 3 - Contexto de Produção: Conteúdo Temático

Quando foram levados a inferir a relação existente entre os personagens Mandela, Rui Charles, Bob, Gonzagão e Machado de Assis – citados no texto - a partir do que estava escrito e dos conhecimentos que possuíam, 45% dos alunos conseguiram descobrir a relação existente, escrevendo que eles eram exemplos de pessoas negras ou que tinham a cor negra como algo em comum. No entanto, 52% não conseguiram fazer essa associação, respondendo “o preconceito velado”, “a tal consciência que ele dizia” e “não sei”, enquanto que 3% deixaram a pergunta em branco.

Esses resultados nos fez perceber que a construção de inferências também precisaria ser trabalhada nas aulas interventivas, de modo a possibilitar que os alunos consigam ir além da superficialidade do texto pois, no ato de comunicação, seja ele oral ou através da escrita, “é necessário o reconhecimento da ostensão para que haja um processamento eficiente de informações” (SPERBER; WILSON, 2011, p. 95). Ostensão, nesse caso, como sinônimo de intenção. Segundo os autores, se uma pessoa não consegue identificar a real intenção presente em determinado contexto de comunicação, o reconhecimento das informações que são relevantes para a compreensão do que está sendo dito poderá ficar comprometida. Analisemos os resultados no gráfico que segue.

Gráfico 4 - Inferências (Questão Subjetiva)

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Fonte: Elaborado pela autora.

A questão seguinte, que também trabalhou a construção de inferências, apresentou resultado parecido. Porém, como foi elaborada em formato de múltipla escolha, 52% dos alunos conseguiram acertar, ao serem perguntados acerca do significado da expressão “cor da consciência negra”, de acordo com o texto, ao passo que 48% assinalaram outros itens.

Apesar desse índice de acerto, concluímos que o trabalho com a construção de inferências merecia uma atenção especial, sendo que o domínio desse aspecto possibilita um maior aprofundamento na compreensão de textos, pois “a eficiência cognitiva a longo prazo é constituída pelo melhoramento, tanto quanto possível, do conhecimento que uma pessoa tem do mundo, dados os recursos disponíveis” (SPERBER; WILSON, 2011, p. 91).

Trazendo para o nosso objeto de pesquisa: precisamos oferecer aos nossos alunos os conhecimentos necessários para que possam desenvolver estratégias de identificação das informações que não se encontram na superfície do texto, aliando os conhecimentos prévios que possuem às informações novas encontradas para que, dessa forma, consigam apresentar uma compreensão mais crítica e qualitativa dos textos que leem.

O Gráfico a seguir pode ilustrar os resultados apresentados pelos alunos na análise desse aspecto:

Gráfico 5 - Inferências (Questões

Objetivas)

Fonte: Elaborado pela autora.

Os resultados apresentados demonstraram que o trabalho com a construção de inferências e com contexto de produção precisava ser aprofundado, pois, segundo Butter (2009), uma situação de produção específica apresenta condições que favorecem uma interpretação mais coerente. Assim, ao conhecer o contexto de produção de determinado texto, o leitor poderá se tornar capaz de relacionar a mensagem contida da superficialidade do texto aos conhecimentos que possui e, desse modo, avançar para uma leitura mais profunda do texto, aprimorando, dessa maneira, seu letramento acadêmico.

Ao trabalharmos os aspectos referentes à enunciação, com questões de múltipla escolha, percebemos os seguintes dados: no trabalho com as modalizações, 65,5% dos alunos

não conseguiram identificar o sentido expresso pelos elementos modalizadores, enquanto que 27,5% obteve êxito em sua resposta e 7% deixaram em branco; quando foram levados a relacionar enunciados que apresentavam modalizadores de mesmo sentido, 64% dos alunos não conseguiram estabelecer a relação de forma correta, 28% obtiveram êxito em sua resposta e 7% deixaram em branco; já para identificar a finalidade do autor através da análise de elementos modalizadores, 79% obtiveram êxito em sua resposta, ao passo que 14% não