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Parte III Relatório Final de Prática de Ensino Supervisionada

7. Prática de Ensino Supervisionada

7.6. Descrição e discussão das aulas observadas e lecionadas

Neste subcapítulo, serão abordados com maior detalhe os aspetos que descrevem o percurso dos alunos que integraram as aulas de prática observada pela orientadora cooperante e de prática pedagógica. Organizado por alunos e música de conjunto, cada um

151 é apresentado de acordo com as suas características musicais, performativas e artísticas. Para cada aluno, os objetivos e as estratégias de ensino aprendizagem, embora sejam comuns e transversais como constam no programa da disciplina, os mesmos diferenciam de aluno para aluno e, por este motivo, vários aspetos tiveram de ser adaptados e aplicados de acordo com as qualidades de cada um.

Percurso do Aluno A

Aulas lecionadas 18

Aulas observadas 4

O Aluno A, matriculado no 1º grau do ensino articulado, teve este ano letivo o seu

primeiro contacto com o instrumento. Por conseguinte, os objetivos e estratégias de aprendizagem traçados recaíram sobretudo na exploração do instrumento, concretamente em aspetos que envolvem o conhecimento do teclado, a compreensão musical e notacional, a postura a adquirir no estudo e na performance, os hábitos de estudo a implementar, assim como alguns aspetos técnico musicais e performativos, nomeadamente, a articulação, a igualdade digital, a dedilhação, a memorização, a apresentação e atitude em público.

A minha primeira observação da aula ministrada pela orientadora cooperante permitiu-me registar aspetos ao nível das atitudes e cognitivos do aluno. Ao longo das aulas, percebi que a adaptação ao instrumento decorreu naturalmente em vários pormenores, assim como a relação aluno professor foi saudável. Imediatamente na primeira aula ministrada por mim, posso referir que a interação e a atitude não diferiram com a troca de professor.

De uma forma geral, o aluno demonstrou sempre uma atitude correta com o professor ao longo do ano letivo, tendo correspondido às expectativas no que concerne à implementação do projeto educativo que foi trabalhado durante o 2º período. Apesar de ser comunicativo e realizar de forma positiva o que lhe era solicitado em sala de aula, o aluno nem sempre cumpria de forma regular com o estudo individual, por vezes não era

152 portador do material necessário para a aula, o que contribuía para um atraso do trabalho contínuo das peças. Apresentou algumas dificuldades pontuais ao nível da técnica, pelo facto de aluno nem sempre realizar um estudo regular em casa. A postura ao instrumento não era constante, quer a posição dos dedos, os quais não permaneciam redondos, quer a postura do tronco. Ao nível da leitura, o aluno inicialmente teve imprecisões na compreensão da clave de fá e, por conseguinte, na junção das mãos com as duas claves distintas. A leitura na clave de fá teve progressos, a partir do momento em que iniciou o estudo da pedaleira, precisamente por focar essa mesma área.

O aluno foi capaz de superar e evoluir ao longo do ano a nível técnico: nas escalas maiores e menores e respetivos arpejos com várias tonalidades, a aprendizagem foi bastante rápida, embora o aperfeiçoamento das peças em estudo fosse mais lento, consequência da falta de estudo. Contudo, o aluno foi capaz de superar as dificuldades dentro da sala de aula, pois a concentração e motivação foram elementos que se destacaram. Em termos de localização das notas no teclado, o aluno no final do ano já foi capaz de fazer a associação das oitavas em cada clave ao teclado do órgão.

Foi ainda possível verificar a evolução da técnica de pedaleira que se desenvolveu ao longo da implementação do projeto educativo, nomeadamente ao nível da independência e agilidade dos pés e da coordenação já numa fase final, que resultaram na realização de provas de avaliação e uma audição final.

As estratégias de ensino aprendizagem que mais se destacaram para o progresso do aluno foram a repetição sistemática de passagens com mãos separadas e, posteriormente, mãos juntas e o solfejo das notas em simultâneo com a prática digital.

Percurso do Aluno B

Aulas lecionadas 16

Aulas observadas 7

O Aluno B frequentou este ano o 3º grau de instrumento, pelo que o nível de domínio dos teclados e da pedaleira era consistente.

153 Em termos de objetivos, foram abordados a de compreensão musical, direcionada para a leitura polifónica a várias vozes, e a memorização. A nível técnico, procurou-se desenvolver a pedaleira, a articulação legato, a ornamentação e aspetos de interpretação e musicalidade.

No início do ano letivo, o aluno demonstrou-se bastante empenhado e motivado nas tarefas que envolviam o desenvolvimento da técnica e o estudo repertório, embora aparentasse algumas dificuldades na leitura dos três pentagramas em simultâneo, na coordenação, execução rítmica e pulsação constante que, depois de observadas, as mesmas foram trabalhadas com maior ênfase.

Ao longo do segundo período, foi atribuído ao aluno um repertório ligeiramente mais complexo ao nível dos aspetos rítmicos e técnicos, particularmente na peça Spielstuck do século XX, cuja execução explora de forma exaustiva o ritmo e a mudança de teclados. No Prelúdio em Fá Maior BWV 556 de Johann Sebastian Bach, foi notória a fácil correspondência a nível da leitura e compreensão da forma e das várias entradas do tema nas diferentes vozes.

O aluno revelou interesse e gosto pela música e pelo instrumento, manifestando uma imensa vontade de saber e aprender mais. Um dos erros mais evidenciados prendia- se com a não realização de um trabalho lento e cuidado das peças, pelo que em sala de aula a coordenação e mecanização eram aspetos de fraco domínio, exigindo da parte da aluna uma sistematização e esforço adicional para realizar um estudo lento. Uma das qualidades é a memorização, pelo que se apresentou muitas vezes em público sem recorrer à partitura. Ao nível comportamental, a aluna superou os critérios de pontualidade e assiduidade.

Ao nível da interpretação, compreendeu as questões de articulação, embora, muitas vezes, não tenha conseguido cumprir de forma rigorosa esta particularidade; contudo, teve o cuidado em interpretar os finais de frase e compreender os pontos de tensão e distensão, em executar os trilos e exercitar as mudanças de teclados. Estes aspetos contribuíram para a evolução na aprendizagem e favoreceu a destreza na execução organística ao nível da performance. Ao longo do ano, foi-se despertando uma maior evolução na musicalidade e expressividade.

154 Em termos de objetivos e estratégias metodológicas de ensino aprendizagem, posso constatar que foram, de um modo geral, alcançados os objetivos de aprendizagem e, mais importante, refletiram progresso no desempenho do aluno. O repertório planificado foi realizado, bem como os exercícios que complementaram a técnica dos manuais e da pedaleira. Correspondeu de forma incessante às atividades organizadas dentro e fora da escola, como por exemplo a participação no Concurso de Nacional de Órgão em Aveiro, na qual foi concorrente e representante do CMJ.

Em termos de estratégias, optei por recorrer ao metrónomo diversas vezes, no sentido de aprimorar a velocidade e coordenação, e realizar a leitura de mãos separadas por pequenos excertos e secções.

Percurso do aluno T

Aulas observadas 23

O Aluno T frequenta o 3º grau de órgão, e a sua prática instrumental decorre há cerca de dois anos. O aluno já estava familiarizado com o instrumento, pelo que o nível de domínio dos teclados e da pedaleira se apresenta a um nível consistente. No que concerne aos objetivos delineados para este ano de formação, os mesmos refletem a continuação do estudo da pedaleira num nível mais elevado de complexidade, e focam aspetos de interpretação, de compreensão auditiva e cinestésica, de criatividade, técnico estilísticos e de performance, com vista a um maior rigor na execução (articulação, ornamentação, fraseado musical, expressividade, domínio da técnica de pedaleira).

No início do ano letivo, o aluno demonstrou-se empenhado no instrumento, cumprindo com o estudo regular, que se refletiu de forma bastante positiva na nota final. Em meados do 2º período, o aluno foi regredindo por falta de motivação e, em consequência, o estudo regular e os objetivos foram fraquejando, causando um retrocesso na sua evolução.

155 Ao longo das aulas assistidas, observei que o aluno se apresenta ao instrumento com uma postura linear do tronco e dos membros, possui uma razoável capacidade de leitura, que se verificou também na prática de leitura à primeira vista, cumprindo normalmente com a dedilhação pedida. O seu desenvolvimento não salientou um estudo mais dedicado e contínuo para a aquisição expedita de competências, como exige este nível de ensino, quer dos manuais, quer da pedaleira, expressas no repertório definido pela professora, que inseria algumas obras mais complexas: Prelúdio em Sol menor BWV 558 de Johann Sebastian Bach, Verset de León Boëllmann e Interlúdio de Andrew Moore, estas últimas que trabalhavam de forma exaustiva o legato.

No decorrer das aulas, foi possível observar alguns aspetos que se destacaram no aluno, tais como a dedilhação, a musicalidade e expressividade, tendo sido capaz de entender e aplicar os fraseados e perceber os pontos de tensão e distensão das frases, a memorização, fruto de um estudo lento, a execução com facilidade de diferentes tipos de articulação, particularmente o legato. Na pedaleira verificou-se uma evolução positiva ao nível da execução descontraída dos exercícios e das peças. Inicialmente, o aluno tendia a olhar para a pedaleira quando a executava, mas este aspeto foi aperfeiçoado com a prática de exercícios técnicos. Uma das restrições mais evidentes foi a execução e aplicação da articulação em peças com duas ou mais vozes, como o caso do Prelúdio em Sol menor, embora fosse capaz de identificar a presença de um tema principal.

Como estratégias de ensino aprendizagem, recorreu-se ao uso do metrónomo, à leitura seccionada, a imagens para exemplificar determinadas situações e à leitura com mãos separadas e pedaleira, com o intuito de aperfeiçoar o nível de execução e interpretação.

Percurso do Aluno D

Aulas observadas 18

O Aluno D, inscrito no 5º grau de órgão, demonstrou conhecer bem o instrumento e a sua prática. Sendo um aluno com necessidades educativas especiais, diagnosticado com

156 autismo, os objetivos e estratégias de ensino aprendizagem foram adaptados às características e particularidades do aluno, de modo que ultrapassasse as suas dificuldades e limitações, e lhe permitisse assimilar de forma mais consistente determinadas competências. Desta forma, o aluno foi capaz de cumprir com os objetivos, embora que com um acompanhamento ainda mais especializado. O aluno não possuía hábitos de estudo regulares, o que dificultava a evolução. Por sua vez, devido à falta de estudo, os conteúdos trabalhados na aula demonstravam-se a um nível igual ou inferior na aula seguinte.

No segundo período, após a escolha do programa a professora experimentou atribuir ao aluno uma das músicas que ele gostaria tanto de tocar, sendo que o resultado foi inesperado, porque o aluno conseguiu preparar a peça em duas semanas, apesar de complexa tecnicamente. Por outro lado, o aluno não se centrou no “repertório correto”, isto é, pedagogicamente ideal, mas adequou uma peça diferente ao aluno, fazendo-o sentir-se motivado. Contudo, teve de cumprir parte do programa estipulado pela disciplina, escolhido e ajustado tendo em conta o ponto de vista técnico e interpretativo.

Tecnicamente, o aluno revelou imensos problemas de coordenação motora e pouca agilidade nos dedos, limitando as capacidades de execução também ao nível da articulação. Quanto à leitura, tinha grandes dificuldades na leitura e execução simultânea dos três pentagramas, sobretudo nas notas em clave de fá, cujo trabalho requer um estudo mais lento e seccionado. Na maior parte das aulas, o aluno mantinha a concentração por períodos curtos, acabando sempre por encaminhar a atenção para outros assuntos não relacionados com a aula.

Ao nível do repertório, o aluno apresentou duas peças por trimestre para além dos exercícios de técnica de pedaleira extraídos do manual de Flor Peeters, bem como exercícios de índole técnica, como escalas e arpejos em várias tonalidades para os manuais. Das obras tocadas, destacam-se Verset de Léon Boëllmann, Prins Eugénius Mars de Magdalena Dakkert e Dark Darker yet Darker de Toby Fox.

Como estratégias de aprendizagem, a leitura seccionada, o solfejo e a repetição sistemática e mecanizada de passagens foram as que tiveram maior realce na evolução contínua do aluno.

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Música de Conjunto – Orquestra de Cordas

Aulas observadas 5

O grupo de música de conjunto – Orquestra de Cordas – teve um total de cinco aulas assistidas. Por este motivo, a avaliação atribuída por mim não foi contínua. Por sua vez, verificaram-se alguns aspetos que foram evoluindo ao longo do ano. Os objetivos traçados focaram-se em elementos técnicos, musicais, performativos e interpretativos a conquistar ao longo das aulas para uma apresentação final onde todos os estes aspetos teriam de funcionar bem em grupo. Dentro dos objetivos mencionados, destacaram-se acima de tudo a afinação, geralmente a área de menos conforto, a articulação, a sonoridade e a coordenação musical. Não obstante, constatei que o esforço de cada um em termos de competências artístico musicais constituíram uma preocupação por parte dos alunos e do professor para beneficiar o nível de performance em conjunto. As estratégias utilizadas pelo professor incidiram sob o trabalho separado dos naipes, por compassos, o trabalho das arcadas individualmente e a memorização em grupo.

A afinação e articulação eram pontos que mereciam um trabalho mais detalhado, separado por naipes e seccionado, por vezes acabando por se sobrepor a outros aspetos técnicos que deveriam igualmente ser trabalhados. Como referido, a afinação foi uma das componentes mais trabalhada em aula, a qual requereu adaptação e prática, aspetos que necessitam de mais tempo de aprendizagem e aquisição. Ao longo das aulas, observei vários momentos onde foi necessário trabalhar a acuidade rítmica e a articulação. Um dos pontos que também teve um grande enfoque foi a execução das dinâmicas e dos fraseados, para melhorar a expressividade e a performance mútua.

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