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Descrição fundamentada da dimensão organizativa e estrutural do caso em análise

Capítulo 2. – Análises dos contextos espácio-temporais do estudo de caso

2.4. Descrição fundamentada da dimensão organizativa e estrutural do caso em análise

A organização é um artefacto social que requer a existência de atores intencionais e que garante uma certa coerência entre os diferentes processos que a constituem: “a organização é uma forma de ação coletiva reiterada assente em processos de diferenciação e integração tendencialmente estáveis e intencionais” (Ferrante & Zan, 2004, p.31). A primeira condição apontada pelos autores italianos do manual de teoria das organizações, Massimo Ferrante e Stefano Zan (2004), é a existência de um grupo de dois ou mais indivíduos entre os quais exista um certo grau de diferenciação, constituindo um sistema de funções diferentes e especializadas: diferenciação do trabalho ou especialização das atividades efetuadas por uma pessoa perante uma tarefa mais geral (pp.31-35).

com aquisição e manutenção de um automóvel, quer com a compra dos bilhetes e passes mensais, são custos muitas vezes incomportáveis.” (Lopes et al., 2017, pp.132-133).

135 Processo recente pela realidade portuense, adquire hoje centralidade para a observação das dinâmicas

Complementar a diferenciação, a integração permite recriar uma unidade a partir do que foi dividido: integrar numa unidade de intenções os esforços feitos a partir das funções específicas.

A hierarquia, ou o sistema hierárquico (que coordena e gere os possíveis conflitos), as normas e procedimentos (que definem quem faz o quê), as tecnologias, entre as quais a linha de montagem (que ordena sequencialmente as atividades, impõe operações específicas e define os tempos das tarefas), os esquemas e os programas de ação (que indicam parâmetros de comportamento simulados ou aprendidos anteriormente), as estratégias (linhas de comportamento que definem os objetivos de curto e longo prazo, os critérios de orientação e os vínculos de ação) e os valores (a partilha de valores gerais e profissionais), garantem a unicidade dos esforços entre as diferentes partes de uma organização e são as modalidades, na maioria dos casos presentes de forma combinada, que promovem a coerência e a realização da integração numa organização (pp.35-39).

Conforme apontado pelos autores, os processos de diferenciação e integração criam mecanismos de influência nos comportamentos individuais, seja porque os outros esperam comportamentos previstos consoante a função que o indivíduo ocupa, seja porque os indivíduos se comportam em distintas maneiras consoante a função que ocupam nas diferentes organizações.

A estrutura organizativa pode ser definida como o conjunto das modalidades específicas com as quais cada organização gere e governa os processos de diferenciação e integração, existindo, portanto, uma combinação quase infinita de possibilidades, decorrentes das interações quotidianas destes dois processos, porém, podem ser individuadas regularidades comportamentais e desenhos das estruturas dos quais podem ser construídos modelos interpretativos, como demonstrou a obra de Max Weber (1997) acerca do fenómeno organizativo da burocracia e a criação de seu tipo-ideal: construção mental por meio de um procedimento de abstração que possibilita a análise de qualquer organização136. Neste sentido, diferentes esforços foram feitos para encontrar critérios

136 Weber parte da análise da evolução do Estado moderno, sua estrutura de dominação e conformação

que permitam descrever as estruturas organizativas, chegando a diferentes combinações e opções:

Há quem diz que as estruturas organizativas são três, quem cinco, quem dez. Há quem faz a distinção entre estrutura pública ou privada, quem entre estruturas de produção e de serviço etc. Quem se dedicou a uma investigação sistemática da literatura em questão (Mintzberg) decidiu, por fim, que as configurações estruturais das organizações são cinco (a estrutura simples, a burocracia mecânica, a burocracia profissional, a formação divisional e a adhocrazia). (Ferrante & Zan, 2004, p.58).

O que parece central para a descrição de uma organização é, portanto, o compreender o “quem faz o quê”, reconstruindo o sistema de funções, os tipos e graus de interdependência entre as funções e o sistema de coerências. Os estudos sobre as organizações, porém, evidenciaram como a visão estrutural (horizontal e vertical) da organização não é suficiente para explicá-la e para compreender as formas de condicionamentos do comportamento organizativo.

Neste sentido, uma outra variável organizativa forte é a cultura organizativa, que compreende os símbolos e os valores. Influencia os comportamentos dos diferentes atores organizativos e promove a homogeneidade interna à organização, mas, ao mesmo tempo, é influenciada pela cultura adquirida pelos atores organizativos noutros contextos (Ferrante & Zan, 2004, pp.91-135). As especificidades da cultura organizativa evidenciam “como se fazem as coisas” e podem ser consideradas formas culturais de integração organizativa a linguagem (gírias que se tornam símbolos), os critérios de pertença ao grupo, as fronteiras da organização, os critérios de alocação do poder, os parâmetros de prémios ou punições e a missão que, em conjunto, criam a ideologia da organização (Selznick, 1949 apud Ferrante & Zan, 2004, p.109).

Além disto, parece fundamental evidenciar a relação que cada organização tem com o ambiente com o qual interage, ao qual a organização se adapta e que a mesma

tem uma função comparativa e a sua elaboração foi aplicada não somente às organizações burocráticas, mas também às privadas e produtivas de grandes dimensões, pois a criação de um modelo idealtipico descreve as regularidades estruturais. Não é uma descrição estática de uma organização específica, mas uma metodologia de análise que proporciona o estudo sobre todas as organizações por diferença colocando-as num continuum ideal com aos dois extremos as organizações burocráricas e as organizações não burocráticas (Ferrante & Zan, 2004).

constitui por meio das atividades. Enquanto sistema aberto, as organizações sobrevivem ao instaurar relações de troca com o ambiente em geral137 e com uma rede de organizações, um retículo interorganizacional de relações diretas (Ferrante & Zan, 2004).

A partir das trocas de dinheiro, serviços, autoridade (legitimação) ou informações, vinculadas a normas, valores e recursos (escassos), as organizações da rede perseguem o aumento da própria influência social, a diminuição da dependência de fontes externas e redução dos custos, em suma, a redução das incertezas do ambiente, instável e complexo, por meio de uma intencionalidade (limitada) dos sujeitos (Merton, 1970).

Para o sociólogo estadunidense Robert Merton (1970), para o entendimento das ações sociais nas organizações são úteis as teorias de médio alcance, que conjugam os fundamentos teóricos com a investigação empírica e que proporcionam um estudo das funções, manifestas e latentes, que melhor se aplica a uma sociedade heterogénea.

Conforme estas premissas teóricas brevemente apresentadas, é possível deduzir a organização como sistema complexo, constituído por diferentes variáveis, entre elas interconectadas e interdependentes. No intuito de alcançar os objetivos descritivos específicos inseridos na presente investigação, evidencia-se a importância de integrar diferentes modelos para um melhor entendimento da PELE enquanto organização inserida no ambiente.

Propõe-se, portanto, uma delineação de sua estrutura a partir da proposta do tipo organizacional de Henry Mintzberg (1979; 1981), integrada com a descrição da cultura organizativa, da trajetória da associação e do retículo interorganizacional.

Conforme antecipado no capítulo 1.2 do presente escrito, a PELE é uma associação sem fins lucrativos de caráter social e cultural criada em 2007 no concelho do Porto por três sócios fundadores. Ao longo de seus primeiros 10 anos de atividade implementou 54 projetos artísticos em contextos de exclusão e vulnerabilidade social,

137 Entende-se por ambiente todos os atores do território, mesmo os que não possuem uma relação direta

privilegiando linguagens teatrais (TC e TO) integradas com outras linguagens artísticas como a dança e a música.

Algumas investigações teórico-práticas foram efetuadas nos últimos anos sobre o seu desempenho138. Tratam-se de investigações efetuadas nas áreas de sociologia, educação e estudos teatrais sobre a PELE e/ou com foco em projetos específicos implementados pela associação. Neste sentido, apontam-se 3 dissertações de mestrado, uma dissertação de doutoramento e uma avaliação externa de projeto.

No seu estudo indutivo e exploratório, efetuado no âmbito do Mestrado em Estudos da Criança, Área de Especialização em Associativismo e Animação Sociocultural (Instituto de Educação), Inês Barbosa (2011) procura compreender a metodologia do TO observando sua aplicação prática em contexto português num trabalho com jovens advindos de territórios estigmatizados e desfavorecidos, operacionalizado pela PELE, e evidencia a experiência como uma oportunidade para os jovens enquanto espaço de reflexão, aprendizagem e partilha, de questionamento de si próprios, dos outros e do mundo que os rodeia.

No âmbito de uma dissertação de estudos em teatro, Joana Teixeira (2014), nas suas conclusões gerais feitas a partir de observações de uma oficina e de um espetáculo139, aponta para a imprevisibilidade enquanto fator central para projetos comunitários (lidar com desistências, por exemplo), tornando-se caraterística fundamental pela gestão da atividade teatral e dos projetos a criatividade e a capacidade de improviso para encontrar soluções. Para a autora, as técnicas de ensaio são as

138No específico, trata-se de uma dissertação de Mestrado pelo Instituto de Educação da UMINHO

(Barbosa, 2011); uma monitorização externa de um projeto teatral em âmbito sociológico (Azevedo, 2012; 2015); uma dissertação de Mestrado em Sociologia na UP (Parente, 2014); Uma dissertação de Doutoramento em Sociologia na UP (Melo, 2014); e uma dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro da UP (Teixeira, 2014).

139 Trata-se de uma oficina de teatro para jovens em risco de exclusão social realizada no âmbito do

Projeto Raiz – Programa Escolhas, em Ramalde (Porto) dinamizada pela autora ao longo de dois anos, e de um espetáculo de teatro, que junta profissionais e amadores, realizado pela Associação Cultural Filantrópica Apuro, encomendado pela Câmara Municipal de Felgueiras para a iniciativa Rota do Românico / Palcos do Românico e que contou com um processo criativo de dois meses (Teixeira, 2014). Para a autora as duas experiências apresentam diferenças substanciais, mas possuem em comum o uso da arte para o desenvolvimento: “Apresentam-se aqui dois projetos de diferentes localidades, de diferentes contextos sociais (sendo o primeiro um contexto urbano central e o segundo um contexto urbano periférico) mas que têm em comum a necessidade da arte para o seu desenvolvimento.” (Teixeira, 2014, p.39).

mesmas usadas no teatro “convencional”, mas o TC difere-se por suas intenções, que consideram a inclusão social fator fulcral, e por possuir uma forte vertente educativa. Teixeira evidencia também a falta de uma certa legitimação teórica do teatro comunitário e avança para uma sugestão de definição de TC, a ser inserida numa futura versão de Dicionário de Teatro português.

No âmbito do Mestrado em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Ana Parente (2014) aprofunda o estudo das pessoas participantes das atividades teatrais, membros dos grupos de teatro, que identifica enquanto públicos- atores. Traz uma descrição das características sociodemográficas, socioeducacionais e socioprofissionais dos públicos-atores da PELE140, apresenta as suas motivações e graus de envolvimento e satisfação, promovendo a compreensão da relação dos membros dos grupos de teatro comunitário com a associação e construindo uma tipologia de públicos aplicada, distribuída em três vertentes141, ou seja, os conviviais, os lúdicos e os cultivados:

Os conviviais, como a própria denominação indica, remetem para o segmento de público que frequenta os ensaios pelas redes de socialidade e pela ligação que sente em relação à associação. Estes são predominantemente do sexo feminino, reformados e com idades compreendidas entre os 49 e 74 anos. Os lúdicos abrangem os inquiridos que buscam a associação como um local de lazer e pelo prazer de fazer teatro. Pois, o lazer apresenta-se como um elemento central da cultura vivida por milhões de pessoas, possui relações subtis e profundas com todos os grandes problemas oriundos do trabalho, do estudo, da família e da política que, sob sua influência, passam a ser tratados em novos termos. Como tal, estes indivíduos são jovens, do sexo masculino, solteiros e têm o ensino básico ou ensino secundário como habilitação literária. Por sua vez, os cultivados procuram a PELE pela sua componente cultural e pela aprendizagem que os projetos artístico-comunitários lhes podem proporcionar. (Parente, 2014, p.92).

Natália Azevedo monitorizou o primeiro projeto da PELE implementado em EP (Entrado) e apontou para a ambivalência destes projetos criativos que, se por um lado,

140 O estudo centrou-se em cinco grupos criados pela PELE a partir de experiências de TC e TO.

141 A autora sublinha a exiguidade da amostra e a não possibilidade de generalização dos resultados por

são experiências positivas a nível pessoal, social e simbólico, por outro lado, possuem criticidades relacionadas com sua sustentabilidade no tempo (Azevedo, 2012).

A autora evidenciou a singularidade e os contributos da arte teatral (em EP), mecanismo de um co-processo de criação cultural, e sublinhou as dificuldades de visibilidade do projeto e de sua execução (dificuldade de arranque e de sustentabilidade no tempo). Num segundo momento reflexivo sobre a experiência, acrescida também pela retrospectiva proporcionada pelo sucessivo trabalho da PELE em EP (Inesquecível Emília), Azevedo (2015) sublinha as relações que as criações artísticas possuem com seu contexto espácio-temporal e suas esferas de legitimação.

Afunilando por peculiaridades próprias de projetos feitos com populações desprovidas de experiências artísticas profissionais, que levantam questões acerca da mudança social e da reprodução de desigualdades estruturais, a autora destaca a relação das ciências sociais com o social observado e aponta a importância de um desenho de pesquisa intensiva e participado que promova um olhar crítico sobre os mesmos (Azevedo, 2015).

Sara Melo (2014), problematiza o papel das artes de rua para a definição e projeção de uma política cultural local, partindo do projeto Texturas implementado pela PELE no âmbito do Festival Internacional de Teatro de Rua Imaginarius de Santa Maria da Feira. Na sua dissertação de doutoramento, a autora aprofundou a relação de um projeto específico com o território, enquadrando o mesmo na sua dimensão espacial e de ações políticas autárquicas.

No seu estudo indutivo e aberto à pluralidade de resultados e de pontos de vista, aprofundou o significado atribuído à experiência por parte do sujeito social, enquanto dimensão integrante fundamental da produção social, “na busca pela significação simbólico-estética dos participantes do Texturas” (Melo, 2014, p.340), através do qual identificou efeitos benéficos da arte a nível individual em três dimensões142: material/

142 Mesmo tendo sido detetados múltiplos efeitos positivos, a autora evidencia como as vulnerabilidade

dos participantes do Texturas não desapareceram e coloca questões sobre a prosecução dos efeitos positivos no tempo: “trata-se de equacionar como sustentar uma participação ativa e motivadora, que prolongue (e não destrua) os efeitos positivos detetados. Porque a vulnerabilidade dos protagonistas não desapareceu, iniciou, em modalidades mais ou menos consistentes, um processo de transformação, reconversão, re-narração de si próprios. Entre a identificação dos efeitos positivos e a sua garantia de

saúde, cognitiva/ psicológica e interpessoal. A autora argumentou também acerca da sustentabilidade de projetos artísticos, apontando a importância de considerar os mesmos inseridos num contexto mais geral que proporcione individuar a continuidade das ações e seus efeitos:

Se nos circunscrevermos ao Texturas enquanto projeto de intervenção comunitária, teremos que o identificar como um projeto singular, de carácter pontual, sem ressonâncias sociais ou culturais de destaque para o futuro quer do próprio projeto, quer dos intervenientes diretos. Não acreditamos, porém, nessa fórmula deslegitimizadora, na medida em que, para além do projeto singular, permanece a relação entre as linguagens artísticas e culturais promovidas pela Câmara Municipal, e a própria comunidade feirense. (Melo, 2014, pp.345-346). Análise diacrónica que deveria ser acompanhada por uma avaliação regular dos projetos e que para a autora representa uma fragilidade dos mesmos. Neste sentido, Melo aponta para a necessidade de aprofundar a questão sobre estes tipos de projetos, criando grupos de análise sobre seus efeitos, levando em consideração suas reais capacidades de permeabilidade nas comunidades, e refletir sobre os graus de institucionalização e instrumentalização possíveis.

Os contributos apresentados sugeriram diferentes linhas de investigação do mesmo objeto e, paralelamente a estes estudos de observações externas que referem-se a projetos e ações da PELE no decorrer do período analisado (2007-2017), evidencia-se a existência de trabalhos publicados a partir de reflexões promovidas pela própria associação e, por vezes, inseridas nos objetivos de projetos específicos143.

Nos estudos encontrados, o olhar foi direcionado para específicos processos criativos ou metodologias específicas. O trabalho que mais se aproximou a uma visão que levasse em consideração as complexidades das atividades da associação, e de seus públicos- atores, foi o trabalho de Parente (2014) que contextualizou diacronicamente os projetos. No mesmo sentido, aponta-se também a uma possível leitura transversal dos

solidificação, os cenários são variados, e dependerão também de fatores externos ao projeto e ao seu desenrolar.” (Melo, 2014, p. 345).

143Já apontados também no anexo 6 (Lista resumida do principal material recolhido no terreno)

contributos contidos na obra Arte e Comunidade144 (Cruz, 2015), que trouxeram diferentes olhares e reflexões de pessoas que atravessaram a trajetória da PELE em diferentes períodos. Até hoje, porém, não existia uma investigação que tinha abordado a associação enquanto organização complexa com especificidades internas, um percurso histórico, outputs específicos e em relação com seu entorno.

- A estrutura organizativa

Conforme o modelo conceitual de Henry Mintzberg (1979; 1981), existem cinco partes fundamentais de uma estrutura organizativa, perpassadas por mecanismos de coordenação145, que são: 1) o vértice estratégico (strategic apex) que compreende os gestores de topo que asseguram o cumprimento da missão; 2) o centro operacional (operating core), ou seja, as pessoas ligadas ao sistema produtivo e serviços; 3) a linha hierárquica intermédia (middle line) que faz a ligação entre o vértice estratégico e o centro operacional; 4) a tecnoestrutura (technostructure) que compreende os analistas responsáveis pelo planeamento e organização dos métodos, permitindo a estandardização da organização; 5) e a logística (support staff) que inclui o pessoal de apoio. Nem todas as organizações possuem estas cinco partes ou as combinam das mesmas formas, determinando estruturas simples ou muito complexas, com diferentes configurações e apresentações gráficas.

No modelo de Mintzberg (1979; 1981), conforme as especificidades e as combinações destas cinco partes, podem ser identificadas 5 configurações estruturalmente distintas: a estrutura simples (simple structure), a burocracia mecânica (machine bureaucracy), a burocracia profissional (professional bureaucracy), a estrutura divisional (divisionalized form) e a adhocracia (adhocracy). Na estrutura simples a coordenação é alcançada pela supervisão direta do vértice estratégico, com o mínimo de staff e de linha hierárquica intermédia.

144 Remete-se especificamente para os contributos dos capítulos 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 (Cruz, 2015) . 145 Os mecanismos de coordenação identificados são: ajuste mútuo, supervisão direta, estandardização dos

Com o crescer da organização, passa-se aos tipos organizativos de burocracia mecânica quando a coordenação depende da estandardização das tarefas de trabalho (standardization of work) e onde a tecnoestrutura, que define os standards, possui centralidade estratégica; de burocracia profissional quando a coordenação é alcançada por meio da estandardização das capacidades e habilidades dos trabalhadores profissionais (standardization of skills), em que o núcleo operacional adquire centralidade estratégica e onde a tecnoestrutura e a linha hierárquica intermédia não são particularmente elaboradas; de modelo divisional, comumente associada a estruturas organizativas de grandes dimensões em ambiente estável, que compreende organizações constituídas por unidades operacionais paralelas (órgãos especializados por divisões) e onde a coordenação é adquirida através da estandardização dos resultados e dos produtos-serviços (standardization of outputs); a configuração de adhocracia, que para o autor pode ser definido como o modelo organizacional mais recente, complexo e difícil de descrever pela sua não-estandardização e flexibilidade, é constituída por grupos de trabalhos formados por especialistas coordenados por adaptação mútua (mutual adjustment) proporcionando organizações capazes de adaptar-se ao ambiente, com centralidade estratégica da formação profissional e do staff.

A partir deste modelo e com as devidas adaptações e integrações que o caso empírico especifico necessitou, analisou-se a estrutura da PELE146.

No vértice estratégico da PELE encontram-se as pessoas que detêm a responsabilidade global sobre os projetos específicos (nível micro e temporário) e os diretores da associação (nível macro e contínuo). Conforme já antecipado no primeiro capítulo, a PELE foi constituída por três sócios fundadores, que se cruzaram e que, em 2007, decidiram formalizar suas colaborações.

Os três fundadores, com idade entre 35 e 38 anos nos momentos das entrevistas147, foram estrategicamente fundamentais para a determinação da cultura

146 Remete-se também para a análise expositiva da associação apresentada no primeiro capítulo, com que

esta explanação dialoga.

147 Sobre isto ver também o primeiro capítulo (1.2 e 1.3). As entrevistas com os fundadores foram feitas

organizativa e para a implementação e gestão das atividades consoante a missão da associação. Possuem diferentes formações académicas principais – teatro, psicologia e relações internacionais – que foram complementadas com formações artísticas específicas, formais e informais, próximas às que hoje podem ser identificadas como