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Capítulo 1 Apresentação do ponto de partida: a (re)formulação de um objeto de estudo

1.2. O objeto empírico e a reconfiguração do objeto teórico

Inicialmente recolheram-se dados sobre a associação a partir da entrevista efetuada na fase exploratória com um de seus representantes e que, como foi exposto, tinha também o objetivo de preencher a ficha de categorização do grupo. De forma complementar, foi feita uma análise aprofundada do site oficial da associação PELE22, a partir de uma grelha de categorias de análise23, e foi dada particular atenção à visão diacrónica dos projetos realizados, procurando um levantamento exaustivo dos mesmos.

Nesta primeira fase, portanto, a análise de fontes documentais concretizou-se no estudo de material audiovisual e escrito presente na página web24 da associação, de panfletos e dossiêrs de apresentação dos projetos teatrais e outro material recolhido, além do acompanhamento das publicações efetuadas na página facebook25 gerida pela própria associação. A análise de fontes documentais ajudou na compreensão da natureza da PELE e das suas atividades, identificando a tipologia dos projetos, uma primeira visão panorâmica dos grupos envolvidos e os laços dos grupos com o território.

A PELE, associação sem fins lucrativos de caráter social e cultural, foi constituída formalmente em setembro de 200726 pela iniciativa de três sócios fundadores, Hugo Cruz, Maria João Mota e João Pedro Correia, e desde então trabalha maioritariamente nos territórios do concelho do Porto27 implementando projetos

22 A página Web oficial da associação pode ser consultada ao endereço www.apele.org Acesso em:

17/09/2018.

23 A grelha foi feita tendo a título de comparação o exemplo de categorização de análise dos sites das

autarquias do Porto, elaborado por Azevedo (2007). Pode ser consultada entre os anexos da tese: ver anexo 3.

24 O primeiro acesso efetuado com um olhar mais sistematizado sobre os aspetos formais e os seus

conteúdos foi 5ª feira, dia 16 de outubro de 2014, dia em que foi efetuado o primeiro print do mesmo. Em seguida, o site foi visitado cada 5ª feira, durante os meses de investigação e, caso encontravam-se modificações efetuou-se um novo print das páginas.

25 A escolha de seguir de forma sistemática a página Facebook foi determinada pela consideração da

importância que os socials networks possuem como canal de contatos e divulgação de informações (atividades, publicidade, etc.).

26 Formalmente a associação PELE existe desde 2007, mas nota-se que os sócios fundadores já faziam

trabalhos anteriores nesta área de forma menos estruturada.

27 A sede da associação encontra-se no concelho do Porto e a maioria do trabalho foi efetuado no mesmo

território, porém, a associação implementou alguns projetos também em outros territórios nacionais, como será apresentado em seguida.

artísticos, com uma presença predominante da linguagem teatral, e atuando nas áreas sócio-educativa, artística e de formação:

Desde o início a Pele propôs desenvolver o diálogo entre a criação artística e o desenvolvimento humano com enfoque comunitário. A ideia era exatamente: como é que nós poderemos trabalhar com públicos mais excluídos através de linguagens artísticas e como é que isso pode de alguma forma ser uma mais- valia no processo de integração dessas pessoas? Nós sabemos de que o fato delas fazerem teatro, música, dança, não lhes vai dar emprego nem lhes vais pôr comida na mesa. Agora, a nossa experiência desses últimos 7 anos tem-nos mostrado que no processo de criação coletiva as pessoas experimentam-se de uma forma que muitas vezes não estão habituadas noutros contextos de vida. [Entrevista com um representante da PELE, fase exploratória, 30/06/2014]. Caraterizado por uma veste gráfica que foca predominantemente em fotografias de pessoas, ou grupos de pessoas, atividades e espetáculos, o site da PELE divide-se em diferentes sessões28 com algumas subdivisões e com diferentes links internos de aprofundamento. De uma forma geral, pode-se afirmar que a página web apresenta a associação por meio da sua missão, das suas metodologias (linguagens artísticas utilizadas29 e áreas de ação) e, principalmente, através as suas atividades, passadas e presentes.

No separador A PELE identificam-se 4 áreas de ação: Grupo de Teatro dos Surdos do Porto; Projetos em Estabelecimentos Prisionais; Projetos com Comunidades; Formação. Na mesma sessão é destacada a missão da associação, dividida em seis pontos30 e, na sessão NTO-PORTO31, são destacados os princípios e os objetivos do grupo NTO32.

28 Em 2014, altura do primeiro acesso sistematizado, as sessões eram: HOME; A PELE, com subdivisão

Equipa; NTO-PORTO; PROJETOS; INTERNACIONAL; MEXE; MORE, com subdivisões Edições, Parceiros. Em 2017, altura do último acesso sistematizado para os fins desta pesquisa, as sessões eram: HOME; A PELE; NTO-PORTO, PROJETOS, ECOAR, com subdivisão Ciclo Arte e Cidadania 2016, INTERNACIONAL, MEXE IV, com subdivisões 2013, 2015; EDIÇÕES; PARCEIROS. Em ambos os momentos estava também presente um link específico em inglês, EN, no qual a tradução da página A PELE.

29 Teatro Comunitário (TC) e Teatro do Oprimido (TO).

30 “Promover projetos artísticos que permitem o desenvolvimento individual, a integração e a cidadania

[…]; Potenciar a criação, experimentação e a inovação artística[…]; Aumentar as ações de formação junto da população em geral, artistas e técnicos […]; Incrementar a consultadoria externa a estruturas artísticas, sociais, nas áreas da educação e saúde[…]; Criar uma rede de trabalho, a nível nacional, entre

Não existe uma linha política específica assumida, porém, podemos destacar palavras-chave que evidenciam a linha de trabalho da associação: dialogo; criação coletiva; colocar os indivíduos e as comunidades no centro da criação; potenciar processos de “empoderamento”; criação artística como uma alavanca para o desenvolvimento comunitário; equilíbrio entre ética estética e eficácia; participação. Também aparece, entre as fotos da HOME e na sessão NTO-PORTO, a frase de Augusto Boal, mentor do Teatro do Oprimido, (1931-2009): “Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida. Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!”(Pele, s/d).

Os projetos, presentes transversalmente em diversas sessões do site33, e o festival MEXE34 ocupam um lugar de destaque. Os projetos mencionados nas diversas sessões remetem a links internos do próprio site, ou seja, para páginas específicas de cada projeto, e, nestas páginas, existem informações particulares, registos fotográficos e links ao canal youtube sobre apresentações breves dos espetáculos, gravações extensas de atuações teatrais e vídeos de reportagens da imprensa relativos aos projetos.

A cada título dos projetos há um link para uma página do próprio site que contêm a sua explicação e onde se encontram: enquadramento, sinopse, ficha técnica,

entidades do setor artístico[…]; Combater a centralização cultural, levando a arte ao seio de contextos mais excluídos […].” (Pele s/d)

31 A sigla NTO está por Núcleo de Teatro do Oprimido.

32 “O T.O. é usado como meio de desenvolvimento de competências pessoais e sociais, de participação

ativa, de promoção da consciência cívica e consequentemente de desenvolvimento social e comunitário. Todas as criações desenvolvidas devem refletir as inqueitações, necessidades, urgências e problemáticas sentidas pelos participantes, sendo os grupos que definem os temas a serem apresentados e abertos à discussão.” (Pele s/d)

33 Os projetos estão presentes na HOME, em que observou-se principalmente a presença dos que estavam

a decorrer ou os mais recentes, na terceira coluna à direita da sessão A PELE, obviamente na sessão PROJETOS, na sessão NTO-PORTO, remetendo de forma específica aos projetos implementados com os grupos de Teatro do Oprimido, e na sessão INTERNACIONAL.

34 O festival Mexe, realizado no concelho do Porto nas edições de 2011, 2013, 2015 e 2017, surgiu a

partir de um projeto da PELE e é por ela promovido e organizado, junto com alguns parceiros. Para maiores informações ver o site oficial da associação.

apresentações, registro fotográfico, reportagens TV e vídeo. Em muitos casos, é presente também a lista dos parceiros que apoiaram ou co-produziram o projeto.

Ao longo dos anos a PELE produziu diversos materiais e, além dos registos vídeos e fotográficos dos processos de criação e das apresentações públicas, na sessão EDIÇÕES do site oficial são mencionados 8 livros35 e 11 vídeos-documentários36 criados a partir dos trabalhos da PELE e em que a mesma associação colaborou e organizou:

A PELE tem como prática o registo escrito, fotográfico e vídeo dos seus processos. Este investimento permite para além de uma função de arquivo, questionar de forma contínua os trabalhos desenvolvidos. Para além desta função interna, estas edições encontram-se disponíveis para compra e consulta. Para isso basta entrar em contacto com a PELE (Pele, s/d.).

Em seguida, propõe-se um exemplo de print da página oficial da associação, efetuado ao longo da investigação.

35 Os livros assinalados, registos de processos e descrição dos projetos, pela maioria, e reflexão, são: Nem

anjo, nem diabo (2009); Eram umas quantas vezes (2010); Texturas (2010); Entrado (2012); Mapa_o jogo da cartografia(2015); Arte e comunidade (2015); Arte e cidadania em contexto prisional - Percursos do projecto Ecoar (2016); Práticas artísticas comunitárias (2017).

36 Os vídeo documentários assinaladas são: Texturas (2009); LGT Mexe (2010); Agosto azul (2010);

Entrado (2013); Povoar (2013); Inesquecível Emília (2013); Quase nada (2013); Passo a passo (2013); Cidadãos de corpo inteiro (2015); Olhar para cima (2016);O que acontece quando a Pele se mexe (2018).

Ilustração 2– Sessão HOME do site oficial da PELE

Fonte: Site oficial da associação, disponível em <http://www.apele.org/>. Print realizado em data 30/10/2014, 5ª feira.

Parece pertinente afirmar, portanto, que a página web oficial apresenta a PELE através de suas atividades e seu histórico, ou seja, via ações empíricas, concretizadas em trabalhos com grupos e apresentações artísticas de diferentes tipos, organizadas por meio do material audiovisual anexado e que passam a ideia de um trabalho minucioso e cuidadoso de registo das atividades. Para os efeitos do presente trabalho, portanto, resolveu-se organizar a informação relacionada aos projetos identificados no site e foi feita uma triangulação dos dados presentes nas diversas sessões para eliminar qualquer repetição dos eventos e identificar assim o número de projetos implementados em cada ano.

À data da finalização do trabalho de campo a PELE tinha efetuado 54 projetos que foram divididos por tipologias e por território interessado. Para proporcionar um quadro do conjunto das atividades desenvolvidas, apresenta-se em seguida uma tabela dos projetos, organizada cronologicamente, implementados ao longo dos dez anos de atividade da PELE, desde a sua criação formal, em setembro de 2007 e até o fim da presença do investigador no terreno, em 30 de setembro de 201737. Remete-se também para os anexos presentes no final deste escrito para uma visão diacrónica das atividades (anexo 4) e para a descrição das tipologias das atividades e dos territórios que interessaram cada projeto (anexo 5).

37 Fez-se coincidir a finalização da presença continuada do investigador no terreno logo após a conclusão

do festival MEXE IV e EIRPAC II, com a finalização da primeira fase do projeto CAL e sua apresentação pública, com o décimo aniversário da associação e com o inicio do estágio académico no exterior, efetuado na Universidade de Bolonha enquanto formação complementar.

Tabela 5 – Lista dos 54 projetos implementados ao longo dos primeiros 10 anos de atividade da PELE (2007-2017).

Nome do Projeto

1 EUROPACÓLON

2 PRETO ÀS CORES

3 NEM ANJO, NEM DIABO Grupo TO Instituto Profissional do Terço

4 O QUE É QUE TU QUERES MAIS? Grupo TO Instituto Profissional do Terço

5 NASCEMOS DA ÁGUA E À ÁGUA VOLTAREMOS Grupo de Teatro de Surdos do Porto

6 ERAM UMAS QUANTAS VEZES Grupo de Teatro de Surdos do Porto

7 METO A COLHER

8 LER-TE AO PERTO

9 TEXTURAS

10 Ciclo de Teatro do Oprimido

11 Iniciação ao Teatro do Oprimido

12 LGT_MEXE

13 ENTRADO Projetos em Estabelecimentos Prisionais

14 AGOSTO AZUL

15 MIGUEL + RITA

16 DIZ-CRIME-NA-ACÇÃO Grupo TO – Instituto Profissional do Terço

17 Curso de Teatro do Oprimido

18 Teatro fórum e violência

19 Curingagem

20 Laboratório Madalena

21 CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA _GUIMARÃES 2012

22 FÉRIAS NA QUINTA

23 QUASE NADA Grupo de Teatro de Surdos do Porto

24 MEXE: I encontro de arte e comunidade

25 AURORA Grupo de Teatro do Oprimido Auroras

26 PROCURA-SE FUTURO Grupo de Teatro do Oprimido AGE

27 Ciclo de teatro do oprimido

28 Arco-íris do desejo

29 Teatro-fórum – A estruturação da pergunta

30 Raízes e asas – Seminário teórico sobre Teatro do Oprimido

31 INESQUECÍVEL EMÍLIA Projetos com Estabelecimentos Prisionais

32 SIGA A RUSGA

33 PEREGRINAÇÕES Grupo de Teatro Comunitário da Zona Histórica (Vitória)

34 ESPELHO Grupo de Teatro do Oprimido AGE

35 NÓS Grupo de Teatro de Surdos do Porto

36 POVOAR Grupo de Teatro Comunitário EmComum de Lordelo do Ouro

37 TERRA Grupo de Teatro Comunitário de Fermentões

38 Mostra de vídeos de teatro comunitário /

39 MEXE: II encontro de arte e comunidade

40 HOJE É DIA DE FESTA! Grupo de Teatro do Oprimido Auroras

41 TAM... O CAMINHO DO RIO

42 MAPA_O jogo da cartografia. Projetos com Comunidades /AGE_Grupo de Teatro do Oprimido / Auroras_ Grupo de Teatro do Oprimido /Grupo de Teatro Comunitário EmComum de Lordelo do Ouro / Grupo de Teatro Comunitário da Zona Histórica (Vitória) / Grupo de Teatro de Surdos do Porto

43 Instalação SALTA

44 LENDAS DE OLHÃO

45 MAIS NÃO POSSO!!

46 ECOAR_Empregabilidade, competências e arte. Projetos com Estabelecimentos Prisionais

47 MEXE: III encontro de arte e comunidade

48 EIRPAC I Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias

49 PASSEIOS AO PÔR DO SOL Grupo de Teatro Comunitário do Centro Histórico

50 CICLO ARTE E CIDADANIA

51 CAL Retrato das Ilhas

52 PORTO SENTIDO Grupo de Teatro do Oprimido AGE

53 MEXE : VI encontro de arte e comunidade

54 EIRPAC II Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias

De forma geral, notou-se a coexistência de múltiplos projetos que acompanharam a história da associação. Diferentes por duração, tipologia, linguagens artísticas, caraterísticas das populações envolvidas e territórios abrangidos, encontram- se experiências de teatro comunitário, teatro do oprimido (teatro fórum), teatro com surdos, teatro em Estabelecimentos Prisionais (EP), mas também instalações/performance, espetáculos para a infância, workshops (ou oficinas), festivais internacionais e momentos de reflexão teórica38. No que diz em respeito aos territórios notou-se a circulação dos projetos em espaços públicos (parques, praças…), em escolas ou outras instituições públicas (EP, Juntas de Freguesias, Universidades, serviços de ação social), em teatros ou outros espaços culturais oficiais (Fundação Serralves, Casa da Música) e em sedes de associações do território entre as quais a da própria PELE39.

Conforme o gráfico seguinte, a distribuição territorial concentra-se no concelho do Porto e na sua área metropolitana, tendo 5 projetos, dos 54, implementados e apresentados exclusivamente noutras cidades nacionais (2 projetos em Guimarães, 1 em Portimão, 1 em Olhão e 1 em Penafiel e Amarante).

38 Para além do Congresso internacional EIRPAC e do Ciclo Arte e Cidadania, notaram-se diversos

momentos de reflexão inseridos nos próprios projetos como fóruns, seminários, conversas em espaços culturais e em universidades, conforme pode ser percebido também no anexo 14, registo sistematizado das principais observações efetuadas.

Tabela 6 – Distribuição territorial dos projetos da PELE

Fonte: elaboração própria.

Uma outra questão relevante que surgiu já desde a análise do site foi a presença de um trabalho de rede da associação, confirmada pela conspícua comparência de links às páginas de parceiros40, nacionais e internacionais41. Verificou-se, portanto, uma possível centralidade da relação com os serviços e com as instituições dos territórios para a promoção e realização dos projetos da associação, confirmada também na entrevista da fase exploratória:

Normalmente o que nós costumamos fazer é um trabalho em rede. Para nós parece-nos pobre chegar a uma comunidade e ignorar todo o trabalho que lá já foi feito. Então há sempre uma ligação com as instituições, nomeadamente sociais de primeira linha daquele lugar. Até podes concordar mais ou menos com as linhas de intervenção que estas instituições seguem de alguma maneira, mas são aquelas instituições que estão naquele lugar, todos os dias, de uma forma cotidiana. Então nós preferimos perspetivar esta oportunidade de fazer um

40 As informações relativas aos parceiros encontravam-se na sessão PARCEIROS, mas também na sessão

INTERNATIONAL e nos links específicos de cada projeto.

41 Principalmente associados a projetos em EP, os projetos internacionais inserem-se transversalmente a

diversos projetos da PELE apresentados na tabela são: Partners In Crime Prevention; Altriluoghi!! Otherplaces!!; International Puppet & Mime Festival of Kilkis; PEETA – Personal Effectiveness and Employability through the Arts; Beware Fanaticism.

57% 6% 13% 9% 15% Conselho do Porto AMP

Porto/AMP e outras cidades Outras cidades

trabalho artístico, também com uma oportunidade de transformação institucional, do ponto de vista do trabalho que fazemos com as instituições. […] Portanto, isto é fundamental até para que o trabalho tenha continuidade. Ou seja, não nos interessa que os grupos fiquem sempre dependentes da Pele, antes pelo contrário. Interessa-nos trabalhar na autonomia, e obviamente tem que haver nestas instituições de primeira linha uma retaguarda, nem que seja por questões básicas, para ter um espaço, para ensaiar ou para se encontrar, é fundamental. Então nós fazemos sempre este trabalho muito conectado. [Entrevista com um representante da PELE, fase exploratória, 30/06/2014].

Desde o primeiro contato com o objeto empírico surgiu a importância dos parceiros territoriais numa lógica de apoio logístico antes, durante e após projetos, sendo eles também possíveis garantias da continuidade dos grupos:

Não fazemos nada um trabalho de chegar de paraquedas... chegamos, fazemos um espetáculo e vamos embora. Ok? E eu posso perceber todos os objetivos, posso perceber que isso pode agitar a comunidade até de uma forma interessante, mas não é a nossa lógica. A nossa lógica é sempre um trabalho de autonomização e continuidade, para que as coisas possam ter tempo de maturação. [Entrevista com um representante da PELE, fase exploratória, 30/06/2014].

Neste sentido, aponta-se pela criação de grupos mais estáveis que nos anos atravessaram o trajeto da associação. De forma específica, trata-se de dois grupos de teatro comunitário - Grupo de Teatro Comunitário EmComum de Lordelo do Ouro e Grupo de Teatro Comunitário da Zona Histórica do Porto -, um grupo de jovens de teatro do oprimido - AGE Grupo de Teatro do Oprimido, um grupo de mulheres de teatro do oprimido - Grupo de Teatro do Oprimido Auroras – e um grupo de teatro de surdos - Grupo de Teatro de Surdos do Porto.

Ao longo do presente estudo houve algumas modificações a nível da estrutura associativa, desde a alteração a nível da direção42, passando pela alteração gráfica do logo da PELE e até à mudança espacial da sede física, passando por diversos momentos, de maior ou menor estabilidade, de maior ou menor atividade. Sublinha-se também o aumento ao longo dos anos da visibilidade da PELE, a nível nacional e internacional, passando pelo reconhecimento artístico, social e académico do seu trabalho (enquanto

42 Na página oficial do site, em 2014 estavam explicitados os membros que compunham a direção, entre

os quais pessoas dos grupos teatrais comunitários e os colaboradores, como atores profissionais, entre outros.

um todo e enquanto produtos artísticos) e de seus integrantes específicos. Levantando questões sobre a delicadeza do equilíbrio em que estes tipos de projetos assentam, movidas a partir dos próprios integrantes da PELE, como de observadores externos:

E então o fato de ter muita visibilidade, se num primeiro momento pode ser interessante, se não houver algum cuidado de como ele é gerido acaba por estar a cumprir uma agenda que não é a agenda da inclusão social. Para as pessoas que fazem parte do projeto, para o projeto e para a própria PELE, não sejamos ingénuos, não é? Agora, o que tu depois fazes com essa visibilidade é absolutamente fulcral e central, não é? Como é que tu utilizas esta visibilidade? Com quais objetivos? Com que fins? Isso é absolutamente fundamental. [Entrevista com um representante da PELE, fase exploratória, 30/06/2014]. A partir da análise do site oficial da associação, da entrevista exploratória e dos documentos recolhidos no campo foi feito também um movimento de aproximação às pessoas que constituem a própria associação, à sua estrutura, aos seus projetos e às suas metodologias. Os múltiplos aspetos analisados sobre as caraterísticas peculiares da PELE serão aprofundados ao longo do texto e de forma específica nos capítulos 2, 4, 5 e 6. Apresentou-se aqui uma descrição preliminar para introduzir temas específicos que o