• Nenhum resultado encontrado

O Desemprego Estrutural: Um Problema Irreversível que Marca a Precarização do

CAPÍTULO III- CRÍTICAS AOS FUNDAMENTOS TRADICIONAIS DO DIREITO DO

3.6 O Desemprego Estrutural: Um Problema Irreversível que Marca a Precarização do

As relações de trabalho sofreram alterações decorrentes das constantes crises políticas, econômicas e monetárias apresentando, hoje, um perfil bem diferente daquele que surgiu com a Revolução Industrial. A rapidez com que a tecnologia tem influenciado os modelos produtivos atinge o nível de emprego.

O perfil do mercado de trabalho do capitalismo contemporâneo apresenta de um lado, uma desproletarização do trabalho industrial fabril, com repercussões mais graves nos países subdesenvolvidos. Paralelamente, demonstra uma significativa expansão do trabalho assalariado por intermédio do setor de serviços, além do aumento da contratação da mão-de-obra feminina, a exclusão dos mais jovens e dos mais velhos do mercado de trabalho, a contratação temporária, precária e terceirizada. Fatores que desencadeiam o desemprego estrutural em escala global e acelera o processo de heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora93.

A tendência mundial é, no sentido de reduzir o proletariado fabril, industrial, manual, principalmente nos países de capitalismo avançado e decorre do quadro recessivo, da automação, da robótica e da microeletrônica. Os fenômenos desemprego e desregulamentação das condições de trabalho provoca o desrespeito dos direitos sociais e o enfraquecimento da expressão sindical.

93

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo:Cortez:Campinas ,SP:Editora da universidade Estadual de Campinas, 1999, p. 41-42.

Constata-se que a contratação, na forma atípica, não pára de crescer. A tendência dos mercados de trabalho é reduzir o número de trabalhadores nos moldes tradicionais e empregar cada vez mais trabalhadores flexíveis, cuja admissão e dispensa sejam menos burocráticas e com custos baixos para o empregador.

As estatísticas demonstram que o trabalho “em massa”, no setor de mercado, será provavelmente eliminado em quase todas as nações industrializadas do mundo, pois a tecnologia da informação e da comunicação vêm sendo introduzidas rapidamente nas áreas de trabalho. Os economistas e líderes empresariais tentam justificar os números crescentes do desemprego à necessidade de ajustes para acelerar a economia global e colocá-la nos moldes da Revolução Industrial, mas os trabalhadores continuam céticos, pois a promessa de um novo mundo de produção automatizada e de alta tecnologia no comércio global só fez o desemprego aumentar94.

Milhões de postos de trabalho são eliminados nas empresas por meio de reestruturações nas suas operações, modernizações das fábricas, reengenharia dos sistemas de produção, administração e distribuição para cortar excessos e gerar economia nos custos. Mesmo as nações em desenvolvimento estão sendo atingidas pelo desemprego tecnológico, na medida em que empresas multinacionais constroem instalações de produção com tecnologia de ponta em todo o mundo, demitindo milhões de trabalhadores de baixa remuneração.

Jeremy Rifkin95 mostra que a escalada do desemprego é contínua e, a cada década, a situação se agrava. Em 1992, mais de 9,8 milhões de pessoas estavam desempregadas e, 6,3 milhões de trabalhadores empregados, em meio período, mas querendo emprego em período integral, enquanto mais de um milhão estavam sentindo-se desanimadas. Por não encontrarem empregos, desistem de procurar. Por fim, ressalta que, em julho de 1992, mais de 17 milhões de trabalhadores americanos estavam desempregados ou subempregados.

94

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 1995, p. 3

95

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 1995, p. 12.

Segundo Cândido Grzybonski96, “mais de 50% da população brasileira está, segundo dados oficiais, no chamado setor informal, que é aquele setor onde o trabalho realizado não é considerado legítimo e não está protegido por nenhuma legislação”. Eis a razão pela qual pensar na manutenção do emprego é ser conservador e tentar ir de encontro à realidade mundial, pois as formas de trabalho mercantis, hoje, não são necessariamente assalariadas. Portanto, novas oportunidades e formas de trabalho sociais estão sendo criadas de acordo com as condições históricas atuais.

Uma das soluções apontadas para minimizar o impacto causado pelo desemprego estrutural refere-se à redução da jornada de trabalho. A partir dos ganhos introduzidos pelas novas tecnologias a redução da jornada de trabalho aumentaria o nível de emprego e da qualidade de vida. Então, em tese, para Grzybonski: “não tem o porquê de alguns precisarem trabalhar mais enquanto outros ficam sem trabalho”. Dessa forma, seria proporcionado um salto no padrão de vida com a distribuição da carga de trabalho entre todos.

A outra oportunidade seria a reinvenção das formas sociais de trabalho, para poder legitimar social e legalmente aqueles que estão à margem, trabalhando no mercado informal de trabalho, pois a economia informal nada mais é que a criação de oportunidades de trabalho e renda por aqueles que foram excluídos da economia formal.

A precarização do trabalho também está presente nas relações informais, na medida em que ocorre uma redução relativa ou absoluta de empregos estáveis e permanentes nas empresas e, ainda, uma maior subcontratação de trabalhadores temporários, contratos de trabalho especiais, por tempo determinado, eventuais e temporários, configurando uma mudança no conteúdo do Direito do Trabalho. Alguns autores suscitam o fim da supremacia do emprego com duração prolongada, no campo do setor formal, pois a quantidade de trabalhadores, no campo informal, é quase a mesma, encontrando-se esses trabalhadores

96

GRZYBONSKI, Cândido. Desemprego Estrutural e Possibilidades de Saída. Empresa Social e Globalização.

Administração autogestionária: uma possibilidade de trabalho permanente. Anteag, 1998, p. 10

totalmente desprotegidos e à margem das normas mínimas protetoras alcançadas pelos empregados97.

97

Nesse sentido. ANDRADE, Everaldo Gaspar Lopes de. Direito do trabalho e pós-modernidade: fundamentos para uma teoria geral. São Paulo:LTr,2005, p. 77.

CAPÍTULO IV - OS FUNDAMENTOS DO DIREITO DO TRABALHO: UMA VISÃO