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O Princípio da Proteção como Categoria Fundante do Direito do Trabalho

CAPÍTULO II- PRINCÍPIOS TRADICIONAIS DO DIREITO DO TRABALHO

2.2 O Princípio da Proteção como Categoria Fundante do Direito do Trabalho

Toda a estrutura do Direito Individual do Trabalho funda-se nas diferenças sócio-econômicas e políticas existentes entre os sujeitos da relação de emprego, cujas desigualdades são reduzidas pelas normas tutelares que visam a proporcionar o equilíbrio entre empregado e empregador. Nos Estados Democráticos de Direito, a valorização do trabalho é princípio fundamental. E o princípio que melhor expressa a orientação do Direito do Trabalho é o da proteção, a partir da aplicação da norma mais favorável ao trabalhador. Isso implica a violação ao tradicional Princípio da Igualdade Jurídica do direito comum, ao proteger um dos sujeitos da relação de emprego. Historicamente, a origem do Direito do Trabalho está centrada no fato de que não poderia existir igualdade jurídica entre pessoas com poder e capacidade econômica desiguais. Portanto, o objetivo do Princípio da Proteção é reduzir as desigualdades existentes entre empregado e empregador.

O princípio da proteção surgiu da necessidade da intervenção estatal nas relações firmadas na sociedade industrial. Período marcado pela autonomia da vontade nas relações contratuais, que facilitava a exploração do trabalho, principalmente das mulheres e das crianças.

O Direito do Trabalho é, na sua essência, um direito protetor dos trabalhadores, no seu sentido mais amplo. O fundamento dessa variável é a dependência e a subordinação do empregado às ordens do empregador. Por isso busca estabelecer um amparo preferencial àquele, a fim de alcançar a igualdade substancial .

2.2.1 A Concepção do Princípio da Proteção Para Luiz de Pinho Pedreira da Silva, Alfredo J. Ruprecht e Américo Plá Rodriguez.

Para Luiz de Pinho Pedreira da Silva55, o Direito do Trabalho, como os demais ramos jurídicos, possuem princípios gerais de direito e princípios especiais, sendo este último pressuposto para configuração da autonomia de uma disciplina jurídica. A proteção dos trabalhadores começou, precisamente, por meio de regras relativas à segurança e à higiene. Assegura ainda que as razões para a proteção do trabalhador são: 1) a sua subordinação jurídica ao empregador, pois no contrato de trabalho uma das partes detém a supremacia em relação ao outro que se expressa através do Poder Diretivo do empregador, respeitados os limites no seu exercício, a fim de evitar abusos; 2) a dependência econômica do empregado, em face do empregador, apesar de não constituir elemento caracterizador do contrato de trabalho; 3) o comprometimento do trabalhador na execução do serviço lhe deixando vulnerável a certas situações como acidente de trabalho, auxílio doença, assédio moral e sexual, decorrentes da relação de emprego e 4) a ignorância pelo empregado das condições de trabalho e dos seus direitos decorrentes do analfabetismo da população, tanto em países do primeiro mundo como nos subdesenvolvidos.

O princípio da proteção consiste no reconhecimento da desigualdade, de fato, entre os sujeitos da relação jurídica de trabalho servindo para aliviar a inferioridade econômica, hierárquica e intelectual dos trabalhadores. Princípio alcançado mediante a intervenção do Estado nas relações de trabalho ao elaborar normas destinadas ao amparo do trabalhador, bem como pela negociação coletiva e a autotutela.

Para Alfredo J. Ruprecht56, os princípios normativos do trabalho são, na realidade, diretrizes de orientação das normas de um Direito, independentemente de qualquer outro, e que, supletivamente, podem ter um caráter interpretativo.

55

SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da . Principiologia do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 22-38.

56

RUPRECHT, A J. Os princípios do Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p. 7-24.

Reconhece a aplicação desses princípios em todos os campos do Direito do Trabalho (quer na seara individual ou coletiva), mas ressalta que alguns princípios têm uma inclinação preferencial para o aspecto individual, sem desconsiderar o coletivo. Toda a evolução do ramo trabalhista tem sido primordialmente no sentido de proteger a classe trabalhadora, o que resulta em uma peculiar especialidade, pois o trabalhador depende do empregador, tanto na execução da tarefa como economicamente, razão pela qual deve ter proteção para evitar sua submissão e protegê-lo contra os possíveis excessos ou desvios de seu empregador e assegurar sua dignidade. Por outro lado, destaca o jurista que o princípio protetor vem perdendo força dentro do Ordenamento Jurídico, em face do desenvolvimento do Direito do Trabalho que, atualmente, contém um complexo de normas reduzindo o surgimento de lacunas.

Para Américo Plá Rodriguez57, o fundamento deste princípio está ligado à própria razão de ser do Direito do Trabalho, pois a liberdade de contrato entre pessoas economicamente desiguais favorece o aparecimento de exploração da parte vulnerável, sendo imprescindível a proteção jurídica que se expressa sob três formas: a regra in dúbio pro operário, a regra da norma mais favorável e a regra da condição mais benéfica.

A primeira hipótese verifica-se quando uma norma apresenta vários sentidos. Daí prevalecerá aquela que seja mais favorável ao trabalhador, pois essa norma reflete o caráter especial, cuja finalidade é proporcionar amparo à parte hipossuficiente do contrato, que é o empregado. Observando-se que essa regra só poderá ser utilizada quando existir dúvida sobre o alcance da norma legal e sempre que não esteja em desacordo com a vontade do legislador. Na segunda, a aplicação da norma mais favorável é aplicada de forma diferente em relação ao Direito Comum, pois neste sistema prevalece a hierarquia das normas, baseada na rigidez da pirâmide de Kelsen, tendo a Constituição da República, como a norma

57

PLA RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3ª ed.atual. São Paulo: LTr,2000, p.107- 139.

fundamental. No ramo jurídico trabalhista, a norma mais favorável deve ser observada tanto no momento da elaboração da regra, como na hipótese de conflito entre regras concorrentes e no contexto interpretativo da regras jurídicas, atuando dessa forma como princípio informador, interpretativo, normativo e hierarquizante. Surgindo conflito entre as normas a unidade de medida para a comparação é a aplicação da Teoria da acumulação ( na qual prevalece a norma mais favorável ao empregado, independentemente da sua escala hieráquica, refletindo a maleabilidade quanto à aplicação das diversas fontes, pois admite o fracionamento das normas que serão aplicadas). A Teoria do conglobamento ( que também autoriza aplicar a norma mais favorável ao empregado como solução dos conflitos surgidos entre as fontes), considera o conteúdo normativo de forma integral. A terceira regra é a da condição mais benéfica, que é utilizada nas hipóteses de sucessão normativa garantindo que a norma anterior seja respeitada quando for mais benéfica.