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Foto 35 Abrigo localizado no pátio do Campus Anglo/UFPEL

2.6 DESENHO UNIVERSAL (DU)

O conceito de Desenho Universal surgiu em decorrência de reivindicações de dois segmentos sociais. O primeiro composto por pessoas com deficiência que não sentiam suas necessidades contempladas nos espaços projetados e construídos. O segundo formado por arquitetos, engenheiros, urbanistas e designers que desejavam maior democratização do uso dos espaços e tinham uma visão mais abrangente da atividade projetual (SÃO PAULO, 2010).

Sua concepção inicial se desenvolveu entre os profissionais da área de arquitetura na Universidade da Carolina do Norte - EUA, com o objetivo de definir um projeto de produtos e ambientes para ser usado por todos, na sua máxima extensão possível, sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiência (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2007).

Ainda segundo Carletto e Cambiaghi (2007), o projeto universal é o processo de criar os produtos que são acessíveis para todas as pessoas, independentemente de suas características pessoais, idade, ou habilidades, haja vista que estes produtos universais acomodam uma escala larga de preferências e de habilidades individuais ou sensoriais dos usuários. A meta é que qualquer ambiente ou produto possa ser alcançado, manipulado e usado, independentemente do tamanho do corpo do indivíduo, sua postura ou sua mobilidade.

Kalil, Gosch e Gelpi (2009) assinalam que a questão da acessibilidade e do desenho universal torna-se imprescindível quando se busca a organização de espaços que atendam às necessidades dos usuários de forma universal.

O Desenho Universal não é uma tecnologia direcionada apenas aos que dele necessitam; é desenhado para todas as pessoas (FRANCISCO; MENEZES, 2011). A ideia do Desenho Universal é, justamente, evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para pessoas com deficiências, assegurando que todos possam utilizar com segurança e autonomia os diversos espaços construídos e objetos (SILVA JUNIOR; MOTA; SILVA, 2017).

Para cumprir o Desenho Universal, foi necessária a criação de Leis e Normas. As normas para assegurar as especificações necessárias e as leis para obrigar o poder público e os cidadãos a seguirem essas especificações.

No Brasil, a partir do Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência (1981), algumas leis foram promulgadas com o intuito de garantir o

acesso e utilização dos espaços construídos. Mas foi só em dezembro de 2004, que um importante pilar foi perpetrado em solo brasileiro. A publicação do Decreto Federal 5.296 deu ao Desenho Universal a força de lei.

O Decreto define, em seu artigo 8º e inciso IX, o Desenho Universal como:

[...] concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade (BRASIL, 2004, p. 3).

Para Francisco e Menezes (2011), a aplicação da acessibilidade e do desenho universal nos ambientes foi aos poucos desmistificando este tema e mostrando que ambos não são exclusivos para as pessoas com deficiência, mas sim, buscam permitir que todos utilizem os mesmos espaços urbanos sem nenhum tipo de segregação.

Neste sentido foi que, na década de 90, um grupo com arquitetos e entusiastas desta ideologia se uniu para estabelecer os sete princípios do desenho universal (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2007; BAÚ, 2015; TIBURCIO et al, 2016; RICARDO, 2017). Desde então, estes conceitos tem sido mundialmente adotados para qualquer programa de acessibilidade plena:

1. Uso equitativo: O design é útil e comercializável a qualquer grupo de usuários com habilidades diversas, ou seja, pode ser utilizado por pessoas com habilidades diversas, evitando segregação ou discriminação (STAUT, 2014). O projeto deve proporcionar igualdade para todos os usuários em termos de uso, compreensão, acesso, privacidade, segurança e conforto. (FIGURA 2).

Figura 2 - Desenho Universal – Princípio 1 – Uso equitativo

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007.

2. Flexibilidade de uso: O projeto acomoda uma ampla variedade de preferências e habilidades individuais, ou seja, flexibilidade no uso para habilidades diversas individuais (STAUT, 2014). O sistema deve propiciar flexibilidade uso e adaptabilidade às condições espaciais imprevistas, e propiciar alteração de seus requisitos espaciais ao longo do tempo. (FIGURA 3).

Figura 3 - Desenho Universal – Princípio 2 - Flexibilidade de uso

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007

3. Uso simples e intuitivo: Uso do design deve ser de fácil entendimento,

independente da experiência, conhecimento, proficiência de linguística ou nível atual de concentração dos usuários, ou seja, simplicidade e intuitividade do uso (STAUT, 2014). O sistema deve ser projetado para ser consistente em relação às expectativas dos usuários e eliminar a complexidade desnecessária. (FIGURA 4).

Figura 4 - Desenho Universal – Princípio 3 - Uso simples e intuitivo

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007.

4. Informação perceptível: O projeto deve comunicar de maneira eficaz a

informação necessária ao usuário, independentemente das condições ambientais ou das habilidades sensoriais destes, ou seja, percepção fácil e eficiente da informação para o uso (STAUT, 2014). O projeto deve proporcionar contraste adequado entre a informação essencial e condições de fundo. (FIGURA 5).

Figura 5 - Desenho Universal - Princípio 4 - Informação perceptível

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007

5. Tolerância ao erro: O projeto deve minimizar os riscos e as consequências

adversas de ações acidentais ou não intencionais, ou seja, tolerância ao erro, minimizando efeitos indesejáveis pelo uso incorreto (STAUT, 2014). As características do projeto devem ser organizadas para minimizar os riscos e erros, e devem fornecer avisos. (FIGURA 6).

Utilizar diferentes maneiras de comunicação, tais como símbolos e letras em relevo, braile e sinalização auditiva.

Figura 6 - Desenho Universal – Princípio 5 - Tolerância ao erro

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007.

6. Baixo esforço físico: O projeto deve ser utilizado de forma eficiente,

confortável e com o mínimo de fadiga, ou seja, com o mínimo de esforço físico (STAUT, 2014). As características do sistema devem minimizar o esforço físico e a fadiga. (FIGURA 7).

Figura 7 – Desenho Universal – Princípio 6 - Baixo esforço físico

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007

7. Tamanho e espaço para aproximação e uso: Oferecer tamanho e espaços

adequados para aproximação, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho, postura ou mobilidade do usuário. Ou seja, previsão de tamanho e espaço para o uso em diferentes situações (STAUT, 2014). O projeto deve fornecer espaço de aproximação, alcance, manipulação e uso, de tamanho

adequado, independentemente do tamanho do corpo do usuário (obesos, anões, etc.), da postura ou mobilidade do usuário (pessoas em cadeira de rodas, com carrinhos de bebê, bengalas, etc.) (FIGURA 8).

Figura 8 - Desenho Universal – Princípio 7 - Tamanho e espaço para aproximação e uso

Fonte: CARLETTO, CAMBIAGHI, 2007

Cotidianamente presenciam-se situações em que uma pessoa com deficiência não consegue locomover-se autonomamente, seja porque não há rampas de acesso, o elevador não tem botões com os andares em braile, entre outras mais. Se o desenho universal tivesse sido aplicado, tais dificuldades seriam evitadas. Para Garcia (2011), o que ocorre comumente é que só se pensa em acessibilidade quando há necessidades culturalmente definidas, já que a maioria dos espaços, serviços e produtos são projetados para o “homem padrão”. Neste sentido, o Desenho Universal introduz novos olhares e novas práticas, refutando o conceito de “Homem Vitruviano”, criado por Leonardo da Vinci (1452-1519) como expressão dos ideais clássicos de beleza, equilíbrio, harmonia e perfeição, e que em nada representa o ser humano real (VITORINO, 2004).

Em suma, para aplicar o desenho universal é preciso conhecer as diferentes necessidades e pensar nelas antes de começar uma construção, a fim de evitar que sejam feitas adaptações. E, mais do que garantir o acesso, é preciso ter em mente que dessa forma será possível incluir a todos. Trata-se de uma valorização do usuário ao longo de sua vida, uma vez que suas características e atividades mudam de acordo com seu desenvolvimento.

Com vistas a aproximar o tema à instituição, a Seção 2.7 aborda sucintamente a caracterização do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL.

2.7 NÚCLEO DE ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO – NAI: ACESSIBILIDADE NA