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Foto 35 Abrigo localizado no pátio do Campus Anglo/UFPEL

2.2 PESSOA COM DEFICIÊNCIA (PCD)

Araujo e Ferraz (2010, p. 8843) traduzem e sintetizam a complexidade e relevância do tema ao declararem que “definir-se um ser humano como deficiente é tarefa árdua”. Ainda segundo os mesmos autores, a busca da igualdade material entre as pessoas e o entendimento de que a dignidade humana perpassa a eliminação de todas as barreiras que impeçam seu desenvolvimento completo trouxe a necessidade da criação de mecanismos de efetivação desta igualdade.

O Decreto n.º 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, definiu um conceito de pessoa com deficiência, também identificada pela sigla PCD, que foi incorporado na Constituição Federal Brasileira. Nessa Lei está disposto que:

Art. 1. Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2010, p. 26).

Sassaki (2002) esclarece que os termos: portador de deficiência, portador de necessidades especiais (PNE) e pessoa portadora de deficiência (PPD), não são os mais adequados. Em seu lugar, recomenda-se usar "pessoa com deficiência" ou "PCD". A sigla PCD é invariável. Por exemplo: a PCD, as PCD, da PCD, das PCD.

Nesta toada, a Lei Federal n° 13.146/2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), no Artigo 3º, Inciso IX, diferencia pessoa com deficiência e pessoa com mobilidade reduzida:

Art. 3º [...]

IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso; (BRASIL, 2015, p. 2)

As legislações expostas permitem considerar que a deficiência não está na limitação física da pessoa, mas na relação que ela possui com o ambiente em que convive e que pode impedir sua plena participação na sociedade.

Se antes, sob critérios estritamente médicos, definia-se o enquadramento como pessoa com deficiência, vista como característica intrínseca, atualmente, os

impedimentos físicos, mentais, intelectuais e sensoriais são tidos como inerentes à diversidade humana, de modo que a deficiência é resultado da interação destes impedimentos com as barreiras sociais, com a consequente dificuldade de inserção social do indivíduo. Não é a pessoa, portanto, que apresenta uma deficiência, mas a sociedade e o meio (AMIRALIAN et al, 2000; GUERREIRO, 2011; FREITAS, 2015).

Para Santiago (2011), na abordagem de questões concernentes a inclusão ou acessibilidade de pessoas com deficiência, observa-se o pensamento comum de fazer-se referência imediata aos aspectos relativos às barreiras arquitetônicas, talvez por serem as mais visíveis. Entretanto, destaca a autora, é fundamental destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas são múltiplas, a começar pelas atitudes inadequadas manifestas pelas pessoas em geral. Neste aspecto, é aceitável supor-se que tais atitudes resultem de desconhecimento acerca dessas diferenças, muito embora haja o reconhecimento de uma intensiva carga preconceituosa, resultante certamente de uma elaboração histórico-social da deficiência que carrega o peso do estigma.

O preconceito em relação aos indivíduos com deficiência tem sido um dos maiores desafios para a permanência das pessoas com deficiência no ensino superior; maior até do que as barreiras arquitetônicas. De acordo com Valdés (2006, p. 152), as barreiras atitudinais são reconhecidas como as mais fortes e intangíveis, “pois envolvem componentes cognitivos, afetivos e de conduta formados histórica e socialmente, que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiência e sua difícil diferenciação de doença”.

Como o grupo-alvo desta pesquisa recai sobre estudantes com deficiência física, deficiência visual ou deficiência auditiva, faz-se necessário conceituar tais deficiências.

Sendo assim, as Seções 2.2.1, 2.2.2 e 2.2.3 apresentam definições de acordo com dispositivos legais, ilustradas por quadros demonstrativos das classificações mais usualmente adotadas.

2.2.1 Deficiência física

O Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, define que a deficiência física, propriamente dita, consiste na:

[...] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (BRASIL, 2004, p. 1).

Com vistas à inserção da pessoa portadora de deficiência e do beneficiário reabilitado no mercado de trabalho, o Ministério Público do Trabalho (MPT, 2001), relacionou e descreveu os tipos e definições de deficiência física, fazendo exceção às deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.

Tal estudo teve como base a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID; em inglês: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems, ICD), que determina a classificação e codificação das doenças. O quadro abaixo representa uma síntese do estudo realizado pelo MPT (Quadro 1).

Quadro 1 - Tipos de Deficiência Física

TIPO DEFINIÇÃO

Paraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores. Paraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores.

Monoplegia Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Monoparesia Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior) Tetraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Tetraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores. Triplegia Perda total das funções motoras em três membros.

Triparesia Perda parcial das funções motoras em três membros.

Hemiplegia Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo) Hemiparesia Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou

esquerdo)

Amputação Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento de membro.

Paralisia Cerebral

Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental.

Ostomia

Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, ostio) na parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta; processo cirúrgico que visa à construção de um caminho alternativo e novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia: ostomia intestinal; urostomia: desvio urinário). Nanismo Deficiência no crescimento que culmina em baixa estatura- se comparado com a

média

Fonte: MPT/Comissão de Estudos para inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho - Brasília/DF – 2001, adaptado pelo autor.

2.2.2 Deficiência visual

O Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, define que a deficiência visual, propriamente dita, consiste na:

[...] deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores (BRASIL, 2004, p. 2).

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) classifica a deficiência visual em categorias que incluem desde a perda visual leve até a ausência total de visão e baseia-se em valores quantitativos de acuidade visual e/ou do campo visual para definir clinicamente a cegueira e a baixa visão. A ilustração abaixo (Quadro 2) indica a Classificação Internacional de Deficiências, Inabilidades e Desvantagens (CIF), adotada e publicada pela OMS.

Quadro 2 - Classes de Acuidade Visual - Classificação ICD–9-CM (WHO/ICO)

CLASSIFICAÇÃO ACUIDADE

VISUAL SNELLEN

ACUIDADE

VISUAL DECIMAL AUXÍLIOS

Visão Normal 20/12 a 20/25 1,5 a 0,8 Bifocais comuns

Próxima do Normal 20/30 a 20/60 0,6 a 0,3 Bifocais mais fortes Lupas de baixo poder

Baixa Visão

Moderada 20/80 a 20/150 0,25 a 0,12

Lentes esferoprismáticas Lupas mais fortes

Baixa Visão Severa 20/200 a 20/400 0,10 a 0,05 Lentes esféricas

Lupas de mesa alto poder

Baixa Visão Profunda 20/500 a 20/1000 0,04 a 0,02 Lupa montada Telescópio Magnificação vídeo Bengala Treinamento Próximo à Cegueira 20/1200 a 20/2500 0,015 a 0,008 Magnificação vídeo Livros falados Braille

Aparelhos saída de voz Bengala

Treinamento

Cegueira Total SPL SPL

Aparelhos saída de voz Bengala

Treinamento Fonte: Classificação ICD–9-CM (WHO/ICO), adaptado pelo autor.

2.2.3 Deficiência auditiva

O Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, define que a deficiência auditiva, propriamente dita, consiste na:

[...] deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (BRASIL, 2004, p. 2).

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) classifica a deficiência auditiva (também conhecida como hipoacusia), em categorias de acordo com graus de comprometimento. A ilustração abaixo demonstra a Classificação Internacional de Deficiências, Inabilidades e Desvantagens (CIF), adotada e publicada pela OMS (Quadro 3).

Quadro 3 - Classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), para adultos

GRAU DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA LIMIARES TONAIS

Sem deficiência auditiva limiar tonal até 25 dB

Deficiência auditiva leve limiar tonal entre 26 e 40 dB

Deficiência auditiva moderada limiar tonal entre 41 e 60 dB

Deficiência auditiva severa limiar tonal entre 61 e 90 dB

Deficiência auditiva profunda limiar tonal acima de 91 dB Fonte: Classificação ICD–9-CM (WHO/ICO), adaptado pelo autor.

Após a caracterização da tipologia de deficiências em destaque neste estudo, a Seção 2.3 e subseções 2.3.1, 2.3.2 e 2.3.3 contextualizam os aspectos conceituais da inserção da PCD nos ambientes acadêmicos brasileiros e, em especial, na Universidade Federal de Pelotas.