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2.5 Inovação na Indústria Alimentar

2.5.1 Desenvolvimento de Novos Produtos (DNP)

Samadi (2014) argumenta que, durante as últimas décadas, a adoção de práticas de inovação nas empresas do sector agroalimentar visa minimizar os custos de produção, acabando por negligenciar os benefícios e satisfação dos clientes.

Ramírez-Portilla, Cagno, & Zanatta-Alarcon (2015) defendem que a indústria alimentar tem conseguido, nos últimos tempos, reinventar o desenvolvimento da inovação ao nível da Investigação e Desenvolvimento, recorrendo a inovações não apenas com o objetivo de criar novos produtos para consumo ou proceder a melhorias nos produtos existentes, mas também no sentido de concentrar esforços em inovações tecnológicas relacionadas com a tecnologia de processamento de alimentos. Como resultado, as recentes inovações introduzidas na indústria alimentar referem-se essencialmente à adoção de novas abordagens científicas e técnicas no que diz respeito ao processamento de alimentos e à introdução de novos alimentos no mercado com qualidades excecionais. A este respeito, e considerando que, cada vez mais, os consumidores acreditam que os alimentos que consomem estão fortemente relacionados com o seu estado de saúde, tem-se observado a crescente preferência pelos alimentos designados alimentos funcionais (Bigliardi & Galati, 2013a). A carência por este tipo de alimentos, que têm como finalidade aumentar o bem-estar e prevenir a saúde dos consumidores é compreendida pelo facto de atualmente se considerar que os alimentos se destinam não apenas para satisfazer a carência da fome e fornecer os nutrientes necessários à sobrevivência humana, mas também e especialmente para prevenir doenças. Esta considerável alteração das exigências dos consumidores desencadeou a evolução dos processos de Desenvolvimento de Novos Produtos (DNP) a qual começou a envolver redes mais cooperativas de inovação e comercialização bem com fomentou a atuação de múltiplos parceiros externos de forma a combinar a inovação tecnológica com a inovação social e cultural conduzindo à produção de alimentos que satisfaçam as necessidades nutricionais, pessoais e sociais dos consumidores.

Desta forma, a indústria alimentar passou a ser liderada de forma distinta, adotando uma atitude essencialmente orientada para a criação de produtos que vão de encontro às necessidades e requisitos dos consumidores. As empresas reconhecem cada vez mais a importância da inovação

de modo a facilitar a interpretação da procura e a criação de produtos tendo em conta a vontade dos consumidores (Fortuin & Omta, 2009). Deste modo, as empresas são obrigadas a competir com base em produtos novos e mais avançados, bem como, a introduzir novas tecnologias de processamento e distribuição. De facto, a introdução de novas inovações correspondentes a processos, produtos ou mesmo serviços, revelam-se ferramentas essenciais para as empresas que operam na indústria alimentar e pretendem manter vantagens competitivas, além de garantir a satisfação dos clientes (Bigliardi & Galati, 2013b).

Neste contexto, o desenvolvimento de novos produtos (DNP) liderados pelo consumidor é frequentemente recomendado como uma estratégia adequada a adotar no setor agroalimentar que permite obter vantagem competitiva e o sucesso financeiro a longo prazo (Costa & Jongen, 2006).

A forma de inovação tipicamente conservadora de introdução de produtos no mercado, característica deste setor, conduz a uma presença de produtos radicalmente novos no mercado muito reduzida (apenas 2,2% do número total de lançamentos de produtos) (Costa & Jongen, 2006). Mantendo os custos associados à Investigação e Desenvolvimento de produtos e o risco tecnológico da empresa a níveis reduzidos, temos que esta abordagem de inovação permite a introdução de uma quantidade consideravelmente elevada de produtos diversos no mercado num curto lapso de tempo. Consequentemente, o sucessivo aumento da quantidade de produtos “ligeiramente novos” no mercado representa uma dificuldade para os consumidores percecionarem o valor acrescentado de tais produtos e, desta forma, reconhecerem a empresa pela inovação ocorrida.

De facto, os consumidores não têm as mesmas preferências e não reagem à introdução de produtos inovadores da mesma forma. O comportamento dos consumidores muda constantemente e, talvez nos dias de hoje sofra alterações a um ritmo mais acelerado que nunca. Deste modo, dado o carácter global da indústria alimentar, a importância da inovação aumenta, passando de uma opção a uma necessidade para as empresas. A perceção de que, de facto, o lançamento de produtos semelhantes ou extensões de linha registam uma baixa percentagem de sucesso, comparativamente com o lançamento de produtos novos e radicais, conduziu à elaboração de uma nova abordagem, liderada pelo consumidor, para o desenvolvimento de novos produtos que visem aumentar a probabilidade de sucesso de processos de inovação. Esta abordagem orientada para a inovação, visa abordar as necessidades atuais e futuras dos consumidores, bem como, os fatores determinantes no desenvolvimento de novos produtos (Costa & Jongen, 2006). Pensa-se que a adoção da abordagem mencionada pode aumentar consideravelmente a probabilidade de sucesso dos processos de inovação uma vez que dado o baixo grau de orientação para o mercado característico na indústria alimentar contemporânea,

tornam-se evidentes os benefícios da introdução do consumidor no desenvolvimento de produtos. Assim, revela-se essencial para as cadeias de produção de alimentos adotar estratégias que promovam a eficácia e a eficiência dos processos de inovação que visem o desenvolvimento de produtos inovadores com valor agregado para o consumidor (Costa & Jongen, 2006).

É possível pois identificar os principais estágios presentes na formulação do conceito DPN liderado pelo consumidor, ilustrados na Figura 2.4. A primeira etapa, diz respeito à identificação de oportunidades onde se pretende definir os mercados-alvo nos quais se espera que os esforços do DPN sejam lucrativos e permitam conceber ideias de novos produtos com potencial para competir com sucesso nesses mercados. Na fase seguinte, associada ao design do produto, pretende-se identificar os principais benefícios que o novo produto deve fornecer aos seus consumidores, bem como, o posicionamento estratégico desses benefícios em relação à concorrência. É ainda nesta fase que ocorre o desenvolvimento físico do produto propriamente dito, a elaboração da estratégia de marketing correspondente e as políticas de serviço relacionadas (Costa & Jongen, 2006). Quando é tomada a decisão de projetar um novo produto, que possa potencialmente satisfazer as necessidades dos clientes, deverá ser realizada uma avaliação de oportunidade que pretende prever as vendas futuras do produto a conceber (Costa & Jongen, 2006). Deste modo, compreende-se que se o desempenho estimado do produto no mercado, estiver em conformidade com as expectativas, poderão ocorrer novos desenvolvimentos e testes tanto do produto como da sua estratégia de marketing. Uma vez concluídos com sucesso os testes ao novo produto, a etapa seguinte consiste na introdução do produto no mercado onde é possível analisar as reações dos consumidores aos quais o produto se destina, bem como a reação dos principais concorrentes. Dependendo dos resultados desta etapa, prevê-se a ocorrência de ajustes no produto e na estratégia de marketing que serão estabelecidos na quinta, e última etapa, da gestão do ciclo de vida do produto (Costa & Jongen, 2006,).

De referir, que a informação fornecida sobre o DNP liderado pelo consumidor, pretende transmitir uma visão geral do procedimento atual de desenvolvimento de produtos, pretendendo-se realçar o vínculo existente entre os referidos procedimentos e as práticas de Inovação Aberta, nas quais os consumidores desempenham, de igual forma, um papel muito importante no processo de produção.