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Motivações e desafios inerentes à implementação de práticas de Inovação Aberta

2.5 Inovação Aberta

2.4.3 Motivações e desafios inerentes à implementação de práticas de Inovação Aberta

Diferentes autores procuram mencionar as principais motivações que conduzem as organizações à adoção do modelo de Inovação Aberta. Segundo van de Vrande et al., (2009), as empresas recorrem à implementação do referido modelo como uma adaptação organizacional necessária para responder às necessidades e oscilações do mercado. Da mesma forma, H.W. Chesbrough & Crowther (2006) apontam para motivos como a necessidade de manter o conhecimento que conduz à aquisição de tecnologia externa. São ainda considerados como motivos que levam à inovação dos processos tradicionais de inovação a redução do tempo de resposta ao mercado (time-to-market) e a melhor utilização da capacidade criativa interna.

Adicionalmente, aliados ao estabelecimento de colaborações com entidades externas, processos característicos do modelo de inovação em estudo, van de Vrande et al., (2009) sugerem que tais colaborações visam adquirir conhecimento adicional útil aos processos de inovação, recursos complementares, a partilha de riscos e de custos bem como a ampliação das redes socias.

Vários registos de sucesso resultantes do lançamento de produtos segundo o modelo de Inovação Aberta podem ser identificados na literatura. O estudo mais conhecido refere-se à estratégia “Conectar e Desenvolver” concebida pela Procter and Gamble, anteriormente descrita. No entanto, importa salientar que as empresas que investem em atividades de Inovação Aberta enfrentam riscos e barreiras que podem impossibilitar que lucrem com as suas iniciativas. Como revela um estudo de Enkel et al. (2009), as empresas associam, frequentemente, riscos como a perda do conhecimento, elevados custos de coordenação, perda de controle e alta complexidade com práticas de Inovação Aberta. Adicionalmente, outras barreiras significativas são mencionadas no estudo, das quais destacamos, a dificuldade na identificação do parceiro certo, o desequilíbrio entre as práticas diárias e as práticas de Inovação Aberta bem como restrições de tempo e financeiras. Além disso, compreende-se que muitas empresas considerem que as práticas de Inovação Aberta possam conduzir à perda de competências e controlo do negócio. Assim, as empresas devem observar e avaliar atentamente até que ponto os parceiros selecionados estão dispostos a participar, de forma justa, em atividades características de Inovação Aberta.

Muitos autores, tal como é o caso de Oumlil & Juiz (2016), defendem que a realidade comercial contemporânea não se baseia apenas na Inovação Aberta, mas em empresas que investem simultaneamente em atividades de Inovação Fechada e Aberta. Assim, segundo os autores, o futuro das organizações reside num equilíbrio apropriado da abordagem de Inovação Aberta, onde as organizações podem usufruir de todas as ferramentas disponíveis para promover a criação de produtos e serviços a um ritmo mais acelerado que o seu concorrente e, de igual

forma, motivar o desenvolvimento de competências essenciais e proteção da propriedade intelectual de ambientes externos.

As principais barreiras, riscos e desafios associados à implementação de práticas de Inovação Aberta foram extensamente estudados por inúmeros autores. West & Gallagher (2006), com base na sua interpretação do conceito de Inovação Aberta, consideram que a integração de processos característicos daquele modelo, implica três grandes desafios, nomeadamente a maximização, a incorporação e a motivação. A maximização refere-se à necessidade de as empresas disporem de uma ampla gama de abordagens que visem maximizar os retornos dos esforços internos de inovação, incluindo atividades de terceirização e a venda de tecnologia inutilizável pela empresa de forma a estimular a procura por outros produtos que a empresa produziu (H. Chesbrough et al., 2010, p. 3). De modo a que a Inovação Aberta funcione, é essencial garantir que os processos de inovação internos e externos são utilizados com a máxima eficiência. Já o desafio da incorporação salienta o facto de a empresa não conseguir capitalizar o conhecimento externo se não for capaz de identificar o conhecimento que é relevante e a forma de o incorporar, de forma eficaz, nas suas próprias práticas de inovação. Finalmente, a questão da motivação pode representar a maior dificuldade enfrentada pelas empresas uma vez que se revela uma tarefa difícil para os funcionários entenderem a necessidade de contribuir com propriedade intelectual que possa, potencialmente, ser utilizada pelos seus concorrentes. Deste modo, a motivação para a criação e partilha de ideias e projetos quando a probabilidade de retorno é baixa, representa um grande desafio para a administração das empresas. Consequentemente, devem ser aplicadas estratégias que visem motivar os funcionários, das quais destacamos a criação de expectativas que indiquem que os funcionários possam ser devidamente recompensados.

Finalmente, Oumlil & Juiz, (2016) apontam para o facto de as barreiras à aplicação de práticas de Inovação Aberta existentes não serem idênticas em diferentes setores ou mesmo países. Assim, considera-se necessário o desenvolvimento de diferentes abordagens que permitam encarar os referidos desafios entre diferentes organizações, atividade e países. O facto é que cada indústria possui características específicas que a distingue das demais e por vezes a adoção da mesma estratégia de inovação pode não ser benéfica para ambas as empresas por diversos motivos tais como o setor de atuação, a dimensão das empresas e o contexto económico e social em que se inserem. Reconhecer os riscos e desafios que se opõem à implementação daquele tipo de práticas pode facilitar as estratégias e políticas de governação das empresas que contribuem para o seu crescimento económico.

Finalmente, é ainda importante referir a importância da proteção do conhecimento organizacional das empresas. Se uma empresa partilha externamente o seu conhecimento, acaba

por expor as suas principais competências aos concorrentes, criando, assim, vulnerabilidade. Deste modo, os autores Bigliardi & Galati (2013) concluem que o principal risco associado ao paradigma de Inovação Aberta reside na partilha e na exposição do conhecimento das empresas. Salientam, ainda, que as empresas geralmente optam por não aderir à Inovação Aberta de forma a evitar a referida vulnerabilidade e não perder controle da sua propriedade intelectual. Assim, tal como referido anteriormente, dado a crescente importância da gestão do conhecimento e os riscos associados à partilha de conhecimento entre as organizações, as empresas adotam estratégias que visam proteger o seu capital intelectual de forma a defender a sua posição competitiva no mercado bem como lucrar com os processos de inovação (Bigliardi & Galati, 2013b).